Doenças Cardiovasculares – Alerta máximo pelo coração

Entidades mundiais lançam projeto Para reduzir em 25% a mortalidade ligada a doenças cardiovasculares, como a hipertensão e o infarto. No Brasil, a cada dois minutos, uma pessoa perde a vida por conta dessas complicações.

A imagem recente de um bandido caindo subitamente enquanto assaltava um posto de gasolina, em Mogi das Cruzes (SP), disparou o alerta. Vítima de um infarto fulminante, ele morreu em questão de segundos. O incidente flagrado é mais comum do que parece e tem crescido.
Em reação ao número crescente de doenças do coração que levam ao óbito, a Federação Mundial do Coração (FMC), alinhada com a Organização Mundial da Saúde (OMS), deu início ao projeto Reduzindo a Mortalidade Global em 25% até 2025.
As entidades visam conscientizar a população da gravidade das doenças cardiovasculares (DCVs) e da importância da prevenção.

As DCVs são as maiores causadoras de mortes prematuras em todo o mundo, sendo responsáveis por cerca de 17,3 milhões de óbitos por ano, 31,3 de todos os casos. No Brasil, esse número chega a 300 mil anualmente, ou uma morte a cada dois minutos.
Os dados de toda a América Latina também são preocupantes: 40% das mortes precoces acontecem durante os anos mais produtivos de uma pessoa, antes dos 60 anos.
Entre as DCVs mais comuns, estão o infarto, a insuficiência cardíaca e a hipertensão.
Essa última tem um dia nacional dedicado à ela, que é o dia 26 de abril, quando ações de mobilização e conscientização da sociedade serão divulgadas.

No Brasil, os principais fatores de risco com alta incidência na população e que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares são o tabagismo, os maus hábitos alimentares, a hipertensão arterial, o uso abusivo do álcool, a obesidade e o colesterol alto. “O tabagismo mata 50% dos seus usuários. Sem contar os danos à saúde do fumante passivo. A proibição de fumar em locais públicos, em nível nacional é fundamental. Assim como o acordo com a indústria para reduzir o sódio em seus produtos”, alerta a CEO da FMC, Johanna Ralston.

Jagat Narula, professor de medicina e cardiologia no Mount Sinai Hospital, de Nova York, diz que as pessoas devem ter mais cuidado com o nível de colesterol. “Um bebê, que precisa de colesterol para crescer e desenvolver o cérebro, nasce com níveis em torno de 30 miligramas por decilitro (mg/dl). Com 3 anos, já atingiu níveis acima de 100mg/dl.
Somos os únicos animais na Terra em que o colesterol supera a casa dos 100.
O que definimos como normal, não é”, aponta.

Internações

A doença cardiovascular é a principal causa de hospitalização no país. Segundo levantamento feito em 2010 pela Global Burdenof Disease Study sobre a Carga Mundial de Doenças (CMD), a doença isquêmica do coração e o derrame foram, respectivamente, a segunda e a terceira causas mais comuns de mortes prematuras no Brasil naquele ano.
A doença isquêmica do coração representou 9,9% da mortalidade prematura, enquanto o derrame, 7,3%.

De acordo com a médica Márcia de Melo Barbosa, que em junho será empossada presidente da Sociedade Interamericana de Cardiologia, há uma falsa ideia de que doenças cardíacas são coisa de gente rica. “Isso não é verdade. Está provado que as doenças não transmissíveis (DNTs) são, efetivamente, as mais prevalentes na população de baixa renda.
É a que tem menor controle dos fatores de risco, como obesidade e pressão arterial elevada”, afirma.

Segundo Gláucia Maria Morais, professora de cardiologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 80% das mortes se dão na população de baixa renda. “A maior causa é a aterosclerose. Na necropsia, mesmo daqueles que vieram a óbito por outras razões, detectamos que 75% têm algum grau de placa aterosclerótica nos vasos”, revela.
Gláucia acredita ser necessário agir sobre determinantes sociais, mobilizar meios de comunicação, criar fórum de discussão internacional e proporcionar cursos a distância a médicos da família para mudar esse cenário.

Embora a incidência de doenças cardiovasculares e de DNTs permaneça elevada, as políticas e os programas reforçados durante a última década alcançaram sucessos notáveis.
Houve uma redução de quase 20% entre 1996 e 2007 nas taxas de mortalidade por DNT no Brasil, o que tem sido atribuído à expansão da saúde básica, à melhoria da qualidade dos serviços de saúde e a uma redução no consumo de tabaco (de 1989 a 2010, as taxas de tabagismo diminuíram de 34,8% para 15,1%).

As quedas nos índices de mortalidade foram especialmente notadas nas doenças cardiovasculares e nas doenças respiratórias crônicas.
Mas a diminuição de mortes relacionadas às DNTs entre 1996 e 2007 foi menos acentuada nas áreas mais pobres das regiões Norte e Nordeste do Brasil, que são as áreas com as maiores taxas de mortalidade por doenças não transmissíveis.

Estratégia

O plano de ação brasileiro deverá agora dar um passo à frente para que atinja o objetivo geral: serão incluídos objetivos aprovados pela OMS sobre a pressão arterial alta, o principal fator de risco para as DCVs, bem como o tratamento medicamentoso para prevenir ataques cardíacos e derrames.
Como o Dia Mundial da Saúde (7 de abril) teve seu foco na hipertensão, o plano brasileiro deverá reconhecer essa e outras metas da OMS.

O objetivo geral é alcançar uma de redução de 2% ao ano na mortalidade prematura por DNTs, o que está alinhado com os 25% da meta mundial da OMS para 2025. O atendimento básico de saúde foi ampliado significativamente nos últimos anos, com cobertura atingindo cerca de 60% da população brasileira.

“Foi implementada no Brasil uma série de políticas e programas que ampliam cada vez mais o acesso a medicamentos para doenças cardiovasculares e outras DNTs. Elas são importantes também para os cofres públicos.
Em 2011, 22% da verba do SUS com internações foi para pacientes com doenças cardiovasculares”, diz Débora Malta, coordenadora geral de Vigilância de Agravos e DNT do Ministério da Saúde.

Os indivíduos em alto risco e aqueles que apresentam doenças cardiovasculares podem ser tratados com medicamentos genéricos de baixo custo. O uso de ácido acetilsalicílico (AAS), das estatinas e dos anti-hipertensivos pode reduzir significativamente a ocorrência de eventos vasculares.
Esses medicamentos são considerados as “melhores compras” pela OMS.

Está provado que as doenças não transmissíveis são, efetivamente, as mais prevalentes na população de baixa renda. É a que tem menor controle dos fatores de risco, como obesidade e pressão arterial elevada

Márcia de Melo Barbosa, médica

Alto custo

As doenças cardiovasculares também estão entre os principais causadores de ônus econômico para as famílias brasileira.
De acordo com um estudo do Ministério da Saúde de 2007, a perda de produtividade e a queda da renda familiar devido ao diabetes, às doenças do coração e ao acidente vascular cerebral deverá causar prejuízos estimados em US$ 4,18 bilhões para a economia brasileira entre 2006 e 2015.

 até 2025

  •  Pelo menos 10% de redução relativa do uso nocivo do álcool, conforme o caso, dentro do contexto de cada país
  • Redução de 10% da prática e de atividade física insuficiente, o sedentarismo
  • O consumo médio de sal/sódio deve cair 30%
  • O atual consumo de tabaco em pessoas com pelo menos 15 anos precisa cair 30%
  • Queda de 25% dos casos de predomínio de pressão arterial elevada ou contenção do predomínio de hipertensão arterial, de acordo com as circunstâncias de cada país
  • Frear o aumento do diabetes e da obesidade
  • Recebimento por pelo menos 50% das pessoas suscetíveis a ataques cardíacos e derrames cerebrais de medicamentos e aconselhamento (incluindo controle de glicemia) para a prevenção das enfermidades
  • Disponibilidade, tanto nas unidades públicas como nas particulares, de 80% das tecnologias acessíveis básicas e medicamentos essenciais, incluindo genéricos, necessários para tratar as principais doenças não transmissíveis

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