Como parar de fazer xixi na cama?

Fazer xixi na cama é comum para a maioria das crianças, mas é preciso que os pais fiquem atentos para corrigir o costume e se precaver de possíveis doenças graves. Durante o crescimento dos filhos os pais passam por fases de amadurecimento da criança e precisam ajudá-la a superar seus desafios. Tirar a fralda é uma das mais difíceis.
Segundo os especialistas, algumas crenças como “quando for para a escolinha já tem que ter tirado a fralda” acabam complicando o momento sem nenhuma necessidade.
 O que acontece é que cada criança terá sua maturidade física e psicológica para aprender a controlar a vontade de ir ao banheiro.
E faz parte do papel dos pais estarem atentos a esses sinais e retirarem a fralda quando a criança realmente estiver preparada.
Caso contrário, é muito provável que ela substituirá a fralda pelo xixi na cama, outra fase bastante difícil de superar.
Quando ela é retirada antes da hora, a criança ainda não aprendeu a entender os sinais de seu próprio corpo e os avisos de que precisa urinar, por isso há o descontrole, principalmente durante o sono.
Para ajudar nesse processo, nada melhor do que contar com a ajuda do pediatra.
 O termo médico para xixi na cama é enurese noturna, que significa a falta de controle na urina durante o sono – durante a noite, mas também quando dorme durante o dia.
“Até os 5 anos de idade, é natural que a criança ainda não tenha maturidade suficiente para controlar a vontade de ir ao banheiro.
A partir dessa idade, a perda involuntária de urina é anormal, quando ocorre mais de duas ou três vezes em um mês.
Como a perda em geral é à noite, chama-se enurese noturna”, explica Ivan Pistelli, pediatra e coordenador da Pediatria do Hospital Leforte, em São Paulo (SP).

A enurese pode ser caracterizada como primária ou secundária. Denomina-se enurese primária a perda urinária noturna em pacientes que nunca chegaram a apresentar controle vesical (controle da micção) prévio por período prolongado, ou seja, que nunca conseguiram controlar a vontade de fazer xixi durante o sono.
A enurese secundária se refere aos casos em que a criança já consegue ter controle miccional por pelo menos seis meses e depois volta a fazer xixi na cama.
Neste segundo caso, os fatores psicológicos são a principal causa.
 A enurese noturna não é uma doença, é uma disfunção.
“Calcula-se que episódios de xixi na cama ocorram uma ou mais vezes por semana nas seguintes frequências: aos 5 anos, em 15% das crianças; aos 10 anos, em 3% das crianças; e em 1% dos adultos (20 anos ou mais).
A incidência é maior entre os homens na proporção de 2 para cada mulher”, enumera Pistelli.
 ”Até os 5 anos, é natural que a criança ainda não tenha maturidade suficiente para controlar a vontade de ir ao banheiro”.

Como lidar com o problema

Algumas mudanças de atitude dos pais são fundamentais para ajudar seu filho a superar a enurese noturna que, em 15% dos casos, melhora espontaneamente. Confira:

  • É aconselhável restringir o consumo de líquido uma hora antes de ir pra cama.
  • Minutos antes de dormir é bom lembrar a criança que ela precisa urinar.
  • Acordar a criança no meio da noite e levá-la para urinar.
  • Após as noites secas, não se esqueça de recompensá-la para motivar a criança.
  • Jamais repreendê-la e não castigá-la; o xixi na cama é um ato involuntário e ela não tem culpa.
  • Deixar uma luz acesa no corredor caso a criança acorde com vontade de urinar.
  • Os pais devem evitar discutir esse assunto em público ou com outras crianças, pois podem inibir a criança e deixá-la deprimida, com sentimento de fracasso.
  • Explicar para a criança que isto é um problema temporário, e que você sabe que ela não faz isto por que quer.
  • Fazer a criança participar na troca das roupas de cama, após ter molhado a cama, mas nunca fazendo comentários ou repreensão pelo fato.
    A criança deve apenas participar do trabalho.

Possíveis causas

José Gabel, pediatra e membro do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial do Hospital Albert Einstein, em São Paulo (SP), explica que filho de peixe, peixinho é: “Existe uma incidência familiar onde a chance de o filho apresentar enurese quando um dos pais foi enurético é de cerca de 40%, e, se os dois pais foram enuréticos, a chance sobe para 80%.
A maioria das crianças aprende a controlar sua micção entre os 2 e 3 anos de vida, mas é aceitável que uma criança de até 5 anos molhe a cama no máximo uma vez por semana, desde que não tenha outros sintomas”.
 Quando Gabel fala sobre outros sintomas, está se referindo aos casos em que a enurese noturna é um indício de outras doenças orgânicas, emocionais ou psicológicas.
A pediatra Maria Cristina Senna Duarte, especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria, cita algumas: “15% dos casos de infecção urinária apresentam enurese como sintoma.
Lesões no trato urinário também são frequentemente associadas à enurese.
Outras causas: diabetes melito, diabetes insípido, tubulopatias, insuficiência renal crônica, bexiga neurogênica”.
 Quando a enurese noturna não é um sintoma de outra doença, os motivos mais comuns para que a criança faça xixi na cama são a imaturidade neurológica no mecanismo de acordar ou de controlar a bexiga, fatores emocionais, produção inadequada de hormônio antidiurético (vasopressina), durante a noite, ou sono muito profundo.
 “Um fato curioso é que a enurese noturna não é caracterizada pela dificuldade em controlar a vontade de fazer xixi, mas pela dificuldade em acordar quando o corpo avisa que a bexiga está cheia.
Na maioria dos casos, a criança não tem problema algum em ir ao banheiro durante o dia e dispensa o uso da fralda com facilidade.
O difícil é habituar seu corpo a acordar para urinar durante a noite”, explica Vera Koch, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

A médica explica que existem duas teorias principais para a causa da enurese noturna. Na primeira, especialistas acreditam que há imaturidade no desenvolvimento do sistema nervoso da criança e, por isso, mesmo com a bexiga cheia, os pequenos não entendem e não sentem a necessidade de urinar.
Outros acreditam que é uma imaturidade na produção do hormônio antidiurético, cuja produção deve aumentar durante a noite – e, no caso das crianças com enurese noturna, isso não acontece.
 “É importante que os pais saibam que a enurese noturna se refere somente ao ato de urinar durante o sono.
Se a criança faz xixi quando ri muito, por exemplo, é preciso investigar as causas desse descontrole urinário”, alerta Vera.

Podemos dizer que enurese é considerada basicamente um sintoma associado a vários fatores que interagem entre si, não se tendo definido qual deles é o mais importante. Para que fique bem claro, estes fatores são:

 Atraso da maturação e do desenvolvimento neurológico:

É o fator mais comum, porém não universalmente aceito. Presume-se um atraso na maturação do controle urinário. Este fator explica a tendência natural de resolução com a idade.

 Fatores psicológicos:

Na enurese primária não se documenta associação com problemas psicológicos importantes. Eventos causadores de tensão psicológica (separação dos pais, nascimento de irmão, mudança de residência ou escola, hospitalização) são importantes na gênese da enurese secundária, particularmente quando ocorrem entre dois e quatro anos de idade.

– Fatores orgânicos:

É citada uma relação entre enurese e obstipação intestinal ( criança ressecada ). A compressão da bexiga pelo intestino repleto de fezes pode diminuir a capacidade de volume da bexiga, causando a perda de urina.

– Fatores endócrinos:

Estão relacionados a alterações na produção do hormônio antidiurético ( hormônio que controla o volume urinário ), com conseqüente aumento do volume urinário noturno, ultrapassando a capacidade de armazenamento da bexiga.

– Fatores genéticos:

A hereditariedade está bem documentada nesta doença.

  • Se ambos os pais tiveram enurese, a probabilidade da criança também apresentar é de 80%
  • Se apenas um dos pais foi enurético, cai para 40%
  • Se nenhum dos pais tem antecedentes de enurese, cai a probabilidade para 15%

 Como tratar

Embora fazer xixi na cama seja um acontecimento muito comum na infância, os pais devem levar o fato a sério e encaminhar o filho para o pediatra logo depois das primeiras ocorrências. É fundamental que a criança passe por entrevistas e exames físicos para confirmar se não se trata de um sintoma de alguma doença.
 Para o médico entender as causas e definir o tratamento mais adequado, é fundamental conhecer o histórico da criança, fazer exame físico e orientar os pais com relação aos cuidados a serem tomados.
“Só é definido o quadro de enurese noturna por exclusão, quando todos os exames foram feitos e não detectaram nenhuma doença”, afirma Vera.

O tratamento deverá ser feito com visitas ao pediatra e, necessita às vezes de acompanhamento de outros especialistas, como psicólogos. Alguns casos de enurese noturna estão diretamente associados a famílias desestruturadas e que precisam de ajuda psicológica.
“O médico deve conversar muito com a criança e a família para entender em que meio aquela pessoa está crescendo, que tipo de cobranças ou traumas tem e acompanhar de perto a evolução no tratamento da enurese”, esclarece Vera.
 Uma das estratégias adotadas no tratamento é um alarme.
Esse dispositivo é colocado na cama ou na roupa da criança, e ele dispara toda vez que ela molha a roupa ou a cama durante a noite.
Vera diz que “é muito comum os pais relatarem que, nas primeiras noites em que o alarme dispara, a casa inteira acorda, menos a criança.
A explicação para isso é que a grande dificuldade da criança com enurese noturna é justamente acordar para respeitar os sinais de que o corpo precisa fazer xixi.
Mas com o passar do tempo ela se habitua”.
 Nem todos os pacientes requerem tratamento para enurese noturna.
Após avaliação, tranquilização da família e orientação, muitos pacientes e pais não desejarão tratamento, pois estarão cientes da história natural da enurese, ou seja da resolução espontânea.
 Quando desejado, o tratamento deve estar baseado em necessidades individuais, idade, e motivação.
Como orientação geral, o tratamento deve ser oferecido quando a criança fica incomodada com os sintomas.

Xixi na cama em números

Apesar de desagradável, fazer xixi na cama não é um bicho de sete cabeças. Enfrente o problema com calma, após conferir alguns números que descrevem a enurese noturna:

  • Acontece aos 5 anos de idade, em 15% das crianças; aos 10 anos, em 3% das crianças, e em 1% dos adultos (20 anos ou mais).
  • A incidência de xixi na cama geralmente é maior entre os homens.
    Entre as mulheres a proporção é igual a 2 para cada uma delas.
  •  A chance de a criança apresentar enurese quando um dos pais também foi enurético é de aproximadamente de 40%, e, se os dois pais foram enuréticos, a chance sobe para 75% a 80%.
  • Mais de 50% dos casos alcançam sucesso até quatro anos após a primeira busca por aconselhamento médico.
  • 15% dos casos de infecção urinária apresentam enurese como sintoma, por isso é importante fazer os exames médicos para checar se o xixi na cama não esconde algo mais sério.

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“A enurese noturna é em geral uma condição transitória benigna devido à imaturidade do controle miccional, com alto índice de cura espontânea, que aumenta com a idade. Mais de 50% dos casos curam-se até quatro anos após a primeira consulta médica”, finaliza Maria Cristina.
 Por isso é tão importante que os pais levem o filho ao pediatra, para que haja um acompanhamento, a investigação das causas e a consequente solução do problema.
Fazer xixi na cama é comum e, na maioria dos casos, sem maiores preocupações, uma fase passageira.
 ”É fundamental que a criança passe por entrevistas e exames físicos para confirmar se não se trata de um sintoma de alguma doença”

Punir não é a solução

Algumas mães atribuem o fato de que as crianças que fazem xixi na cama têm algum problema psicológico ou emocional. Mas na verdade, a maior parte das crianças que faz xixi na cama depois de certa idade tem problemas em controlar a bexiga. Algumas pesquisas já revelam que três em cada 4 crianças de até 3 anos consegue se manter seca durante a noite.
Uma em cada cinco crianças de até cinco anos ainda acordam molhadas e apenas uma entre 10 crianças de até 10 anos ainda fazem xixi de noite.
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E lembre-se: as crianças não molham a cama de propósito. Na verdade ela fica envergonhada com a situação. Geralmente quem faz xixi na cama começa a ter medo de ir a acampamentos ou de dormir na casa de algum amigo; a vergonha fala sempre mais alto e impede o seu filho de ter bons momentos com os amigos.
 Pode ser que o problema da cama molhada seja um indicativo de que o seu filho está na verdade doente.
Se por um acaso ele nunca fez xixi na cama e de uma hora para outra começa a fazer, pode ser sinal de uma infecção urinária ou até mesmo de diabetes.
Ou pode ser que o seu filho tenha uma bexiga pequena demais que não comporta a quantidade de urina produzida durante o sono.
 O segredo é você ser compreensiva e nunca punir o seu filho pelo xixi na cama; não puna por uma cama molhada, nem o louve por uma cama seca.
Lembre-se também de jamais ridiculariza-lo na frente de outras pessoas adultas ou de de outras crianças.
Não faça chantagem com ele e tão pouco o ameace, ou o assuste pelo fato dele ter feito xixi na cama.
 Espere até que ele consiga assumir o controle total da bexiga e procure um médico para saber se ele não está com nenhuma infecção ou outro problema.
 O tratamento medicamentoso existe, mas hoje em dia é raramente usado e será indicado de preferência por um profissional especializado.
 Até os cinco anos de idade, um eventual tratamento deve se basear apenas em medidas de orientação e motivação, não estando indicada qualquer terapêutica medicamentosa.

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