Artrite reumatoide é diagnosticada tardiamente no Brasil

Doença crônica, inflamatória e sem cura atinge cerca de 2 milhões de pessoas no país. Mudanças forçadas na rotina e a possibilidade de agravamento da enfermidade podem abalar pacientes profundamente e levar à depressão.

Arsenal de tratamentos ameniza problemas de quem enfrenta a artrite reumatoide

A idade média em que os brasileiros detectam que estão sofrendo de artrite reumatoide é 39 anos, no auge da vida produtiva, revela pesquisa internacional divulgada nesta quinta-feira (08/10) no 32º Congresso Brasileiro de Reumatologia.
Embora esse resultado ajude a desmistificar a doença, geralmente associada a pessoas idosas, a identificação precoce da artrite reumatoide ainda é um desafio para a medicina, já que ela também pode atingir jovens e crianças.

Realizada pelo Instituto Nielsen para a Pfizer, a pesquisa ouviu 3.649 pessoas, de setembro do ano passado a janeiro deste ano, em 13 países: Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Itália, França, Canadá, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Turquia e Argentina. No Brasil, foram ouvidas 324 pessoas.
 “Os números trazem preocupação, porque sabemos que esta é a realidade.
Eles são uma constatação desses fatos.
Sabemos que nem todo mundo tem acesso ao médico reumatologista.
É comum que pacientes cheguem ao reumatologista cinco anos depois, e vemos que o desastre já está feito”, disse a médica Rina Giorgi, diretora do Serviço de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e membro da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Segundo Rina, o grande problema relacionado à doença é, de fato, o acesso do paciente ao médico. “O problema não é a medicação, que está disponível na rede pública. O problema é ter acesso ao médico ou ao reumatologista. A prevenção da doença é o diagnóstico precoce e o acesso rápido ao médico”, afirmou.

Como o diagnóstico costuma sair no auge da vida produtiva, é frequente que o paciente passe por perdas profissionais importantes, como ter o horário de trabalho reduzido ou pedir aposentadoria precocemente.
Do total de brasileiros ouvidos, 35% disseram que a doença abalou sua vida profissional, 14% aposentaram-se precocemente e 17% contaram que tiveram que pedir demissão.

A pesquisa revelou também que um a cada cinco brasileiros ouvidos na pesquisa tem artrite reumatoide grave. Quase metade (46%) dos pacientes que responderam à consulta disseram que evitam fazer perguntas ao médico porque temem ser vistos como pacientes “difíceis”.
Além disso, oito a cada dez pacientes não se mostram confortáveis em expor seus receios e preocupações aos médicos.
 A maioria dos pesquisados brasileiros (59%) revelou ainda que teve que parar de desempenhar alguma atividade com o surgimento dos sintomas.

Segundo a médica Rina Giorgi, a artrite reumatoide impacta principalmente “o doente que não se trata”, já que hoje, com o tratamento feito assim que sai o diagnóstico, a pessoa pode desenvolver diversas atividades e até trabalhar. “O paciente que aderiu ao tratamento pode trabalhar”, disse Rina.

Comorbidade

A presença de comorbidade (quando há o diagnóstico de uma segunda doença no mesmo indivíduo) é comum no paciente com artrite reumatoide. Entre os brasileiros, 26% disseram ter outra doença inflamatória, 22% tinham distúrbios cardíacos e 22% eram diabéticos. A doença também levou 44% dos pacientes a sofrer de ansiedade e 33%, de depressão.

Quanto ao tratamento, 64% dos brasileiros entrevistados disseram usar algum tipo de medicação, 60% praticam exercícios e 49% seguem dieta.

A artrite reumatoide é uma doença crônica, inflamatória e sem cura, que atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil. A doença compromete as articulações e pode causar rigidez ou deformidade articular, tornando difícil para o paciente desenvolver atividades simples, como segurar um copo ou escovar os dentes.

Normalmente, a artrite reumatoide atinge primeiro as articulações das mãos e dos punhos, mas a evolução do quadro pode causar deformidades maiores, alcançando articulações mais centrais como cotovelos, ombros, tornozelos, quadris e joelhos e até comprometer a estrutura das articulações como ossos, tendões, ligamentos e músculos.

De acordo com Rina Giorgi, as pessoas que sentem dores na junta ou que apresentam inchaço persistente na articulação por mais de quatro semanas devem procurar um médico, de preferência um reumatologista. E devem evitar tomar remédio por conta própria, acrescentou a médica.

Artrite reumatoide não prejudica somente a destreza física e pode levar à depressão

Priscila Torres estava acostumada a lidar com a dor dos outros. Auxiliar de enfermagem de três hospitais, ela passava os dias cuidando de pessoas em estado grave. Aos 26 anos, porém, trocou de lado. De profissional da área da saúde, virou paciente.
A jovem descobriu que tinha artrite reumatoide, um diagnóstico que, embora associado apenas a idosos, pode, na realidade, afetar todas as faixas etárias.
A vida de Priscila sofreu um revés.
“De repente, a dor te impede de escovar os dentes, pentear o cabelo, sair de casa.
No dia em que decidi ir ao pronto-socorro, precisei de ajuda para vestir a roupa”, relata.
A influência emocional da doença será abordada na segunda reportagem sobre artrite reumatoide.

Para os portadores da doença crônica e degenerativa, as atividades corriqueiras podem se tornar um martírio. Não à toa, estudos indicam que a qualidade de vida de pessoas com artrite reumatoide é inferior à da população em geral, mesmo nos estágios mais precoces da enfermidade.
Há dois anos, pesquisadores do Instituto de Ciências de Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) compararam questões como percepção de dor, vitalidade, saúde mental e aspectos emocionais entre indivíduos saudáveis e aqueles que têm a enfermidade.
O resultado apontou diferenças significativas em todos os parâmetros investigados.

Enquanto 40% dos pacientes disseram que seu estado de saúde em geral era “um pouco pior” ou “muito pior” que no ano anterior, esse percentual foi de apenas 3,3% entre os demais participantes do estudo.
A pesquisa detectou um índice alto de depressão nas pessoas diagnosticadas com artrite reumatoide: 63,33% delas apresentavam algum grau do problema, comparado a 13,34% do grupo de controle.
“Os sintomas depressivos podem aparecer em decorrência das limitações físicas ocasionadas pelas deformidades ou do estresse de viver com uma doença crônica, devido à sua natureza potencialmente debilitante”, observa Cristiane Vitaliano Graminha, professora do Departamento de Fisioterapia Aplicada da UFTM e principal autora do estudo, publicado na revista Fisioterapia e Pesquisa.

Foi o que ocorreu com Priscila, foto ao lado, hoje com 34 anos. À época do diagnóstico, ela tinha uma rotina intensa: trabalhava, cursava faculdade de enfermagem e cuidava do filho Tiago, que tinha 4 anos. “É um peso muito grande.
Você sente que seu destino foi ameaçado, que está predestinada a sofrer e que não terá mais possibilidade de trabalhar, ser feliz, participar da vida.
É a mensagem que chega com esse diagnóstico”, diz Priscila.
“Achava que ia morrer.
Fiquei muito depressiva, olhava para o meu filho e imaginava que, dali a 10 anos, ele estaria me empurrando em uma cadeira de rodas”, recorda a auxiliar de enfermagem.

Cristiane Vitalino Graminha afirma que, além do componente emocional, é possível que a depressão esteja associada à etiologia da doença. “Há evidências que apontam para influências biológicas na causa da depressão nesses indivíduos”, diz.
De acordo com ela, alguns autores sugerem que a depressão é uma manifestação da própria disfunção imunológica característica da artrite reumatoide.
Essa é uma enfermidade autoimune, quando as células de defesa acreditam que estruturas do corpo são agentes externos e passam a combatê-las.
“A literatura aponta ainda que o uso de corticoides, um dos medicamentos administrados no tratamento, pode desencadear distúrbios psiquiátricos, entre eles, a depressão”, diz.

Diagnóstico estratégico

Em uma avaliação com 99 pacientes, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Marília e do Hospital das Clínicas da instituição detectaram que a dor e o comprometimento funcional são as principais queixas dessas pessoas em relação ao impacto na qualidade de vida.
“Os pacientes com artrite reumatoide apresentam deficiência funcional importante, e aproximadamente 50% deles ficam impossibilitados de trabalhar por volta de 10 anos a partir do início da doença”, aponta a enfermeira Suzana Roma, autora do artigo publicado na Revista Brasileira de Reumatologia.
Quanto mais avançada a enfermidade, mais baixa a qualidade de vida observada.
Contudo, a pesquisadora lembra que o tratamento precoce e adequado reduz as consequências negativas.
“A doença pode ser bem controlada e ter seus sintomas minimizados quando se atinge a remissão.
Com isso, os pacientes experimentam uma melhora significativa da qualidade de vida”, afirma.

Passada quase uma década desde o diagnóstico da artrite reumatoide, a auxiliar de enfermagem Priscila Torres diz que, “se soubesse como seria de verdade, teria chorado menos”. Hoje, ela tem uma vida normal.
A identificação da doença logo no início e a facilidade de acesso ao tratamento evitou que a moradora de São Paulo sofresse algum tipo de sequela.
O pior pesadelo da jovem – ser empurrada pelo filho em uma cadeira de rodas – não se concretizou.
Sua experiência é compartilhada com outros pacientes no blog AR (www.
artritereumatoide.
br) e no grupo EncontrAR, que oferece apoio aos pacientes de artrite reumatoide.
“É uma doença séria, mas você pode trabalhar, estudar, viver normalmente.
São essas experiências que queremos compartilhar”, diz.

                         Juliana Cavalin enfrenta a doença e não deixa que limitações comprometam a sua vida: planos de engravidar”.

Não se vitimizar e superar os limites é a receita que a psicóloga Juliana Cavalin De Amo Freitas, de 31, segue à risca para enfrentar a doença. “No começo, é muito difícil. Mas, quando você aceita e entende as limitações, vai se adaptando. Se estou com dor na mão e preciso pegar alguma coisa, pego com o pé.
Meu cotovelo não estica, tenho deformidade em um dedo.
Mas corro atrás de tudo que posso fazer.
Quando não dá, paciência.
Temos que ter humildade para reconhecer e pedir ajuda quando precisar”, diz ela, que possui duas próteses nos joelhos.

Juliana foi diagnosticada aos 10 anos com artrite idiopática juvenil (AIJ) poliarticular, quando mais de quatro articulações são afetadas. A enfermidade não entrou em remissão e ainda hoje ela faz tratamento. Na idade adulta, a AIJ comporta-se da mesma forma que a artrite reumatoide inicial, tanto do ponto de vista clínico quanto imunológico.
O metotrexato, medicamento modificador da evolução da doença mais utilizado pelos pacientes, provoca efeitos colaterais fortes em Juliana, que eventualmente recorre ao corticoide para diminuir as dores.
Contudo, ela não se deixa abalar.
Trabalha normalmente e, ainda este ano, pretende engravidar do primeiro filho.
“Estou me preparando física e psicologicamente”, garante.
A artrite reumatoide não tem impacto negativo sobre a fertilidade, mas, como alguns medicamentos podem prejudicar o feto, o reumatologista precisa estar ciente dos planos de gestação.

Vida sexual comprometida

Assunto pouco abordado pelos médicos, a artrite reumatoide também pode ter um impacto negativo na vida sexual dos pacientes. “Assim como nas outras atividades do dia a dia, a doença causa dificuldades para a realização de atividades sexuais, seja pela dor articular, seja pela redução da mobilidade.
Isso é um problema que comumente não é investigado pela equipe, pois geralmente é desconfortável para o paciente abordar as questões de sua sexualidade”, observa Pedro Henrique de Almeida, professor-assistente do curso de terapia ocupacional da Universidade de Brasília (UnB).

A reumatologista Licia Mota, responsável pelo Ambulatório de Artrite Reumatoide Inicial do Hospital Universitário de Brasília (HUB), conta que, certa vez, três pacientes comentaram que estavam com a vida sexual muito comprometida e questionaram se isso poderia estar relacionado à doença. “Nas reuniões com eles, esse tema é tabu.
Ficam envergonhados, e os médicos, mais ainda.
Os profissionais não têm preparo sobre um domínio importantíssimo da vida”, constata.
Essa percepção motivou pesquisadores vinculados ao ambulatório a desenvolver alguns estudos sobre o assunto.
Uma das pesquisas contou com a participação de 68 pacientes.
A prevalência de disfunção sexual foi de 79,6%, bastante superior à relatada na literatura em mulheres saudáveis, que é de até 40%.

No ano passado, os pesquisadores fizeram outra investigação com os pacientes e profissionais do ambulatório.
“Queríamos justamente iniciar a conversa: o profissional de saúde precisa estar atento e disposto a abordar questões relacionadas a atividades sexuais dos pacientes com artrite reumatoide, e o paciente também deve entender que muitas das dificuldades encontradas podem ser superadas com pequenas modificações”, conta Pedro Henrique de Almeida.
Ele diz que alguns medicamentos, por exemplo, podem diminuir a lubrificação vaginal ou levar à falta de libido.
Além disso, a dor e a rigidez articulares causadas pela artrite reumatoide dificultam ou até impedem o ato sexual.

Nesses casos, conversar com o médico sobre a possibilidade de troca da medicação ou de alteração do horário de ingestão do remédio são formas de facilitar a atividade sexual.
“O paciente pode usar várias outras estratégias: reservar mais tempo para a atividade sexual; tomar um banho morno antes do sexo para aliviar a dor e aumentar a mobilidade articular; usar lubrificantes à base de água; modificar posições sexuais adotadas, evitando permanecer em uma postura que cause dor nas articulações, procurando apoios para distribuir o peso do corpo (utilizando a cama, almofadas, travesseiros) e evitar fadiga durante o ato”, ensina o terapeuta.
O resultado dessa pesquisa está no artigo “Como o reumatologista pode orientar o paciente com artrite reumatoide sobre função sexual.

Arsenal de tratamentos ameniza problemas de quem enfrenta a artrite reumatoide

Doença afeta juntas e tendões e pode até incapacitar o paciente. Para quase 2 milhões de brasileiros, viver é uma experiência dolorosa.
Esse é o número estimado de pacientes de uma doença crônica progressiva que, se não diagnosticada a tempo, pode incapacitar, provocar deformidades e roubar a qualidade de vida de homens e mulheres no auge da fase produtiva.
Caracterizada principalmente pela dor e pela fadiga, a artrite reumatoide atinge de 0,4% a 1% da população mundial e, como as causas não são completamente conhecidas, ainda é uma enfermidade incurável.
A boa notícia é que, nos últimos anos, o arsenal farmacológico e terapêutico tem melhorado os prognósticos desse problema autoimune, e pesquisadores estão alcançando resultados promissores na busca de medicamentos mais eficientes para enfrentá-lo.
O Saúde Plena publica, a partir deste domingo (14/05), quatro reportagens sobre o assunto.

Em um passado não muito remoto, fazer tratamento de artrite reumatoide significava, necessariamente, sofrer efeitos colaterais piores que os da própria doença – a única terapia eram doses cavalares de corticoide – e desenvolver deformidades irreversíveis, principalmente nos dedos.
No fim da década de 1990, a chegada dos medicamentos modificadores da resposta biológica transformou o curso da enfermidade.
As drogas modernas são capazes de desacelerar a progressão da artrite e prevenir os danos nas articulações – hoje, se a cura é impossível, busca-se, contudo, a remissão – quando a doença ainda existe, mas em estado dormente.
 “Os medicamentos biológicos são extremamente eficazes e não trazem os efeitos colaterais dos corticoides, que ainda tinham um resultado limitado.
Na última década, também por causa do diagnóstico mais precoce, é muito raro a doença evoluir para as deformidades”, observa Sandra Andrade, reumatologista do Hospital Santa Lúcia e ex-presidente da Sociedade de Reumatologia de Brasília.
Todos os estudos sobre a doença reforçam que, quanto mais cedo se iniciar o tratamento, melhor o prognóstico.

Atualmente, os corticoides continuam prescritos, principalmente no início da enfermidade. Agora, porém, as doses são mais seguras, e esses medicamentos são usados em conjunto com os chamados modificadores do curso da doença, que atuam de forma a evitar a progressão da artrite.
“Na maioria dos casos, os pacientes conseguem ter uma vida normal, trabalhar e se divertir com sua família e seus amigos.
Como, atualmente, temos um grande arsenal de tratamentos disponíveis e novas pesquisas sempre em vista, cada vez mais, alcançaremos esse estágio no tratamento e na qualidade de vida dos pacientes”, garante o reumatologista Thiago Bitar, especialista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Entre 20% e 25% dos pacientes precisam das terapias biológicas.

Quando, porém, já existem danos, a abordagem cirúrgica pode ser recomendada. “Se os medicamentos não conseguem prevenir ou retardar o dano articular, o paciente e o médico podem considerar a cirurgia para reparar articulações danificadas”, esclarece o ortopedista Pedro Labronici, professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Outros alvos

Os pesquisadores continuam em busca de novas terapias, baseados em compreensões recentes sobre o funcionamento do sistema imunológico e, principalmente, da genética. “A cada dia, sabemos mais sobre a doença, mas ainda não conhecemos todos os alvos terapêuticos.
Os cientistas estão descobrindo moléculas e marcadores de atividades da artrite reumatoide”, explica a reumatologista Licia Mota, coordenadora da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia, professora da Universidade de Brasília (UnB) e responsável pelo Ambulatório de Artrite Reumatoide Inicial do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

De 10 anos para cá, pelo menos cinco estudos financiados por institutos nacionais de saúde dos EUA fizeram importantes descobertas a respeito de genes envolvidos no desenvolvimento da doença. Somente nos últimos cinco meses, o PubMed, maior banco de dados mundial de artigos científicos, indexou nada menos que 2.
182 publicações que citam a artrite reumatoide.
As investigações variam dos mecanismos moleculares da enfermidade à possível influência dos ciclos solares sobre o desencadeamento das crises.
 “É preciso desenvolver novas abordagens terapêuticas para o tratamento da doença.
Algumas pessoas não respondem aos medicamentos biológicos e, às vezes, eles perdem a eficácia”, justifica Mark T.
Quinn, professor do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade Estadual de Montana, nos Estados Unidos.
O cientista americano está pesquisando uma substância que bloqueia uma enzima associada à resposta inflamatória intracelular.
“Embora estejamos relativamente longe dos estudos clínicos (realizados em humanos), esses compostos foram promissores em nossos estudos pré-clínicos”, diz.

Contribuição brasileira

As pesquisas concentradas na artrite reumatoide não se resumem, contudo, à busca por novas drogas. Uma importante parte do manejo da doença diz respeito às terapias não medicamentosas, e, para isso, é necessário investigar o perfil dos pacientes, a forma como respondem a atividades físicas, além dos aspectos emocionais.
Nesse sentido, destaca-se um grupo de pesquisadores do HUB, que, sob a coordenação da reumatologista Licia Mota, acompanha há 12 anos pessoas com diagnóstico inicial de artrite reumatoide, ou seja, menos de 12 meses desde o surgimento dos sintomas.
A cada três meses, 136 pacientes são avaliados para a realização dos estudos da chamada Coorte Brasília de Artrite Reumatoide Inicial.

Coordenados por Licia Mota, os pesquisadores avaliaram a qualidade de vida dos pacientes, a frequência de vacinação e orientação sobre imunizações, o papel do diagnóstico por imagem e a prática de exercícios físicos, entre outros fatores.
Atualmente, realizam estudos para verificar se a verminose poderia explicar a fadiga, um sintoma comum da doença.
Também investigam a adoção de métodos alternativos pelos pacientes.
A reumatologista conta que até urina de cavalo alguns bebem, acreditando que serão curados.
“É o desespero.
É uma doença que não tem cura, só controle.
As pessoas querem ter esperança, e, para isso, podem fazer qualquer coisa”, afirma.

Terapia além dos remédios

Responsável pelo Ambulatório de Artrite Reumatoide Inicial, Licia Mota lamenta que nem todos os pacientes tenham a oportunidade de tratamento oferecido pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB).
Lá, eles fazem acompanhamento clínico e laboratorial, praticam atividade física supervisionada, recebem orientação de terapeutas ocupacionais e ainda têm acesso ao serviço de odontologia.
Quase tudo graças à dedicação de voluntários.
O serviço é “mantido a duras penas”, segundo a coordenadora, mas, ainda assim, consegue oferecer um arsenal terapêutico gratuito e de alta qualidade.

O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece todos os medicamentos de artrite reumatoide, incluindo os biológicos. Contudo, especialistas ressaltam que o atendimento não medicamentoso deixa a desejar.
“O ideal é uma ação interdisciplinar, mas o desafio é viabilizar isso para os pacientes que não podem pagar uma clínica particular”, observa o educador físico Frederico Santos de Santana, voluntário do HUB.
“O cuidado tem de ser integral, não da doença, mas da pessoa”, defende Licia Mota.
O Ministério da Saúde informou que fornece terapia ocupacional, exercícios, fisioterapia, e apoio psicossocial aos pacientes.
Questionado sobre a amplitude dessa oferta, o órgão não respondeu à reportagem.

A reumatologista Licia Mota aponta outras dificuldades comuns a pacientes da América Latina, de acordo com estudo sobre a realidade na região: “Muitos pacientes demoram para ter o diagnóstico, passam pelo ortopedista, pelo clínico. Às vezes, a pessoa mora a 12, 13 horas do local de tratamento”, observa.
Foi o que ocorreu com a professora Maria Erciliana Conceição de Lima, de 53 anos.
Há nove, ela começou a sentir dor no ombro, no fêmur e no punho.
No início, achou que era dos movimentos que faz para escrever no quadro-negro.
Mas a febre diária a fez procurar o serviço de saúde da cidade de Santana, na Bahia, a 674km de Brasília.

No hospital, foi diagnosticada apenas com reumatismo – termo genérico para uma série de doenças caracterizadas pela inflamação das articulações. O tratamento, ao longo de quatro anos, foi tomar injeções de penicilina. “Fui só piorando”, conta. Ela se mudou para Brasília e começou a se tratar no Hospital Universitário.
Apesar de ter melhorado, a demora no diagnóstico correto deixou suas marcas.
“Tem dia que não consigo nem levantar o braço para lavar meu cabelo.
Quando está muito calor, sinto meu corpo todo formigando.

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