Bullying: violência psicológica

Bullying. Quem passa por esse processo geralmente se torna triste e introspectivo. Aprenda a identificar se seu filho sofre com esse problema na escola ou em outros ambientes. A situação não é nova. O que se sabe é que, desde sempre as crianças sempre atacaram umas às outras, e os mais fracos viraram vítimas.
Por anos e anos, muitos sofreram calados como se isso fosse natural.
Nos últimos tempos o fenômeno começou a ser mais bem estudado, o que é uma boa notícia, porque o sofrimento pode ter fim antes que cause um mal mais profundo.
Mas uma coisa é certa: os problemas físicos e psicológicos podem ser grandes.
Segundo um estudo publicado em abril no British Medical Journal, as crianças que sofrem bullying são três vezes mais propensas a machucarem a si mesmas.
O estudo foi conduzido pelo Kings College, de Londres.
Foram avaliadas cerca de 2 mil crianças com idade entre 5 e 12 anos.
Dessas, 237 sofriam bullying e 18% delas tinham o hábito de se ferirem propositadamente.
Entre os ferimentos estavam cortar os braços, arrancar os cabelos e bater a cabeça na parede.
O estudo revelou ainda que um quarto das crianças inglesas sofre com esse tipo de molestação.
 Nem sempre as ameaças são físicas, muitas vezes se caracterizam por humilhação, adjetivos depreciativos.
É um ataque à autoestima.

Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.

Como se divide o bullying

Bullying direto: que é a forma mais comum entre os agressores masculinos. A agressão social, surras, chingamentos, pegar o dinheiro do lanche ou o próprio lanche, obrigar a vitima a fazer algo que não quer, expor a vítima ao ridículo, humilhar a vítima diante dos demais colegas, entre outros fatores

Bullying: violência psicológicaBullying indireto: sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência.

O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos.
Há uma tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo.
Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente.
Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.
 O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário.
Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.
 Os atos de bullying ferem princípios constitucionais – respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar.
O responsável pelo ato de bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

A falta de dados

No Brasil não existem pesquisas precisas que possam indicar a quantidade de crianças ou adolescentes que passam ou passaram por esse tipo de constrangimento. “Sabe-se muito pouco sobre o bullying escolar por aqui.
Este fenômeno começou a ser estudado há cerca de 30 anos lá na Europa, e há menos de dez anos aqui no Brasil”, declara o promotor de Justiça de Minas Gerais, Lélio Braga Calhau, especializado nesse assunto.
 ”E somente nos últimos três anos aumentaram as pesquisas nacionais.
Portanto, ainda não há números comparativos para saber se, realmente, o problema está mesmo crescendo.
” Além disso, ainda não se sabe precisar as consequências físicas e psicológicas em grande escala.
“O que se pode afirmar é que o estresse pode fazer que a criança desenvolva até mesmo sintomas físicos, como dores de cabeça, gastrite e outras doenças psicossomáticas”, diz a psicóloga Maria Isabel da Silva Leme, especializada em psicologia da aprendizagem, da Universidade de São Paulo (USP).

De olho nos sinais

O limite entre o bullying e as brincadeiras algumas maldosas típicas das crianças é algumas vezes difícil de ser identificado. “Um ato isolado não pode ser considerado bullying. Ele caracteriza-se sempre pela repetição da agressão”, diz Calhau.
Ou seja, não é porque a criança foi chamada de gordinha uma vez que ela está sofrendo esse tipo de admoestação.
“Um caso isolado, se for extremo, pode configurar um crime, como difamação, ameaça ou constrangimento ilegal”, completa o promotor.
O fenômeno envolve uma intenção de dominação de um o autor sobre o outro a criança que recebe a carga agressiva e sofre.
 Acontece sempre entre iguais, não se trata de uma questão de hierarquia.
Nem sempre as ameaças são físicas, muitas vezes se caracterizam por humilhação, adjetivos depreciativos.
Na verdade é um ataque à autoestima.
Alguns sinais são indícios claros de que a criança passou a ser molestada.
“Se ela gostava de ir à escola e passa a não querer ir mais, arrumando pretextos como dor de cabeça e dores de estômago, há um forte indício”, explica a psicóloga Maria Isabel.
“Ela pode também se tornar retraída e quieta”, completa.
No caso dos meninos, podem aparecer em judicial que seja totalmente efetiva para o caso”, casa com escoriações ou marcas roxas.
Já no caso das meninas, as marcas físicas são menos comuns, já que as agressões são morais como xingamentos e difamação.
Além dos sinais psicológicos, certos sintomas físicos podem surgir.
Algumas perdem o apetite e outras passam a ter pesadelos frequentes.

Fale com eles!

Se há suspeita de que a criança esteja sofrendo algum tipo de constrangimento na escola, o melhor a fazer é falar com ela. “Converse com calma num diálogo franco e aberto, olhos nos olhos. Deixe-a à vontade. Anote datas, horários e nomes. Assim, fica fácil checar a veracidade dos fatos”, diz Calhau.
Na sequência, os pais devem procurar a escola.
“Verifique antes o regimento interno para saber se existe um procedimento para reclamações sobre os casos de bullying.
Não vá à escola ameaçando entrar com processos judiciais seus representantes podem agir mais para defender-se do que para ajudar a criança”, completa o promotor.

Maldade na rede

O cyberbullying é ainda mais nocivo devido à sua alta capacidade de contaminação. Depois que se coloca algo na rede, perde-se o controle sobre ele. Esse é um dos motivos pelos quais o cyberbullying – o bullying com o uso das ferramentas da internet – é tão nocivo.
Pelo menos quando o bullying acontece apenas na “vida real”, a criança tem uma folga quando está em casa.
Na internet, ele se perpetua.
As redes sociais são especialmente nocivas porque é lá que os amigos se encontram.
“Antes as agressões eram apenas nas salas de bate-papo, fóruns, e-mails.
Hoje, com as redes sociais, as postagens podem se multiplicar velozmente.
Depois não há decisão judicial que seja totalmente efetiva para o caso”, diz o promotor Calhau.
O cyberbullying é também bastante ligado ao ambiente escolar, segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Gothenburg, na Suécia, em 2010.
Os pesquisadores perceberam que o assédio cai muito no período de férias.
No caso das crianças, o melhor que os pais têm a fazer para evitar o cyberbullying é só permitir que elas acessem redes específicas para sua idade.
No caso dos adolescentes, mais sujeitos a esse tipo de violência, os pais devem ficar atentos a qualquer tipo de alteração de comportamento.

Teste sua capacidade de perceber se algo não vai bem

Só um profissional pode identificar o que a criança está passando, mas o teste abaixo pode dar algumas pistas. Responda sim ou não:

A criança passou por mudanças de comportamento recentemente?

( ) sim ( ) não

Ela tem se mostrado mais agressiva ou retraída?

( ) sim ( ) não

Aparece em casa com arranhões ou manchas roxas?

( ) sim ( ) não

Recusa-se a ir a festas do grupo?

( ) sim ( ) não

De repente, não quer mais ir à escola?

( ) sim ( ) não

Voltou a fazer xixi na cama?

( ) sim ( ) não

Está pedindo dinheiro com mais frequência?

( ) sim ( ) não

As notas estão mais baixas?

( ) sim ( ) não

Chora muito?

( ) sim ( ) não

Aparece com objetos quebrados ou outros somem sem explicação?

( ) sim ( ) não

Frequentemente reclama de dor de estômago ou dor de cabeça?

( ) sim ( ) não

Pede para os pais acompanhá-la na entrada e na saída da escola?

( ) sim ( ) não

Resultado: se você respondeu “sim” a mais de cinco questões, há indícios fortes de que seu filho esteja sofrendo bullying. Converse com ele, procure a escola e – se julgar necessário – a ajuda de um profissional.

O perfil do agressor

Por definição, bullying é um conjunto de atos agressivos repetidos entre indivíduos com condições semelhantes. “Portanto, além da escola, pode ocorrer em várias outras situações, como com moradores de um mesmo local, uma escola de idiomas, ou mesmo de esporte.
Pode acontecer até entre adultos, no ambiente de trabalho, ou com idosos, em um asilo”, diz o pediatra Aramis Lopes Neto, da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia).
Ou seja, qualquer ambiente de convivência pode ser considerado palco desse tipo de problema.
Isso porque o agressor pode também estar em qualquer lugar.

Esse agressor, de alguma forma, também está doente. Precisa ser tratado. “São pessoas com valores morais questionáveis, que acham natural e válido usar a violência para obter o que querem”, diz a psicóloga Maria Isabel. Muitas vezes, são crianças que sofrem violência em casa.
Elas conseguem, além do respeito da vítima, também o dos espectadores, que temem ser o próximo e, assim, não reagem.
“O vitimizador, em geral, é bem inteligente e adaptado porque é capaz de localizar quem ele poderá agredir e quem, entre todos, não irá reagir.
Muitas vezes faz isso em tom de brincadeira, o que dificulta ainda mais a identificação do problema pelos adultos.

Para cada caso, uma solução

Tanto a vítima quanto o vitimizador merecem um olhar especial. No geral, o conflito pode ser resolvido no próprio ambiente dos acontecimentos se a instituição estiver preparada para lidar com esse tipo de problema. “Não havendo solução possível, uma visita ao pediatra pode ser bastante útil.
Após a avaliação desse profissional, se ele julgar necessário, a procura por um psiquiatra ou psicólogo poderá ser indicada”, diz Lopes Neto.
Cada caso exigirá um tipo único de solução.
Só não é possível deixar as coisas rolarem sem que se tome alguma providência.
O preço pode ser a infelicidade e complicações à saúde da criança.

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