Cigarro – Tudo que precisa saber

Vamos tratar, em dois posts, sobre um assunto que afeta milhões de brasileiros: “o perigo do cigarro”. Neste e no próximo post, você confere um dossiê completo sobre o tabagismo.
As doenças que a dependência provoca, os efeitos do cigarro sobre o corpo, detalhes sobre a dura batalha até o abandono do vício e as principais novidade a respeito do que  pode ser feito para acabar com o problema.
A proposta é não só informar você sobre os males desse “lobo em pele de cordeiro”, mas também oferecer apoio para que crie coragem para superar a dependência.
Leia quantas vezes for necessário para se fortalecer e chegar lá.
O tabagismo é responsável por 50 doenças diferentes, entre elas o câncer e o infarto.
A prevenção desses problemas e a melhoria da qualidade de vida dependem do abandono do cigarro – atitude possível de ser realizada por todos.
Se você tem um amigo que fuma, mostre a ele este texto.

Quem fuma encontra diversos motivos para acender um cigarro. Alguns até sabem sobre os prejuízos que ele causa à saúde, mas assumem os riscos e continuam com o hábito.
Porém, os malefícios são tantos que muitos permanecem desconhecidos, e está atingindo pessoas cada vez mais jovens, já que, com a oferta de cigarros aromatizados, adolescentes com menos de 15 anos começam a se interessar pelo hábito.

O tabagismo não se resume apenas ao cigarro comum;engloba também charuto, cachimbo, cigarro de palha, narguilé, fumo-de-rolo e rapé (para aspiração), todos igualmente nocivo à saúde e produzidos a partir do tabaco, planta cujo nome científico é Nicotiana tabacum.
A seguir, confira informações sobre o cigarro, os perigos que ele representa e dados estatísticos sobre o tabagismo no Brasil e no mundo.
E lembre-se de que sempre é possível parar de fumar!

Causa evitável

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável. Estima-se que, no mundo, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas adultas sejam fumantes.
No Brasil, segundo dados de 2008 da Pesquisa Especial de Tabagismo (Petab), do IBGE, 17,5% da população a partir dos 15 anos é fumante, o que equivale a 25,5 milhões de pessoas.
Esse alto consumo de cigarro provoca 4,9 milhões  de mortes todos os anos, já que o tabagismo está ligado  a 50 tipos de doenças, entre elas câncer de pulmão e de faringe e problemas cardiovasculares.

Problema ainda maior é que os malefícios do tabagismo atinge, também quem não fuma, mas convive com os fumantes. Inalar a fumaça de cigarro aumenta em 30% os riscos de câncer de pulmão e em 24% as chances de infarto. Não existem medidas que amenizem os problemas causados pelo tabagismo se o fumante continua com o hábito.
“Quem fuma tem que parar de fumar.
De nada adiante tentar medidas alternativas para minimizar os efeitos nocivos do cigarro”, destaca o cardiologista Roque Savioli.
Na Petab de 2008, mais da metade dos fumantes declararam que desejavam ou planejavam parar de fumar.
O abandono do hábito trás benefícios perceptíveis, como melhora da capacidade cardiorrespiratória e sensibilidade do paladar.

Substâncias tóxicas

Ao fumar, são introduzidas no organismo mais de 4.700 substâncias tóxicas e pelo menos 69 são cancerígenas. Algumas são estimulantes e levam ao vício, como a nicotina. Confira as principais:

Nicotina – Causa dependência e age como vasoconstritora, elevando a pressão arterial e os batimentos cardíacos, além de descontrolar as taxas de colesterol. Após o efeito estimulante, vem o tranquilizante – por isso muitos fumantes recorrem ao cigarro para aliviar o estresse.
Pesquisa da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, revelou que, quando consumida pela primeira vez, a nicotina e a cocaína acionam os mesmos mecanismos do cérebro.

Monóxido de carbono – É o mesmo gás liberado pelo escapamento dos automóveis. Diminui a oxigenação do sangue e, por isso, reduz o desempenho em atividades físicas, a capacidade de cicatrização e a absorção de nutrientes no organismo.

Alcatrão – Reúne elementos cancerígenos, como polônio, chumbo, arsênio (que está presente em inseticidas), cádmio (usado na fabricação de pilhas e baterias) e fósfor P4/P6 (encontrado em veneno de rato e produtos de limpeza).

Amônia – Reduz a acidez da fumaça do cigarro, colaborando para maior absorção da nicotina e, consequentemente, contribuindo para a dependência. É uma substância corrosiva.

Mulheres sofrem ainda mais

Segundo pesquisa publicada no periódico científico The Lancet, os efeitos nocivos do cigarro são mais perigosos para as mulheres. O estudo se baseou em dados levantados durante 30 anos de pesquisas e concluir que mulheres fumantes correm 25% mais riscos de sofrerem de doenças cardíacas do que os homens.

Ao todo, 2,4 milhões de pessoas participaram das pesquisas analisadas pelas Universidade de Minnesota e John Hopkins, nos Estados Unidos. Os pesquisadores ainda não descobriram porque o sexo feminino é mais afetado pelos prejuízos do tabagismo.

Advertência na embalagem

Desde 2001, os fabricantes de produtos de tabaco são obrigados por lei a inserirem advertências nas embalagens, ilustradas com fotos. Segundo dados do IBGE, 65% dos fumantes se impressionam com o rótulo e pensam em parar de fumar.
O objetivo dessas imagens é informar sobre os riscos do uso do tabaco e acabar com o apelo das embalagens e propagandas que estimulam o hábito.

É proibido fumar

Em 2011, a lei antifumo foi aprovada para todo o país. Inicialmente aplicada no estado de São Paulo, a lei proíbe o fumo em locais fechados públicos ou privados e não será mais permitida a existência de “fumódromos” (restritos para fumantes) em locais fechados, incluindo ônibus e táxi.
Os proprietários de estabelecimentos devem retirar todos os cinzeiros das mesas e fixar cartazes alertando sobre a proibição do tabagismo.
O cigarro permanece permitidos em áreas abertas.
Entre 2009, quando a lei entrou em vigor, e 2010, o número de pessoas que fumam dois ou mais cigarros caiu 31% na cidade de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde.
A lei beneficia também aqueles que não fumam, pois os estabelecimentos ficam livres da fumaça do cigarro.

O perigo e suas faces

Não é só no cigarro que são encontradas substâncias prejudiciais. Outros derivados do tabaco formam a liga do mal contra a sua saúde. Nenhuma forma disfarçada de consumo de tabaco é segura ou isenta de danos à saúde. O fumante que troca o cigarro por outras formas está se expondo a substâncias tão ou mais perigosas.
A verdade é que não existe milagre.
Largar o vício é a melhor escolha.
Conheça cada um deles de perto.

Fumo de rolo

Tabaco torcido e enrolado in natura. Era mascado pelos marinheiros que não podiam fumar a bordo para evitar incêndios. O costume de cuspir enquanto se masca fez surgir as escarradeiras – recipientes próprios para armazenar os cuspes do usuário -, algumas até mesmo em versões de luxo.
Acreditava-se que o tabaco era potente na limpeza dos dentes.
Apesar de ser visto como natural, é responsável por retração e inflamação das gengivas, cáries, queda dos dentes e leucoplasia (lesão pré-maligna da cavidade oral).
Mascar fumo causa câncer de boca, laringe, esôfago e estômago, entre outras doenças.

Rapé

Tabaco em pó. Ao ser aspirado em pequenas quantidades, gera uma irritação no nariz (mucosa nasal) e faz a pessoa espirrar. Ganhou popularidade no passado, quando acreditava-se que espirrar era bom para a saúde, especialmente contra sinusite, doenças respiratórias e para revigorar o cérebro.
Em meio a tantas restrições ao uso do cigarro, jovens europeus estão trazendo de volta à moda, como uma forma de obter a sensação de nicotina, sem incomodar ninguém.
Porém, o rapé na verdade não tem nada de terapêutico, causa os mesmos males que o cigarro, além de poder provocar sinusite e lesões na mucosa nasal.

Narguillé

O utensílho, de origem indiana,também é chamado de cachimbo d’água, Nargile, Arguilé. Virou modismo entre os jovens e passou a ser oferecido em bares e casas noturnas. O tabaco é queimado em carvão, sendo antes adoçado com uma espécie de melaço ou mel com frutas e óleos, para amenizar o cheiro e gosto desagradável.
A fumaça da queima passa por um recipiente com água, gerando o mito de que isso filtraria as toxinas do tabaco e reduziria a concentração de nicotina.
Depois, essa fumaça é aspirada pelos usuários através do bocal.
Por ser passado de boca em boca em um círculo de pessoas, facilita a disseminação da tuberculose, herpes labial e hepatite, mesmo quando são consumidos com uma espécie de piteira descartável.
Também é associado a bronquite, enfisema, câncer de pulmão, oral e bexiga.
Contém as mesmas substâncias do cigarro comum, contudo, com maior concentração de nicotina (em torno de 4%, contra 2% do cigarro).
A fumaça eliminada de um único Narguillé corresponde a 100 cigarros fumados ao mesmo tempo.

Bidis

Cigarros sem filtros aromatizados com diversos sabores, como chocolate, baunilha, uva, morango, menta, canela e cereja. O tabaco é enrolado em folhas secas de tendu (planta indiana), dando a aparência de natural, e são importados da índia.
Em comparação ao cigarro comum, o nível de monóxido de carbona produzido é três vezes maior e o de alcatrão é cinco vezes maior.
Não possui filtro, expondo o fumante a uma maior quantidade de substâncias que agridem seu organismo.

Cigarro eletrônico

Outras nomeações são e-cigarretes, e-ciggy e e-cigar. A venda é proibida no Brasil, assim como sua importação, propaganda, publicidade e promoção, inclusive na internet.
Estudos realizados pela Food and Drug Administration (FDA) – agência americana que regula alimentos, remédios e afins – comprovou que contém nitrosamina e dietilenoglicol, substâncias cancerígenas que servem para dar sabor ao fumo.

Charuto

É feito a mão ou à máquina, com folhas inteiras de fumo fermentado. É frequentemente associado à inteligência, sofisticação, poder, status. O cigarro dura alguns meses, no máximo, enquanto que um charuto bem conservado pode durar vários anos.
Os adeptos defendem que o consumo é feito sem tragar e seria menos prejudicial ao organismo do que o cigarro, porém fumar um charuto equivale a consumir de 5 a 10 cigarros convencionais.
Quem fuma 1 ou 2 charutos ao dia tem duas vezes mais riscos de contrair doenças na boca e seis vezes mais riscos de ter câncer de esôfago e de laringe.

Cigarrilha

Especie de charuto fino. Vem sendo utilizado como um substituto dos cigarros industrializados, porém os teores de nicotina desse produto são mais elevados. O resultado é uma dependência maior e grandes chances de desenvolver doenças relacionadas ao tabaco.
O maior nível de nicotina aumenta o nível de câncer de boca, laringe e esôfago.
A crença de que por não ser feita para ser tragada elimina o risco de tumores no pulmão é mito.

Cigarro de palha

Pode ser confeccionado com o fumo de corda picado com canivete e enrolado em palha de milho. É visto pelos jovens fumantes como alternativa natural. A palha, por não permitir a passagem de ar, torna as tragadas mais intensas e concentradas.
Isso gera uma exposição de alto risco, pois o tipo não possui filtro e tem teores mais altos de nicotina, levando a uma dependência mais intensa, e consequente maior chance de desenvolvimento de doenças relacionadas ao tabaco.

Cachimbo

Muito mais do que um acessório do famoso detetive Sherlock Holmes e apesar de ser muitas vezes classificado como um símbolo de elegância e inteligência, seus malefícios são tão graves quanto os do charuto.
É feito com a mistura de dois tipos de tabaco: a Nicotina tabacum e a Nicotina rústica, existindo aproximadamente 40 variedades delas, com vários aromas e paladares.
O fumo de cachimbo é absorvido pela boca, assim como o charuto, e traz mais riscos de câncer na boca, no esôfago e na laringe.

O raio X  do vilão

O alcatrão é a mistura de mais de 40 substâncias cancerígenas, entre elas: arsênico, polônio 210, carbono 14, agrotóxicos, níquel, chumbo, benzopireno, cadmio, dibenzoacridina e outros compostos químicos.

Fumaça maligna

O cigarro é responsável direto por 90% dos casos de câncer no pulmão

Não há mais nenhuma dúvida de que o cigarro é um dos principais fatores de risco para vários tipos de câncer. Entenda a dimensão do problema.

A relação cigarro/câncer começou a ser estabelecida há cerca de 60 anos, embora a indústria tabagista tenha conseguido manter esse fato quase encoberto da opinião pública por quase quatro décadas. Inicialmente, a associação foi diretamente como câncer de pulmão, que atualmente sabe-se ser causado pelo cigarro em 90% dos casos.
Mas hoje já está comprovada a relação direta do hábito de fumar com mais de uma dezena de outros tipos de tumores.
Pior: para a ciência, também está claro que os fumantes passivos são vítimas potenciais de tumores, especialmente de pulmão.

O alvo óbvio

Não foi por acaso que a primeira suspeita de casos de câncer causados pelo cigarro tenham sido de pulmão, já que é o órgão que fica mais exposta à nicotina e às outras substâncias cancerígenas presentes na fumaça do cigarro.
E os dados estatísticos da doença, divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), não deixam dúvidas: 90% dos tumores pulmonares são causados pelo cigarro.
“Esse caráter potencialmente evitável da doença mascara a real dificuldade que se enfrenta na prática.
A imensa maioria dos fumantes é dependente da nicotina e o tratamento desse vício é um constante desafio, desde o delineamento de políticas de saúde pública até o dia a dia do consultório”,afirma o oncologista Felipe Roitberg.

Mas o grande problema desse tipo de tumor é sua evolução silenciosa. “Como em estágios iniciais a doença não apresenta sintomas e frequentemente acomete indivíduos com doenças respiratórias subjacentes, em 75% dos casos o diagnóstico é realizado em estágio bastante avançados.
Isso compromete substancialmente as chances de cura e controle da doença, além da própria tolerância do paciente ao tratamento”, alerta Roitberg.
Isso explica porque, mesmo não sendo o tipo de câncer mais comum, é o que mais mata no Brasil e é considerado uma das principais causas de mortes evitável no mundo todo.

E, mesmo com os muitos avanços tecnológicos em relação a diagnóstico precoces e tratamento de câncer, os médicos são unânimes em relação ao de pulmão: a única medida que realmente dá resultado é evitar o tabagismo.

O mal entra pela boca

Outros tipos de cânceres que tem no cigarro uma de suas principais causas são os de boca e de garganta. Dados do Inca apontam que dos paciente que apresentam câncer bucal, 95% são fumantes e 76% fumam e consomem bebidas alcoólicas regularmente.
Além disso, o risco de desenvolver câncer bucal é de 4 a 15 vezes maior entre tabagistas, dependendo da quantidade de cigarros consumida diariamente.
esses números não são diferentes em relação aos tumores localizados na garganta, que incluem laringe, faringe, cordas vocais e a região interna do nariz.
Sem exceção, todos tem no cigarro seu maior fator de risco e, embora sejam agressivos, podem ser tratados, caso tenham um diagnóstico precoce.
“Não menos importante é a necessidade do paciente parar de fumar, visto que isso reduz a possibilidade do surgimento de um segundo tumor, além do fato de os pacientes terem uma maior resposta ao tratamento”, declara o oncologista.

Outros tumores relacionados ao tabagismo:

  • Leucemia Mieloide Aguda: é uma doença maligna que atinge a medula óssea, fazendo-a fabricar um grande número de células sanguíneas anormais. O tabaco não é o único fator de risco, mas um deles.
    A doença atinge mais adultos (90%) do sexo masculino com mais de 40 anos de idade.
  • Rins: o órgão filtra o sangue, eliminando toxinas.
    Assim, os fumantes acabam mandando para eles diversas substâncias cancerígenas, que a longo prazo podem provocar tumores.
  • Bexiga: armazena a urina formada pelos rins, com as referidas substâncias tóxicas.
  • Estômago: pesquisas indicam que 11% dos tumores gástricos estão diretamente associados ao tabagismo.
  • Há suspeitas também da relação entre cigarro e cânceres de pâncreas, fígado, colo do útero e esôfago.
    Sem contar o fato de que a resposta ao tratamento de qualquer tumor é bem melhor entre os não-fumantes.

 O cigarro deixa marcas

Os efeitos negativos do cigarro também são sentidos fora do corpo. Ao fumar, pele, olhos, cabelo e dentes são afetados. Saiba porque está na cara que uma pessoa é fumante.

Pele com aspecto envelhecida, problemas oculares, dentes amarelos e mau hálito. Essa descrição, nada agradável, é comum entre todas as pessoas que abusam do consumo do cigarro. Entenda como esse problemas podem afetar não só a estética, como até causar câncer.

Questão de pele

“É comprovado que o fumante tem a pele mais envelhecida que o não fumante. Isso ocorre principalmente em mulheres. A pele fica igual a de quem pegou muito sol durante a vida, porém o dano é mais profundo do que o do sol.
A relação é direta com a carga tabágica (número de maços por dia) e da formação de rugas e da coloração acinzentada da pele”, afirma a dermatologista Ana Luisa Sampaio, do Hospital Israelita Albert Sabin (RJ).
O processo é um pouco complexo.
É basicamente causado pela menor quantidade de oxigênio no sangue dos tabagistas, que leva a menor oxigenação da pele em geral.

Cabelo também sente

“Estudo recente demonstrou que o tabagismo tem relação com o desenvolvimento de calvície.
Os mecanismo são multifatoriais e, como na pele, as toxinas presentes na fumaça do cigarro causam danos na microvasculatura da pele, no DNA do folículo piloso e um desequilíbrio entre as enzimas que controlam o ciclo de crescimento do cabelo, levando à queda de fios”, explica Ana Luisa.
A fumaça do cigarro ainda pode deixar a pele do fumante passivo mais ressecada e levar ao desenvolvimento de alergias.

Risco de catarata e até cegueira

A catarata afeta a lente do cristalino do olho  e compromete a visão de uma maneira geral, desenvolvendo-se mais com a idade. “Porém, o cigarro pode acelerar esse processo, porque a nicotina propicia a formação de placas de ateroma nos vasos dos olhos, o que pode aumentar o aparecimento da doença.
Essa formação das placas nos vasos do olhos da retina pode causar uma série de alterações nos olhos, como hipertensão arterial”, explica o oftalmologista Glauber Marques do Hospital Balbino (RJ).
Isso, além do bloqueio da circulação do sangue na veia central da retina ou de seus ramos, a chamada oclusão venosa, leva à perda visual súbita e, dependendo do tipo e severidade do quadro, pode causar redução permanente da visão.
Embora seja raro, pode acontecer de um fumante vir a ficar cego.

Boca doente

O especialista em ortodontia e ortopedia facial, Gerson Köhler, lista os principais efeitos do cigarro sobre a saúde bucal:

  • Dobra o risco o risco de perda de dente em relação aos não fumantes;
  • Aumenta as chances de doenças periodontais (nas gengivas e nos ossos do entorno dos dentes);
  • Inflama as glândulas salivares;
  • Prejudica tratamentos periodontais e implantes dentários;
  • Causa mau hálito persistente;
  • Interfere na estética e na saúde dos sorrisos ao deixar os dentes com uma cor amarelo-acastanhada.
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“A consequência mais grave do vício de fumar é a predisposições gerada para lesões pré-malignas (potencialmente cancerígenas), principalmente na população masculina.
Essas lesões costumam se fazer presentes tanto com aspecto esbranquiçado como avermelhado, na língua e nas mucosas das bochechas e do assoalho da boca”, reforça o odontologista.

Fumaça nos olhos dos outros…

…é perigo. A fumaça do ambiente pode prejudicar os olhos de fumantes passivos. “Os fatores ambientais são menos prejudiciais, mas a maioria dos problemas que o cigarro pode propiciar tem a ver com a fumaça.
Pode causar olho seco ou mesmo olho seco crônico, que piora em quadros de alteração da superfície ocular, sensação de lacrimejamento”, completa Glauber Marques.

O que fazer?

Os especialistas fazem coro sobre a principal medida: para de fumar! Além disso, o fumante deve caprichar no uso do filtro solar para não somar o efeito nocivo do sol ao do cigarro e hidratar generosamente a pele”, defende a dermatologista.
Já os problemas oftalmológicos requerem uma avaliação individual, pois o quadro vai depender do histórico do paciente.
“Não tem prevenção para os danos causados nos olhos do fumante.
É importante que ele procure o oftalmologista anualmente, principalmente se tiver mais de 40 anos”, orienta Marques.
Sobre a saúde bucal, Kölher afirma que os fumantes precisam ficar alertas e consultar o dentista pelo menos a cada 6 meses, como forma de prevenção e/ou de intervenção precoce.

Vias obstruídas

Como se não bastasse ser o maior causador de câncer de pulmão, o cigarro compromete todo o aparelho respiratório. Assim, mesmo que se livre de um tumor, o fumante pode desenvolver outras doenças respiratórias graves.
A possibilidade de um fumante desenvolver algum tipo de problema respiratório é 10 vezes maior do que uma pessoa que não faz uso do cigarro.
Pior: 90% das pessoas que morrem devido à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) são fumantes.
Essas são apenas algumas das conclusões de um amplo estudo do Department of Health and Human Services, dos Estados Unidos, sobre as relações entre consumo de tabaco e problemas respiratórios.
“O cigarro afeta as vias aéreas em todo o seu trajeto, ou seja, do nariz até a parte mais distal dos pulmões, que é o alvéolo”, explica a pneumologista Christina Pinho, do Hospital São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro(RJ).

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC

Com certeza, o sistema respiratório é o mais afetado pela fumaça do cigarro. Assim, não é por acaso que a DPOC seja o mau mais comum entre os fumantes. “As doenças respiratórias mais conhecidas como sendo causadas principalmente, mas não exclusivamente, pelo cigarro são:bronquite crônica, enfisema e o câncer de pulmão.
mas todas as doenças respiratórias pioram diante da exposição à fumaça do cigarro, por exemplo, as de vias aéreas superiores, como a rinite, ou mesmo as das vias aéreas inferiores, como a asma brônquica”, lembra a pneumologista.
Não é por acaso que 85% das mortes por bronquite e enfisema pulmonar são causadas pelo cigarro.

Apesar de não serem todos os fumantes que vão desenvolver uma DPOC, mesmo após parar com o hábito não se elimina o risco. “Na maior parte dos casos  nos quais a doença se desenvolve, ela é progressiva, mesmo após cessar o tabagismo. Ou seja, há chance de continuar piorando sempre. Entretanto, muitas das alterações no pulmão melhoram.
Após 8 a 12 semanas, a inflamação nos brônquios diminui e os pacientes tossem menos.
Sempre vale a pena parar de fumar”, afirma o pneumologista Waldo Mattos.

Bronquite crônica

A traqueia é aquele “tubo” que começa no pescoço e depois se divide em dosi, levando o ar que respiramos para dentro dos pulmões. Essas divisões são os brônquios.
A fumaça do cigarro, com todas suas substâncias tóxicas, irrita a mucosa que os reveste e eles passam a fabricar secreções em excesso, provocando tosse seguida de expectoração.

Como em boa parte das doenças causadas pelo cigarro, os sintomas podem demorar a aparecer e progredirem lentamente. Assim, as crises vão se tornando cada vez mais agudas e próximas uma das outras. Além disso, a mucosa também pode inflamar, dificultando a passagem do ar.
Entre as complicações a longo prazo, está o enfraquecimento de algumas áreas do pulmão, que não recebem ar suficiente e sobrecarregam o coração, gerando insuficiência cardíaca.

Enfisema

Os alvéolos são pequenas estruturas, parecidas com bolsas que ficam no final dos brônquios, que realizam as trocas gasosas durante a respiração (entra oxigênio, sai gás carbônico). Submetidos a anos seguidos de agressão das toxinas presentes no cigarro, os alvéolos inflamam e perdem a elasticidade formando os enfizemas pulmonares.
Com isso, o pulmão retém o ar que entra e perde a força para expeli-lo.
A consequência é óbvia:a pessoa fica sem fôlego e logo começa a sentir outros sintomas derivados da falta de oxigenação, como cansaço cônico, falta de apetite, dores de cabeça e na região torácica.

Rinites

O tabagismo ainda está associado ao agravamento de outras patologias que atingem as vias aéreas, como as rinites alérgicas. Já se sabe que a grande maioria dos casos tem um componente genético em sua origem que, associado a um ou mais fatores ambientais, desencadeia a doença. Entre eles, o tabagismo passivo na infância é um dos principais.
Ou seja, mesmo que o cigarro não provoque uma rinite no fumante, vai agravá-la e ainda pode desencadear o problema em alguém de sua família.

Asma

Como acontece com as rinites, não é possível dizer que o cigarro cause a asma, mas seguramente dificulta o tratamento, inclusive em fumantes passivos. Além disso, fumar aumenta o metabolismo da teofilina, reduzindo a eficiência desse medicamento usado para atenuar os sintomas da asma.
Também foi comprovados que crianças exposta à fumaça do cigarro sofrem com mais severidade os sintomas da doença.

Circulação comprometida

Correndo no sangue as toxinas do cigarro podem provocar problemas cardiovasculares, agravar os já existentes e até causar varizes

O infarto agudo do miocárdio é a principal causa de morte no mundo todo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). É provocado pela falta de sangue no coração, decorrente de uma artéria entupida ou lesionada.
O tabagismo se encaixa nos principais fatores de riscos para infarto e insuficiência cardíaca, além de agravar outros problemas circulatórios, e age de diferentes formas para atacar o coração.

Obstáculos no fluxo

O alto nível de colesterol é um dos fatores que põem o coração em risco. Quando há gordura demais no sangue, ela se deposita nas paredes das artérias, prejudicando-se o fluxo. Com o tempo,  essa gordura acumulada forma placas endurecidas e entope a artéria – surge, então, o infarto.
“O risco de fumantes desenvolverem doenças coronárias é 2 a 4 vezes maior.
Eles desenvolvem mais aterosclerose das coronárias, as artérias que levam o sangue ao músculo cardíaco.
O infarto é a complicação maior desse problema, principalmente quando um coágulo obstrui completamente a artéria já doente”, explica o pneumologista Waldo Mattos, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.

Existem dois tipos principais de colesterol: o LDL, chamado de colesterol ruim, e o HDL, o colesterol bom, responsável por eliminar o excesso  de LDL no sangue, promovendo o equilíbrio. O tabagismo ataca pelos dois lados: reduz o nível de HDL e aumenta a produção de radicais livres no organismo.
Essas moléculas, por serem altamente reativas, aceleram a formação de placas nas artérias, deixando-as mais estreitas e até provocando  seu entupimento.
Sem espaço, o sangue não consegue chegar ao coração, causando o infarto agudo do miocárdio.
Quando essa artéria se localiza no cérebro, ocorre o acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente como derrame.

Pressão demais

Fumar eleva a pressão arterial em quem não é hipertenso e prejudica o tratamento em quem é. Segundo informações da Sociedade Brasileira de Cardiologia, um cigarro produz o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial que persiste por 15 minutos.

A elevação da pressão é provocada pela nicotina presente no tabaco, que reduz a espessura dos vasos sanguíneos e a capacidade de dilatação.
Pesquisa da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, mostrou que crianças cujos pais fumam possuem um risco 20% maior de ter hipertensão do que aquelas que não convivem com fumantes, mesmo sem outros fatores de risco associados, como obesidade e colesterol alto.

O aumento da pressão arterial faz o coração bater com mais força para bombear o sangue pelo corpo. Por ser um músculo, com o tempo o coração aumenta de tamanho, o que dificulta a distribuição de oxigênio e de nutrientes no órgão e no corpo.
Além disso, as artérias ficam comprometidas, pois recebem sangue com maior impacto, correndo o risco de lesionar.

Problema de estética e de saúde

As substâncias do cigarro enfraquecem a parede dos vasos sanguíneos, propiciando o aparecimento de varizes, veias dilatadas e tortuosas que surgem nas pernas, especialmente em mulheres, que já tem o sistema circulatório mais frágil.
As varizes são visíveis e possuem diferentes graus – os mais graves causam dor, sensibilidade nas pernas e podem formar coágulos no sangue.
Além do tabagismo, outros hábitos podem favorecer o desenvolvimento do problema, como sedentarismo, ficar muito tempo em pé ou sentado  e uso de pílulas anticoncepcionais.

Atitudes que previnem

Manter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos e consultar o médico regularmente são medidas fundamentais para reduzir os riscos de doenças do coração. Uma dieta rica em vegetais e pobre em gordura saturada, por exemplo, é capaz de controlar as taxas de colesterol, e a atividade física frequente reduz a pressão arterial.
Junto com o abandono do cigarro, que tal levar uma vida com mais qualidade.