Cuidados com as mudanças climáticas

Saiba o que as mudanças drásticas de temperaturas fazem com seu corpo. Cardíacos, alérgicos, idosos e crianças são os mais vulneráveis aos efeitos do tempo. Entenda o que acontece.

Nesta época do ano, é rotina sair de casa com uma roupa leve, mas sem cometer o desatino de não ter à mão um casaco e um guarda-chuva para a mudança de tempo ao longo do dia. Muitas vezes, a variação climática traz o frio, o calor, além da umidade da chuva, em poucas horas.
A instabilidade do clima é sentida pelo organismo, que a cada hora faz um esforço diferente para manter a temperatura interna ideal.

Os sistemas respiratório e cardiovascular são os mais exigidos na virada brusca de estação e deixam mais vulneráveis os alérgicos e os que sofrem do coração. “As quedas bruscas de temperatura geralmente funcionam como irritantes das vias aéreas, embora tenhamos como função das cavidades nasais o aquecimento e a umidificação do ar.
Essa irritação pode levar à quebra das defesas locais, facilitando principalmente as infecções respiratórias”, alerta o pneumologista João Daniel Bringel, do Hospital Santa Helena.

Fique atento

Evitar a gripe e a pneumonia, comuns na temporada primavera/verão, requer medidas simples, como tossir protegendo a boca, lavar bem as mãos e evitar contato com doentes. Com a proximidade do verão, que começa em dezembro, muitos acreditam que estarão protegidos contra gripes, resfriados e pneumonia, enfermidades consideradas típicas do inverno.
Porém, todo o cuidado é pouco, pois as doenças pneumocócicas ocorrem em qualquer época do ano.
A pneumonia, cujo dia de combate foi lembrado ontem, é a segunda maior causa de hospitalizações no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, figurando como principal causa de morte prevenível por vacinação em crianças, sendo responsável por cerca de 20% de 8,8 milhões de óbitos em todo o mundo.
No ano passado, mais de 680 mil pessoas foram internadas com pneumonia no país, no Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao lado da pneumonia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus influenza também preocupa: responsável pela gripe, ele atinge anualmente entre 5% e 10% da população mundial.
Embora seja considerada uma doença benigna, não se deve esquecer que a gripe também pode apresentar muitas complicações.
O problema é que a dúvida entre pneumonia e gripe ocorre porque elas têm alguns aspectos parecidos e ambas acometem as vias respiratórias, porém com características distintas.

A elevação da temperatura merece atenção redobrada, uma vez que o uso de ar-condicionado e ventiladores aumenta e, com isso, há um maior contato com ácaros e fungos.
Esses equipamentos, quando não higienizados corretamente, são importantes propagadores de agentes causadores de problemas respiratórios, como a Legionella pneumophila e as bactérias Haemophilus.
O tempo seco deixa ainda a mucosa mais seca e vulnerável.
Por isso, mantenha-se atento.

O clínico geral Breno Figueiredo Gomes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica – Regional Minas Gerais e diretor técnico do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, explica que a gripe, a virose, o resfriado e a pneumonia são infecções das vias aéreas. “A gripe e o resfriado são viroses (causada por vírus).
A gripe é causada pelo influenza e é mais forte que o resfriado (causado por centenas de outros vírus).
A pneumonia é uma infecção das vias aéreas baixas (pulmões) e é causada tanto por bactérias quanto por vírus.
Breno alerta que a pneumonia é uma doença perigosa e, se não for tratada adequadamente, pode levar o paciente à morte.
“Ela pode aparecer em qualquer idade e sua cura, geralmente, é feita com o uso de antibióticos.
Apenas o médico, depois de uma avaliação clínica detalhada e exames, se necessário, pode precisar se o paciente está com pneumonia”.
O limiar entre a gripe e a pneumonia pode ser tênue porque as gripes podem predispor as infecções bacterianas, que levam à infecção dos pulmões, ou seja: um quadro gripal pode, sim, se transformar em uma pneumonia.
A contaminação ocorre com a exposição direta aos vírus e bactérias de uma pessoa que está infectada, geralmente por meio da saliva ou de secreções nasais.
As mãos são os principais meios de transmissão das infecções, por isso devem ser lavadas ao longo do dia, várias vezes. E bem lavadas.

O pneumologista Flávio Mendonça Andrade da Silva, presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica, alerta: “O assunto é controverso, mas no inverno a asma e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) são as exacerbações mais frequentes. Na maioria das vezes, são processos infecciosos”.
A pneumonia é uma das principais causas de hospitalização e óbito em crianças menores de 5 anos na maioria dos países em desenvolvimento, e indivíduos acima do 60 anos, e a principal causa de morte em países de população de baixa renda, porém o Brasil não está nesse perfil.
Ela pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais grave nos extremos, ou seja, bebês e idosos.

De acordo com Mauro Gomes, diretor da Comissão de Infecções da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a maioria dos casos de pneumonia é causada por bactérias, mas também pode ser ocasionada por vírus, como aqueles que provocam a gripe.
“O vírus da gripe normalmente se manifesta em áreas localizadas na face e, algumas vezes, pode descer para o interior dos pulmões, especialmente em algumas situações em que há comprometimento da imunidade do paciente.
Por isso, é fundamental a prevenção da gripe para reduzir o número de mortes por pneumonia”, aconselha.

Segundo Flávio Andrade, a pneumonia geralmente é tratada com medicamentos para combater os sintomas e antibióticos para agirem sobre a infecção por bactéria. No caso de infecção por vírus influenza, a medicação é específica.
Ele salienta que a pneumonia pode ser contraída por inalação, aspiração, via hematogênica, contiguidade a partir de focos infecciosos principalmente da parede torácica e reativação de focos, principalmente em pacientes imunossuprimidos.
“Um quadro gripal pode favorecer a infecção bacteriana por reduzir fatores locais e sistêmicos de defesa do organismo”, acrescenta Flávio, ressaltando que o diagnóstico é realizado depois de consulta médica, baseado nos sintomas, nos exames físico, hematológico e radiológico.
”As pessoas nunca devem se automedicar, principalmente com antibióticos.
Durante o tratamento, o repouso, a boa alimentação e a hidratação são fundamentais.
A profilaxia pode ser feita por meio de vacinação antipneumocócica e para vírus influenza.
Quem tem doenças crônicas como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e diabetes deve mantê-las sob controle, com o tratamento correto para não piorar os sintomas”, esclarece Flávio.

O poder dos vírus

Vários tipos de vírus podem causar gripes e resfriados e não é simples identificar qual deles se instala no organismo. De acordo com o pneumologista Flávio Andrade, o vírus influenza costuma ser o mais agressivo e o que leva a casos mais graves.
“Além disso, é preciso se preocupar com a higiene nessa fase dos primeiros indícios da doença, ou seja, lavar as mãos, usar álcool em gel, evitar lugares sem ventilação e cobrir a tosse é essencial”, alerta.

Para evitar tanto a gripe, quanto pneumonia, o clínico geral aconselha evitar o contato com pacientes gripados e medidas higiênicas para prevenir a contaminação (tossir sempre protegendo a boca com os braços e lavar bem as mãos, ao longo dos dias). “Tenha sempre um médico da sua confiança, disponível e qualificado.
A evolução da doença precisa ser acompanhada de perto pelo profissional.
A banalização dos sintomas pode ser muito perigosa.
Lembre-se que a evolução da pneumonia é diretamente relacionada ao início precoce do uso de antibióticos.
O atraso no tratamento pode ser fatal em alguns casos.

Praticar esportes durante um quadro de infecção também não é recomendado. O repouso serve para que a energia do organismo seja restabelecida para a recuperação do quadro. Sendo assim, o afastamento do trabalho também pode ser necessário.
A hidratação oral é uma das principais armas na recuperação destes quadros, portanto, fundamental”, acrescenta o especialista

Vitamina C não cura a gripe

A maioria dos casos de gripe se apresenta de forma leve e se resolve sozinha. Dizer que a vitamina C cura ou ameniza a enfermidade não tem sustentação científica. O que os estudos dizem é que a ingestão regular e suficiente da substância – considerando idade, gênero e peso – vai abrandar os sintomas e diminuir a duração da doença.
“Um sistema imunológico fortalecido gera uma resistência maior.
Não adianta a pessoa começar a tomar vitamina C depois que a gripe já começou.
É preciso ter o hábito de consumi-la”, esclarece a nutricionista especialista em obesidade e emagrecimento, Ana Luiza Porto.

Pessoas com tendência a formar cálculo renal ou que tenham casos próximos na família precisam evitar consumir o suplemento. Por isso, é necessário repetir que o uso de qualquer medicação deve ser acompanhado por um especialista, mesmo aquelas que não precisam de receita para serem adquiridas.
Algumas marcas do produto vendem o comprimido com um grama.
Mas “acima de 500 miligramas, o organismo não absorve mais e o excesso será excretado pela urina”, esclarece a nutricionista.

Reduzir o uso de remédios sem orientação é uma estratégia a favor da saúde e a conclusão é de que a alimentação é a principal aliada para se evitar doenças. Nesse caso, a gripe é um bom exemplo para entender como um e outro agem. “O próprio organismo resolve a situação.
No início da gripe, até o organismo reconhecer qual vírus está atuando, ele vai se replicando e os sintomas aparecem.
A partir daí, começa a atuar na defesa e vai matá-los”, explica a médica alergista Ingrid Pimentel.
Segundo ela, antitérmicos, anti-inflamatórios, descongestionante nasal servem para aliviar os sintomas e não para solucionar a gripe.

Em casos da gripe já instalada, os alimentos quentes são uma opção para alívio dos incômodos. “Se a pessoa está com a garganta inflamada e ingere uma coisa quente, o alimento vai agir como um anti-inflamatório e diminuir a irritabilidade. Não cura, mas dá um alívio. Da mesma forma, se tomar uma coisa gelada pode piorar”, exemplifica a médica.
O tempo médio de duração de uma gripe, de acordo com Ingrid, é de cinco dias.
Se os sintomas da doença persistirem, é importante que o paciente procure atendimento médico.
Entre as complicações mais comuns estão a sinusite e a pneumonia.

Um outro exemplo da alimentação como aliada no combate aos sinais da gripe está a canja de galinha. “As pesquisas são controversas, mas alguns estudos mostram que a canja de galinha ajuda a reduzir a congestão nasal.
A sopa possui um aminoácido chamado cisteína, proveniente do frango cozido, que é capaz de deixar o muco menos espesso”, explica Porto.

Ingrid Pimentel defende que a melhor maneira de se prevenir a gripe é a vacina. Mas essa não é a única opção e a especialista não rechaça outros aliados para se evitar a doença.
Se alimentar bem, praticar exercícios físicos, manter os locais arejados, ingerir muito líquido e frutas estão entre as práticas que precisam ser adotadas para uma boa saúde.

A nutricionista Ana Luiza Porto ressalta que é possível fortalecer o sistema imunológico com uma boa alimentação e cita outros componentes indispensáveis nessa construção.
Segundo ela, as vitaminas A (presente nos alimentos de cor alaranjada como cenoura, abóbora, mamão e também na gordura do leite e do queijo) e C (encontrada na laranja, mexerica, goiaba, morango, tomate, pimentão, limão e acerola) precisam estar no cardápio de qualquer pessoa, não somente nas situações de gripe, quando não há efeito terapêutico.
Além delas, as proteínas de alto valor biológico, como as carnes, leite e derivados e o zinco, presente em alimentos à base de cereais integrais, também são imprescindíveis.

O que é ter uma alimentação saudável?

Ana Luiza Porto é nutricionista especialista em obesidade e emagrecimento e explica qual o conceito de alimentação saudável:

  • Comer pelo menos 5 porções de frutas ou hortaliças por dia.
  • Consumir leite e seus derivados para suprir a necessidade diária de cálcio levando-se em conta gênero, idade e peso da pessoa.
  • Suprir necessidades diárias de carne levando-se em conta gênero, idade e peso da pessoa.
  • Alimentar-se a cada três horas.
  • Consumir, no mínimo 8 copos de água por dia.
    A unidade é de 200 ml.
  • Consumir peixes duas vezes na semana por causa do ômega 3, que é protetor de doenças cardiovasculares.
  • Dar preferência aos alimentos à base de cereais como o arroz e o pão integral, o farelo e a aveia por exemplo.
    As fibras que ajudam na sensação de saciedade e a regular o intestino.
    Além disso os alimentos têm mais vitaminas e sais minerais
  • Usar sal moderadamente.
    Lembrando que os produtos industrializados estão entre os alimentos ricos em sódio porque contém glutamato monossódico que serve para deixar o alimento mais gostoso.
    Além disso, comidas congeladas, macarrão instantâneo, picles, e embutidos devem ser consumidos com moderação.
  • Diminuir o consumo de frituras.
  • Incluir na alimentação as sementes e oleoginosas.

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