Autismo – Sintomas e diagnóstico

O transtorno do espectro autista assusta quem não o conhece e apavora pais que veem seus filhos diagnosticados com o problema. Mas, a desinformação e os mitos que o cercam podem ser tão prejudiciais quanto a própria síndrome.
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano que aparece nos três primeiros anos de vida e afeta de maneira qualitativa funções neurológicas, prejudicando de maneira significativa a comunicação, a interação social e o comportamento da criança.
Na verdade o correto é falar transtorno do espectro autista (TEA).
Mais correto ainda é colocar tudo no plural, pois não há um tipo único de transtorno dentro desse espectro.
“Existem diversas formas de manifestação do autismo, desde o mais grave até o mais simples, e isso é determinado pela capacidade de comunicação”, explica a neuropsiquiatra Aline Mussuri, da Clínica Samci, do Rio de Janeiro (RJ).

Incertezas

Uma das muitas angústias em relação ao distúrbio é a incerteza de sua causa, o que acaba gerando mitos e polêmicas de vários tipos. “Já foram feitos diversos estudos, mas não se chegou a nenhuma conclusão. Uns falam que pode ser devido à intoxicação por metais, como mercúrio ou chumbo, mas é tudo especulação, porque não tem nada comprovado.
Há alguns anos, falava-se até que era culpa da mãe, que seria uma mãe fria, mas isso caiu em 1980, quando foi provado que não tem nada a ver com o relacionamento com a mãe.
Mais recentemente, questionou-se as relações interfamiliares, só que não conseguiram fechar em uma causa específica”, declara a neuro psiquiatra.

De fato, há muitos mitos em torno do autismo. Entre eles o de que são crianças que vivem dentro de um universo próprio. “O autista tem dificuldade em iniciar, manter e terminar uma atividade.
Quando uma criança autista fica em um canto, olhando outra criança brincar, não quer dizer que ela não gostaria de brincar, que ela queria ficar isolada.
Na verdade, ela não consegue interagir a ponto de ir brincar.
Ela não consegue chegar até a outra criança e se fazer entender, falar de maneira clara o bastante para conseguir interagir, com a criança da mesma idade, do mesmo grupo”, detalha a especialista.

Sintomas e diagnóstico

Embora não seja possível distinguir fisicamente uma criança autista de uma não-autista, com uma observação mais atenta não é difícil reconhecer os sinais da síndrome. “São crianças bem peculiares, fazem movimentos estereotipados, repetitivos, que levam logo pensar em autismo.
Possui um comportamento bastante peculiar nas brincadeiras, gostam de empilhar coisas.
Ela não consegue interagir com o meio, tem atraso importante na fala e sofre um certo isolamento por conta disso”, detalha a neuropsiquiatra.
Mesmo podendo aparecer mais tarde, em geral, o problema se manifesta antes dos três anos de idade.
Não há uma padrão segundo a neuropsiquiatra.
“Hoje já se consegue ter um diagnóstico de autismo muito cedo, em crianças que ainda não completaram dois anos.
Até a pouco tempo era a partir dos três anos.
Eu tive um caso de autismo em que a criança interagia com o meio normalmente, igual as outras crianças da mesma idade, e, por volta de quatro anos teve uma perda importante na família (a avó morreu e ninguém falou nada para ele) e daí por diante ele parou de interagir com o meio.
Hoje, aos 13 anos, tem o diagnóstico de autismo.
Assim como tem criança que a mãe já via que era diferente, pois demorou para engatinhar, para andar, não falava com três anos e logo vimos que era autismo”, relata.
Assim, é importante observar se a criança possui alguns desses sintomas e procurar imediatamente um profissional especializado ou entidades de referência no município em que a família reside, como um Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi) ou uma organização não governamental (ONG) relacionada.

A maioria das crianças autistas tem desempenho intelectual desigual, assim, testar a inteligência não é uma tarefa simples. Pode ser necessário repetir os testes várias vezes. Crianças autistas normalmente se saem melhor nos itens de desempenho (habilidades motoras e espaciais) do que nos itens verbais durante testes padrão de QI.
Acredita-se que aproximadamente 70 por cento das crianças com autismo têm algum grau de retardamento mental (QI menor do que 70).
Entre 20 e 40 por cento das crianças autistas, especialmente aquelas com um QI abaixo de 50, começam a ter convulsões antes da adolescência.
Algumas crianças autistas apresentam aumento dos ventrículos cerebrais que podem ser vistos na tomografia cerebral computadorizada.
Em adultos com autismo, as imagens da ressonância magnética podem mostrar anormalidades cerebrais adicionais.
Uma variante do autismo, às vezes chamada de desordem desenvolvimental pervasiva de início na infância ou autismo atípico, pode ter início mais tardio, até os 12 anos de idade.
Assim como a criança com autismo de início precoce, a criança com autismo atípico não desenvolve relacionamentos sociais normais e frequentemente apresenta maneirismos bizarros e padrões anormais de fala.
Essas crianças também podem ter síndrome de Tourette, doença obsessivo-compulsiva ou hiperatividade.
Assim, pode ser muito difícil para o médico diferenciar entre essas condições.
Os sintomas de autismo geralmente persistem ao longo de toda a vida.

A lista a seguir serve como orientação para o diagnóstico. Como regra os indivíduos com autismo apresentam pelo menos 50% das características relacionadas.
Os sintomas podem variar de intensidade ou com a idade:

  • Dificuldade em juntar-se com outras pessoas
  • Insistência com gestos idênticos, resistência a mudar de rotina
  • Risos e sorrisos inapropriados
  • Não temer os perigos
  • Pouco contato visual
  • Pequena resposta aos métodos normais de ensino
  • Brinquedos muitas vezes interrompidos
  • Aparente insensibilidade à dor
  • Ecolalia (repetição de palavras ou frases)
  • Preferência por estar só; conduta reservada
  • Pode não querer abraços de carinho ou pode aconchegar-se carinhosamente
  • Faz girar os objetos
  • Hiper ou hipo atividade física
  • Aparenta angústia sem razão aparente
  • Não responde às ordens verbais
  • atua como se fosse surdo
  • Apego inapropriado a objetos
  • Habilidades motoras e atividades motoras finas desiguais
  • Dificuldade em expressar suas necessidades
  • emprega gestos ou sinais para os objetos em vez de usar palavras.

O que fazer?

A desinformação sobre o assunto acaba gerando pânico e reações extremamente pessimistas  de pais e mães que recebem o diagnóstico de uma criança autista.
O que fazer? “Os pais de um autista, em geral, tem preocupações do tipo: ‘Meu Deus, como é que meu filho vai entrar em uma faculdade? Como vai poder ir em festas?’ Então eu paro e tento organizar o pensamento desses pais.
Oriento que a meta deles é fazer com que aquela criança se torne uma pessoa independente, para que consiga sobreviver sozinha, sem a necessidade de auxílio”, revela Aline.

Ou seja, não é preciso desespero. É possível, sim, ter uma vida bem próxima do normal, mesmo sendo autista. “A maioria dos adultos autistas faz parte de grupos de apoio. Muitos deles frequentaram uma faculdade  e tem uma vida social, claro, dentro da limitação, mas é possível ter sociabilidade.
Independentemente do autismo”, assegura Aline.

Tratamento

Assim como não há um padrão de autismo, não há um tratamento que seja indicado para todos os casos. A maioria das terapias parte do princípio que é preciso estimular a criança.
“São várias formas de fazer isso: equoterapia (interação com cavalos), fonoaudiologia, natação… O importante é colocar a criança em atividade, para ela começar a se desenvolver, principalmente em relação à fala, que é uma das coisas que incomoda muito no autismo, porque a criança não consegue responder ao meio, não consegue comunicar”, explica a especialista.

Em relação a medicamentos, só são utilizados caso haja outros problemas associados. “Alguns autistas podem se tornar agressivos e preciso de um medicamento, além da terapia. Mas isso deve ser avaliado rigorosamente, com bastante critério, para não sair medicando todo mundo.
Muitas vezes, a criança só está nervosa por não conseguir comunicar”, analisa Aline.
A linguagem dos sinais às vezes é utilizada para a comunicação com crianças mudas, embora seus benefícios sejam desconhecidos.
Terapia comportamental pode ajudar crianças severamente autistas a se controlarem em casa e na escola.
Essa terapia é útil quando uma criança autista testar a paciência de até mesmo os pais mais amorosos e os professores mais dedicados.

Inclusão

Além de se buscar uma cura ou uma maneira de se evitá-lo, o grande desafio em relação ao autismo é a inclusão. Como revela a neuropsiquiatra em to de desabafo: “É importante que as pessoas saibam que a criança autista não vive em um mundo próprio. O que ela tem é uma dificuldade em manter e terminar uma atividade.
Assim, é preciso buscar a inclusão, deixar claro que eles não querem viver em um universo só deles.
É preciso acabar com esse medo que existe em relação ao autista, parar com esse negócio de achar que eles são retardados, não é nada disso.
Como psiquiatra eu sofro muito quando uma mãe me diz que não conseguiu matricular o filho em uma escola, que nenhuma escola aceita seu filho.
A maioria não é de crianças agressivas, elas tem apenas dificuldade de fala”, desabafa.

A polêmica das vacinas

Tudo começou em 1998, quando um artigo assinado pelo médico britânico Andrew Wakefielde foi publicado na revista científica The Lancet. A acusação do gastroenterologista pediátrico era grave: a vacina contra o sarampo, cachumba e rubéola (no Brasil conhecida como tríplice viral) seria uma das causas do autismo.
Na verdade, o trabalho de Wakefield afirmava que o mercúrio contida na vacina funcionava como um “gatilho” para desencadear a síndrome em pessoas com uma possível prédisposição genética.
Logo que a notícia se espalhou, muitos pais deixaram de vacinar seus filhos, fato apontado hoje como responsável pelo ressurgimento do sarampo na Inglaterra.

No entanto, não tardou para que a pesquisa fosse contestada e o médico cassado no Reino Unido, embora possa exercer a profissão em outros países. No mundo todo, órgãos governamentais publicaram notas oficiais negando qualquer relação entre as vacinas e o autismo.
Trabalhos recentes, que praticamente confirmam a origem genética do autismo, tendem a eliminar as dúvidas e a maioria absoluta dos médicos recomenda que as crianças continuem a ser vacinadas.

Novas perspectivas

Uma das mais promissoras novidades em relação ao autismo são os estudos realizados pelo neurocientista brasileiro Alysson Muoti, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). O pesquisador estuda a genética do autismo e tem conseguidos resultados fantásticos.
Ele e sua equipe conseguiram reproduzir neurônios de crianças autistas, identificar os genes relacionados ao distúrbio e reverter o autismo dos neurônios.
Com isso, a possibilidade de se chegar a um medicamento capaz de reverter o quadro se torna bastante real.
Inicialmente o estudo teve sucesso com portadores da síndrome de Herttz, um tipo mais severo de autismo, mas, recentemente, o êxito se repetiu também em casos de autismos clássicos.
O reconhecimento das pesquisas de muotri pode ser medido pelo fato de ter conseguido parcerias com entidades relevantes, como a Nasa e a Microsoft.

Recomendações

– Ter em casa uma pessoa com formas graves de autismo pode representar um fator de desequilíbrio para toda a família. Por isso, todos os envolvidos precisam de atendimento e orientação especializados;

– É fundamental descobrir um meio ou técnica, não importam quais, que possibilitem estabelecer algum tipo de comunicação com o autista;

– Autistas têm dificuldade de lidar com mudanças, por menores que sejam; por isso é importante manter o seu mundo organizado e dentro da rotina;

– Apesar de a tendência atual ser a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares, as limitações que o distúrbio provoca devem ser respeitadas. Há casos em que o melhor é procurar uma instituição que ofereça atendimento mais individualizado;

– Autistas de bom rendimento podem apresentar desempenho em determinadas áreas do conhecimento com características de genialidade.

A palavra de uma mãe

O depoimento que se segue é de uma mãe brasileira, que vive com a família nos Estados Unidos e tem um filho autista. A família pediu para manter o anonimato, mas as palavras de quem vive o problema são bastante esclarecedoras, mesmo sendo em um outro país.

“Meu filho atualmente tem 10 anos e foi diagnosticado com autismo quando tinha de 23 para 24 meses de vida. Ficamos chocados com a notícia, porque ele fazia todas as coisas que um bebê fazia na idade dele. O próprio pediatra me disse que ele não tinha autismo e só não falava tudo ainda porque os pais usavam dois idiomas em casa.
Meu filho balbuciou, usou consoantes e vogais diversas, resmungou, apontou, caminhou, engatinhou, no tempo correto.
Apesar do choque não perdemos tempo.
Fui a uma biblioteca e peguei todos os livros que podia sobre como tratar autismo e devorei.
Procurei médicos e terapêuticos especialistas e começamos a tratá-lo.
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Os primeiros sintomas de que havia algo diferente foram notados porque ele não respondia quando chamávamos, porém, sabíamos que não era surdo, pois quando passava na tevê um programa que ele gostava, ele corria para assistir. Também dava risada fora do contexto e fazia movimentos estereotipados com as mãozinhas quando corria.
No momento, ele não faz nenhum tratamento médico, mas já foi tratado pelos melhores  médicos DAN (Defeat Austim Now, ou Derrote o Autismo Já), usei o protocolo da Drª Yasko também,usei homeopatias e dietas.
Porém, aconselho aos pais a terem muito cautela na escolha do tratamento.
Muitos médicos estão estudando o assunto e tentando tratar de maneira alternativa, mas não há nenhuma prova científica de que esses métodos funcionem.
Nós, pais, devemos tomar muito cuidado com médicos que prometem muito ou que garantem muitas mudanças.
Tudo custa caríssimo e nem tudo que funciona para uma criança funcionará para outra.

Meu filho frequenta uma escola especial, porém, não foi fácil, tivemos que lutar muito para conseguir. A maior dificuldade que tenho com ele é a comunicação. Ele não sabe me dizer de está com fome ou com dor. Então, as vezes, fica bravo, chora e eu preciso descobrir, adivinhar por tentativa e erro o que é que ele precisa.
Outra dificuldade que a maioria dos pais enfrenta é que as crianças com esse diagnóstico tem dificuldade para dormir e são bastante ativas, então, muitas vezes, se torna bastante cansativo.
Mas eu gostaria de dizer que a criança com o diagnóstico do autismo traz as mesmas alegrias que qualquer outra criança, meu filho é uma bênção nas nossas vidas”.

Para obter mais informações não deixe de visitar o site da revista autismo:   http://www.revistaautismo.com.br/

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