Diabetes: ameaça invisível

Má notícia: o Brasil é um dos dez países com maior incidência de diabetes, doença silenciosa que danifica partes vitais do organismo (o coração, os rins, os nervos, as artérias e os olhos).
 Segundo o Ministério da Saúde, há 11 anos milhões de portadores de diabetes e outra multidão a caminho de desenvolver o quadro, já que um dos principais fatores de risco, a obesidade, cresce a passos largos entre nós.

“Metade dos portadores não faz idéia de que suas taxas de açúcar no sangue estão perigosamente altas e entre os que já receberam o diagnóstico, a maioria não segue o tratamento indicado, o que aumenta as chances de complicações”, alerta Saulo Cavalcanti, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
 Para reverter esse cenário, as entidades médicas investem em campanhas, como a realizada em 14 de novembro de 2010, Dia Mundial do Diabetes, sob o tema Educar para Prevenir.
A campanha desse ano (2011) foi fraca.
 Afinal meus amigos, corrigindo hábitos e vigiando o peso, é possível evitar a manifestação mais freqüente, o diabete tipo 2, que acomete 90% dos doentes.
E uma vez instalado o distúrbio, a descoberta precoce e o tratamento bem orientado afastam as complicações.

Por que as taxas de açúcar disparam?

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Uma das principais causas de doenças e morte prematura, o diabetes surge quando a insulina falta ou não age como deveria. Daí sobra glicose no sangue. Quando nos alimentamos, os níveis de glicose (açúcar) no sangue sobem, mas logo tudo se normaliza. O pâncreas trata de pôr ordem na casa, ativando a produção de insulina.
“O hormônio funciona como uma chave que abre a porta para a entrada da glicose nas células”.
 A glicose é o principal combustível para a atividade celular.
Às vezes, porém, algo sai errado: as células ficam privadas de sua fonte de energia e o açúcar começa a se acumular na corrente sanguínea.
 Esse quadro recebe o nome de diabetes e costuma ter duas explicações: a produção de insulina é insuficiente (porque os pâncreas sintetiza menos do que o necessário ou, pior, torna-se incapaz de cumprir essa Tarefa) ou surge resistência aos efeitos desse hormônio.

No diabete tipo 1, que corresponde a 10% dos casos e atinge principalmente crianças e adolescentes, há grave deficiência de insulina. As células do pâncreas, encarregadas de produzi-las, são destruídas pelo sistema imunológico do paciente, por isso é que se qualifica esse tipo de diabetes de doença autoimune.
 O início geralmente é abrupto e acompanhado de sintomas como perda de peso, sede em excesso e aumento da freqüência urinária.
Já o diabetes 2, o mais comum, o pâncreas desempenha seu papel, mas o organismo resiste aos efeitos da insulina, expondo as células a um progressivo racionamento deste hormônio.
 Pode levar anos até a alteração ser percebida.
Para compensar, o pâncreas trabalha dobrado.
Com o tempo, no entanto, o esforço deixa de ser suficiente para manter a glicose em níveis normais e as células produtoras de insulina podem ficar esgotadas a ponto de encerrar suas atividades, prematuramente.
A cada 5 segundos uma pessoa adquire diabetes no mundo.
No Brasil, um novo caso surge a cada 1 minuto e 24 segundos.

Os riscos de ter o sangue açucarado

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Com altas concentração de glicose, o sangue tende a fazer estragos por onde passa. “O que acontece quando uma maçã doce entra em contato com o oxigênio? – pergunta a endocrinologista Christiane Sobral – “Ela oxida.
Da mesma forma, a glicose em contato com o oxigênio do sangue sofre oxidação (ferrugem), o que agride tanto os pequenos vasos que irrigam a retina quanto as grandes artérias do coração.
O cérebro, os rins e os nervos (até mesmo os que irrigam o pênis) também podem ser lesados.
” “Ter diabetes é o mesmo que carregar um escorpião no bolso”, compara o endocrinologista Saulo Cavalcanti.
“Quem faz o controle adequado mantém esse escorpião dentro de um vidro tampado; quem não faz, abre o vidro e corre o risco de ser picado”.
Como a doença é silenciosa, ela pode avançar ao longo de 10, 15, 20 anos, sem produzir dor ou qualquer outro sintoma.
E quando finalmente a doença é detectada, o portador já sofre com suas consequências.
O diagnóstico precoce e o tratamento bem planejado evitam esse desfecho: reduzem em até 70 % o risco de complicações.
 Assim, mesmo que o distúrbio ainda não seja curável é possível, sim, ter uma boa qualidade de vida, apesar do diabetes.
O importante é conhecer e controlar o inimigo, em vez de permitir que eles assuma o comando da situação.

Perigo na gravidez

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Para manter o bebê nutrido, a placenta produz hormônios que aumentam as taxas de açúcar no sangue. O pâncreas reage, sintetizando mais insulina e tudo se normaliza. Às vezes, porém, o órgão não dá conta do recado.
Com isso, os níveis de glicose ficam altos, o que pode prejudicar o parto e o amadurecimento do bebê e aumentar o risco de pré-eclâmpsia, perigosa subida da pressão arterial no final da gravidez.
O controle adequado (por meio de dieta ou uso de insulina) evita esses males, informa a endocrinologista Denise Reis Franco.
Por isso, já na primeira consulta do pré-natal, o obstetra solicita exames para pesquisa de diabetes gestacional.
Em torno de 7% das gestantes desenvolvem o quadro, especialmente quem já passou dos 35 anos, apresenta ganho acentuado de peso e possui histórico familiar de diabetes.

A palavra chave é prevenção

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Olho vivo se você apresenta obesidade, vida sedentária, colesterol alto, hipertensão arterial e, claro, familiares com histórico de diabetes. “Como a doença é progressiva, quem tiver fator de risco deve investir em medidas preventivas, mesmo sem manifestar sintoma”, orienta  a endocrinologista Nathalia Ferreira.
O que mais inquieta é a obesidade.
Segundo o ministério da saúde, nas últimas três décadas (de 1974 a 2009), a prevalência de sobrepeso entre homens adultos pulou de 18,5% para 50,1%, e nas mulheres foi de 28,7% para 48%.
Quer dizer, quase metade da população brasileira não está em dia com a balança por conta da oferta crescente de alimentos industrializados extremamente calóricos, da redução no consumo de cereais, leguminosas, frutas e verduras e da expressiva diminuição na atividade física.
A gordura é perigosa, sobretudo ao se depositar na barriga: também invade o fígado, atrapalhando o seu funcionamento, promove a liberação de compostos, que impedem a correta ação da insulina e pode até matar as células do pâncreas incumbidas de produzir este hormônio.

Juventude na mira

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Uma pesquisa com 8.020 estudantes, entre 10 e 15 anos de idade, de escolas paulistanas concluiu que 25,56% estão acima do peso recomendado.
Com o avanço da obesidade, quadros que só eram observados em adultos, como o diabetes tipo 2 e as alterações metabólicas que precedem o aparecimento dessa doença (pré-diabetes) começam a ser encontrados em faixas etárias cada vez mais precoces, até mesmo na infância e adolescência.
A Federação Internacional de Diabetes alerta para os riscos entre os jovens: o consumo de bebidas alcoólicas, as noites maldormidas e o sedentarismo tornam essa fase mais suscetível às complicações decorrentes do mau controle do diabetes.
Dieta e exercícios físicos podem evitar o ganho de peso e afastar o risco de diabetes, mesmo  em quem tem antecedentes na família.
9 entre 10 casos de diabetes tipo 2 podem ser prevenidos, segundo cálculos efetuados na Universidade de harvard (EUA).

Se a pessoa apresentar tendência hereditária, mas conservar um peso saudável, as chances de ter diabetes desabam. “A genética conta mas não é o fator principal”, avisa a endocrinologista Marília de Brito Gomes, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. “O carro-chefe é a obesidade.
Portanto, quem tem pai, mãe ou irmãos com diabetes, mas fizer um esforço para manter o peso saudável, pode escapar desse destino”.

Combinação explosiva

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O cuidado deve ser redobrado se pressão alta e colesterol elevado se somarem à barriguinha de chope. O trio configura a síndrome metabólica, que repercute mal sobre o trabalho da insulina. Ela desencadeia a resistência ao hormônio, que precede o diabetes, por isso também leva o nome de pré-diabetes.
Nessa fase, os exames já acusam as primeiras alterações.
O mais prescrito é a glicemia de jejum, que deve ser feita a partir dos 35 anos, ou antes, na presença de fatores de risco.
Alguns cientistas afirmam que no pré-diabetes o pâncreas já está sofrendo agressões.
Mas é possível impedir que o órgão  se sobrecarregue e o diabetes se instale.
Corrigir a dieta, praticar exercícios físicos, controlar o peso e, conforme a situação, entrar com medicamentos que derrubem os índices de açúcar evitam novos danos e o progresso da doença.
perdas de apenas 5% a 10%  do peso corporal podem ser suficientes para reverter o quadro.
As mudanças no estilo de vida conseguem prevenir ou adir o aparecimento da doença em quase 60% dos casos.
Prova de que o esforço vale a pena.
remediar é pior que prevenir.
Custa menos e produz resultado mais eficiente investir  na prevenção do diabetes a ter de tratar o problema e suas complicações.

Tipos de diabetes

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Diabetes mellitus é uma síndrome que se caracteriza por níveis de glicose elevados no sangue (hiperglicemia) e distúrbios do metabolismo de gorduras e proteínas. “Decorre da falta do hormônio insulina ou da resistência à sua ação, isto é, incapacidade da insulina de exercer seus efeitos adequadamente.
Geralmente, as duas alterações coexistem e decorrem de fatores genéticos e ambientais de predisposição”, explica a endocrinologista Maria Elizabeth Rossi da Silva, especialista em diabetes.
A partir dessas características, existem dois principais tipos de diabetes:.

Tipo

Nesse tipo, predomina a deficiência de produção de insulina.  É um processo autoimune, em que o próprio organismo destrói as células beta do pâncreas, produtoras de insulina. Por isso, as pessoas necessitam de doses diárias do hormônio para manterem a glicemia adequada. “Compreende menos de 10% dos casos de diabetes.
Seu diagnóstico é feito pelas manifestações clínicas intensas, como emagrecimento e desidratação”, destaca a endocrinologista.
O tipo 1 pode ser hereditário e ocorre, geralmente, em crianças e adolescentes.

Tipo

É o tipo mais frequente e atinge, em sua maioria, adultos após 40 anos. A doença surge associada a outros distúrbios como: obesidade, hipertensão e taxa elevada de colesterol e triglicerídeos no sangue. Caracteriza-se pela resistência das células à insulina, fazendo com que a glicose se acumule na corrente sanguínea.
“O tratamento é feito com dieta, exercícios físicos e medicações orais que reduzem os níveis de glicose.
Somente após vários anos podem vir a necessitar do tratamento com insulina”, ressalta Maria Elizabeth.

Outras definições

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MODY – Do inglês Maturity-Onset Diabetes of the Young (diabetes do jovem com características da maturidade), esse tipo da doença se caracteriza por defeitos genéticos da função das células protetoras de insulina (como o tipo 1), mas que, geralmente, não requer o uso de insulina no tratamento inicial.
Na maioria dos casos, a pessoa tem um histórico familiar com três ou mais gerações sucessivas acometidas.
Representa de 1% a 5% dos casos de diabetes diagnosticados como tipo 2.
No total, foram identificados seis tipos de diabetes MODY.
“Compreende formas menos comuns de diabetes, cada uma causada por um gene já identificado, diferentemente do diabetes tipo 2, que cursa com alterações em vários genes poucos conhecidos”, explica a endocrinologista.

LADA – Sigla do inglês Latent Autoimune Diabetes of the Adult (Diabetes latente autoimune do adulto), o tipo LADA também é autoimune, semelhante ao diabetes tipo 1, mas com algumas diferenças.
Uma delas é a idade, pois costuma aparecer em pessoas com mais de 35 anos, que não apresentam distúrbios desencadeadores, como obesidade e hipertensão, além de não terem casos da doença na família.
Outro fator é que a destruição das células beta é mais lenta que no diabetes tipo 1, sendo possível o tratamento por medicamentos orais.
“O LADA difere, portanto, do diabetes tipo 1 da criança, que requer insulina já no diagnóstico, pois cerca de 90% das células beta foram destruídas”, define Maria Elizabeth.

Os 5 vilões do diabetes

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Alguns alimentos fazem disparar as taxas de açúcar no sangue. Os doces ocupam o topo desse ranking, pois a glicose disponível alí rapidamente é digerida e entra na circulação. Mas há também outros malfeitores, nem sempre reconhecidos. Veja aqui o que vale a pena manter distância.

 – Refrigerantes comuns

O total de açúcar adicionado a essas bebidas excede o limite saudável. No final de 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertou que os refrigerantes à base de guaraná e de cola apresentam teores de açúcar em torno de 10 g/100 ml.
Quer dizer, uma latinha de 350 ml concentra espantosos 35 g de açúcar, quase 2 colheres e 1/2 (sopa).
Atenção, pois pois o consumo de bebidas excessivamente açucaradas eleva o risco de desenvolver diabetes tipo 2, confirmou um recente estudo da Universidade de Harvard (EUA).

 – Sucos industrializados

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O levantamento da Anvisa trouxe um dado surpreendente: sucos e néctares de frutas, apesar de supostamente “saudáveis”, podem ter tanto ou mais açúcar que os refrigerantes: o menor valor foi 9,8 g/100 ml para o suco de manga e o maior valor 14,5 g/100 ml para o suco de uva.
Detalhe: nem os sucos de soja escapam!

 – Iogurtes e leites desnatados

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Um potinho de 80 g de leite fermentado pode abrigar 13 g de açúcar; no de iogurte de frutas (170 g) esse índice alcança 30 g (ou 2 colheres das de sopa). Cuidado!

 – Barra de cereais

De tão doces, algumas conseguem ser mais calóricas que chocolate. Prefira as diet/light, mas confira a embalagem.

 – Ketchup e molhos prontos

Apesar de nem sempre perceptível, o açúcar pode representar 20% de sua composição, já que realça o sabor salgado. Antes de se esbaldar no tempero, leia o rótulo e escolha o que for isento desse ingrediente e pobre em carboidratos.

Mel & Cia

Não se deixe enganar: mel, melado, açúcar mascavo e cristal se equivalem quando o assunto é elevar as taxas de glicose no sangue. Da mesma forma, a frutose (açúcar originário das frutas). Assim, não são isentos de calorias, nem devem ser usados como se fossem adoçantes.
Quem deseja controlar o peso e os portadores de diabetes devem consumir com moderação.

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