Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas

Médicos e cientistas analisam indicar a cirurgia bariátrica a fim de controlar o diabetes em pacientes com e sem excesso de peso. Novo estudo divulgado na Lancet reforça a tese de que o procedimento previne o problema metabólico.

Ainda na década de 1950, os resultados de um procedimento cirúrgico começavam a ter efeitos complementares inesperados. Pacientes com úlceras ou cânceres gástricos eram submetidos a cirurgias de remoção parcial do estômago e redirecionamento do trânsito digestivo para porções mais baixas do intestino delgado.
O problema inicial era resolvido, mas, com ele, os níveis de glicose no sangue tinham uma redução dramática.
A associação entre o que passou a ser chamado de cirurgia bariátrica e o tratamento do diabetes chamou a atenção de médicos em todo o mundo, e diversos estudos e novas conclusões pipocaram.
Um novo artigo publicado na ‘Lancet Diabetes e Endocrinologia’ comprova o efeito protetor da cirurgia na prevenção ao problema metabólico e chega ainda mais próximo da indicação do procedimento para pacientes que não obesos.

Mais de 80% dos adultos com diabetes tipo 2 estão acima do peso ou obesos. Hoje, esse é o principal fator de risco modificável para a doença. A redução da massa corporal pode reverter quadros iniciais do problema metabólico ou mesmo prevenir o surgimento dele.
O emagrecimento a partir da mudança de estilo de vida, da dieta adequada, da atividade física regular e do uso de medicação é aconselhado por endocrinologistas como a primeira linha de tratamento e prevenção da condição.
Somente pacientes categorizados como obesos mórbidos, por apresentarem índice de massa corporal (IMC) acima de 40, têm a sugestão de se submeter à cirurgia bariátrica para reduzir os ponteiros da balança.

Não foi exatamente essa regra que o professor de saúde pública do King’s College London, no Reino Unido, Martin Gulliford, seguiu. Ele e sua equipe avaliaram o efeito de procedimentos cirúrgicos contemporâneos de perda de peso no desenvolvimento do diabetes. Identificaram 2.
167 adultos obesos sem diabetes e submetidos a uma das três cirurgias mais comuns para a perda de peso – banda laparoscópica ajustável, gastrectomia vertical ou bypass gástrico a partir de 2002.
Os pacientes foram comparados a 2.
167 participantes do grupo de controle, pareados por idade, sexo, IMC e monitoramento de glicose no sangue.
No último grupo, ninguém havia sido operado contra a obesidade ou feito outro tratamento.
Os participantes foram acompanhados por um período máximo de sete anos.

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas

Durante esse tempo, os pesquisadores registraram 38 novos diagnósticos de diabetes entre os participantes submetidos às cirurgias, contra 177 do grupo controle.
Ou seja, a incidência de diabetes foi reduzida em cerca de 80% naqueles operados mesmo após o controle de outros fatores importantes, incluindo tabagismo, pressão arterial alta e colesterol alto.
“Precisamos entender como a perda de peso proporcionada pela cirurgia pode ser utilizada em conjunto com intervenções de atividade física e de promoção da alimentação saudável como parte de uma estratégia global de prevenção do diabetes”, avalia Gulliford.
Segundo ele, os resultados sugerem que a cirurgia bariátrica pode ser um método altamente eficaz de prevenção do aparecimento de diabetes em homens e mulheres com obesidade grave.

Outros mecanismos

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas

Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Almino Ramos pondera que, depois do procedimento cirúrgico, a dieta é mais restrita, há perda de peso importante, mas também uma série de outros mecanismos.
É o caso de mudanças no hormônio GLP1, produzido na parte final do intestino delgado e ligado diretamente à produção de insulina pelo pâncreas.
“Como na cirurgia o intestino fica mais curto por causa da remoção, a produção de GLP1 aumenta muito.
Isso não é alcançado com o tratamento clínico”, explica.

Outra consequência da cirurgia é a redução da fabricação de grelina, um hormônio gerado no estômago que compete com a produção de insulina. Com a diminuição do estômago, essa produção também diminui.
Ramos conta que a discussão para a recomendação da cirurgia a pacientes diabéticos ou para a prevenção da doença em pacientes com excesso de peso é antiga.
“Ainda é algo confuso e que estamos discutindo bastante.

No mês passado, houve uma reunião entre as sociedades médicas e cirúrgicas para definir os parâmetros de indicação da cirurgia metabólica. “Dependemos da avaliação do quadro. Para ter boa avaliação do procedimento, precisamos ter certeza de que o paciente tem diabetes tipo 2 e tecido viável no pâncreas para a produção de insulina”, diz.
Segundo o médico, a previsão é de que já no próximo ano novas orientações permitam a recomendação de intervenções bariátricas para o controle do diabetes em pacientes não obesos.

Faltam mais evidências

Em 1980, o norte-americano Walter Pories operou, na Carolina do Norte, quatro diabéticos obesos. Depois do procedimento, os voluntários nunca mais precisaram de medicamentos para controlar a glicemia. Os resultados surpreendentes foram publicados em 1995.
Nos 14 anos anteriores, o médico já havia operado 146 pessoas nas mesmas condições e atingido um percentual de 83% de “cura dupla”.
Phillip Schauer, pesquisador da Cleveland Clinic, também nos Estados Unidos, fez a mesma experiência com 1.
160 pacientes submetidos a cirurgias bariátricas.
Dos 191 previamente diabéticos, 83% (mesmo percentual de Pories) se livraram da doença metabólica.
Ainda com esses resultados promissores e novos estudos, a possibilidade de tratamento do diabetes por cirurgia é descreditada devido à falta de mais evidências.
Por definição, o diabetes é um mal crônico evolutivo.

Segundo o endocrinologista João Lindolfo, membro do Departamento de Metabolismo Ósseo Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professor da Universidade Católica de Brasília, a mensagem que deve ficar com o estudo da revista Lancet é que a cirurgia bariátrica diminui a prevalência de diabetes, mas não acaba com as possibilidades de ter a doença.
“Ninguém engorda por problemas no estômago, mas por situações mais profundas, com viés psicológico ou até cultural.
Uma parte significante dos pacientes que fazem a cirurgia voltam a ganhar peso após 10 anos”.
Dessa forma, aqueles que não desenvolveram o diabetes a longo prazo podem tê-la.

Lindolfo detalha que a cirurgia bariátrica convencional tira a gordura do corpo que, junto da hereditariedade, é um dos maiores riscos de desenvolvimento do diabetes. “Ao diminuir a gordura, eu evito que um número grande de pacientes, seja pela cirurgia, seja pela dieta, tenham diabetes”.
Ele acredita que é preciso pensar no todo das doenças que são derivadas da obesidade.
“Devemos ver o problema global do paciente que vai ter esses benefícios se mantiver o comportamento saudável.

Uma questão em aberto

“Em um estudo de pacientes com diabetes tipo 2 acompanhados ao longo de oito anos, mais de 40% dos que foram submetidos ao bypass gástrico tiveram uma recaída após a remissão inicial de diabetes. Nesse estudo, nenhuma ligação absoluta foi observada entre a recidiva do diabetes e a recuperação do peso.
Assim, outros fatores parecem afetar a história natural do diabetes tipo 2 após a cirurgia bariátrica.
Por isso, se a anatomia alterada após o procedimento médico fornece proteção contra o problema metabólico em caso de recuperação do peso permanece uma questão em aberto.
São necessárias mais provas para convencer endocrinologistas sobre a natureza desse efeito.

Jacques Himpens, do Hospital Universitário de Bruxelas Saint Pierre, na Bélgica

Cirurgia bariátrica requer todo cuidado

Nos últimos cinco anos, houve um aumento de quase 90% no número de cirurgia bariátricas; é preciso grande medida de cautela para evitar complicações.

A escolha da melhor técnica para realizar o procedimento cirúrgico e do cirurgião, profissional que deve estar devidamente habilitado, evitam que pacientes submetidos a uma cirurgia tenham complicações no pós-operatório.
Essa recomendação, válida para qualquer tipo de procedimento, tem aplicação plena no caso da cirurgia bariátrica, procedimento cirúrgico para redução de estômago.
esta cirurgia aumentou quase 90% no Brasil, nos últimos cinco anos, e ocupa espaço de destaque na mídia.
O procedimento existe há mais de seis décadas, pois surgiu ainda no século passado, nos anos 50 e sofreu modificações ao longo dos anos.
“Estamos vivendo o que podemos chamar de fase de ouro da cirurgia bariátrica, de muito aperfeiçoamento a partir do uso de videolaparoscopia”, avalia o médico cirurgião da Gastroclínica Cascavel, Dr.
Tomaz Tanaka.
“Houve um marco divisório na história dessa cirurgia: antigamente recebíamos o paciente do endócrino, que fazia a indicação do procedimento.
Nós operávamos a pessoa e a encaminhávamos de novo ao endócrino, e não tínhamos mais contato com ela, que também deixava de ser vista pelo endócrino que a encaminhou.
Na verdade, o paciente ficava órfão de médico, pois não era acompanhado nem pelo clínico, nem pelo cirurgião.
Assim, fomos percebendo que os resultados não eram satisfatórios, justamente pela falta de acompanhamento médico.
Foi quando se chegou ao consenso de que deveria haver um serviço multidisciplinar para acompanhar esse paciente em todas as fases, e não apenas no pós-operatório”, relata o Dr.
Tomaz.
Hoje, existe um trabalho em bloco visando garantir todos os cuidados com o paciente, na busca do melhor resultado, com todos os benefícios.

De acordo com o Dr. Tomaz Tanaka, a atuação de vários profissionais de saúde tem feito a diferença. “O paciente faz várias consultas e exames, e não apenas com médicos. É devidamente esclarecido sobre todas as questões que envolvem a cirurgia, antes, durante e após o procedimento.
Isso inclui reuniões pré e pós bariátrica, com esclarecimentos sobre técnicas e complicações.
E além do cirurgião, também participam dessas reuniões e palestras, uma psicóloga e uma nutricionista, ambas com experiências em cirurgia.

Melhor técnica

Quanto ao método usado nesse tipo de cirurgia, a principal preocupação da equipe de cirurgiões da Gastroclínica Cascavel foi adotar uma técnica já consagrada, com resultados amplamente avaliados. “Uma cirurgia não é um bolo, que tem uma única receita.
O procedimento tem que ser feito, analisando caso a caso, pois cada paciente tem suas particularidades.
Porém, jamais adotamos uma técnica experimental, e sempre analisamos todos os riscos e benefícios de cada método”, frisa o Dr.
Tomaz.

Outro ponto observado é a necessidade do paciente que vai se submeter a uma cirurgia bariátrica de não estar com seu quadro de saúde debilitado, pois isso é um fator complicador. “Nesses casos temos um cuidado redobrado e orientamos o paciente a estabilizar o seu quadro”, assinala.

Ainda antes de optar pela cirurgia bariátrica, a pessoa primeiro deve tentar reduzir ao menos parte do seu peso com a mudança de hábitos alimentares, adotando uma dieta e a seguindo com rigor, combinada com exercícios físicos, pelo período de, pelo menos, dois anos.
“Somente após esse período, caso ainda não tenha conseguido perder peso, é que uma pessoa obesa e com doenças associadas deve pensar sobre a cirurgia bariátrica, avaliando com cuidado todos os riscos e procurando um bom especialista, com experiência nesse tipo de procedimento.
Mesmo assim ela precisa passar por uma criteriosa avaliação para ver se possui os requisitos para fazer a cirurgia, como o IMC acima de 40 ou acima de 35 se tem problemas associados, tais como diabetes, hipertensão, colesterol”, destaca o Dr.
Tomaz.

Dúvidas sobre o procedimento

O que é?

É um recurso operatório que possibilita o emagrecimento de um paciente obeso que apresentou falhas irreversíveis na tentativa de emagrecimento clínico. A Associação Americana de Endocrinologia e Obesidade alerta que não se deve tratar um paciente nessas condições a vida inteira, num tratamento interminável.
Se através de outros meios não foi possível emagrecer, a cirurgia é indicada, até em razão das doenças associadas.

Qual a eficácia da cirurgia?

Hoje, a cirurgia vive uma era de ouro, onde os resultados são excelentes, não só na questão do emagrecimento, mas também relacionados à qualidade de vida. O paciente adquire o bem-estar e pode ter uma vida normal. Antes, ele emagrecia, mas à custa de desnutrição e hipovitaminose.

O que é o IMC?

O IMC é o Índice de Massa Corporal, uma medida simples que consiste na divisão do peso (em quilograma) pelo quadrado da altura. Por exemplo: em uma pessoa com 90 kg e 1,70 m, o IMC será: 90 / 1,70 x 1,70 = IMC 31,1. Pessoas com IMC entre 20 e 24,9 têm peso normal; entre 25 e 29,9 têm sobrepeso, e com 30 ou mais são obesas.
A obesidade é uma doença caracterizada por aumento da gordura corporal, que pode levar a várias outras patologias e até a morte precocemente.

Quais os exames pré-operatórios?

Todos os exames clínicos e laboratoriais, de todos os profissionais incluídos na avaliação do paciente. Mesmo que demore, a fase de preparo não pode ser parcial. Em média, dura cerca de 40 dias, com várias consultas para que o paciente conheça o cirurgião, e vice-versa.

Como evitar as possíveis complicações?

Cirurgia é como atravessar uma avenida: a pessoa tem que passar na faixa, olhar a sinaleira, olhar para ambos os lados e só então atravessar. É quase certo que vai atravessar sem problema, em segurança. Da mesma forma, se todos os cuidados forem tomados, o risco de complicações dessa cirurgia é menor.
Para uma cirurgia segura é necessário: diagnóstico correto, exames pré-operatórios, escolha certa da técnica cirúrgica e do cirurgião que tenha selo de membro titular dessa cirurgia, com boas referências, e a realização do procedimento em hospital que tenha todas as condições de equipes e equipamentos.
Ainda assim, as complicações podem ocorrer, e por isso precisamos agir na prevenção, nos antecipando às complicações.

Qual a duração da cirurgia?

Atualmente, com os avanços desse procedimento, a cirurgia demora entre 1h15 e 1h30, bem diferente das 3 a 4 horas que durava antigamente.

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas

Quais as recomendações básicas no pós-operatório?

A cirurgia em si não é um milagre, e após o procedimento é preciso haver uma mudança comportamental do paciente.
essa mudança inclui aprender a comer, mastigar e engolir direito, escolhendo bem os alimentos;seguir rigorosamente a orientação da nutricionista e iniciar o que sempre foi o sonho dessa pessoa, que é praticar atividade física, antes quase impossível.
Esse é o segredo do melhor resultado.

Quem pode fazer?

Na década de 90, foi estabelecido como critério o peso, avaliando o IMC. A partir de IMC 40, ou entre 35 a 40, com doenças associadas (pelo menos duas). Na medida em que a medicina evoluiu, passou-se a observar que o peso não é a coisa mais importante, mas sim as doenças associadas.
Dessa forma, é um conjunto de doenças que define a necessidade da cirurgia.

16 dúvidas mais comuns nos consultórios que tratam obesidade

 – A cirurgia bariátrica é reversível?

Apenas a gastrectomia vertical (em que um pedaço do estomago retirado) e o duodenal switch, onde uma das etapas da cirurgia é a gastrectomia vertical, não são reversíveis. As demais técnicas podem ser revertidas.
No entanto, a reversão é extremamente complicada, oferece mais riscos do que a cirurgia em si e realmente só é feita em casos extremos, como em pacientes com câncer ou com aids.
Se o paciente está com peso normal estável e as doenças estão controladas não há razão para desfazer o procedimento.

 – Vou poder comer como antes, mas sem engordar?

Nenhum procedimento faz milagre. As cirurgias prescindem de reeducação e manutenção alimentar e física para que os resultados sejam efetivos.
O paciente precisar ter em mente que a cirurgia é apenas o início de uma mudança de vida, que inclui comer corretamente, de forma mais saudável, incluindo no cardápio frutas, verduras, legumes, carnes, pães integrais, sucos.
O paciente poderá comer de forma mais comedida e com mais frequência, de 3 em 3 horas, deixando as guloseimas para ocasiões especiais.

 – Como ter certeza de que a técnica é regulamentada?

No Brasil existem hoje quatro técnicas regulamentadas pela Resolução nº 1.942/2010 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que estabelece normas seguras para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações, procedimentos e equipe.
São elas: Bypass Gástrico, Gastrectomia Vertical, Banda Gástrica ajustável e Derivação Biliopancreática (Switch Duodenal).
Os demais procedimentos e técnicas cirúrgicas para o controle da obesidade não apresentam indicação atual de utilização ou ainda estão em fase de estudos.

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas

 – Qual o perigo de me submeter a técnicas não regulamentadas?

Profissionais que praticam técnicas não aprovadas pelo CFM estão atuando fora da legislação brasileira e expondo seus pacientes a riscos desnecessários de complicações e morte.
Para uma técnica ser aceita, ela precisa ser comprovada por anos de pesquisa clínica e ter perfis de segurança e eficácia aceitáveis, passando pelo crivo dos órgãos regulatórios de saúde de cada país.
Prometer soluções mágicas do tipo “coma tudo o que quiser e não engorde” é, no mínimo, mentiroso e antiético.

 – Quais as chances de ganho de peso posterior? Em quanto tempo isso é observado?

Até dois anos após a cirurgia, o paciente ainda está perdendo peso. A partir do momento que esse processo se estabiliza, é possível haver algum ganho, caso o paciente “baixe a guarda” e não se esforce para manter o peso. Esforço significa manter uma dieta balanceada e atividades físicas, o que é recomendado para os operados ou não.
A cirurgia é apenas o primeiro passo rumo a uma nova vida e é preciso abandonar antigos costumes nocivos e adotar uma forma de vida mais saudável, que inclui dieta equilibrada e a prática de exercícios.

O principal fator para ganho de peso posterior é a não adesão ao tratamento, que não se resume apenas às cirurgias bariátricas. O tratamento deve ser multidisciplinar, ou seja, com médico, nutricionista, psicólogo e educador físico, já que o paciente deverá a aprender a viver de uma maneira diferente.

 – Como escolher um bom cirurgião bariátrico?

Ao tomar a decisão, procure profissionais habilitados com experiência comprovada na área, evitando aqueles que prometem soluções milagrosas ou que pratiquem técnicas não aprovadas pelo CFM. No site da SBCBM consta a relação de todos os cirurgiões associados, que, obrigatoriamente, passam por programas de atualização e revisão científica.

 – A mulher que passa por uma cirurgia de estômago pode engravidar? Ela deve ter algum cuidado extra nesse período?

A paciente é liberada para engravidar 24 meses depois da cirurgia, assim o organismo estará mais adaptado. Antes disso, recomenda-se a anticoncepção. Essa recomendação é da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
 É importante ter um acompanhamento médico e nutricional durante toda a gravidez, para evitar a carência de vitaminas essenciais para o bebê.
Se for o caso, o médico pode indicar uma suplementação oral ou injetável.
O pré-natal deve ser acompanhado pelo nutricionista, cirurgião e obstetra.
 Os anticoncepcionais, no entanto, podem não ser completamente eficazes, daí a necessidade da consulta com o ginecologista.
 Engravidou? Informe o médico que a acompanhou durante todo o processo de tratamento.

 – O paciente que vai se submeter à cirurgia deve parar de fumar e de beber? Por quanto tempo? Quanto tempo depois da cirurgia ele pode voltar a fumar e ingerir bebidas alcoólicas?

Quem faz uso destas substâncias têm um risco maior para complicações em qualquer procedimento. Portanto, o ideal é que pare de fumar e de beber. Além de todos os riscos, a nicotina prejudica a cicatrização da pele, o que pode levar à infecção.
As bebidas alcoólicas são agressores das mucosas do estômago e do intestino e reduzem a absorção de alguns nutrientes, por isso devem ser evitadas, sobretudo nos primeiros 6 meses, quando ocorre uma readaptação do trato gastrointestinal.
O álcool é absorvido muito rapidamente após a cirurgia e cai na circulação sanguínea podendo levar à embriaguez mesmo com pequenas quantidades.

 – O que é o dumping? Todo operado tem?

Todo operado está sujeito a ter a síndrome de dumping. O consumo de alimentos calóricos doces (pudins, sorvetes, milk-shake, leite condensado, sucos com açúcar, refrigerantes) e gordurosos pode causá-la. O Dumping acontece quando, depois de beber ou comer, o paciente apresenta taquicardia, sudorese, tontura, queda da pressão arterial e diarreia.
Qualquer combinação destes sintomas pode ocorrer em intensidades variadas, dependendo do que a pessoa comeu.
Alimentos ricos em açúcares e gorduras, em excesso, não devem fazer parte do cardápio de ninguém, operado ou não.

 – Alguns pacientes operados relatam queda de cabelo intensa e unhas quebradiças, entre outros sintomas.
Porque eles ocorrem?

Queda de cabelo e unhas quebradiças são sintomas comuns durante qualquer processo de emagrecimento, seja por cirurgia, dieta ou em decorrência de doenças que “consomem” a pessoa (como o câncer, por exemplo). No caso do paciente bariátrico, esses sintomas não devem persistir por mais de quatro meses.

Se não houver acompanhamento com a equipe multidisciplinar, o paciente pode apresentar déficit de vitaminas e proteínas, o que pode levar a estes sintomas. Nesses casos, é preciso rever a alimentação com o nutricionista e, se necessário, iniciar suplementação vitamínica oral ou injetável.

 – Quais as possíveis complicações durante e após a cirurgia?

Os riscos são os mesmos de outras cirurgias abdominais, por isso a bariátrica deve ser feita em um hospital com estrutura adequada. Nas cirurgias disabsortivas é comum haver falta de nutrientes devido à baixa ingestão de alimentos e é necessária a suplementação vitamínica.
Mais raramente, a cirurgia bariátrica pode gerar complicações como infecção, tromboembolismo (entupimento de vaso sanguíneo), deiscências (separações) de suturas, fístulas (desprendimento do grampo), obstrução intestinal, hérnia no local do corte, abscessos (infecções internas) e pneumonia.

 – O efeito da pílula anticoncepcional após a cirurgia pode ser reduzido?

Nas cirurgias restritivas não há problemas, mas nas cirurgias que privilegiam a mal-absorção, pode ser que a pílula anticoncepcional tenha eficácia reduzida. Em muitos casos, recomenda-se a utilização de dois métodos anticoncepcionais concomitantamente, mas essa é uma avaliação que deve ser feita caso a caso pelo ginecologista.

 – É necessário fazer complementação de vitaminas? Por quanto tempo?

O paciente submetido a cirurgia bariátrica deverá ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar por toda a vida. Ele deverá realizar exames sempre e a reposição poderá ou não ser realizada.
No entanto, se o paciente conseguir manter uma alimentação adequada, rica em carnes magras, verduras, legumes, frutas e massas integrais, a suplementação vitamínica não é necessária.

Contudo, com o estilo de vida moderno, nem sempre isso é possível, então os suplementos vitamínicos entram como aliados para combater os sinais da falta de nutrientes (fraqueza, queda de cabelo, unhas quebradiças, dor de cabeça). Em alguns casos, a suplementação pode ser para a vida toda.

 – Depois da operação, terei que fazer exercícios físicos?

Sim, sempre. Os exercícios físicos fazem parte do tratamento da obesidade, independente da técnica utilizada.
Os benefícios do exercício são ainda maiores para os operados: aceleração do processo de emagrecimento, ganho de massa magra (músculo), redução da flacidez, melhora do condicionamento físico, melhora do desempenho cardiorrespiratório, fortalecimento dos ossos e ganho de disposição.

 – Alguma técnica permite comer mais do que outra?

Em todos os procedimentos, o paciente deve se habituar a comer pequenas quantidades, várias vezes ao dia. As cirurgias disabsortivas, como o Scopinaro e o Duodenal Switch, permitem que o paciente tenha uma capacidade maior de alimentação.
Em contrapartida apresentam efeitos colaterais sérios como o aumento da frequência evacuatória e a urgência evacuatória.

 – Quanto tempo dura o processo de emagrecimento? Há risco de emagrecer demais?

Perde-se peso mais rapidamente no primeiro e no segundo ano após a cirurgia, mas a velocidade do emagrecimento vai diminuindo até estacionar, geralmente por volta do segundo ano. Todo ser humano tem um peso ideal em torno do qual o corpo tende a se estabilizar, ainda que pequenas variações para mais ou para menos sejam comuns ao longo dos anos.

Cartilha desvenda a cirurgia bariátrica; saiba o que é mito e o que é verdade

Publicação educativa ‘Cirurgia da obesidade – tudo o que você precisa saber’ esclarece quem pode ser operado, como se preparar para o procedimento e as recomendações no pós-operatório

A primeira recomendação é adotar hábitos saudáveis, como dieta leve e exercícios físicos regulares. Em seguida, medicamentos conhecidos como emagrecedores entram em ação para tentar controlar a obesidade. Só depois da constatação de que todas as possibilidades se esgotaram parte-se para a cirurgia bariátrica.
Assim deve ser o caminho de um paciente obeso que decide submeter-se ao método, conhecido popularmente como redução de estômago, de acordo com o diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia, em Belo Horizonte, René Berindoague.

Na cartilha educativa ‘Cirurgia da obesidade – tudo o que você precisa saber’, o especialista também esclarece quem pode ser operado, como se preparar para o procedimento e as recomendações no pós-operatório. A seguir, alguns esclarecimentos do médico em relação a dúvidas que geralmente surgem no consultório.

O paciente normalmente engorda um ano depois da cirurgia

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Na maioria dos casos, o ganho de peso ocorre quando o paciente não assume hábitos saudáveis, como a adoção de dieta menos calórica e mais nutritiva e a prática de exercícios físicos regulares.

Perde-se mais peso nos primeiros seis meses

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – A perda mais significativa de peso ocorre nessa época, daí a importância de o paciente seguir com disciplina as recomendações médicas na primeira etapa do pós-operatório.

Quem faz cirurgia bariátrica fica propenso ao alcoolismo, uso de drogas ou comportamento compulsivo para compra

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Não existe nenhuma evidência científica de que, no pós-operatório, o paciente comece a ter tendência ao alcoolismo ou ao uso de drogas. Quanto à compulsão por compras, pode-se evitá-la com acompanhamento psicológico.
Ao perder peso, o paciente resgata a autoestima e passa a ter prazer em adquirir roupas e produtos de uso pessoal.

Qualquer um pode fazer uma cirurgia bariátrica

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – A redução do estômago é indicada para pacientes a partir de 16 anos que têm o índice de massa corpórea, o chamado IMC, acima de 40 kg/m², com ou sem doenças associadas, como diabetes, hipertensão, e entre 35 e 40 kg/m², com doenças associadas.
É preciso também que o paciente tenha tentado emagrecer sem sucesso por dois anos, em média, com dieta, exercícios físicos e medicamentos.
 Calcular o IMC, medida que os médicos usam para definir obesidade, é simples.
Divida seu peso pela sua altura multiplicada por ela mesma!

O paciente vai ficar careca depois da operação

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Cerca de 70% dos pacientes sofrem queda de cabelo depois da cirurgia bariátrica. O processo geralmente ocorre entre o terceiro e o sétimo mês de pós-operatório e é devido à carência de proteínas e outros nutrientes. Depois dessa fase, ocorre gradualmente uma renovação da raiz do cabelo.

Não existe contraindicação

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – – A cirurgia não pode ser realizada em pacientes portadores de doenças psiquiátricas que impeçam a adesão ao tratamento pós-cirúrgico, usuários de drogas e alcoólatras, pacientes que sofrem de compulsão alimentar e em quem tem doença cardíaca em estágio avançado.

A depressão é uma consequência comum para quem faz a cirurgia

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Não existe uma tendência. A depressão pode surgir devido a fatores desconhecidos, que devem ser investigados por psicólogo ou psiquiatra.

Os planos de saúde e o SUS devem cobrir a cirurgia bariátrica

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – Quem depende do SUS para realizar a cirurgia, porém, pode ter que esperar algum tempo na fila. O Ministério da Saúde não tem o registro, mas pode levar até sete anos para o paciente ser operado.
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula os planos de saúde, o período de carência para cirurgia é de até seis meses.
Ainda segundo a ANS, os planos só precisam cobrir plásticas na região do abdômen.
E o paciente ainda tem de apresentar complicações, como candidíase de repetição, infecções bacterianas devido ao atrito de pele, etc.
 Tanto no serviço público quanto no privado, é preciso indicação médica.
E não custa dizer: leia o contrato do plano de saúde para não ter surpresa depois.

Há tendência de anemia no pós-operatório

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – As mulheres têm mais tendência à anemia por causa da menstruação, perda de ferro e pouca presença de carne vermelha na dieta. A situação pode ser minimizada com a ingestão de alimentos ricos em ferro ou, se necessário, a utilização de suplementos vitamínicos.

A cirurgia bariátrica é mais arriscada que outras cirurgias

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Durante a operação, os riscos de complicações, como um problema cardiológico, é igual ao de qualquer outro procedimento cirúrgico abdominal. No pós-operatórias, complicações leves e graves ocorrem em 4% dos casos.
Nos primeiros 30 dias, pode haver sangramento interno, infecções e complicações clínicas, como trombose.
A médica nutróloga Sandra Fernandes afirma que, dependendo da técnica operatória, podem ocorrer vômitos ou diarreias.
“A média ou longo prazo, as complicações estão ligadas a desnutrição, osteoporose e carência de vitaminas e minerais”, afirma.

Dá para fazer plásticas e tirar o excesso de pele logo após a cirurgia bariátrica

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Você terá de lidar com o excesso de pele, em média, por dois anos.
“O ideal é que a paciente perca todo o peso esperado e esteja bem para ser operada novamente”, diz o cirurgião Denis Pajecki, diretor do Departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

É comum a intolerância a leite depois da operação

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – Normalmente, não há reações adversas ao consumo de leite e derivados. Os alimentos são, inclusive, recomendados, sobretudo para as mulheres, como fontes de cálcio.

É importante o acompanhamento psicológico antes e após a cirurgia

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – “A avaliação psicológica é importante para saber se o paciente tem expectativas reais com relação à cirurgia , se não está num momento de depressão ou estresse muito grande ou se tem algum outro problema que possa atrapalhar o tratamento”, explica a psicóloga Marilice Rubbo de Carvalho.
Durante as sessões, é investigado o que levou essa pessoa a engordar, já que normalmente essas pessoas não fazem a menor ideia.
“Não adianta fazer a cirurgia se não mudar a estrutura que provocou a obesidade”, afirma Marilice.
Por isso, alguns médicos recomendam também que o paciente tenha acompanhamento psicológico após a cirurgia.

Engordar é um bom caminho para fazer a cirurgia

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Mito – “Quem quer ganhar 10, 15 kg rapidamente para se submeter a uma cirurgia põe a vida em risco”, diz Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.

O apoio familiar é essencial

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – Todos que convivem com o paciente precisam colaborar. Se a família tem uma alimentação gordurosa, não vai dar para continuar assim! A família deve mudar os hábitos, além de dar apoio e não fazer cobranças exageradas.

As unhas podem ficar quebradiças e o cabelo pode cair após a cirurgia

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – Isso pode acontecer nos primeiros meses, quando a perda de peso é mais intensa. Mas dá para resolver com suplemento vitamínico.

A cirurgia bariátrica é muito cara

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesas – Verdade – Quem pensa em arcar o valor da cirurgia com grana do próprio bolso terá de pagar, em média, de R$ 20 mil a R$ 40 mil. É preciso pagar a equipe médica e todo o equipamento cirúrgico.

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesasConheça as técnicas de cirurgia bariátrica

Bypass gástrico: é a técnica mais realizada no país. O estômago é grampeado e, depois, ligado diretamente ao intestino. “É um método eficiente e com baixo índice de complicações”, diz Pajecki. É indicada para quem tem cerca de 50 kg de excesso de peso, associados com diabetes, colesterol e triglicérides alta.

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesasGastrectomia vertical: a técnica consiste em fazer do estômago uma espécie de tubo, com capacidade de cerca de 150 ml. Ao reduzir o espaço, o paciente é obrigado a comer pequenas refeições. “O resultado é bom, mas não é melhor que o bypass”, diz Ramos.
É indicada para quem tem de 30 a 40 kg de excesso de peso, come em grandes quantidades, mas não tem doenças associadas.

Cirurgia bariátrica poderá ser indicada para pessoas que não são obesasBanda gástrica ajustável: coloca-se um anel de silicone ajustável no início do estômago, o que desacelera a digestão. É cada vez menos usada, pois a perda de peso é menor e demanda muito cuidado pós-operatório.

Duodenal Switch: Assim como na gastrectomia vertical, o estômago é reduzido. Nesta técnica, aumenta-se o desvio intestinal. O paciente come menos e o corpo absorve menos alimentos também.
A técnica, indicada para pacientes que tem alguma doença no estômago, é cada vez menos utilizada nas clínicas, pois o risco de problemas nutricionais, como episódios de diarreia, é maior.

SUS baixa para 16 anos idade mínima para cirurgia bariátrica

O Ministério da Saúde alterou os limites de idade para quem fizer cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Portaria assinada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reduz de 18 anos para 16 anos a idade mínima, desde que o paciente corra risco de saúde por causa da obesidade.
A decisão foi tomada após estudos apontarem aumento no número de adolescentes obesos.

A Pesquisa de Orçamento Familiar de 2009 (POF) apontou que 21,7% dos brasileiros na faixa de 10 a 19 anos têm excesso de peso. Em 1970, o índice estava em 3,7%.

Antes de fazer a cirurgia, os jovens terão de passar por uma avaliação clínica. No prontuário, deverão constar a análise da idade óssea e avaliação criteriosa do risco-benefício, feita por uma equipe com participação de dois médicos especialistas. “O que é mais importante é a avaliação clínica feita pelo médico”, destacou Padilha.

A idade máxima, até então 65 anos, também foi alterada. Com a portaria, a definição se o paciente deve se submeter à cirurgia não será tomada com base na idade, mas levando em conta a avaliação clínica (risco-beneficio), podendo ultrapassar o limite atualmente estabelecido.

Ansiedade

Entre os jovens que aguardam pela cirurgia bariátrica, a notícia de redução da idade para o procedimento dividiu opiniões. Aos 17 anos, com 127 quilos e muito desânimo, como ele mesmo avalia, César Augusto de Matos Soares já começou a fazer os exames de risco cirúrgico. “Acredito que operar seja o último recurso.
Não sou contra a decisão de diminuir a idade, mas é uma decisão muito séria para ser tomada nessa idade”.
Seu processo de ganho de peso começou aos 10 anos, quando diz ter sofrido bullying na escola.
“Mas logo aprendi a conquistar meu lugar.
Em casa, meus hábitos alimentares nunca foram bons, mas agora, porque estou assim, as coisas estão diferentes”, conta.

Aos 24 anos, Reginaldo Soares, com 216 quilos, aguarda há quatro anos pelo atendimento via SUS para vencer o excesso de gordura. Obeso desde a infância, ele é totalmente a favor da mudança na idade que permite o processo cirúrgico. “Isso é ótimo, várias crianças já são obesas e sofrem muito com isso”, afirma.
Os hábitos à mesa sempre foram saudáveis, mas Reginaldo não quis seguir o padrão.
Foi alvo de brincadeiras quando pequeno, mas diz não ter se importado.
Há cerca de três anos, a perda da mãe influenciou ainda mais no ganho de peso.
A preocupação veio a partir dos 18 anos, quando passou a valorizar mais a autoimagem.
“O processo no SUS tem sido demorado e cansativo.
Não recebo os retornos dos médicos para começar os exames e é tudo muito lento.
Para ajudar na batalha, há quatro meses procurei o Núcleo Mineiro de Obesidade, e desde então perdi 10% do peso”, conta ele, que aguarda ansioso pela operação.

Aplicação ampliada

Indicada para a perda de peso em obesos mórbidos, a cirurgia bariátrica teve, nos últimos anos, suas aplicações ampliadas para o tratamento de doenças relacionadas à síndrome metabólica, como o diabetes tipo 2.
Em função disso, houve aumento de sua indicação e também flexibilização dos critérios no aceite de pacientes a serem submetidos à intervenção.
O índice de massa corporal (IMC) ainda é o principal marcador para determinar se alguém deve ou não fazer a cirurgia.
Para ser elegível, o paciente deve estar com IMC igual ou superior a 35kg/m2 em casos que há outras doenças associadas, como o diabetes, a pressão alta e a gordura visceral.
Como o IMC é encontrado pela divisão do peso pela altura ao quadrado, o cálculo indica de forma matemática se o indivíduo está com o peso normal (IMC entre 20 e 24,9kg/m2), sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9kg/m2), obeso (30 e 39kg/m2) ou obeso mórbido (IMC acima de 40kg/m2).

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais, Paulo Augusto Carvalho Miranda, a intervenção para tratar a obesidade, com 30 anos de existência, desde que feita seguindo os protocolos embasados pela comunidade científica, traz muitos benefícios para os pacientes.
“Ela consegue controlar o diabetes em até 80% das pessoas, reduzir novos casos dessa doença, diminuir a mortalidade por problemas cardiovasculares e controlar a hipertensão.
A cirurgia já está cientificamente comprovada e deve ser feita em centros de referência, como a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, ambos em Belo Horizonte”, diz.

Sobre a redução da idade mínima para o procedimento, Carvalho Miranda atesta que já há estudos nacionais e internacionais indicando que adolescentes que fizeram a cirurgia bariátrica tiveram benefícios de saúde. “Lembrando que a cirurgia não deve ser uma solução para a obesidade na infância e na juventude.
Antes de se decidir pela intervenção, é preciso que o paciente jovem seja observado por uma equipe transdisciplinar, que haja uma ampla discussão entre os médicos e a família”, sugere.
(Com agências)

Bons hábitos vêm de casa

Mudança no padrão alimentar, maior oferta de comidas com alta concentração calórica, acesso de mais pessoas a esse tipo de alimentos e redução nas atividades físicas.
É esse o quadro de grande parte do contingente de crianças brasileiras hoje, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais, Paulo Augusto Carvalho Miranda, que alerta: “Se não fizermos essa abordagem na sociedade, do ponto de vista da prevenção dos problemas de saúde na fase jovem e adulta, teremos um grande problema no Brasil”, diz.

Para a nutricionista Elisabeth Chiari, coordenadora da Comissão de Fiscalização do Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região/Minas Gerais, a família é quem mais influencia a atitude dos pequenos e dos jovens. “Muitas vezes a família não tem hábitos saudáveis. Outra situação corriqueira são os pais desrespeitando a saciedade da criança.
Ela diz que não quer mais, mas os pais forçam a comer tudo.
Daí, eles acabam comendo o que não precisam.
É fundamental respeitar o gasto energético de cada um e estimular a atividade física.

Elisabeth critica ainda o fato de a maioria das escolas brasileiras não trabalhar com projetos nutricionais em seus currículos de forma sistemática. Afinal, a educação começa na base. “Há uma lacuna de orientações para os alunos, sobre o que é saudável comer, como é importante nutrir o organismo.
O que vemos são muitas propagandas na sociedade de produtos com alto teor de gordura, carboidratos simples e gordura trans.
São alimentos de paladar muito gostoso, que atraem as crianças e jovens, mas pobres em nutrientes”, acrescenta.

Apesar de em Belo Horizonte estar em vigor a Lei da Cantina Saudável, em que os estabelecimentos dentro de unidades escolares não podem vender frituras, refrigerantes e balas, não é tarefa fácil administrar as crianças. “Meu filho de 8 anos ainda leva merenda de casa, mas não quer mais comer fruta na frente dos colegas, acha feio.
Alguns professores tratam disso em sala de aula, mas de forma muito pontual.
Se não houver o casamento da discussão da formação alimentar da criança na escola e em casa, fica difícil.
Eles espelham muito o seu gosto nos hábitos da família”, opina a nutricionista.

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