Álcool: As reais consequências do consumo

Apesar de o álcool possuir grande aceitação social e seu consumo ser estimulado pela sociedade, este é uma droga psicotrópica que atua no sistema nervoso central, podendo causar dependência e mudança no comportamento. O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes é um problema que desperta preocupação no mundo todo.
A discussão é de grande importância para a saúde pública, sendo necessária a atenção das autoridades, profissionais da saúde, pais e educadores.

Álcool e seus efeitos sociais

Considerado um dos principais fatores de contribuição para mortes prematuras e incapacidades, além de ser um gerador de violência, desemprego e absenteísmo, o consumo de álcool é um dos mais graves problemas de saúde pública da atualidade.

Álcool: As reais consequências do consumoO álcool etílico (ou etanol) é uma das substâncias psicoativas mais utilizadas pelas sociedades humanas. Sua origem é incerta, porém, acredita-se que seu uso teve início a partir de um processo de fermentação natural ocorrido há aproximadamente 10.000 anos.
Com o passar do tempo, novas formas de bebidas alcoólicas foram sendo introduzidas e um produto que, ora produzido artesanalmente, foi gradualmente transformado numa mercadoria industrial amplamente disponível.
Atualmente, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que há 2 bilhões de consumidores de álcool no mundo, o que acaba por gerar uma imensa carga global de doenças e custos econômicos.

O uso nocivo do álcool é considerado um dos principais fatores de contribuição para mortes prematuras e incapacidades, sendo um dos mais graves problemas de saúde pública da atualidade. Somente no ano de 2002, foi estimado que 2,3 milhões de mortes prematuras foram ocasionadas pelo álcool, representando 3,7% do total de mortes no mundo.
Além disso, o álcool está associado a inúmeras consequências sociais, como a violência, o desemprego e o absenteísmo, gerando alto custos a toda sociedade.

A compreensão dos efeitos potenciais do consumo de álcool, sejam eles benéficos ou prejudiciais, é aspecto importante da prevenção dos danos associados ao uso dessa substância.
A elaboração de padrões de consumo (os mais utilizados são o uso moderado, uso “binge” e uso pesado) é feita levando em conta quantidades e frequências ingeridas assim como aspectos médicos e psicossociais do uso de bebidas alcoólicas.

Álcool: As reais consequências do consumo

Padrões de consumo

O uso moderado de bebidas alcoólicas conceito difícil de definir na medida em que ele pode transmitir ideias diferentes. Comumente essa definição é confundida com beber socialmente, que significa o uso de álcool dentro dos padrões aceitos pela sociedade.
O National Institute of Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) utiliza o termo beber “moderado” para se referir ao consumo com limites onde não há prejuízos ao indivíduo e à sociedade.

O uso “binge” corresponde ao padrão de uso pesado de álcool episódico, sendo definido pelo uso de cinco doses de bebida alcoólica em uma única ocasião para homens e quatro doses para mulheres.
Sua aplicação vale para a população em geral, contudo, com frequência, sua citação está relacionada a grupos específicos, como os estudantes universitários.

O uso pesado de álcool é um padrão de uso de bebidas que excede o uso moderado de álcool. Geralmente, é definido em termos de consumo excessivo diário de certo volume de álcool.

Dessa maneira, o entendimento dos padrões de consumo de álcool é prática de grande importância, na medida em que cria diretrizes que possibilitam a predição das principais consequências relacionadas ao uso de álcool.
De maneira semelhante, se faz necessário o esclarecimento de quais são as principais propriedades do álcool e os efeitos bioquímicos diretos ocasionados com a ingestão de bebidas alcoólicas.

A taxa de absorção do álcool depende de diversos fatores: ele é absorvido mais rapidamente quando estamos de estômago vazio ou ingerimos bebidas alcoólicas contendo gás carbônico, como o uísque com soda ou champagne.
Já os alimentos, principalmente aqueles com alto conteúdo de carboidratos, retardam a absorção de álcool, de tal forma que sua concentração sanguínea, quando o estômago está cheio, pode ser 75% menor que a obtida com o estômago vazio.

No geral, o álcool é removido do sangue a uma taxa de 15 mg de álcool/100 ml de sangue/hora, variando esse valor conforme a constituição física (peso/altura), o sexo da pessoa e também de acordo com a ocasião do consumo e a quantidade ingerida de álcool.
A concentração de álcool no sangue tende a ser maior entre as mulheres, que possuem um menor volume sanguíneo e baixos níveis da enzima álcooldesidrogenase no estômago (responsável pelo metabolismo do álcool), quando comparadas aos homens.

A questão de como reagir aos diversos padrões de consumo do álcool tem imposto a todos um grande desafio de criar estratégias de intervenção que sejam capazes de diminuir o seu uso nocivo, o qual interfere negativamente na vida do usuário, seja em termos individuais, seja em seu entorno social imediato ou na sociedade como um todo.
Claramente, o suporte científico é de fundamental importância para a discussão dos principais problemas advindos do consumo indevido de álcool, tema este de grande repercussão e importância ao longo da história da humanidade.

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Dependência: causas e tratamento

A dupla moral de uma sociedade que, por um lado, tolera ou promove o consumo moderado do álcool e, por outro, discrimina o consumo excessivo e sem controle, confunde a população, que precisa se orientar pelas normas.

O abuso e a dependência de álcool são os transtornos comumente relacionados ao consumo de álcool. Embora comuns, são potencialmente letais, pois podem mimetizar e exacerbar as condições psiquiátricas individuais pré-existentes, podendo diminuir, em até 10 anos, a expectativa de vida das pessoas afetadas.

A dependência ocorre em homens e mulheres e em indivíduos de todas as raças e classes sócio-econômicas.
Na ausência de dependência alcoólica, o indivíduo pode receber o diagnóstico de abuso de álcool se ele apresentar problemas repetidos decorrente do uso desta substância em pelo menos uma das quatro áreas relacionadas ao viver: esfera social, interpessoal, legal e problemas ocupacionais ou persistência do uso em situações perigosas, como beber e dirigir.

Em termos epidemiológicos, os transtornos relacionados ao consumo de álcool Têm sido mais prevalentes em países desenvolvidos e entre os homens. Porém, embora menores, são substanciais as prevalências desses transtornos em países em desenvolvimento.
Assim como a maioria dos transtornos médicos ou psiquiátricos, o curso clínico dos transtornos relacionados ao consumo de álcool é previsível (na ausência de transtornos psiquiátricos maiores como,  transtornos psicóticos, de humor e ansiedade).

Dura estatística

De acordo com o relatório do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), publicado em junho de 2004, aproximadamente 35% da população adulta americana não consome nenhum tipo de bebida alcoólica, 60% faz um uso moderado do álcool e 5-7% abusa do álcool ou são alcoolistas. O consumo de álcool nos Estados Unidos causa 100.
000 mortes anuais, dentre as quais 16.
000 estão associadas a acidentes de trânsito.
Verifica-se ainda que indivíduos que abusam do álcool veem-se envolvidos em um número maior de mortes relacionadas a episódios de violência, suicídio, envenenamento, cirrose hepática, câncer e derrame.
Paralelo aos efeitos maléficos do abuso de bebidas alcoólicas, verifica-se que o álcool contribui para a prevenção de doenças coronarianas, as quais são a maior causa de morte nos Estados Unidos.

O uso de bebidas alcoólicas no Brasil é realidade bastante difundida e fonte de preocupação entre as autoridades. De acordo com o I Levantamento Nacional de Álcool na População Brasileira, o início do uso de álcool na vida e início do uso regular dos jovens entrevistados deram-se, respectivamente, para as idades de 13,9 e 14,6 anos.
Metade dos brasileiros (52%) admitiu consumir bebidas alcoólicas pelo menos uma vez uma vez no último ano e os 48% restantes relataram estar abstinentes, de tal forma que não fizeram uso na vida e tampouco nos 12 meses anteriores à entrevista.
Cerca de 3% dos brasileiros relataram ter feito uso nocivo e 9% dos indivíduos foram considerados dependentes de álcool, prevalência quatro vezes maior entre os homens.
Ainda segundo este estudo, mulheres apresentam maior prevalência de abstinência (59%) e os homens bebem mais frequentemente, ou seja, 39% dos homens bebem pelo menos uma vez por semana, dos quais 11% bebem diariamente.

Dados importantes sobre o consumo de álcool na Região Metropolitana de São Paulo foram recentemente obtidos pelo estudo “São Paulo Megacity”, iniciativa que faz parte do World Mental Health Survey Initiative (WHMS), um consórcio sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde (OMS), Universidades de Harvard e Michigan.
Realizado em 28 países, o VHMS tem como principal objetivo obter informações sobre transtornos mentais (incluindo os decorrentes do uso do álcool) em todas as regiões, utilizando os mesmos rigorosos métodos e critérios diagnósticos.
Na Região Metropolitano de São Paulo (cidade de São paulo mais 38 municípios), a avaliação foi feita com uma amostra representativa da população geral adulta (5.
037 indivíduos, acima de 18 anos) residentes nesta região.
A grande amioria (86%) disse ter consumido ao menos uma dose de álcool (uma taça de vinho, uma lata de cerveja, ou uma dose de destilado) pelo menos uma vez na vida, enquanto que 56,2% referiram consumir álcool pelo menos 12 doses em um período de 12 meses.
Com relação aos transtornos relacionados ao uso de álcool, 9,4% e 3,3% dos entrevistados apresentaram, respectivamente, abuso e dependência do álcool, de acordo com critérios diagnósticos da 4ª edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV), da Associação Psiquiátrica Americana.
Nota-se que as diferenças nas prevalências para o abuso e dependência de álcool, entre os estudos nacionais anteriores e do são paulo Megacity, provavelmente devem-se a diferentes amostragens, metodologia e critérios diagnósticos utilizados.

Entre os gêneros

Estudos conduzidos em diversas regiões do mundo têm demonstrado, ainda, que os homens são, com menor frequência, abstêmios, consomem mais álcool e causam mais problemas em decorrência desse uso.
No entanto, com novo padrão de consumo feminino, muitos veículos de comunicação têm abordado a “anorexia alcoólica”, “alcool-rexia” ou “drunkorexia” (junção da palavra drunk, que significa bêbado em inglês, e anorexia nervosa, um transtorno alimentar).
Estima-se que 16% dos indivíduos com transtornos alimentares também sofrem de abuso ou dependência de álcool.

A dependência do álcool é um transtorno complexo que envolve aspectos genéticos, psicológicos e socioculturais. Pesquisas conduzidas nos EUA mostraram que indivíduos que iniciam o consumo de álcool antes dos 16 anos de idade possuem risco 1,3 a 1,6 vezes maior de se tronarem dependentes.
Estudos realizados com gêmeos têm demonstrado que a dependência alcoólica é influenciada por fatores hereditários e ambientais (como a influência familiar) comuns.

A ocorrência de eventos potencialmente traumáticos como abuso intil, problemas conjugais, desemprego, baixo nível educacional, determinadas etnias e aculturação tem sido considerados fatores psicológicos de riscos para o alcoolismo. Há também a correlação da dependência de álcool com comorbidades, em especial transtornos de ansiedade e depressivos.

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Reação do corpo

Os principais tipos de tratamento disponíveis para dependência do álcool são: médico; psicológico; grupos de autoajuda (Alcoólicos Anônimos – AA); e comunidades terapêuticas. Alguns pacientes se beneficiam mais de um determinado modelo de tratamento do que outros.

A incidência de câncer é a segunda causa de morte precoce entre sujeitos com transtornos relacionado ao uso de álcool, possivelmente refletindo o efeito da substância no sistema imune, podendo, por tal motivo, exacerbar o curso de hepatite C e complicar o tratamento medicamentoso para AIDS.
O uso pesado de álcool também leva à incidência de gastrite hemorrágica, pancreatite e alterações hepáticas.
Além disso, acidentes fatais e problemas em recém-nascidos também devem ser considerado como consequências graves decorrentes do uso pesado de álcool.

Em linhas gerais, o uso continuado de álcool aumenta em três a quatro vezes a taxa de mortalidade precoce e a mortalidade por álcool tem contribuído para 2% a 4% das mortes entre adultos.
No Sistema Nervoso Central (SNC), o álcool provoca amnésias anterógradas (blackouts alcoólicos), assim como deficits cognitivos temporários, inclusive dificuldades de resolução de problemas, de abstração, de memória e aprendizado.
O uso pesado de álcool afeta o sistema cardiovascular, aumentando a pressão arterial, o nível sanguíneo de colesterol LDL, o risco de desenvolvimento de arritmias e cardiomiopatia.

Consequências do uso nocivo

O uso abusivo de álcool interfere negativamente na vida do usuário, seus familiares e na sociedade. Além disso, gera grandes gastos aos ofres públicos por requerer consideráveis investimentos do sistema de saúde, judiciário e de outras instituições sociais.

O impacto do consumo de álcool na saúde pública é severo, tanto em termo de morbidade como mortalidade. Das mortes atribuídas ao álcool, quase metade deve-se a injúrias não-intencionais (como afogamentos, queimaduras, intoxicações e quedas) e intencionais (atos deliberados de violências contra si mesmo ou outros).
Na América Latina, a Organização Mundial da Saúde estima que uma a cada 12 mortes seja decorrente de consequências negativas do uso do álcool, em 2004.
No Brasil, calcula-se que 17,7% de toda carga global de doenças (medida por Anos de Vida Saudáveis Perdidos por Incapacitação) entre homens sejam atribuíveis ao álcool; para as mulheres, a taxa seria de 3,4%.

Os problemas de saúde, a curto ou longo prazo, associados ao consumo de álcool chegam a níveis alarmantes. No Sistema Nervoso Central (SNC), o álcool pode provocar amnésia anterógrada (blackouts alcoólicos), deficits cognitivos temporários e prejuízos no processo de aprendizado e memória.
Ademais, contribui significativamente para o desenvolvimento de uma série de doenças crônicas (como câncer, gastrite hemorrágica, pancreatite, doenças cardiovasculares e cirrose hep-atica), e comportamentos de risco (dirigir sob efeitos do álcool e sexo desprotegido, por exemplo).
Além disso, acidentes de trânsitos e problemas em recém-nascidos envolvendo o uso de álcool também devem ser considerados como consequências graves.

O consumo de álcool também está consistentemente associado à violência e mecanismos de comportamentos impulsivos.
Estudos sugerem que a ingestão de bebidas alcoólicas induz a agressividade em determinadas circunstâncias: o álcool atua em receptores serotoninérgicos e gabaérgicos (é um sistema inibitório por excelência do Sistema Nervoso Central), implicando em redução do medo e ansiedade, o que, por sua vez, resulta em maior risco de comportamento violento.
O álcool também afeta as funções cognitivas (capacidade de raciocínio), dificultando a tomada de decisões em situações estressantes, além de causar desequilíbrio emocional.

Em paralelo, o consumo de álcool pode levar ao aumento da vulnerabilidade em vítimas potenciais, pois pessoas que estão sob efeito do álcool possuem capacidade menor de se defender contra um ataque violento do que os sóbrios. Assim, o uso de álcool se correlaciona de forma significativa para o comportamento de vitimização.
Há diversos estudos – comparando homens alcoolistas ou não e atos violentos contra mulheres e estudos com mulheres em tratamento em serviços de saúde – que têm mostrado uma forte associação entre consumo de bebidas alcoólicas e violência doméstica em geral, independentemente de outras variáveis como idade e níveis socioeconômico.

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Lar em conflito

Em relação à família, o uso de bebidas alcoólicas está associado às consequências negativas tanto daquele que bebe quanto do seu companheiro e filho. Os danos do álcool à família podem vir de diversas formas, seja pela saúde física e mental de seus membros, seja pelo lado financeiro do lar.
Ademais, o uso dessa substância pelos pais também está associado ao abuso de crianças e às repercussões negativas para o universo social, psicológico e econômico do infante, além de danificar a performance desse indivíduo como pai ou mãe, como marido ou mulher ou ainda como provedor da casa.
Nota-se assim que o consumo de bebidas alcoólicas pode prejudicar a relação entre pais e filhos e entre marido e mulher, desgastando as relações interpessoais, prejudicando a família através da negligência e por maior necessidade de cuidados e gastos com a saúde de seus membros.

Os efeitos do uso nocivo de álcool representam um relevante fardo na economia. Tanto o abuso como a dependência do álcool tem um grande impacto econômico em nossa sociedade, uma vez que geram gastos públicos para o sistema de saúde, judiciário e de outras instituições sociais.
Estima-se em 30% as taxas de absenteísmo e de acidentes de trabalho causadas por dependência de álcool na Costa Rica.
Na França, os acidentes de trabalho ocasionados pelo uso de álcool atingem números que variam de 10 a 20% do total de acidentes dessa natureza ocorridos no país.
No Reino Unido, estima-se que o custo total desse impacto no trabalho atinja a cifra de 6,4 bilhões de Euros.

Os prejuízos econômicos gerados pelo uso de álcool são significativos especialmente em regiões de elevada pobreza.
Além dos gastos com a bebida alcoólica, o usuário abusivo de álcool sofre outros prejuízos, como exposição a trabalhos mal remunerados, perda de oportunidades de trabalho, gastos crescentes com saúde devido a doenças e acidentes e dinheiro gasto em decorrência de problemas com a lei envolvendo o uso de bebida.

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Álcool e jovens

O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes (12 a 17 anos) e adultos jovens (18 a 24 anos) é um sério problema que desperta grande preocupação no mundo todo. Ao contrário do que muitos acreditavam no passado, na fase de transição entre a infância e a vida adulta, o sistema nervoso central dos jovens ainda se encontra em desenvolvimento.
Desta maneira, suas vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool, levando ao comprometimento de várias funções.

Em um período repleto de mudanças físicas, psicológicas e sociais, sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamentos de risco. Nota-se, ainda, que uma série de fatores individuais, sociais e econômicos, principalmente a família e colegas, influencia o uso de álcool pelo jovem.
No Brasil, segundo dados do II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, 2005, cerca de 54% e 79% dos jovens de 12-17 anos e de 18-24 anos, respectivamente, já haviam experimentado alguma bebida alcoólica em sua vida (uso de álcool na vida).
Nestas mesmas faixas etárias, a dependência de álcool foi de 7,0% e de 19,2%, respectivamente.
Essas altas prevalências ilustram a relevância do tema em nosso país.

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Pesquisa revela

Mais recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou uma pesquisa nacional entre estudantes da 9ª série do Ensino Fundamental (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009, PeNSE), com média de idade entre 13 e 15 anos, e os resultados foram alarmantes.
A taxa de uso de álcool na vida foi de 71,4%, sendo que 22% dos escolares responderam que já beberam até se embriagar.

Nos últimos 20 anos, observou-se que a exteriorização de emoções (comportamentos agressivos, impulsivos, ou descontrolados) e, em menor grau, a interiorização das mesmas (comportamentos ansiosos ou depressivos), duas características detectáveis na infância, são potenciais marcadores de uma predisposição para o uso precoce de álcool, que está associado ao histórico de consumo abusivo e de dependência de álcool.
Por exemplo, foi estimado que indivíduos que iniciam o consumo de álcool antes dos 16 anos de idade possuem risco 1,3 a 1,6 vezes maior de desenvolver dependência alcoólica, e que cada ano de atraso no início da ingestão de álcool seria capaz de gerar uma redução de 14% no risco para a dependência alcoólica.
Assim, a idade de início do uso de álcool é um dos principais pontos de referência para avaliar os possíveis riscos de problemas associados.
Em paralelo, vários pesquisadores sugerem que tal efeito seria decorrente do fato de que a idade de início modera a influência de outros fatores (hereditários e ambientais) sobre o uso dessa substância.

Em crianças submetidas a situações de estresse elevado, o início da ingestão de álcool é mais precoce e o risco de consumo frequente pode ser maior. Tal dinâmica pode ser observada entre as crianças em situações de rua no Brasil: constatou-se que 33% dos jovens de 9 a 11 anos de idade e 77% dos jovens de 15 a 18 anos de idade consumiam álcool.

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Má influência familiar

A Secretaria da Saúde informou que adolescentes que bebem demais são influenciados pelos pais. A pesquisa foi realizada pelo Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), e envolveu mais de 500 pacientes entre 12 e 17 anos, dos quais 86% são do sexo masculino.
Desses, 256 afirmaram ter parentes que também fazem uso abusivo de álcool.
O estudo mostra ainda que 4,36% dos entrevistados referem o álcool como droga que mais consomem.
Ainda segundo a pesquisa, dos entrevistados que apontaram o álcool como droga principal, 22% começaram a beber aos 13 anos de idade e 15% aos 11 anos.

Polêmica da lei

Álcool: As reais consequências do consumoUm importante método de prevenção utilizado é a imposição do limite de idade mínima legal para o consumo e/ou venda de bebidas alcoólicas; porém, esse assunto é bastante polêmico e, mesmo com as punições, não é raro observar a quebra de tais medidas legais.
No Brasil, é proibida a venda de bebidas alcoólicas aos menores de 18 anos, mas não há uma lei que regulamente a idade mínima para o consumo.
Não há um padrão mundialmente estabelecido, sendo que os limites podem variar de 16 a 25 anos de idade, de acordo com os costumes e a cultura dos países.

Diversos tipos de abordagem buscam lidar e aliviar os problemas relacionados ao consumo de álcool entre jovens.
Possivelmente a abordagem mais frequentemente utilizada é a do método educacional em ambiente escolar, que busca fornecer ao jovem informação sobre o uso de álcool e suas consequências à saúde, busca trabalhar sua autoestima e fortalecer a resistência à pressão em torno do consumo de bebidas alcoólicas.
Materiais educativos também podem ser direcionados a pais de crianças e adolescentes, com o intuito de esclarecê-los sobre os prejuízos que o uso de álcool pode trazer à saúde de crianças e adolescentes.

Métodos efetivos

Outra abordagem utilizada é a da intervenção breve (intervenção de curta duração). Esse método apresenta resultados bem satisfatórios na redução do consumo de álcool e de problemas associados entre jovens adultos. Sua efetividade se faz valer também entre jovens estudantes universitários, conforme atesta a literatura científica sobre o assunto.
Contudo, ainda faltam estudos comprovando a efetividade desse método entre jovens e adolescentes.

Vale destaque também para as mudanças em termos de políticas públicas, as quais resultam em efeitos significativos tanto no comportamento dos jovens quanto na diminuição do consumo de álcool. Assim, medidas relacionadas ao beber e dirigir e de combate à venda e consumo de bebidas para jovens são de grande valia.

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