Câncer de Pulmão – O que é, sintomas e tratamento

Após testes em ratos com câncer de pulmão, os tumores agressivos sumiram nas cobaias depois de 25 dias de tratamento. Cientistas da Universidade de Chicago começaram os primeiros testes com humanos.

Uma pequena proteína, mas com efeito devastador. Em ação, a TOPK promove o crescimento de tumores em tecidos humanos, especialmente aqueles considerados muito agressivos. Quanto maior for a quantidade dessa molécula, menor a sobrevida do paciente. Dedicada a cortar de vez o potencial destrutivo dela, uma equipe de cientistas liderada por Yusuke Nakamura, do Departamento de Medicina da Universidade de Chicago (EUA), parece ter encontrado uma feroz combatente da TOPK: a OTS964. Os experimentos, ainda em animais, foram relatados na edição de hoje da revista científica Science Translational Medicine.

A TOPK está expressa de maneira mais evidente no tecido tumoral que no saudável, especialmente em casos de câncer de mama triplo negativo e de pulmão — ambos muito agressivos. O primeiro representa 20% de todos os tipos de câncer, e não há uma droga alvo ou equipamento específico para tratá-lo. Por esse motivo, as pacientes são submetidas a uma quimioterapia convencional. Segundo Nakamura, o maior desafio foi escolher as substâncias que seriam testadas. “Nós selecionamos 300 mil compostos inicialmente. Depois, sintetizamos mais de mil e encontrei alguns que estavam propensos a trabalhar em seres humanos. Estamos focados no mais eficaz. Agora, achamos que temos algo muito promissor.”

Os estudos iniciais, com uma droga precursora chamada OTS514, indicaram que ela é eficaz para matar as células cancerígenas, mas causa efeitos colaterais. O principal deles é a interferência no processo de hematopoiese — a diferenciação das células do sangue. Nos testes, houve um aumento na produção de plaquetas que pode resultar em maior ocorrência de trombose. Ao mesmo tempo, ocorreu uma queda na produção de leucócito, aumentando as chances de leucopenia, uma diminuição das defesas do organismo devido ao menor volume de glóbulos brancos.

Esses problemas, a princípio, puderam ser superados com o uso de um lipossoma para envolver a medicação e entregá-la com mais segurança às células. Trata-se de pequenas bolsas redondas formadas por camadas duplas de fosfolipídios, consideradas as mais comuns dos vetores de transporte não virais de genes. A abordagem foi chamada pelos pesquisadores de “eliminação completa da toxicidade hematopoiética” e, com ela, eles chegaram à versão final da droga: a OTS964.

 

Menos tóxica

Para os testes, um tumor de pulmão agressivo foi transplantado em camundongos. Os autores aguardaram até ele atingir 150mm cúbicos e, em seguida, o medicamento foi administrado por via intravenosa em seis cobaias duas vezes por semana, durante três semanas. Os tumores reduziram rapidamente e continuaram a diminuir até mesmo depois do fim do tratamento. Em cinco dos seis animais, sumiram completamente, sendo que em três dentro de 25 dias do primeiro tratamento e em dois em 29 dias. Aqueles que receberam a droga revestida de lipossoma não apresentaram toxicidade detectável.

A OTS964 também se mostrou eficaz quando tomada em doses maiores e por via oral. “É raro ver a regressão completa de tumores em um modelo de camundongo. Muitos medicamentos podem reprimir o crescimento, mas é incomum vê-los erradicados. Raramente isso foi relatado”, comemora Nakamura. Hoje, eles trabalham no desenvolvimento de um teste com humanos, que deve ser iniciado no primeiro semestre de 2015.

Segundo a biologista molecular Dirce Maria Carraro, chefe do Laboratório de Genômica e Biologia Molecular do A.C.Camargo Cancer Center, é muito promissora a identificação de um inibidor nessa etapa do estudo. “Eles abrem perspectivas importantes. Claro que agora temos que esperar os testes clínicos de fase I, II e III para saber qual vai ser o comportamento em humanos tanto para o encolhimento do tumor quanto para a inibição”, pondera.

A especialista explica que, mesmo os cânceres sendo muito agressivos, existem pacientes que conseguem sobreviver a eles por meio do tratamento convencional, que age sobre todas as células que estiverem se duplicando. “Já o tratamento-alvo (o proposto pelos cientistas de Chicago) está mais direcionado para a célula do tumor, tem como foco alguma proteína que é mais expressa na doença”, diferencia.

Entre as consequências da ação mais específica, estão a redução dos efeitos colaterais e da toxicidade. Ainda assim, os primeiros foram observados com o uso da OTS964. “Medicamentos oncológicos têm um nível de toxicidade alto e extremamente aceito porque é preciso combater o câncer, uma doença altamente letal”, diz Carraro.

 

Sinal de grandes novidades

“Todo o mecanismo de ação novo pode atuar em uma situação em que drogas que já temos não funcionam mais. Essa é uma possibilidade. O fato de ter sido utilizado em camundongos transplantados com tumores humanos é muito interessante, mas só vamos ter certeza de qualquer coisa quando houver testes em humanos. Vale observar que, já nesse estágio, a droga teve efeitos colaterais. É uma perspectiva. Uma notícia boa sem muita certeza ainda. Precisamos de estudos em humanos, mas as grandes novidades tendem a começar assim.”

Auro del Giglio, chefe do Departamento da Oncologia Clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer

Dicionário do câncer: conheça os termos médicos que indicam avanços da oncologia

Para entender o avanço da ciência contra os tumores malignos, é preciso dominar alguns conceitos ainda pouco divulgados. No câncer, tudo é superlativo. A começar pelo susto de receber o diagnóstico. A incidência da doença é altíssima e em escala mundial. Nos países em desenvolvimento, são 7 milhões de novos casos a cada ano, sendo que 4.820 pacientes vão a óbito. Esses números não são tão menores em países desenvolvidos: são 5,5 milhões de casos anuais e 2 milhões de mortes. Além disso, milhões são investidos na busca por novos tratamentos.

Para que a batalha contra esse mal seja vitoriosa, milhares de cientistas em todo o mundo se debruçam sobre microscópios e equipamentos de última geração para tentar entender o comportamento dos tumores e descobrir a fórmula mágica para detê-los. Um grupo desses pesquisadores está concentrado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Pfizer, em La Jolla, em San Diego, na Califórnia. São cinco prédios, nos quais estão instalados laboratórios e equipamentos especializados em biologia computacional e estrutural, design molecular, metabolismo de medicamentos, química de alto rendimento e farmacologia.

Desses esforços se espera, senão a cura, a descoberta de tratamentos que melhorem a sobrevida dos pacientes. Um longo caminho já foi percorrido desde os anos 1980, quando ganhou força a administração de citóxicos e de quimioterapia. Esse tipo de droga tem a desvantagem de destruir as células saudáveis além das cancerígenas. Na década passada, muito se falou de terapia-alvo e da possibilidade de “mirar” o tumor. Agora, as apostas são em medicina de precisão, aquela que estuda a genética do tumor e personaliza o tratamento, usando medicamentos específicos para cada pessoa, com respostas muito mais eficientes.

Apostas da ciência

O oncologista Roberto Uehara, médico da Pfizer da América Latina, traduziu esses termos médicos que indicam os avanços da oncologia. “Estamos falando de pacientes com doença incurável e avançada. O objetivo é fazer com que eles vivam mais e com qualidade. E também minimizar a chance de a doença voltar”, resume o especialista. Os termos usados:

Terapia-alvo

“É quando existe um medicamento o qual se sabe exatamente onde ele vai atuar. Essa terapia-alvo é interessante porque já está vindo a segunda geração do mesmo remédio. Para aqueles pacientes que ficaram resistentes, desenvolveu-se a mesma droga, da mesma classe, contra o mesmo tipo de alvo, só que de segunda geração, que vai combater a resistência daquele tumor.”

Medicina de precisão

“Em uma população de 10 pessoas com câncer de pulmão, por exemplo, você faz um teste genético do tumor para saber quem vai se beneficiar com aquele tratamento. Na prática, é retirado um pedaço do tumor e feito um teste para saber se ele tem aquela mutação para qual a medicação é indicada. Isso beneficia o paciente porque ele não vai receber uma terapia que não precisa e terá menos efeitos colaterais. Um exemplo é um tumor hematológico chamado mieloma. Existem várias drogas para tratar esse tumor, mas não se sabe qual dar para qual paciente. Então o que se faz? Dá um, não funciona. Quando progride, dá outro. Tem alguns tumores que você sabe qual é a mutação, mas não sabe qual a droga-alvo para a mutação.”

Imuno-oncologia

“O tratamento imunológico não é novo, mas agora está vindo uma imunoterapia nova, mais assertiva porque sabe-se em que parte do sistema imunológico exatamente ela vai atuar. Dessa maneira, estão tentando descobrir qual o marcador que vai selecionar melhor o paciente. Esse é o esforço da medicina hoje. Na imunoterapia, basicamente, busca-se que o sistema imunológico combata o tumor. Esse é o objetivo maior. Uma das teorias é que o câncer é uma célula do seu corpo e o sistema imunológico procura combater aquilo que é extremamente diferente, como uma bactéria ou um vírus. Como a célula do tumor se parece com você, o sistema imunológico fica meio confuso. É célula do corpo, mas não é, pois algumas coisas são diferentes. Esse é um mecanismo inteligente que o tumor criou para escapar do sistema imunológico. Uma das coisas que essas drogas fazem é tentar estimular o sistema imunológico para ele que identifique, de maneira mais eficiente, que aquilo é célula de câncer e passe a atacá-la.”

Vacinas

O conceito tradicional de vacinas é quando você pega um agente estranho e coloca em contato com seu sistema imune, como é feito com a vacina da gripe, da tuberculose. Pega-se uma parte da bactéria, coloca em contato com o soro humano. Então, é produzido um anticorpo especificamente contra aquilo e, depois, injetado na pessoa, que fica imunizada. Com o câncer, estão tentando fazer a mesma coisa. Existe uma vacina aprovada para o câncer de próstata, por exemplo. Tira-se um fragmento do tumor, prepara aquilo no laboratório com células do paciente e injeta na pessoa de novo. Esse é o conceito clássico da vacina e pode ser usado quando a doença é metastática.”

Epigenética

“Quando se controla a expressão dos genes, especialmente os que são relacionados ao câncer, pode-se controlar o desenvolvimento, a disseminação e a progressão dos tumores. Há alguns tumores que a gente sabe: se ele tiver determinado gene, será mais ou menos agresssivo. Esse gene está superativado naquele câncer. Ao inibi-lo sem destruir a célula, consigo evitar que esse gene mande a sinalização de progressão e de divisão celular.”

Biomarcadores

“Como o próprio nome diz, é um marcador biológico, que vai dar alguma informação específica. Por exemplo, um biomarcador pode dizer que tal tumor é positivo para aquela mutação genética, ou não, se vai ser sensível à determinada terapia.”

Anticorpo monoclonal

“Esse anticorpo é uma molécula grande. Não é como os outros fármacos de moléculas sintéticas, que entram na célula tumoral. O anticorpo monoclonal, como é grande, fica do lado de fora da célula. Existem substâncias na membrana celular que são como chave e fechadura, e o anticorpo monoclonal tem de se encaixar exatamente naquela fechadura, que só aquela célula tem. Assim, é possível combiná-lo com a quimioterapia e a medicação só vai chegar naquela célula específica, na qual o anticorpo se ligou. O tratamento é mais específico e com menos efeitos adversos. Temos dois fármacos assim para doenças hematológicas, por exemplo.”

Angiogênese

“Para o tumor crescer e se proliferar dentro do paciente, um dos mecanismos é secretar substâncias que vão produzir e gerar vasos sanguíneos, que vão sair do tumor para outras partes do corpo. Por que ele faz isso? Porque ele quer sangue, oxigênio e nutrientes. Assim, ele se dissemina. Quando esse processo de angiogênese é bloqueado, o tumor é controlado. Os medicamentos antiangiogênicos bloqueiam a formação de novos vasos e agridem o tumor. É como se ele morresse por inanição.”

Prevenção diminui a mortalidade

O câncer, após a doença cardiovascular, é a enfermidade que mais causa morte no mundo. Em 2005, o número de mortes por câncer foi superior a sete milhões, sendo que três quartos dos óbitos ocorreram nos países em desenvolvimento. Para 2015, a expectativa é que cerca de nove milhões de pessoas morram de câncer no mundo e, em 2030, que este número atinja 11,5 milhões de pessoas.

Até 40% das mortes por câncer podem ser evitadas pela redução do uso do tabaco; alimentação saudável; estimulação da atividade física regular; diminuição do consumo exagerado de álcool; controle de alguns vírus relacionados ao câncer (como o vírus da hepatite B e C, e o papiloma vírus humano – HPV); eliminação dos agentes carcinogênicos nos ambientes de trabalho e diminuição da poluição atmosférica. Sabe-se que o câncer é uma doença em que fatores internos (herança genética) interagem com externos (ambientais) para desencadear o processo de carcinogênese, que pode transformar uma célula normal em uma célula neoplásica em meses, anos ou décadas.

O conhecimento dos fatores de risco para o câncer, do processo de carcinogênese e das estratégias de prevenção e detecção precoce, podem evitar o aparecimento de centenas de milhares de novos casos e diminuir consideravelmente a quantidade de mortes por câncer. A partir da segunda metade do século XX, em diversos estudos foram demonstradas correlações entre as centenas de fatores de risco e a ocorrência dos diversos tipos de cânceres. Neste período, também foram desenvolvidos estudos sobre as intervenções que podem evitar o aparecimento da doença, bem como detectá-la precocemente e, com isso, aumentar as chances de sobrevida e de cura.

Este conhecimento, apesar de amplamente disponível, ainda é pouco utilizado para a elaboração de políticas públicas, programas, projetos e ações de controle do câncer. As ações de prevenção são as únicas que podem ter impacto na diminuição tanto da incidência como da mortalidade. Entretanto, as ações de prevenção correspondem a uma parcela mínima dos orçamentos públicos e privados responsáveis pela saúde de milhares de indivíduos.

Nos últimos 20 a 30 anos, os custos com o tratamento do câncer aumentaram de forma exponencial, e não se refletiram em um aumento significativo da sobrevida nem na diminuição da mortalidade. Apesar dos altos custos associados com as ações de prevenção e detecção precoce, os resultados são evidentes tanto em termos sociais (diminuição dos casos de câncer, da morbidade e da mortalidade) como econômicos (diminuição dos gastos diretos com o tratamento e indiretos com a mortalidade e a morbidade).

Os fatores ambientais (externos) são responsáveis por cerca de 90% a 95% dos casos novos. Dos fatores ambientais que contribuem para o aparecimento do câncer e a morte relacionada a ele, podemos destacar o consumo de tabaco e álcool; o consumo inapropriado de frutas e vegetais; o excesso de peso; a inatividade física, e a infecção por vírus oncogênicos.

Vírus oncogênicos são vírus que participam do processo de transformação celular. Esses vírus estabelecem uma associação com a célula infectada que, em vez de destruí-la, cria condições para manter seu ciclo replicativo. Diversos vírus são oncogênicos para animais e humanos. São citados os vírus que participam do processo de oncogênese no homem, por exemplo, o retrovírus, a herpes, o papilomavírus.

No mundo, 30% das mortes por câncer são devidas ao consumo de tabaco, 5% ao consumo de álcool, e pouco menos de 5% por outras causas. A poluição ambiental e a exposição ocupacional aos agentes carcinogênicos estão relacionadas a aproximadamente 200 mil mortes por câncer ao ano.

No Brasil, a distribuição dos fatores de risco para o câncer pode ser obtida através de inquéritos populacionais ou estudos epidemiológicos. Desde 2006, o Ministério da Saúde apresenta as estimativas de frequência e de distribuição dos fatores de risco e proteção para as doenças crônicas em todas as capitais e no Distrito Federal. Estes dados, obtidos por inquérito telefônico (Vigitel), são de fundamental importância para o acompanhamento dos fatores de risco para o câncer.

A utilização dessas informações, bem como de dados de estudos e inquéritos em diferentes grupamentos populacionais, possibilita a proposição de políticas públicas para o controle dos diferentes fatores de risco e também para a avaliação do grau de resposta aos programas e ações de saúde pública.

No país, além do interesse e da divulgação destas informações pelas instituições governamentais, a Saúde Suplementar, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), busca estimular os responsáveis pelas operadoras de saúde a repensarem a organização dos sistemas de saúde, com a incorporação de ações de promoção da qualidade de vida e prevenção de riscos e doenças.

Pelo exposto, fica evidente que as ações de prevenção são necessárias, eficazes e relevantes para o controle do câncer no Brasil e em todo o mundo.