Depressão: o mal do século

O número de pessoas com depressão cresce a cada ano. É preciso derrubar preconceitos e buscar ajuda especializada. Nas próximas duas décadas, a depressão deverá se tornar a doença mais comum no mundo, superando problemas de saúde como o câncer.
É o que estima  a Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta: cerca de 121 milhões de pessoas sofrem com o problema – dessas, 17 milhões estão no Brasil.

Pode ser resultado de um trauma ou uma disfunção cerebral: as causas variam. “Fatores biológicos, psicológicos e ambientais tem um importante peso nos casos depressivos.
Do ponto de vista psicológico, a depressão está relacionada a experiências de perdas significativas, como morte de um ente querido, doenças graves ou crônicas, perda de emprego ou local de moradia, ou ainda algo puramente simbólico e importante para aquela pessoa que não possa ser alcançado ou tenha sido perdido”, lista a psicóloga Marcella Mantovani Pazini, especialista em psicopatologia e saúde pública.

Ajuda sempre necessária

Apesar de atingir um grande número de pessoas, os preconceitos em torno do problema ainda são muitos. Diferente de uma tristeza passageira, a depressão não consegue ser curada com medidas simples como um passeio com os amigos, como muita gente próxima do paciente recomenda. “Existem várias situações em que nos sentimos tristes.
A tristeza é um sentimento profundo e intenso, porém, todos nós possuímos defesas contra esse sentimento, que costuma ser passageiro.
Já na depressão, o sentimento de tristeza permanece por pelo menos duas a três semanas e pode prejudicar diversos setores da vida do paciente”, explica Marcella.

Quando o sentimento é persistente e tarefas rotineiras se transformam em grande dificuldade, é preciso buscar ajuda especializada.
“O psicólogo ou psicanalista proporcionará uma escuta sobre as questões envolvidas na causa da depressão e, assim, será possível buscar um modo diferente de lidar com suas questões”, afirma a psicóloga Márcia Fraga.

Mas o que é essa doença?

Segundo a Federação Mundial para a Saúde Mental, a depressão é um transtorno cerebral que pode ter muitas formas diferentes. É possível ter apenas um episódio de depressão durante toda a vida, ter crises recorrentes e até ser cronicamente depressivo.
Ela pode ou não ter uma causa aparente e afeta mais do que a forma como o paciente enxerga as coisas – pode prejudicar também a saúde física, já que interfere no sono, na disposição e no apetite.

O problema é mais comum em mulheres e, apesar de ser recorrentes em países ricos, a população mais afetada é aquela em condições econômicas desvantajosas. A genética também é fator de risco para a doença: quem tem pai, mãe ou irmão com o trastorno tem duas ou três vezes mais chances de desenvolver depressão.
Ainda não é possível explicar porque uma pessoa fica com depressão, apenas citar os fatores de risco, que se combinam entre biológicos, genéticos e emocionais.
O que é possível afirmar é que o transtorno necessita de cuidados médicos.

A doença em números

  • A depressão é uma das principais causas de afastamento no trabalho.
    No primeiro semestre de 2008, foram 2.
    279 casos de auxílio-doença concedidos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
  • O governo do Japão afirma que depressão e suicídios custaram quase US$32 bilhões à economia do país em 2009, somando custos como renda perdida, tratamentos e benefícios sociais.
  • Entre os países desenvolvidos, a França está no topo do ranking de maior população com ao menos um episódio de depressão durante a vida.
    São 21% das pessoas, com idade média de 28 anos.
  • Na lista de pessoas com depressão nos países em desenvolvimento, o Brasil ficou em primeiro lugar, com 18,4%.
    Os pacientes tem em média 24 anos.
  • Pesquisas estimam que entre 30% e 50% das pessoas já preencheram, em algum momento da vida, os critérios diagnósticos da depressão.

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Depressão: o mal do século

Tipos de depressão e como reconhecê-las

A depressão pode surgir como sintoma de várias circunstâncias: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes e circunstâncias sociais e econômicas difíceis.
Enquanto síndrome, a doença inclui alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia) e vários outros aspectos, como alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).

“Ela tem sido classificada de várias formas, dependendo do período histórico, das preferência dos autores e do ponto de vista adotado.
Os tipos de depressão mais citados são: melancolia, psicótica, catatônica, distimia, atípica, sazonal, transtorno depressivo maior e transtorno bipolar”, diz o psiquiatra José Alberto Del Porto, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Melancolia

É considerado como um princípio de depressão, para o qual os fatores genéticos são muito determinantes e que responde melhor a tratamento em que busca-se controlar os níveis de cortisol (hormônio do estresse) no organismo. Agitação, alterações no sono e de apetites são sintomas comuns nesse caso.

Depressão psicótica

É quando a depressão apresenta quadros de delírios e alucinações, situação que corresponde a 15% dos casos depressivos, Os sintomas estão muito relacionados aos sentimentos de culpa e de punição e a pessoa tende a interpretar situações corriqueiras como defeitos pessoais.
“A pessoa pode acreditar, por exemplo,  estar com o fígado ‘apodrecido’ ou com determinados órgãos ‘tomados por câncer’”, diz Del Porto.

Depressão catatônica

Catatonia é quando o comportamento de uma pessoa alterna entre períodos de extrema passividade e outros de agitação. Imobilidade quase total, atividade motora repetitiva,negativismo extremo, obediência ou imitação automática são alguns dos sintomas desse tipo de depressão.
Como os sintomas são evidentes, o tratamento interrompe a evolução para situações mais graves.

Distimia

É uma depressão crônica, no qual a intensidade dos sintomas é mais leve, porém, muito frequente. “Os pacientes sofrem por não sentirem prazer em atividades habituais e terem suas vidas permeadas por uma morosidade irritante”, conta o psiquiatra.

Depressão atípica

Característica de pessoas com sensibilidade extrema, que tem a impressão de sofrer de rejeição alheia, é muito comum nos transtornos bipolares. Mau humor, sensação de fadiga acentuada e “peso” nos membros, aumento de peso e do apetite são comuns nesse quadro.

Depressão sazonal

Alteração de comportamento influenciada pelas mudanças de estação. É mais comum no hemisfério norte, onde primavera, verão, outono e inverno são mais bem definidos. A ausência de luz, como nos dias de inverno, aumenta a produção de  melatonina, hormônio que promove relaxamento e sonolência. Em excesso, pode levar o indivíduo à depressão.

Transtorno depressivo maior

É a classificação mais abrangente da doença, pois inclui desde reações de luto até manifestações mais graves, com influência biológica e/ou genética. “Humor deprimido ou perda de interesse ou prazer durante um período de duas semanas são os principais sinais do Manual Diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais”, diz Del Porto.
Por tratar-se de um conceito amplo, se visto apenas dessa forma, pode dificultar o diagnóstico e o tratamento de paciente.

Transtorno bipolar

A pessoa deprimida apresenta uma alternância marcante entre dosi polos afetivos. Um é chamado de “mania”, quando o indivíduo está muito eufórico, e o outro de depressão, quando se sente sem expectativa e muitas vezes mal sai da cama para realizar a higiene pessoal básica.

Diferença fundamental

A palavra depressão é usada com muita frequência pelas pessoas, mas nem sempre de maneira adequada. trata-se não só de um quadro de tristeza, mas de um sentimento patogênico, isto é, com caráter de doença. “tristeza extrema todo mundo sente em momentos diferentes da vida.
Na depressão, a sensação é de permanente derrota, fracasso, como se não houvesse  saída e avida tivesse terminado.
No primeiro caso, o sentimento passa, mesmo que demore.
Já a depressão requer de ajuda médica para ser curada”, explica a psicóloga Ana carla Cividanes Furlan Scarin.

Diagnóstico: início da cura

Entender os sintomas da depressão e buscar ajuda são passos tão importantes como o tratamento em si.

A depressão é uma doença bastante complexa, com sintomas tão diversificados que alguns são opostos: há deprimidos que comem demais e outros que simplesmente não sentem fome. Sem contar que a intensidade dos sintomas é variável; daí o porquê de se falar em depressão leve, moderada ou grave.
Por essas e outras razões, o diagnóstico pode ser bastante complicado e, em alguns casos, não muito preciso.
Ante a tal dificuldade, a medicina criou um arsenal de métodos para ajudar a diagnosticar o problema, que vão desde testes autoaplicáveis e entrevistas detalhadas a exames fisiológicos, que podem incluir análise sanguínea e dosagem hormonal, entre outros.
O importante é que, tão logo se desconfie que haja um estado depressivo, a pessoa procure um especialista que possa realizar o diagnóstico mais preciso possível.

Demora Fatal

A busca por ajuda começa com o conhecimento dos sintomas característicos da depressão, sem o qual ninguém desconfia que está doente. Para se ter uma ideia do tamanho do problema,dados divulgados pela Federação Mundial para a Saúde Mental (FMSM) apontam que pessoas com depressão demoram, em média, mais de 11 meses para procurar um médico.
Para piorar , o diagnóstico definitivo de depressão, em geral, só é confirmado após cinco consultas.
Tudo isso acaba atrasando ainda mais o tratamento e, principalmente, a recuperação.
A psicóloga Regiane Machado lista os sintomas mais característicos da depressão:

  • Rebaixamento do humor.
  • Desânimo, redução da energia, necessidade de maior esforço para fazer as atividades do dia a dia, falta de motivação.
  • Apatia, dificuldade de reação diante de uma notícia boa ou ruim.
  • Alteração da capacidade de sentir o prazer e a alegria.
  • Diminuição da capacidade de concentração.
  • Dificuldade de decidir algo.
  • Irritabilidade.
  • Angústia.
  • Ansiedade.
  • Sentimento de medo, insegurança, desespero, desesperança e desamparo.
  • Negativismo e pessimismo, ideias de culpabilidade, baixa auto estima e autoconfiança, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, fracasso, doença ou morte.

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Não são todas as pessoas deprimidas que sentem todos esses sintomas. É até normal em alguns dias e momentos sentir alguns deles. A persistência e ter vários ao mesmo tempo é que pode indicar tratar-se de um quadro depressivo e a necessidade de um tratamento.
Segundo a FMSM, se a pessoa experimentar cinco ou mais desses sintomas, incluindo necessariamente o espírito deprimido e o desânimo, por um período superior a duas semanas, deve considerar seriamente uma consulta médica.

Outros sintomas

A depressão pode ainda se manifestar de maneiras diferentes, com sintomas que não estão dentro desse quadro mais comum, como:

  • Tornar a intensidade do sofrimento mais intensa
  • Problemas do sono e aumento ou diminuição do apetite
  • Dores no corpo e outros sintomas físicos, como má digestão, azia, diarreia, tensão na nuca e nos ombros, dor de cabeça, sensação de corpo pesado ou de pressão no peito, entre outros
  • Diminuição do desempenho e do desejo sexual (apesar de manter a atividade sexual, não há prazer)
  • Desejo de morrer, a pessoa pode planejar um suicídio
  • Aumento da sensibilidade (irritação ou choro fácil)
  • Sentimento de rejeição
  • Condutas antissociais e destrutivas.

Dores psicológicas

A maioria das pessoas pensa, e com certa razão, que a depressão se manifesta apenas psicologicamente. No entanto, alguns estudos demonstram que, antes mesmo de aparecerem os sintomas psíquicos, podem surgir dores pelo corpo. “Alterações biológicas e bioquímicas são responsáveis por esse tipo de manifestação da depressão.
Nesse casos, é importante observar que uma sucessão de adoecimentos e dores pode, na verdade, ter como origem um possível caso depressivo”, destaca a psicóloga.

Tais estudos indicam que a causa mais plausível para isso é que depressão e dor compartilham as mesmas vias biológicas no sistema nervoso central. Ou seja, atuam igualmente em áreas do organismo envolvidas na transmissão, regulação e percepção das emoções e dores.
Não é por acaso que medicamentos antidepressivos e analgésicos tem os mesmos neurotransmissores como alvo.

O olhar do outro

A depressão, na maioria das vezes, não atinge apenas quem sofre com ela. Quem convive ou já conviveu com alguém deprimido sabe muito bem o que isso quer dizer. Por outro lado, a ajuda e a compreensão de pessoas do convívio de quem sofre com a doença é essencial tanto para o diagnóstico como para a reabilitação.
Em alguns casos, pode ser até a parte mais importante do tratamento.
“Ao perceber qualquer tipo de mudança no comportamento de alguém com quem se convive, é preciso tomar cuidado para não desvalorizar esse sinais e os sintomas relatados.
è muito importante levar a pessoa para avaliação com um especialista, pois caso seja diagnosticado, o tratamento é fundamental”, alerta a psicóloga.

E como ajudar? O primeiro passo é falar e ouvir, ou seja, o assunto não deve ser encoberto, ou jogado para debaixo do tapete. Assim, estabelecer um diálogo aberto é essencial. Contudo, respeite se, em determinados momentos, a pessoa não quiser falar sobre o que está acontecendo.
E hipótese alguma os prováveis motivos que levaram à depressão devem ser menosprezados, como se aquilo não tivesse importância.

Mãos amigas

Outro aspecto em que é possível ajudar bastante que está deprimido é incentivar a manutenção do tratamento, mesmo quando os sinais de melhora são evidentes. Não se deve desconsiderar recaídas que podem acontecer facilmente quando se abaixa a guarda.
Aliás, em boa parte dos casos, a pessoa deprimida só procura ajuda médica após ser aconselhada por amigos ou familiares próximos.
“A família, por meio de estímulos, pode desempenhar um papel de suma importância no controle da depressão dos pacientes, já que esses se encontram desmotivados, sem energia para reagir ao tratamento”, destaca, por sua vez, a psicóloga Margarete Pinho.
Além disso, amigos e familiares podem ajudar o médico no tratamento, levando informações nem sempre fornecidas pelo paciente e que podem dar pistas sobre as causas do problema, tais como:

  • Se há um histórico familiar de depressão e suicídios;
  • há quanto tempo foi iniciada a mudança de comportamento;
  • se houve emagrecimento ou aumento de peso em pouco tempo e sintomas como baixa autoestima;
  • de desvalorização ou culpa;
  • perda da energia para realizar as atividades;
  •  dificuldade de atenção;
  • concentração e tomadas de decisões.

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“A falta de informação sobre a doença e o descrédito nos sintomas favorece uma piora do quadro, levando-o a tornar-se crônico e até a um risco de morte, comprometendo o tratamento”, acrescenta a psicóloga.

Onde falta médico

O diagnóstico preciso da depressão depende de um especialista, quanto a isso não há a menor dúvida. No entanto, a realidade do sistema de saúde pública no Brasil está longe da perfeição. Em muitos casos, conseguir uma consulta pode se tornar um ingrediente a mais no quadro de decepções vividas por quem está em depressão.
Isso só reforça a importância de se conhecer os sintomas e falar sobre eles com o agente de saúde que estiver disponível, seja ele um médico geral ou até mesmo enfermeiros.
esses profissionais, embora não sejam especialistas poderão fazer o encaminhamento necessário, após descartarem outras causas para os sintomas.

O que é…

…Humor depressivo?

Não é uma simples rabugice. Há pessoas muito mal-humoradas que estão longe de serem depressivas. No humor depressivo, em geral, a pessoa acha que os acontecimentos não tem importância, não vê graça em nada do que acontece. Em crianças e adolescentes, pode se manifestar por irritação  com fatos banais.
Já na terceira idade, a apatia costuma ser o maior indicativo.

…Redução da capacidade de experimentar prazer?

É um estado no qual as atividades, inclusive passatempos, antes consideradas agradáveis, deixam de gerar interesse. Reuniões sociais passam a ser vistas como aborrecimentos ou meras obrigações.

…Fadiga?

Ao contrário do cansaço que todos sentem normalmente ao final de um dia de trabalho, após um esforço físico ou ainda devido a longos períodos de estudo, a fadiga não vai embora após um bom descanso. Quem sofre com ela sente-se cansado mesmo sem fazer esforço físico algum.

…Redução da capacidade cognitiva?

É como se a pessoa não conseguisse mais pensar. Na verdade, ela não se concentra e o raciocínio fica lento. Com isso, perde o poder de tomar decisões. Elaborar um relatório, por mais simples que seja, torna-se impossível.
Crianças e adolescentes que sofrem com o problema não conseguem aprender e precisam de um diagnóstico mais minucioso para que a depressão não seja confundida com o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
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Tristeza X Depressão

A confusão entre um sentimento de tristeza profunda e depressão é comum e justificável. Mas há diferenças marcantes. “A tristeza profunda não é uma doença e ocorre motivada por algum acontecimento específico. E tanto o tempo de duração como a intensidade são menores.
Em geral, a pessoa consegue superá-la com a ajuda de amigos, ou com o emprego de técnicas alternativas, embora haja casos em que é necessário a ajuda de um profissional especializado.
A depressão, por sua vez, é uma doença, com intensidade e tempo de duração bem mais profundos e longos”, informa  a psicóloga Regiane Machado.
Além disso, quando se trata de depressão, a própria pessoa sente que a tristeza que se abateu sobre ela é diferente.
Ela passa a agir de um modo diferente do habitual, mesmo nos piores momentos.
Assim, a luta contra o inimigo errado, minando o pouco de energia que lhe resta e retardando o início do tratamento.

Nutrientes anti-depressão

Cuidar da alimentação é medida indispensável para tudo que envolva saúde. O aporte adequado de nutrientes é importante, inclusive, para o funcionamento correto do cérebro e pode interferir no humor, na memória e na disposição mental. Um estudo da University College London analisou os hábitos alimentares e os sintomas depressivos de 2486 pessoas.
Quem consumia alimentos naturais tinha menos sintomas  do transtorno, enquanto aqueles que ingeriam alta quantidade de alimentos processados e gordurosos estavam mais propensos a desenvolver depressão.
Para os pesquisadores, a explicação é que os vegetais e peixes são ricos em nutrientes protetores dos neurônios.

Outra pesquisa, realizada nas universidades de Granada e Las Palmas de Gran Canaria, na Espanha, mostrou que uma alimentação baseada em junk food (alimentos calóricos e pouco nutritivos) pode aumentar o risco de desenvolver depressão. O estudo avaliou os hábitos de mais de 8.900 voluntários que não tinham o problema.
Após seis meses, 493 deles foram diagnosticados com o problema e, entre esses, foi constatado que o excesso de junk food elevou em 51% as chances de desenvolver depressão.
Segundo os pesquisadores, uma dieta baseada nesse tipo  de alimento aumenta as chances de a pessoa ser sedentária e manter hábitos alimentares pobres em nutrientes essenciais.
Já deu para perceber que a dieta tem um papel e tanto na prevenção da depressão, né? Então, descubra a seguir quais os melhores alimentos para afastar os maus sentimentos do cotidiano!.

Depressão: o mal do século

Ômega 3 multifuncional

Ele é um ácido graxo essencial, que o organismo não produz e, por isso, precisa ser obtido da alimentação. Chamado de gordura benéfica, o nutriente ganhou fama por proteger o coração. já que reduz o colesterol ruim (LDL) e aumenta o bom (HDL).
O ômega 3 compõe a membrana dos neurônios e, em especial, a bainha de mielina , uma estrutura que acelera  a transmissão de informações.

Segundo um estudo da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, o consumo de ômega 3 durante a gravidez pode evitar a depressão pós-parto. Na pesquisa, 52 gestantes foram divididas em dosi grupos: um tomou placebo e o outro tomou 300 mg de ácido docosa-hexaenoico (DHA), um ácido graxo do tipo +omega 3, nas últimas 16 semanas de gravidez.
A situação emocional das mães após o parto foi avaliada e verificou-se que aquelas que consumiram ômega 3 estavam menos propensas a manifestar sintomas de depressão pós-parto.
Consumir o nutriente durante a gestação pode, inclusive, reduzir os riscos do bebê vir a ter depressão em alguma fase da vida, pois o ômega 3 colabora com o desenvolvimento do seu sistema nervoso.

Empurrãozinho da serotonina

Para que a transmissão de informações no cérebro aconteça de forma eficaz, é preciso que os níveis de neurotransmissores estejam adequados. Um desses importantes neurotransmissores é a serotonina, responsável pelo controle do sono, do apetite e dos estados de humor.
Embora nem sempre as falhas na liberação de serotonina sejam a causa do problema, estimular a produção da substância no organismo é uma ótima medida para aumentar o controle das emoções.

O nutriente que colabora com a transmissão do neurotransmissor é o triptofano, um aminoácido presente principalmente no leite e derivados, grãos integrais, peixes e ovos.

Para baixo

Assim como existe alimentos que promovem a sensação de bem-estar, outros desequilibram as funções do organismo, inclusive as do cérebro, podendo piorar os sintomas da depressão. São os mesmos que podem provocar outros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e obesidade.
Assim, o ideal é reduzir o consumo de açúcar, bebidas alcoólicas, carnes processadas, embutidos e produtos industrializados ricos em sódio e gorduras.

No prato

  • Pelo menos duas vezes por semana, inclua peixes nas refeições.
    Os mais gordos, como salmão, atum e sardinha, são muito ricos em ômega 3.
  • Consumir 2 colheres(sopa)de azeite todos os dias ajuda a suprir a necessidade do nutriente, que também pode ser encontrado em oleaginosas (castanhas, nozes, amendoim).
  • Linhaça e chia são as sementes mais ricas nesse ácido graxo.
    Duas colheres (sopa da primeira ou 1 da segunda por dia é o suficiente.

Ajuda extra

  • Durante a semana, varie no consumo de grãos, que também oferecem fibras, substâncias indispensáveis para o funcionamento do intestino.
    O grão-de-bico é um dos mais ricos em triptofano.
  • Para dormir melhor, aposte em copo de leite morno meia hora antes de se deitar.
    Que tal acrescentar uma colher (sopa) de aveia? O cereal é rico em carboidratos, que dão uma forcinha para o triptofano agir.

Vitamina indispensável

Em algumas pesquisas, constatou-se que a deficiência de vitamina B9 eleva os riscos de depressão. A carência desse nutriente é encontrada em 40% dos pacientes depressivos, segundos dados do The Institute for Functional Medicine, nos Estados Unidos.
A vitamina B9 é conhecida como ácido fólico (ou folato) e pode entrar como suplemento em tratamentos para depressão.
O reforço na ingestão é indicado especialmente antes e durante a gestação, já que a falta do nutriente pode provocar malformações no feto.
Uma pesquisa publicada no American Journal of Clinical Nutrition mostrou que ele pode, inclusive, proteger os bebês do autismo.
O estudo, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisou 837 mulheres grávidas e acompanhou o desenvolvimento dos seus filhos durante 6 anos.
Os pesquisadores concluíram que a ingestão de 600 microgramas de ácido fólico diariamente, durante o primeiro mês de gravidez, reduz as chances da criança ter autismo.

Fonte de energia e de bom humor

Por algum tempo, foram moda dietas de emagrecimento que excluíam os carboidratos do cardápio diário. O resultado no fim do dia era mau humor e dificuldade de concentração. Isso porque os carboidratos são fontes de energia para o cérebro e estimulam a produção de serotonina. Assim, não devem faltar, independente da dieta seguida.
Mas é preciso ficar atento ao tipo de carboidrato consumido: os melhores são os complexos, que mantém estável a liberação de insulina, hormônio que faz a glicose entrar para as células.
Os simples, presentes em doces em geral e massas e pães refinados, fazem a glicose subir rapidamente – e descer também, podendo causar efeito contrário.

No prato

  • Uma concha  de feijão-preto tem 119 microgramas de ácido fólico.
  • A vitamina também é encontrada em peso no brócolis, espinafre, cogumelos, tomate e gérmen de trigo.
  • Quando a mulher está planejando engravidar, o recomendado é consultar um médico sobre a necessidade de tomar suplementos de ácido fólico.
  • Arroz integral, leguminosas, batata e outros cereais como a aveia são ricos em carboidratos complexos.

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Depressão: o mal do século

Não abandone o tratamento!

É importante lembrar que as mudanças na alimentação não substituem o tratamento indicado pelo médico. Muitas vezes, para combater a depressão é necessária a combinação de terapia e medicamentos. Cuidar da dieta e de outros hábitos de vida são medidas fundamentais para que o tratamento seja mais eficaz.

Novas tecnologias: o que elas tem a ver com a depressão?

Tudo! A conta é simples: mais ferramentas para auxiliar o trabalho é igual a menos tempo trabalhando e mais tempo livre para se dedicar a outras atividades. Seria perfeito , se não fosse mentira…

O grande volume de novos aparelhos tecnológicos, como os smartphones, videogames e computadores portáteis, faz com que as pessoas se mantenham conectados cada vez mais com o mundo digital.
O uso intensivo das novas tecnologias vem sendo estudado como vício, e, como qualquer dependência, pode gerar crise de abstinência que tem como sintomas a depressão e a ansiedade.

Uma pesquisa da universidade de Missouri, nos Estados Unidos, chamou a atenção ao relacionar a maneira como se usa a internet e a indicação de o usuário estar ou não deprimido. O artigo aponta que pessoas deprimidas usam a internet de forma diferente das demais.
Segundo os pesquisadores, quanto mais deprimida for a pessoa, mais frequente será o uso de sites e aplicativos de compartilhamento de arquivos, como os de músicas e filmes.
A maior frequência no uso de e-mails também foi apontada como indicativo de depressão A contagem constante o correio eletrônico pode apontar altos níveis de ansiedade.
Mudanças constantes de aplicativos e sites também foram observadas, o que sugere dificuldades para manter o foco e a concentração.
por isso, vale a pena ficar atento em como você costuma usar a internet.

Vida on line

Depressão: o mal do século“Embora pessoas deprimidas possam utilizar o computador para se ocupar e preencher um vazio para buscar um forma de minimizar o sofrimento ou tentar ter alguma distração, o uso descontrolado das tecnologias pode trazer malefícios”,declara a psicóloga Solange Quintanilha.
Malefícios esse que podem ir desde um estresse prolongado, insônia e transtornos alimentares até a tão perigosa depressão.
Mesmo quem não apresenta sinais da doença pode vir a desenvolvê-la quando o uso das eletrônicos passa a ser de dependência.
“Os aparelhos oferecem uma saída passiva na qual o usuário não precisa interagir muito com o mundo ou enfrentar os problemas normais da vida”, completa a profissional.

Solange alerta para o contato cada vez mais precoce com as novas tecnologias. “É comum vermos crianças que preferem ficar em casa com os aparelhos em vez de sair para outros programas. É a vitória desse vício,compulsão ou obsessão”, relata.
Não há nada de errado em permitir que a criança se conecte com o virtual, porém, é fundamental o bom senso enquanto ela ainda está sob os cuidados dos adultos, já que a tecnologia irá acompanhá-la por toda a vida.

Não dá para desligar, e agora?

Muitas profissões dependem dos meios de comunicação, bem como das tecnologias. Até mesmo para se manter contato com os amigos e familiares ou ter alguns momentos de lazer, a internet é uma grande aliada. Difícil viver hoje sem ela. Mas é possível controlar o acesso e viver com qualidade.
“O que se tem que buscar é uma forma saudável de conviver com o uso desses aparelhos, vendo-os como mais uma atividade na vida e não como única.
Tem que haver um limite de tempo na utilização e ter uma vida social.
Nada substitui o contato real com as pessoas, a troca de carinho, o encontro com os amigos, os relacionamentos amorosos”, conclui a psicóloga.

Se você acredita que os aparelhos estão ocupando um espaço na sua vida maior do que deveria, busque enxergar o que está errado e peça ajuda profissional.

Pesquisas comprovam

Estudo realizado na Universidade de Leeds, do reino Unido, apontou que pessoas que passam muito tempo na internet são mais propensas a apresentar sintomas de depressão. Isso porque alguns internautas desenvolvem uma compulsão na qual substituem a interação da vida real por salas de bate-papo e sites de relacionamento.
Porém, os pesquisadores não conseguiram identificar s é a internet que causa depressão ou se é a rede que atrai deprimidos.
Já o uso descontrolado da internet entre jovens foi apontado como a causa de depressão em um estudo norte-americno publicado no Archives of Pedriatic ande Adolescent Medicine.
Nesse caso, a chance de desenvolver a doença é duas vezes maior do que em jovens que usam a rede de forma moderada.

Depressão: o mal do século

Ninguém me ama, ninguém me quer

É comum escutar alguém na terceira idade falar que já não é mais útil e que acredita que atrapalha a vida dos familiares. para quem trabalhou, cuidou da casa e dos filhos, que foi ativo a vida toda, realmente não é fácil chegar ao ponto no qual a rotina muda e novas limitações surgem.
Porém, é preciso lidar com a situação de forma tranquila, com compreensão e atenção.
Assim, fica mais fácil enxergar que cada idade tem seus prazeres.

Depressão: o mal do século

Mais frequente do que se imagina

Depressão: o mal do séculoDe acordo com a psicóloga Regiane Machado, a depressão é uma das doenças que mais acomete os idosos. Geralmente iniciada por uma tristeza por se deparar com a “nova vida”, a depressão é o ápice dos sinais que demonstram que a velha guarda está se deixando abater.
Limitações físicas, restrições em elaborar novos projetos de vida, falta de atividades que preencham o tempo livre e morte de amigos e parentes são as principais causas que levam à depressão.
A última, em especial, influencia o idoso a pensar que sua morte está próxima.
mas essa constatação pode ser encarada de duas formas: aproveitar melhor o tempo livre ou acreditar que não dá para fazer mais nada.
A escolha é um indício de como a pessoa está encarando o envelhecimento.

Mas é preciso atenção ao comportamento do idoso, pois é normal que alguns sintomas, como insônia, apatia e diminuição do apetite, por exemplo, comecem a surgir a partir dos 60 anos, e não são necessariamente ligados à depressão, e sim, a algumas outras doenças dessa fase. “Esses sintomas podem ser indicativos, porém nem sempre é depressão.
Ela pode surgir por diversos outros problemas, como a falta de socialização e atividades que proporcionam prazer e alegria”, destaca a psicóloga.
Por esse motivo, muitas vezes os familiares acreditam que aquele silêncio e reclamações constantes podem ser somente “coisas da idade”.
Regiane alerta que quando o convívio social está prejudicado é momento de tomar alguma atitude.
“Caso os sintomas permaneçam, se intensifiquem e ampliem, é necessário procurar um profissional especializado para ajudar o idoso a rever sua vida e a melhorar sua qualidade”.

Depressão: o mal do século

Afastando a tristeza.

Existem atitudes simples que podem contribuir (e muito!) para uma melhor qualidade de vida, bem longe da depressão:

  • Envolvimento social: programe viagens, passeios, encontros com amigos, eventos que fazem o idos estar em contato com pessoas e lugares alegres.
  • Atividades extras: aulas de pintura, de culinária ou alguma outra que envolva a criatividade são ótimas para preencher o tempo livre longe das obrigações do lar.
  • Exercícios físicos: terceira idade não é sinônimo de sedentarismo e se exercitar é fundamental para a saúde.
    Aulas de dança, yoga, hidroginástica e caminhadas leves são os mais indicados.
  • Tarefas cotidianas: é possível delegar algumas atividades no cotidiano, como levar os netos à escola, fazer o café da tarde, cuidar do  jardim.
    Assim, o idoso se sente útil e traças metas para o dia a dia.
  • Por o papo em dia: a conversa vai bem em toda fase da vida, principalmente na terceira idade.
    O resultado de alguns minutos de diálogo faz muito bem; para ambos os envolvidos.

 Tem cura, claro!

Embora cada caso tenha sua particularidades e o tratamento não seja padrão, a cura da depressão é uma realidade há bastante tempo.

Os melhores resultados no tratamento da depressão são obtidos com a combinação de psicoterapia e medicamentos, mas a possibilidade de cura com o emprego de um ou outro método isoladamente não pode ser descartada. No entanto, é bom ter consciência de que apenas um especialista poderá dizer qual é a terapia ideal.
Além disso, só um psiquiatra pode determinar o tempo de uso e a dosagem dos remédios, todos de venda controlada (a receita fica retida na farmácia).
“Há casos em que não pode haver interrupção da medicação sem risco de retorno do quadro depressivo, mas não é a maioria.
Geralmente se faz o tratamento e depois pode haver uma diminuição progressiva da medicação sob acompanhamento do psiquiatra.
Isso porque muitas pessoas ficam dependentes psicologicamente da medicação e recusam as tentativas do psiquiatra de retirá-los gradualmente”, lembra o psiquiatra Bernard Miodownik.

Outro aspecto relevante em relação aos medicamentos antidepressivos é evitar a banalização do uso. “É importante também não se criar o hábito de ‘medicalizar’ as tristezas normais da vida de cada um”, acrescenta o profissional. Traduzindo: jamais se deve usar antidepressivos sem o diagnóstico definitivo da doença.

O caminho da cura

Depressão: o mal do séculoO emprego isolado de psicoterapia é possível em casos específicos, especialmente se o episódio depressivo tem uma origem facilmente identificável, mas não apenas.
“A psicoterapia é especialmente útil em pacientes incapazes de tolerar medicamentos ou que não estejam dispostos a cumprir com o tratamento medicamentos e em pacientes com dificuldades interpessoais ou com sentimentos de desesperança.
Porém, a psicoterapia não deve ser vista como substituta para o tratamento medicamentoso.
Com certeza, os melhores resultados são conseguidos pela combinação de terapia farmacológica e psicoterápica”, afirma a psicóloga Margarete Pinho.
A profissional frisa que nos casos de depressão maior ou grave é necessária a intervenção do psiquiatra.
“Devido a necessidade de medicamentos, que interferem clinicamente no organismo, quando há diminuição na produção dos hormônios responsáveis pelo humor, pela vontade, pelo prazer e alegria”, completa.

Em 2007, um artigo publicado na revista científica Journal of Neuroscience, dos Estados Unidos, apresentou resultados de um estudo segundo o qual tratar a depressão apenas com psicoterapia pode, inclusive, agravar o quadro. isso acontece quando a origem do problema é fisiológica ou neurológica – ou seja, na maioria dos casos.
Mas um bom psicólogo sempre saberá avaliar a necessidade de encaminhar ou não seu paciente para um psiquiatra.

No divã

Existem vários tipos de psicoterapias, com diferentes abordagens, inclusive com variações de um país para o outro, devido à particularidades culturais. No entanto, as que tem se mostrado mais eficientes são a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e a Terapia Interpessoal (TI).

TCC – Na verdade, é uma combinação de duas correntes terapêuticas, a cognitiva e a comportamental. A primeira, resumidamente ajuda os pacientes a terem uma visão mais positiva dos acontecimentos, uma vez que parte do pressuposto de que é o modo como as pessoas encaram os mesmos que podem torná-los uma grande tragédia ou não.
Já a comportamental, procura desenvolver nos pacientes um padrão de resposta diferente diante das dificuldades da vida.
Ou seja, uma vê o modo como a pessoa aprende os significados (ou interpreta os fatos) e a outra, como reage.
A interação dessas diferentes abordagens tem um grande potencial de mostrar à pessoa deprimida novas perspectivas diante dos acontecimentos que vê como negativos.

TI – É um tratamento de tempo limitado, geralmente realizado em 16 sessões (uma por semana) e funciona bem na fase aguda de alguns tipos de depressões, com ou sem uso associado de medicamentos.
Em geral, dá mais importância à s relações interpessoais atuais e não passadas, com isso, procura ajudar o paciente a lidar com os problemas criados ou associados ao episódio depressivo.
A TI procura se concentrar no que os terapeutas chamam de “área problema”, sendo as mais comuns, quando se trata de depressão, o luto (perda de alguém muito querido), as disputas interpessoais (com parceiros, filhos, outros membros da família, amigos, companheiros de trabalho), as mudanças de papéis (novo emprego, saíde de casa, término dos estudos, mudança de casa, divórcio, mudanças econômicas ou outras mudanças familiares) e os déficits interpessoais (solidão, isolamento pessoal).

Na farmácia

Os primeiros medicamentos capazes de combater a depressão forma descobertos na década de 1950. Passado pouco mais de meio século, evoluíram tanto em termo de qualidade como disponibilidade. Atualmente, existe uma lista razoável de medicamentos antidepressivos nas farmácias. Apenas psiquiatras podem receitá-los.
“Mas o psicólogo bem formado e com experiência certamente saberá a hora de encaminhar o paciente para uma avaliação psiquiatra.
Como já foi falado, o uso d medicação não exclui a importância da psicoterapia.
Essa é essencial para se conhecer as causas dos sintomas e também para trabalhar as consequências da doença depressiva na vida familiar, pessoal e profissional do paciente”, afirma Bernard.

Todo cuidado é pouco em relação a qualquer tipo de medicamento e com os antidepressivos deve ser ainda maior em virtude dos possíveis efeitos colaterais. “De uma forma geral, os antidepressivos agem no metabolismo cerebral, nos receptores serotoninérgicos e noradrenérgicos.
Há diversas classes de antidepressivos, os mais antigos, como os tricíclicos e os IMAO, são os que causam mais efeitos colaterais, podendo levar até à suspensão do tratamento.
Mas são importantes instrumentos terapêuticos, se o paciente consegue tolerar be”, reforça o psiquiatra.

Entenda os antidepressivos

Os métodos mais usados de classificação dos antidepressivos é baseado em seu mecanismo de ação e não em suas estruturas químicas, como acontece com boa parte dos remédios.

Inibidores da Monoaminoxidase (IMAOs)

Age inibindo uma enzima chamada monoaminoxidase (MAO), que faz parte do metabolismo de serotonina, noradrenalina e dopamina, substâncias associadas à sensação de bem-estar. Com isso, a disponibilidade das mesmas é maior e os sintomas depressivos diminuem.
No entanto, os efeitos colaterais são frequentes, como vertigens e tonturas, especialmente ao levantar.

Tricíclicos (ADTs)

Também funciona como antidepressivo por aumentar de disponibilidade de serotonina, porém, por meio de outro mecanismo. Em geral, há um período de três a quatro semanas de latência até que os resultados comecem a ser sentidos.
A maior desvantagens desses remédios é que seus efeitos colaterais, ao contrário dos terapêuticos, costumam-se manifestar rapidamente e podem incluir: boca seca, visão turva, prisão de ventre, retenção urinária, aumento da frequência cardíaca, tremores de mãos, sedação, dificuldades de memorização, gagueira, agitação, estados mentais confusos e sonolência.

Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)

Talvez seja a classe de antidepressivos mais empregada atualmente. Os principais são a fluoxetina, sertralina e paroxetina. Age diretamente no bloqueio da recaptação de serotonina, aumentando sua disponibilidade. Seus efeitos, em geral, começam a ser sentidos entre a segunda e a quarta semana de uso.
Tem uma certa vantagem em relação aos efeitos colaterais, bem menos frequentes, mas não completamente descartados, como náuseas, dores abdominais, diarreia, agitação, ansiedade, insônia, nervosismo, alterações do sono, fadiga, tremores, perda ou ganho de peso, disfunções sexuais e reações dermatológicas.

Antidepressivo noradrenérgico e específico serotoninérgico (ANES)

Trata-se de uma classe relativamente nova de antidepressivos, cujo maior representante é a mirtazapina. É considerado mais eficiente por combinar ações de outros medicamentos bloqueando receptores de serotonina, noradrenalina e histamina, além de agir como antagonista (que atua em sentido oposto).
No entanto , tem uma característica de não gerar efeitos secundários quando há interação com outros medicamentos.
Os efeitos colaterais também são bem menos frequentes.

Outras classes de antidepressivos, menos empregadas, são:

  • Inibidores seletivo de recaptura de 5-HT/NE (ISRSN), que funcionam como os ISRS, mas além da serotonina aumentam também a disponibilidade de noradrenalina.
  • Inibidores de recaptura de serotonina e antagonista alfa 2 (IRSAs).
  • Inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina (ISRN).
  • Inibidores seletivo de recaptura de dopamina (ISRD).

Em casa é sempre melhor

Algo que já foi comum no passado e que, felizmente, tem se tornado cada vez mais raro é a internação de pessoas com depressão. “Hoje em dia, a minoria de casos de depressão necessita de internação em clínicas especializadas.
Somente quando há risco para a vida do paciente, como em tentativas de suicídio, em que o ambiente familiar não consegue proteger adequadamente ou quando há um negativismo intenso em que o paciente recusa ingerir alimentos e medicação.
Preferencialmente, se há condições seguras, o tratamento deve ser feito no próprio ambiente do paciente.
A família também precisa ser assessorada em termo de orientação e de apoio psicoterápico”, conclui o psiquiatra Bernard Miodownik.

Novas descobertas

O que a ciência diz sobre diagnóstico e tratamentos contra depressão:

Exame de sangue – Cientistas identificaram determinadas variações genéticas que são frequentes em mães que apresentam depressão pós-parto.
Portanto, segundo os autores (pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Warwick, na Grã-Bretanha), é possível desenvolver um exame de sangue específico para avaliar tais variações, prevenindo e tratando a depressão.
Esses resultados foram apresentados no Congresso Internacional de Endocrinologia, em Florença, na Itália.

Prevalência Feminina – A depressão é uma doença com prevalência maior entre as mulheres e o grande número de queixas por parte delas levou a psicóloga Mirna Yamazato Koda a investigar a produção dos sintomas depressivos nas mulheres atendidas em serviços de saúde pública.
A pesquisa “Depressão em mulheres:um estudo a partir dos vínculos familiares e sociais” foi apresentada no Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP) e observou um grande contexto de sofrimento comum a todas as mulheres estudadas, mostrando a depressão como um problema de ordem social, e não apenas biológico.
“A depressão normalmente é tratada sob o ponto de vista biológico, com o estudo do cérebro, mas ela também reflete um contexto social.
O número de casos dessa doença, por exemplo, vem aumentando muito nos últimos tempos, o que reflete todo o estilo de uma sociedade”, completa Mirna.

Plantas promissoras – Resultados publicados no Journal of Pharmacy and Pharmacology sugerem que substâncias encontradas nas espécies Crinum e Cyrtanthus, um tipo de narciso, podem levar a novas drogas que agem diretamente sobre os mecanismos no cérebro que estão envolvidos nos sintomas depressivos.
Para o trabalho, foi utilizado um modelo de laboratório de barreira hematoencefálica que isola o cérebro do sistema circulatório.
Testando as espécies Crinum and Cyrtanthus nesse modelo de laboratório, eles descobriram que as plantas contém compostos com potencial para se ligarem a proteínas transportadoras no cérebro e desarmar a barreira sangue-cérebro.
Segundo os pesquisadores, o maior desafio no tratamento médico de doenças do cérebro é que as drogas atuais não conseguem passa através da barreira sangue-cérebro.
É de grande interesse encontrar compostos que consigam enganar essa linha de defesa.

Homeopatia e depressão – Um trabalho científico publicado na Revista de Psiquiatria Clínica da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o tratamento da depressão com o uso da homeopatia alcançou resultados muito satisfatórios.
Foram tratados 15 casos e observou-se resposta terapêutica (redução maior que 50%) em 14 pacientes (93), após uma média de sete semanas de tratamento.
Um paciente apresentou piora clínica e foi encaminhado ao tratamento convencional.
Os resultados sugerem que a homeopatia pode ser uma alternativa terapêutica no tratamento da depressão, mas estudos randomizados e controlados são necessários para se testar a eficácia e segurança do tratamento homeopático dos transtornos depressivos.

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