Câncer – Mitos e Preconceitos

No Dia Mundial do Câncer, campanha quer derrubar preconceitos sobre a doença. Criada em 2005 pela União Internacional para o Controle do Câncer (Uicc), iniciativa quer disseminar conhecimento sobre os vários e diferentes tipos de tumores malignos. Instituições brasileiras também realizam ações.

“Derrube os mitos!” é o slogan da campanha deste ano do Dia Mundial do Câncer, lembrado nesta terça-feira (4). Criada em 2005 pela União Internacional para o Controle do Câncer (Uicc), ação tem como objetivo disseminar conhecimento sobre os vários e diferentes tipos de tumores malignos e derrubar preconceitos a respeito da doença.

O primeiro mito, segundo a campanha, é o de que não se deve falar sobre o câncer, o segundo, de que câncer não tem sintomas ou sinais. O terceiro mito a ser derrubado é o de que não há nada que se possa fazer contra a doença.
De acordo com o coordenador de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Claudio Noronha, o desconhecimento é um dos maiores vilões na luta contra a doença que, a cada ano, provoca cerca de 8 milhões de mortes no mundo.
“A falta de conhecimento e o medo causam verdadeiras barreiras para o tratamento.
Por isso, o conhecimento é um elemento importantíssimo para o controle do câncer e essa campanha é muito válida” comentou.

O médico ressaltou que metade dos cânceres pode ser evitada com mudanças no estilo de vida, como é o caso do tabagismo. Não é a toa que, no mundo todo, o câncer de pulmão é o mais frequente”, disse ele, ao ressaltar que no Brasil, devido ao controle do tabagismo, esse tipo de câncer já não figura em primeiro lugar.

“Muitas vezes, a pessoa não consegue fazer isso sozinho, mas é preciso buscar ajuda, buscar o serviço de saúde”.
Noronha acrescentou que a obesidade é outro fator de risco, que pode ser prevenido com boa alimentação e atividade física, e lembrou que o uso do protetor solar pode evitar o câncer de pele.

“Apenas 10% a 15% do total dos cânceres são de causa hereditária. A maior parte da incidência está ligada ao ambiente, ao estilo de vida”, esclareceu. “São coisa que agridem seu organismo a vida inteira e você acaba perdendo a batalha para essa agressão”.

O quarto e último mito abordado na plataforma da campanha é o de que muitos não têm direito a tratamento. A organização garante que todos têm esse direito, mas admite que, na prática, as injustiças sociais impossibilitam que milhões de cidadãos tenham acesso aos tratamentos por serem pobres. “Em muitos países, esse é um problema sério.
O Brasil oferece tratamento gratuito na rede pública, com uma cobertura importante, mas algumas pessoas, por falta de informação, não procuram o serviço por achar que não terão como ser tratadas”, observou Guimarães.

Brasil

No Brasil, os tipos da doença mais incidentes são na próstata, em homens, de mama, reto, cólon e colo do útero, nas mulheres. No caso da mama, há várias formas de prevenção como vida saudável e exames periódicos, como a mamografia.

A ginecologista Maria José de Camargo, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, lembra que no caso do câncer de colo de útero cabe às mulheres se cuidar.
Isso pode evitar que o Brasil tenha 16 mil novos casos diagnosticados desse tumor maligno em 2014, como prevê o Ministério da Saúde.

Esse tipo de câncer é o terceiro mais frequente na população feminina, perdendo apenas para os de mama, cólon e reto.

“O câncer pode ser prevenido, se você tiver um bom rastreio. É de evolução muito lenta, pode levar mais de uma década, então se você identifica na mulher lesão pré-maligna, no preventivo, também conhecido como Papanicolau, e se essa mulher for bem avaliada e tratada, ela tem menos de 5% de chance de desenvolver o câncer de colo de útero.
Se a mulher não se tratar, as chances de cura são 30%”, disse a ginecologista.

Para a médica, o alto número de casos no país reflete uma situação de subdesenvolvimento econômico. Uma das evidências, segundo ela, é o fato de os maiores índices nacionais virem das regiões Norte e Nordeste, que têm os menores indicadores socioeconômicos. “Ou a mulher não faz o exame ou, quando faz e descobre o pré-câncer, não é tratada.
Ela não segue uma cadeia de atendimento ou por desinformação ou por falta de serviço de saúde adequado.
Nos países mais ricos, há poucos casos desse tipo de câncer”, lembrou.

Maria José destacou que uma estratégia eficaz para o combate da doença é a busca ativa, em que laboratórios ou médicos entram em contato com as mulheres cujo exame preventivo apontou pré-câncer.
“São pequenas cirurgias no colo do útero”, explicou, acrescentando que o procedimento é bem menos doloroso que o tratamento contra o câncer, mais barato e com quase 100% de cura.
Ela elogiou a iniciativa do Ministério da Saúde de incluir, a partir de 10 de março, na rede pública a vacina contra alguns tipos de HPV para pré-adolescentes, de 11 a 13 anos, responsáveis por mais de 70% dos casos de câncer de colo de útero.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as infecções causadas pelos vírus das hepatites B e C e o do papiloma humano (HPV) são responsáveis por 20% das mortes por câncer nos países de baixa e média renda e de 7% nos países de alta renda.

Ainda segundo a OMS, nas Américas, o câncer representa a segunda causa de morte, com 2,5 milhões de novos casos e 1,2 milhão de mortes em 2008, sendo 45% na América Latina e no Caribe. A previsão é que em 2030 a mortalidade por câncer atinja 2,1 milhões de pessoas nas Américas.

Para o professor associado de cirurgia do aparelho digestivo do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Ulysses Ribeiro Júnior, o preconceito é outro fator negativo para a prevenção.
“No caso de câncer de cólon, hoje muito frequente na nossa população, todo indivíduo com 50 anos de idade deveria fazer um exame de sangue oculto nas fezes e, a partir dos casos positivos, uma colonoscopia, mas a população tem medo, tem vergonha e isso atrapalha”, comentou, ao lembrar que esse tipo de câncer é o quarto mais comum entre os homens.
“Às vezes, não basta o conhecimento.
O indivíduo sente uma dorzinha e vai deixando até ficar no estágio avançado e o tratamento é muito mais agressivo”, completou.

Ações em vários estados

No Dia Mundial do Câncer, instituições de saúde promovem ações para alertar a população sobre formas de prevenção e diagnóstico, estratégias de mitigação e controle, além de esclarecer mitos a respeito da doença.
No Rio de Janeiro, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) Tijuca, apresenta as estimativas de câncer por estado, a campanha pela data e o debate ‘Câncer? É Preciso Falar Disso!’, reunindo profissionais de saúde, representantes da sociedade civil e especialistas.
A entrada é franca.

Para o coordenador de Prevenção e Vigilância do Inca, Claudio Noronha, desmistificar crenças e poder falar abertamente sobre a doença é um passo importante para o controle. “É preciso ter a informação adequada para poder tomar uma atitude, haver uma mudança de comportamento, com informação você pode fazer alguma coisa”, comentou.
“Tanto para investir em si mesmo, como para ajudar um parente, uma amigo, chamar a atenção”, acrescentou.

Além do evento, o Inca produziu um hotsite e materiais gráficos e digitais para marcar a data. O Morro da Urca, primeiro estágio do bondinho do Pão de Açúcar, ficará iluminado de laranja e azul, as cores da União Internacional para o Controle do Câncer (Uicc).

Em São Paulo, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) promove o seminário Derrubando os mitos sobre o câncer, com médicos especialistas que vão orientar os participantes sobre quatro grandes mitos relacionados à doença.
Em Minas Gerais, as ações ficam por conta do hospital da Universidade Federal de Juiz de Fora, das 8h às 12h, na Unidade Dom Bosco.
Exames de prevenção do câncer vão ser feitos em Macapá pelo Instituto Joel Magalhães, em parceria com instituições públicas e privadas do estado, das 8h às 12h.
A meta é atender cerca de 400 pacientes.
Uma série de atividades está prevista em outros países para informar sobre o controle do câncer.

Agência mundial alerta para alarmante aumento de casos de câncer

Países em desenvolvimento não só padecem dos casos associados à pobreza, mas também dos resultados de hábitos adquiridos após conquistar melhores condições de vida. Mais de 60% dos casos de câncer e 70% das mortes ocorreram na África, Ásia, América Central e América do Sul, segundo o relatório global.
Na América Latina e no Caribe, o câncer de mama e o de próstata são os que têm maior incidência em homens e mulheres.

Um estudo publicado nesta segunda-feira (03) alerta que os casos de câncer aumentarão 50% até 2030, quando serão diagnosticados em todo o mundo quase 22 milhões de casos de câncer em comparação com os 14 milhões em 2012, devido a um forte aumento da doença nos países em desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, as mortes por câncer passarão de 8,2 milhões a 13 milhões por ano.
Essas tendências são acompanhadas pelo aumento e o envelhecimento da população e pela adoção de hábitos de risco, como fumar, indica o informe da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS).
”O maior impacto será registrado nos países com menores recursos, muitos dos quais mal equipados para enfrentar este aumento dos casos de câncer”, declarou a diretora da OMS, Margaret Chan.

Países em desenvolvimento em risco

Os países em desenvolvimento não só padecem dos casos de câncer associados com a pobreza, mas também dos resultados de hábitos adquiridos após conquistar melhores condições de vida, como um maior consumo de álcool e tabaco, o consumo de alimentos processados e falta de exercícios físicos.
”O peso especialmente pesa que recairá sobre os países de renda média e baixa faz com que dificilmente consiga se livrar do câncer, mesmo em países com rendimentos mais elevados, que terão dificuldades para enfrentar os crescentes custos dos tratamentos”, indicou o diretor da IARC, Christopher Wild.
”É necessário um maior compromisso com a prevenção e detecção precoce para lidar com o aumento alarmante na incidência de câncer a nível mundial”, acrescentou.
O câncer substituiu as doenças cardíacas como a principal causa de morte a partir de 2011 e o número anual de diagnósticos aumentou de 12,7 milhões em 2008 para 14,1 milhões em 2012.

O relatório destaca a diferença entre os sexos: cerca de 53% dos casos diagnosticados e 57% das mortes ocorrem em homens. Os tipos de câncer também diferem em função do sexo.
Entre os homens, o câncer mais comum foi os nos pulmões (16,7% do total de casos entre o sexo masculino); seguido pelo câncer de próstata (15%), de colorretal (10%), estômago (8,5%) e fígado (7,5%).

Entre as mulheres, o mais frequente é o câncer de mama (25,2%), seguido pelo colorretal (9,2%), de pulmões (8,7%), útero (7,9%) e estômago (4,8%). Há também diferenças regionais: mais de 60% dos casos de câncer e 70% das mortes ocorreram na África, Ásia, América Central e América do Sul, segundo o relatório global.

Na América Latina e no Caribe, o câncer de mama e o de próstata são os que têm maior incidência em mulheres e homens, respectivamente. Os tipos mais mortais nestas regiões são o câncer de mama e o câncer de colo do útero entre as mulheres, e o de próstata e de pulmão nos homens.

Quase a metade dos 14 milhões de novos casos de 2012 foram diagnosticados na Ásia, principalmente na China. A Europa totalizou um quarto dos casos, enquanto América Latina e Caribe 7,8% (e 7,4% de todas as mortes). No geral, o câncer é diagnosticado em uma idade mais avançada em países menos desenvolvidos.
E a nível global, o câncer de pulmão é o mais letal, com 19,4% do total, seguido pelo câncer de fígado (9,1%) e estômago (8,8%).

Olhando para o futuro, o relatório nota que a população mundial vai aumentar de 7 bilhões de pessoas em 2012 para cerca de 8,3 bilhões em 2025. Os países com média e baixa renda terão um maior crescimento de suas populações e, portanto, uma maior incidência de câncer.

Tabaco, epidemia nos países mais pobres

O relatório expressa especial preocupação com o câncer de pulmão, em grande parte resultante do hábito de fumar e “intrinsecamente ligado a estratégias globais das companhias de tabaco para aumentar as suas vendas”.
Uma “epidemia” de tabaco afeta especialmente os países mais pobres, de acordo com o estudo, “impedindo o desenvolvimento humano por tirar recursos e aumentar a pressão sobre os seus fracos sistemas de saúde e afetando a produtividade a nível nacional.

O custo total anual do câncer é estimado em 1,16 bilhão de dólares em 2010, segundo o relatório. “Quase metade dos casos de câncer poderiam ter sido evitados”, ressalta.
O estudo pede novos esforços na prevenção, incluindo a vacinação contra a hepatite B e o vírus do papiloma humano, que podem ajudar a reduzir a incidência de câncer de fígado e útero, e a promoção do exercício físico para combater a obesidade, além de campanhas anti-tabagismo.

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