Câncer de Ovário – Causas, Diagnóstico e Tratamento

Como surge

O câncer de ovário é menos frequente, comparativamente aos demais, e afeta principalmente mulheres acima de 60 anos. “Apresenta-se normalmente já em estado avançado porque, apenas quando o tumor cresce muito ou se espalha e provoca o surgimento de ascite (água na barriga), é que a paciente percebe que algo está errado e procura um médico”, constata Pupo Nogueira.
Ele acrescenta que exames como o ultrassom não conseguem ajudar no diagnóstico precoce e os tratamentos atuais não atingem grau de eficiência tão elevado como no caso do câncer de mama.
Segundo o médico, é o câncer ginecológico com a maior taxa de mortalidade e ainda de difícil prevenção.

De acordo com o ginecologista Levon Badiglian, existem várias hipóteses sobre os fatores que levam ao seu desenvolvimento. “Muito se fala hoje em dia sobre os genes BRCA 1 e 2, pois sabemos que as pacientes portadoras de mutações nesses genes  têm alto risco de desenvolver câncer de ovário e/ou mama.
Porém, considera-se que tal mutação seja responsável por apenas 10% dos tumores malignos de ovários.
Uma teoria bem aceita é a da “ovulação incessante”, que diz que a cada ovulação ocorre um trauma no eptélio ovariano seguido de cicatrização do ponto rompido.
O fenômeno aumentaria a probabilidade do aparecimento de células malignas.
A teoria encontra suporte no fato de que o uso de anticoncepcional oral por cinco a sete anos reduz a incidência de câncer de ovário”.

Formas de prevenir

O câncer de ovário pode ser prevenido com o uso de anticoncepcionais hormonais, avaliação médica rotineira e avaliação do risco pessoal por meio da análise do histórico familiar. Outro dado importante é que esse tipo de tumor é menos frequente em mulheres que tiveram gestações cedo, antes dos 28 anos de idade, e possuem mais de um filho.

Diagnóstico

Infelizmente, não existe um exame rastreador para a doença. O ultrassom ainda é a melhor alternativa, mas, de acordo com Levon Badiglian, tem suas limitações.
Alguns estudos comprovaram que pacientes portadoras dos genes BRCA 1 e 2 mutados, mesmo quando acompanhadas semestralmente com ultrassom, quando fizeram a cirurgia notaram que o câncer já estava avançado, invalidando o método como detector precoce.

O diagnóstico é dificultado pela ausência de sintomas iniciais. “Quando conseguimos detectar o câncer ainda restrito aos ovários, conseguimos taxas de cura da ordem de 80%-85%, caindo para menos de 60% quando ultrapassa os ovários e menos de 30% quando está espalhada pela cavidade abdominal”, diz Pupo Nogueira.

Inovações a caminho

Para o câncer de colo uterino, o ginecologista do Sírio-Libanês afirma que as novidades mais recentes são cirurgia conservadora como a traquelectomia radical, que retira o colo doente preservando o corpo uterino e a fertilidade, e a quimioirradiação. Nesse tumor, também se pesquisam anticorpos monoclonais e vacinas.
Outros avanços foram a poliquimioterapia, quimioterapia com múltiplas drogas, e a descoberta de novos agentes quimioterápicos que agem melhor sobre a doença.

“Alguns métodos como a quimioterapia intraperitonial, onde joga-se o quimioterápico diretamente sobre o tumor, dentro do abdome têm mostrado algum avanço no tratamento, porém ainda é uma doença muito frustrante para o médico que cuida da paciente e para a ciência como um todo”, finaliza o médico.

Papanicolau poderá detectar câncer de ovário e de endométrio

O exame de Papanicolau, usado para diagnóstico precoce de câncer do colo do útero, pode detectar também o câncer de ovário e do corpo do útero, diz novo estudo.

Pesquisadores fizeram o sequenciamento de DNA de células provenientes do exame e obtiveram 100% de sucesso para o câncer de endométrio e 41% de sucesso para o de ovário. Não houve resultado falso-positivo.
A pesquisa foi publicada na revista científica “Science Translational Medicine” e conta com médicos americanos, da Universidade Johns Hopkins, do Instituto Ludwig e do centro Memorial Sloan-Kattering, e brasileiros do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira).

Hoje, o papanicolau só detecta o câncer do colo do útero, via análise da aparência das células, e o vírus HPV, seu principal causador.
A nova técnica, apelidada de PapGene, não altera o procedimento pouco invasivo do papanicolau; apenas agrega a análise de genética molecular em células do ovário e do corpo do útero que são levadas para a região onde o material é coletado.
Para Suely Nagahashi Marie, professora da USP, pesquisadora do Icesp e uma das autoras do estudo, a importância da pesquisa foi “mostrar que é possível detectar alterações moleculares via papanicolau possibilitando diagnóstico precoce”.

Na primeira fase, foram reunidas biópsias tumorais americanas e brasileiras. O material foi submetido a um sequenciamento de DNA. Ao compará-lo com código genético de células normais, os cientistas identificaram 12 genes cujas mutações indicam a incidência dos tumores.

Na segunda fase, a análise genética na coleta do papanicolau possibilitou identificar 24 das 24 amostras de câncer de endométrio e 9 das 22 de tumor ovariano.

O câncer de ovário é bem agressivo e de difícil detecção. Segundo Jesus Paula Carvalho, professor da USP, pesquisador do Icesp e um dos autores do estudo, “na maioria dos casos, o diagnóstico é tardio e os métodos de rastreamento atuais, como as biópsias, são invasivos e trazem mais riscos do que benefícios”.
Para ele, o PapGene ainda será aperfeiçoado, mas “uma luz no fim do túnel é sempre um grande alento”.

Emmanuel Dias-Neto, pesquisador do Hospital A. Camargo disse que “a medicina genômica veio para ficar, pois é mais barato detectar precocemente via DNA do que tratar a doença”. Os entrevistados ressaltaram que outros cânceres como os de boca, pulmão, estômago e intestino poderão ser detectados por técnicas similares.
Neto-Dias diz que “em cinco anos tais técnicas estarão tão baratas a ponto de poderem ser agregadas ao SUS” e poderão ser usadas na população de modo preventivo, para identificação precoce e para controle de recidiva.

Efeito Angelina Jolie: menopausa precoce contra o câncer

Indicada para pacientes com predisposição genética, a retirada preventiva dos ovários reduz as chances de surgimento de tumores malignos, mas obriga a paciente a adiantar a reposição hormonal. Cirurgia de retirada do ovário é feita tanto como tratamento quanto como prevenção.

Para se proteger do câncer, a atriz Angelina Jolie se submeteu à retirada dos dois seios e não descarta extrair também os ovários. A segunda cirurgia, chamada oforectmia, reduz a quase zero as chances de surgimento de tumores malignos no órgão, dizem especialistas.
Diferentemente da Europa e dos Estados Unidos, o procedimento é pouco realizado no Brasil como forma preventiva.
Mas deve passar a ser assunto mais recorrente nos consultórios daqui depois que Jolie decidiu tornar público seu drama familiar.

A ooforectmia é indicada apenas para pacientes com mutações nos genes breast cancer 1 ou 2 (BRCA 1 e 2), ligados à ocorrência do câncer de mama e de ovário.
De acordo com Hugo Miyahira, vice-presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro, esses genes organizam e limitam o crescimento das células dos seios e do ovário, que têm um ciclo de vida pré-programado no organismo.
Pessoas propensas a sofrerem mutações nesses genes, como Angelina Jolie – no caso dela, o problema está no BRCA1 – têm, de forma geral, 87% de chances de desenvolver câncer de mama e 50% de câncer nos ovários.
Eles são supressores de tumores.
Quando há a deformação, a replicação descontrolada das células não é coibida.

Chefe do Núcleo de Assistência de Detecção Precoce do Câncer da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Farid Buitrago explica que a cirurgia de retirada dos ovários pode ter um corte muito parecido com a cesariana ou ser realizada a partir de pequenas incisões no umbigo e na lateral do abdômen da paciente.
“Isolamos os ovários, amarramos as artérias e retiramos.
A mulher vai parar de produzir hormônios e entrar imediatamente no climatério.
Ela precisará fazer reposição hormonal, além de tomar sol e vitaminas.
Depois de um mês estará bem, ou até em menos tempo”, explica.

Apesar de poder ser realizada pela rede de saúde pública, a ooforectmia não é comum nem no Sistema Único de Saúde (SUS) nem nos hospitais da rede privada.
“Além do exame genético, necessário para a indicação da cirurgia, ser caro, a retirada do órgão é um trauma muito grande, porque a mulher não quer perder a mama ou retirar o ovário, que, até então, não têm absolutamente nenhuma doença.
Mas apesar disso, o procedimento pode ser benéfico.
”.
Martha Mesquita, oncologista do Grupo Acreditar – especializado no tratamento contra o câncer em Brasília -, ressalta que há tratamentos hormonais, com medicamentos de via oral, para pacientes que não têm anomalias no gene BRCA 1 e 2, mas têm maior risco de desenvolver câncer de ovário, como as pessoas como carcinomas – esse tipo de câncer de pele em alguns casos pode desencadear também tumores nos ovários.
“Só em último caso retiramos órgãos ainda normais, e, mesmo assim, ainda há controvérsia.
A grande dificuldade está na pesquisa genética e na dificuldade de identificar essa tendência genética.
É preciso medir todas as consequências e ter certeza do diagnóstico para seguir com a cirurgia, que já mostrou ser um tratamento benéfico e eficaz contra essa predisposição hereditária”, avalia a oncologista.

Segundo Miyahira, os passos para identificar possíveis anomalias na identidade genética devem ser dados com cautela. “Para isso, é preciso fazer um estudo genético cuidadoso, além de uma minuciosa investigação no histórico familiar.
É preciso ter critério ético e bioético para não deixar a população neurótica, pois a cirurgia preventiva não é para todo mundo”, argumenta o médico.
Ele indica a mamografia e os exames periódicos como ferramenta eficazes para a prevenção de câncer em pessoas que não têm carga genética propensa a anomalias.

Impacto grande

Além das ponderações genéticas, médico e paciente precisam levar em conta as consequências acarretadas pela retirada dos ovários. Segundo Maria de Fátima Brito Vogt, chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), o impacto da cirurgia é grande, pois significa “uma castração” da paciente .
Perder o órgão produtor dos hormônios femininos leva imediatamente ao início da menopausa e traz sintomas como ondas de calor, ressecamento da vagina, mau humor, osteoporose e até outros tipos de câncer, como o de intestino.

A reposição hormonal e a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, como cuidados maiores com a alimentação e a prática de exercícios físicos, são praticamente obrigatórios após o procedimento. “É uma espécie de mutilação, mas o caráter genético dessa mutação atinge um percentual pequeno de mulheres.
Quando o teste for realizado e a presença da mutação constatada, é preciso oferecer a paciente a possibilidade de realizar a cirurgia profilática”, alerta Vogt.

Farid Buitrago, chefe do Núcleo de Assistência de Detecção Precoce do Câncer da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica que, embora o SUS não forneça o exame genético, a rede pública de saúde atende pacientes que chegam com o resultado positivo para as mutações no BRCA1 e 2, que nunca ocorrem simultaneamente.
“Elas passam por avaliação profissional e faz a cirurgia. Vale lembrar que, apesar do diagnóstico, há chance de não desenvolver a doença.”.

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Influência externa

A mutação do BRCA1 e 2 pode ser desencadeada por fatores externos, como a infecção pelo vírus HPV ou a exposição a radiação, como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki durante o bombardeio americano em 1945. “Essa predisposição genética é muito rara e alcança cerca de 5% da população.
Não podemos considerar pessoas acima de 50 anos que tiveram câncer nesses órgãos como uma referência familiar porque, à medida que o organismo envelhece, perde a capacidade de reparação.
Os casos de muitos familiares próximos desenvolvendo câncer de mama ainda jovens, no entanto, deve ser observado com atenção”, diz Miyahira.

Vogt alerta que 85% dos casos de câncer de mama não são causadas pela mutação. “Quando as pessoas têm esse perfil de doença na família, os médicos indicam que a paciente faça o teste. No caso de diagnóstico positivo, é preciso pesar muitas coisas antes de optar pela cirurgia. Se ela ainda quiser ter filhos e amamentar, então, o procedimento não é recomendado”.