Depressão pós-parto: medo de ser mãe

Toda aquela expectativa da chegada do bebê nem sempre é só flores, berços ou mamadeiras. Muitas mamães, principalmente as de primeira viagem, não conseguem lidar com a angústia e ansiedade comuns do momento.
Por isso, é importante ficar atento às transformações comportamentais e psicológicas para que a magia da gravidez não seja substituída por uma fase conturbada e cheia de lágrimas e rejeição.

A depressão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 121 milhões de pessoas no mundo e 17 milhões só no Brasil. A psicanálise não diferencia a “comum” da pós-parto, que acomete entre 10% a 20% das brasileiras, pois o que as distingue é o objeto que desencadeia tal abatimento.
No segundo caso, ela aparece depois de três ou quatro semanas após o nascimento do neném, ou seja, no período puerperal.
 Entretanto, os sinais apresentados nessa fase que deveria ser tão especial são os mesmos da depressão “comum”.
“Os principais sintomas visíveis são a falta de cuidado consigo mesma e com o bebê, a ausência de higiene, constante expressão de tristeza, facilidade de chorar e alterações graves no sono, humor e apetite”, afirma Araceli Albino, psicanalista e presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo.

O perfil daquelas que sofrem ou sofreram desse mal costuma ser de alguém com baixa autoestima, que não sabe enfrentar perdas, além de quem passou por problemas de infertilidade e busca uma completude ao engravidar.
Essa mãe, então, não suportará perder tal laço, o que acaba desencadeando um esmorecimento passageiro e leve ou mesmo uma profunda melancolia.
“No entanto, é importante não confundir com o baby blues, etapa normal que acontece logo no terceiro ou quarto dia após o nascimento do filho e é caracterizada por uma tristeza discreta e apenas uma dificuldade para dormir e comer”, explica Gustavo Kroger, ginecologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Os principais sintomas

  • a ausência de higiene
  • Constante expressão de tristeza
  • Facilidade de chorar
  • Alterações graves do sono
  • Agitação e irritabilidade
  • Falta de apetite
  • Sensação de inutilidade ou perda
  • Sensação de reclusão ou desconexão social
  • Falta de prazer em todas ou quase todas as atividades
  • Falta de concentração
  • Falta de energia
  • Problemas para executar tarefas em casa ou no trabalho
  • Sentimentos negativos em relação ao bebê
  • Ansiedade considerável
  • Pensamento sobre morte ou suicídio
  • Problemas para dormir
  • Ser incapaz de se cuidar ou cuidar do bebê
  • Ficar com medo de ficar sozinha com o bebê
  • Ter sentimentos negativos em relação ao bebê ou até pensar em machucá-lo (embora esses sentimentos sejam assustadores, essas ações raramente são executadas.
    Fale isso com o seu médico imediatamente.
    )
  • Preocupar-se demais com o bebê ou ter pouco interesse no bebê.

10 coisas que você pode fazer para ajudar quem tem depressão

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– Conversar e explicar para a mãe que se trata de uma mudança e que ela será capaz de cuidar bem do filho

– Deixar claro que a família a apoiará nesse momento, mas que um tratamento psiquiátrico é fundamental para o processo

– Mostrar que a medicação na depressão é tão importante quanto tomar remédios para uma gripe ou cuidar de uma perna quebrada

– Pedir para que a pessoa fale abertamente sobre todos seus medos e pensamentos, sem se preocupar com julgamentos daqueles ao seu redor.

– Convidar a pessoa para fazer parte de sua rotina. Solicitar a companhia dela para almoçar, fazer compras ou exercícios físicos

– Fazer com que a mãe ganhe conhecimento do seu problema. Dê a ela livros, reportagens e textos

– Incentivar que a progenitora faça alguma atividade física periodicamente, para assim liberar endorfina, uma substância que é reduzida naqueles com depressão

– Apontar a importância do cuidado com a alimentação e dos benefícios de evitar alimentos que colaborem com o mal, como aqueles que são mais ricos em gordura

– Estimular que ela mantenha uma vida social e constantemente ativa, saindo com amigos, familiares etc

– Contar casos de pessoas conhecidas ou públicas que também enfrentaram o mal e conseguiram superar. Será uma forma de tranquilizá-la e expor que qualquer um pode passar pelo mesmo.

Depressão ou melancolia

Tanto a melancolia do baby blues como a depressão intensa são resultados, também, de alterações hormonais e do processo de deixar de ser filha para se tornar mãe.
“O diagnóstico prévio seguido de tratamento médico e acompanhamento familiar é crucial para que o problema não se intensifique e dê origem às psicoses e ideias de infanticídio ou mesmo suicídio”, explica Jorge Huberman, pediatra e neonatologista do Hospital Albert Einsten (SP).
A psicose puerperal é uma perda total do senso de realidade, sempre acompanhada de delírios e alucinações.
 Todo ciclo gravídico-puerperal é considerado um período de risco para o psiquismo devido à intensidade da experiência vivida pela mulher, a qual pode provocar abalos sobre psiquismos menos estruturados e também naquelas com boa organização emocional.
Por isso, a gestante precisa se sentir à vontade para contar ao seu médico sobre a vida profissional, conjugal e social.
A gravidez é um estado que sofre influência conforme a maneira que as pessoas se relacionam.

Um apoio que pode salvar

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Parece impossível rejeitar aquele rostinho bonito, só que quando a gestação é indesejada, o relacionamento amoroso termina durante o período ou existe uma falta de estrutura familiar e financeira, ocorre uma contribuição para que essa recusa já dê as caras desde cedo e não somente após o parto.
“A depressão pré-natal tem a capacidade de influenciar no desenvolvimento do bebê, como no peso e na formação”, alerta Alexandrina Meleiro, do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.
 Mulheres que já tiveram depressão, possuem familiares com a doença, viveram períodos de grande ansiedade ou distúrbios alimentares também têm uma tendência maior para desenvolver depressão.
“Além disso, as sedentárias e com vida social restrita estão mais aptas a atravessarem essa fase de descontentamento e insegurança”, ressalta Eneida Bittar, enfermeira consultora em aleitamento materno pela Universidade da Califórnia (EUA) e terapeuta familiar.

Um fator que ajuda para que o mal não se desenvolva é o preparo do casal para a chegada do primeiro filho. “Eles precisam saber das alterações que vão ocorrer e estar abertos para tais mudanças, as quais irão acontecer tanto na vida social quanto emocional”, complementa Eneida.
Trata-se do preparo do ambiente, que em situações de mulheres que não contam com um relacionamento estável com o pai da criança, deve ser redobrado.
A família e todos que convivem com ela devem cercá-la de segurança e conforto.

Antes e depois da gestação

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Toda mulher sofre modificações desde o início da gestação devido às alterações hormonais, como seu nível de progesterona. O sistema nervoso central passa por um abatimento graças a essas mudanças e alguns sintomas precisam de mais atenção para que não se desenvolvam e ocasionem uma depressão profunda

Na gravidez

  • Cansaço exagerado
  • Choro fácil
  • Agitação
  • Redução/aumento do apetite
  • Um pouco de dificuldade para dormir
  • Desinteresse por sexo
  • Pessimismo

No pós-parto

  • Esgotamento para realizar qualquer tarefa
  • Tristeza profunda
  • Irritabilidade e desorganização
  • Perda total do apetite ou descontrole
  • Insônia
  • Ausência de libido
  • Ideias suicidas

Ainda que seja um dos gestos mais apreciados da maternidade, tal necessidade dependerá do risco/beneficio, afinal é primordial que o medicamento não passe para o leite e seja ingerido pelo filho.
“É claro que o ideal é evitar o uso de antidepressivos durante o aleitamento, mas se for mandatório, vale mais medicar e interromper a amamentação”, esclarece Marcos Gebara, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O processo tem que ser levado a sério para o bem-estar físico e mental também do neném.

O coração fica em pedacinhos, só que as consequências de um método terapêutico incompleto são ruins para mães e crianças.
“Mulheres deprimidas tendem a ser negligentes nos cuidados com seus filhos, impactando diretamente na saúde e no desenvolvimento cognitivo deles”, esclarece Isabel Correa, ginecologista e especialista em reprodução humana da SOGESP.
Essa progenitora que perde o interesse, e o próprio instinto maternal, deixa de tomar medidas esperadas dela desde a saída do hospital.
 Os distúrbios resultantes, se tiverem duração prolongada, podem deixar cicatrizes nas crianças, que são capazes de crescer com um sentimento de rejeição e culpa sem fundamento.
Casos que não são cuidados dão lugar a jovens que se tornarão adultos igualmente inseguros ou despreparados para constituir uma família.

É possível evitar a depressão

  • No período da gestação, cuide do setor emocional como cuida do seu físico.
    Tenha cautela, paciência e também bastante empenho.
  • Busque conversar sobre o que está se passando com você e verá como certas fantasias, emoções e desejos são comuns.
    Pode ser com seu médico, um psicoterapeuta ou com um grupo de gestantes.
  • Aceite que a chegada do bebê trará mudanças e nem sempre saberá como fazer.
    Ficará atrapalhada, perdida, irritada e triste, mas nada disso quer dizer que você está doente ou não gosta dele.
  • Não fique fechada dentro de casa ou se dedicando somente a pensamentos sobre o filho.
    Continue fazendo passeios, saindo com os amigos e conhecendo lugares e pessoas novas.
    Se mexa!
  • Prepare o ambiente familiar e conjugal para as alterações que irão, inevitavelmente, acontecer na vida de todos.
    Converse bastante sobre como poderão reestruturar o cotidiano de cada um envolvido.

Buscando ajuda médica

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Ligue para seu médico se perceber qualquer um dos seguintes sintomas:

  • Sua tristeza não passa duas semanas após o parto
  • Os sintomas de depressão ficam mais intensos
  • Sintomas de depressão aparecem a qualquer momento depois do parto, até meses mais tarde
  • Você tem dificuldade de executar tarefas domésticas ou profissionais
  • Você não consegue cuidar de você ou do bebê
  • Você pensa em se ferir ou ferir o bebê
  • Você desenvolve pensamentos que não são baseados na realidade ou começa a ouvir ou ver coisas que outras pessoas não veem
  • Não sinta medo de buscar ajuda imediatamente caso se sinta impotente e acredite que possa causar danos ao bebê.

Diferenças entre tristeza e depressão pós-parto

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É importante estabelecer essa diferença. A tristeza pós parto é quase fisiológica. Dependendo da estatística, de 50% a 80% das mulheres apresentam certa tristeza, certa disforia e irritabilidade que tem início em geral no terceiro dia depois do parto, dura uma semana, dez, quinze dias no máximo, e desaparece espontaneamente.
Já a depressão pós-parto começa algumas semanas depois do nascimento da criança e deixa a mulher incapacitada, com dificuldade de realizar as tarefas do dia a dia.

Existe explicação neurobioquímica para a depressão pós-parto?

O pós-parto é um período de deficiência hormonal. Durante a gestação, o organismo da mulher esteve submetido a altas doses de hormônios e tanto o estrógeno quanto a progesterona agem no sistema nervoso central, mexendo com os neurotransmissores que estabelecem a ligação entre os neurônios.
De repente, em algumas horas depois do parto, o nível desses hormônios cai vertiginosamente, o que pode ser um fator importante no desencadeamento dos transtornos pós-parto.
Mas esse não é o único fator.
Todos os sintomas associados ao humor e às emoções são multideterminados, ou seja, não têm uma causa única.
Portanto, não é só a deficiência hormonal que está envolvida tanto na tristeza pós-parto, quanto no quadro mais grave que é a depressão pós-parto.

Que fatores são esses?

Mulher com história de depressão no passado, seja relacionada ou não com o parto, ou depressão durante a gravidez (quadro menos frequente, mas também possível) está mais sujeita a desenvolver transtornos depressivos.
Alguns fatos, por exemplo gravidez não desejada ou não planejada, causam aumento do estresse ao longo da gestação e podem contribuir para o aparecimento do problema.

Como distinguir a simples tristeza pós-parto de curta duração que passa espontaneamente da depressão que precisa ser tratada adequadamente?

Diante de um paciente com palidez cutânea que reclama de fraqueza, o médico pede um hemograma que confirma o diagnóstico clínico de anemia.
Em psiquiatria, não existem exames complementares para respaldar o diagnóstico, que depende basicamente dos sinais e sintomas que a pessoa apresenta, de como eles se manifestam ao longo do tempo e de sua intensidade.
Outro conceito importante para distinguir a tristeza da depressão pós-parto é determinar se o transtorno é disfuncional, isto é, se interfere na vida do dia a dia.

Diagnóstico

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Quando começam a aparecer os sintomas de tristeza?

A tristeza pós-parto surge dois ou três dias depois de a mulher dar à luz, em cinco dias atinge o máximo e some em dez dias. A depressão instala-se lentamente; só de quatro a seis semanas depois do parto o quadro depressivo torna-se intenso. É uma doença que exige tratamento mais agressivo com medicamentos.
 Por isso, se atendo uma mulher, uma semana depois de ter dado à luz, com os sinais clássicos de tristeza puerperal, que pode ter sido desencadeada até por privação do sono – às vezes, o bebê acorda muito à noite – e por mudanças hormonais, recomendo que espere um pouquinho, pois essa sensação desagradável poderá desaparecer em alguns dias sem deixar vestígios.
Ao contrário, se os sintomas foram se instalando gradativamente ao longo de várias semanas e ficando piores a cada dia, ela pode estar desenvolvendo um quadro de depressão pós-parto.

 Isso quer dizer que, num primeiro contato, é muito difícil estabelecer o diagnóstico com clareza.

É difícil. Entretanto, se a moça deu à luz há mais de um mês e a tristeza continua intensa, é grande a probabilidade de estar com depressão pós-parto. Fechar o diagnóstico, porém, depende dos sintomas que apresenta e de como e quanto eles estão interferindo no seu dia a dia.

Com que frequência aparecem os casos de depressão pós-parto?

Segundo revelam as estatísticas americanas, a depressão verdadeira, essa que surge várias semanas depois do parto e requer tratamento específico, acomete em torno de 10% a 15% das mulheres, o que é um número muito alto.

Essas mulheres recebem o diagnóstico de depressão quando manifestam os sintomas?

Infelizmente, a maior parte dessas mulheres não fica sabendo que está deprimida e atribui os sintomas ao estresse, ou não tem suas queixas valorizadas pelo companheiro, nem pelo pediatra que atende a criança, nem pelo obstetra que acompanha o pós-natal.
Como o início não é abrupto, o transtorno assume ares de algo fisiológico, sem importância, e elas não recebem o tratamento adequado.
O resultado é que, às vezes, o quadro pode resolver espontaneamente, mas, em muitas outras, pode tornar-se crônico.

Sinais de alerta

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Como a mulher que está se sentindo meio entristecida depois do parto pode perceber que aquilo é algo passageiro, ou sintoma de uma depressão mais grave?

Para a mulher que deu à luz há poucos dias, é quase certo que os sintomas desaparecerão espontaneamente em duas ou três semanas. No entanto, aquelas que deram à luz há um mês, um mês e meio, e estão cada vez mais tristes, precisam prestar atenção em alguns sintomas fundamentais.
 O primeiro é que a tristeza não está relacionada só com o nascimento da criança.
Não está restrita ao fato de não se considerar boa mãe nem suficientemente capaz para cuidar do bebê.
A tristeza permeia outros contextos de sua vida.
A mulher deprimida perde o interesse pelo programa de televisão que gostava de ver, pelas leituras que lhe davam prazer, pela profissão.
Às vezes, a licença-maternidade está chegando ao fim e ela pouco se importa com a perda do emprego se não reassumir o cargo.

Outros sintomas são a sonolência, a falta de energia durante o dia inteiro, o desinteresse pelo marido, o desejo sexual que não retorna e as alterações do apetite para mais e para menos. Algumas ficam famintas e comem muito. Outras nem podem chegar perto dos alimentos. A ansiedade faz parte também do quadro de depressão pós-parto.
A mulher tem ataques de pânico sem ser portadora desse transtorno ou pode desenvolver comportamentos obsessivos em relação à criança como agasalhá-la demais ou verificar a cada instante se ela está respirando.

Toda mulher faz isso quando tem um filho. Como saber se esse sintoma faz parte de um quadro patológico?

Na depressão pós-parto, esse comportamento é exagerado e está associado a muita tristeza. Acima de tudo, o sofrimento é enorme e a pessoa está consumida pela sensação de fim de linha e de sua capacidade para sair daquela situação. De qualquer forma, repito, é sempre preciso considerar o conjunto dos sintomas para fechar o diagnóstico.

Prevalência

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A depressão pós-parto é mais frequente no nascimento do primeiro filho ou aparece também nas outras gestações?

Depende dos antecedentes da mulher. Se ela teve depressão no pós-parto de um filho, a possibilidade de repetir o quadro em outra gestação é de 50%. Na verdade, a recorrência da depressão é muito alta. Ela é considerada uma doença episódica recorrente e a tendência é manifestar-se novamente se repetida a situação em que surgiu pela primeira vez.

Mas isso acontece também com a depressão comum.

Ocorre, sim. Em 50% dos casos, quem teve depressão uma vez vai repetir o quadro em algum momento da vida. Se ela se manifestou no período pós-parto, cerca de 30% das mulheres correm o risco de desenvolver a doença fora desse período.

A mulher que teve depressão na adolescência ou na vida adulta corre risco maior de desenvolver depressão pós-parto?

O risco de depressão pós-parto é maior se a mulher desenvolveu um episódio depressivo anteriormente, mesmo que tenha sido tratada, ou se teve depressão durante a gravidez. Anos atrás, considerava-se que as doses elevadas de hormônios presentes durante a gestação protegiam a mulher. Hoje se sabe que não é bem assim.
Mulher grávida também está sujeita a ter depressão.
Como, muitas vezes, ela interrompe o tratamento temendo que a medicação possa prejudicar a criança, o risco de a doença agravar-se depois do parto aumenta muito.

Tratamento

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Há medicamentos para tratar a depressão seguros para o feto?

Há medicamentos seguros. Tanto os mais antigos, os tricíclicos, quanto os mais modernos, como os inibidores de recaptura da serotonina, são seguros quer em termos de malformações quer como agentes neurocomportamentais, ou seja, não provocam malformações na criança nem alterações em seu comportamento.
Acompanhados até a idade pré-escolar, os filhos de mulheres que engravidaram tomando esse tipo de medicação não mostraram nenhum transtorno comportamental.
 Há alguns anos, o tratamento de escolha para a depressão durante a gravidez era o eletrochoque.
Hoje, ele só é indicado para casos muito graves, com risco de suicídio e que exigem resposta rápida.

Se tomados durante a fase de amamentação, esses remédios podem prejudicar a criança?

Durante a gestação, esses medicamentos não interferem na formação da criança, porque dentro do útero ela não faz esforço respiratório. Depois que nasce, porém, seu efeito sedativo pode passar pelo leite e o perigo existe.
Por isso, são indicados alguns antidepressivos específicos que passam menos para o leite materno e o esquema é discutido com a mulher.
Uma das sugestões é desprezar o leite colhido algumas horas depois de tomada a medicação, aquele em que os componentes da droga estão mais concentrados, e oferecer o colhido mais tarde.
Isso diminui a exposição da criança ao antidepressivo e permite utilizá-lo durante o aleitamento.

O uso da medicação é sempre fundamental no tratamento da depressão pós-parto?

É sempre fundamental. Embora algumas depressões desapareçam espontaneamente, uma porcentagem significativa se cronifica. E tem mais: se não for tratado, o episódio agudo pode deixar um resíduo que se confunde com a distimia, uma forma de depressão mais leve, crônica, que interfere na capacidade de raciocínio e no desempenho funcional.
Muitas vezes, essa depressão contínua é considerada um traço da personalidade da mulher e nenhuma providencia efetiva é posta em prática.

A psicoterapia também ajuda a tratar da depressão?

Como a depressão em geral tem múltiplos fatores determinantes, isto é, não é provocada só por condições biológicas, mas tem fatores sociais e familiares envolvidos, a psicoterapia individual ajuda a mulher a lidar melhor com o problema e a descobrir que tem um potencial que precisa ser estimulado.

Nos casos em que a depressão não é diagnosticada e evolui sem tratamento, há risco de suicídio?

Embora localizada no período pós-parto, a depressão se comporta da mesma maneira que nas outras fases da vida, e o risco de suicídio existe. No caso específico da depressão pós-parto, a forte ligação entre mãe e filho acaba protegendo um pouco a mulher.
Mas, se a evolução da doença for muito negativa e os sintomas se agravarem progressivamente, ela pode chegar à conclusão de que é realmente incapaz de cuidar da criança e, infelizmente, cometer suicídio.

Muita gente confunde depressão pós-parto com os casos de psicose em que a mãe agride e eventualmente mata o filho. Existe alguma relação entre essas duas doenças?

Depressão pós-parto e psicose puerperal são quadros muito diferentes. Felizmente, os casos de psicose são raros. A prevalência é de um caso para cada cem mil nascimentos. O início da psicose puerperal é precoce.
Durante a primeira semana depois do parto, a mulher perde o contato com a realidade e começa a acreditar em coisas que não existem, a ouvir vozes, a ter a sensação de incorporações com entidades, delírios e crenças irracionais.
 Às vezes, imagina possuir superpoderes e pode lesar a criança não intencionalmente, mas porque acha que pode voar e atira-se pela janela com o bebê no colo.
Essa doença muito grave é bem diferente da depressão que começa várias semanas depois do parto e evolui gradativamente.

Qual a importância do ato de amamentar na prevenção da depressão pós-parto?

O ato de amamentar é importante para a mãe e para a criança não só no sentido nutricional ou de transmitir anticorpos, mas também para fortalecer a ligação mãe-filho. O aleitamento materno deve ser estimulado, porque é bom para a mulher e para a criança e, eu diria, porque também é um fator de proteção social.
 Agora, ao menos pelo que pôde ser detectado nas pesquisas até agora,  amamentar não traz nenhum acréscimo na proteção contra os quadros depressivos depois do parto.

Em relação ao filho, o que a mãe pode fazer quando está com depressão pós-parto?

Felizmente, os casos de agressão intencional ao filho são bem pouco frequentes. O crime de infanticídio, previsto no Código Penal, ocorre em 4% das psicoses puerperais. A ligação mãe-filho é tão intensa que mesmo a mulher psicótica, sem contato com a realidade, em raríssimos casos mata a criança intencionalmente.
 Isso não significa que a depressão materna não possa prejudicar a criança.
Mulher deprimida cuida menos de si própria e, por tabela, cuida menos do bebê, estimula-o emocionalmente menos e tem menos interesse em amamentá-lo ou em brincar com ele.
 Por isso, essas crianças acabam tendo um desenvolvimento neuropsicomotor mais lento, começam a falar e a andar mais tarde, o que não quer dizer que esse retardo no crescimento não possa ser compensado depois.
 Às vezes, o desinteresse por tudo que a cerca chega a tal ponto, que ela deixa de dar as vacinas, mas a agressão ativa ocorre mais raramente, mesmo nos casos de psicose puerperal.

Existem formas de prevenir a depressão pós-parto?

Não há como evitar o primeiro episódio de depressão pós-parto. Podem desenvolver a doença mesmo mulheres sem antecedentes de depressão, que queriam engravidar e tiveram uma gestação sem complicações obstétricas e parto tranquilo.
 No entanto, é preciso ficar de olho naquelas que já manifestaram quadros depressivos anteriormente, no pós-parto, fora dele ou durante a gravidez, porque a possibilidade de repetir o episódio existe, é grande, e quanto antes o tratamento for instituído, melhor.
 Na prática clínica, já tive a oportunidade de acompanhar a gestação e o pós-parto de pacientes, mantendo contato primeiro com o obstetra e depois com o pediatra (às vezes, ele atende mais a mãe do que o bebê), para não deixar escapar nenhum indício do problema.
Na verdade, a melhor forma de prevenir a doença é a intervenção precoce.

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