Endometriose intestinal e a laparoscopia: Entenda tudo isso

Entenda o que é endometriose intestinal, seus sintomas e tratamentos. Saiba também o que é laparoscopia, como é feita e conheça o videolaparoscopia.

Embora ainda haja controvérsias no entendimento da endometriose, sabe-se que pode acometer o peritônio, o ovário, o septo retovaginal e o intestino e que representa uma das principais afecções ginecológicas com incertezas quanto a seu diagnóstico e tratamento. A prevalência da endometriose intestinal oscila entre 5,3% e 12% dos casos de endometriose. O reto e o sigmoide juntos são responsáveis por 70% a 93% de todas as lesões endometriais intestinais. Quando compromete o reto, pode causar sintomas obstrutivos, dificultando a distinção entre a doença maligna e a inflamatória.

A endometriose intestinal não é muito conhecida, embora a endometriose “convencional” seja bastante difundida. Na verdade, trata-se do mesmo problema: o que muda é o local da inflamação. Tudo se origina no endométrio, revestimento interno do útero. Quando a mulher menstrua, partes do endométrio se soltam e são eliminadas pela vagina.
Algumas dessas partes podem crescer em locais diferentes do útero, como nos ovários, nas tubas uterinas e no intestino.

De acordo com Patrícia Ferraz, radiologista do laboratório Exame, de 10% a 15% dos focos de endometriose ocorrem na região pélvica. Quando o endométrio se deposita em locais mais distantes, como nas alças intestinais, a doença recebe o nome de endometriose intestinal.
“Pela natureza desse tecido ser do ciclo menstrual da mulher, podem acontecer sangramentos intestinais”, completa a médica.

Esse é um dos principais sintomas, mas nem sempre a complicação dá sinais. Ainda segundo Ferraz, o principal método de imagem para descobrir o que está acontecendo é a ressonância magnética. Se não descoberta – e, consequentemente, não tratada -, a paciente pode desenvolver fibrose e, em casos mais graves, oclusão intestinal.
“É difícil acontecer a oclusão completa, mas a redução do calibre das alças intestinais atrapalha o movimento normal do conteúdo intestinal.

Pesquisadores estimam que 10% das mulheres sofram com a endometriose, uma doença de origem desconhecida e que causa dores insuportáveis e infertilidade, dependendo da gravidade. Tanto mistério sobre a origem do problema faz com que os tratamentos se limitem a duas opções: terapia hormonal e, nos casos mais avançados, cirurgia.
Resultados de estudo publicado na edição de hoje da revista Science Translational Medicine, porém, sinalizam um primeiro passo em direção a novas intervenções terapêuticas, levando, inclusive, à possibilidade de terapias personalizadas.

O endométrio reveste a parede interna do útero e é uma das regiões do sistema reprodutor feminino mais afetadas pelas alterações no ciclo menstrual. Lá, o óvulo se aloja após a fertilização e, caso a mulher não engravide, parte dessa mucosa sai durante a menstruação. Mas isso não ocorre com quem tem a endometriose.
Em vez de serem eliminadas, as células seguem para os ovários ou a cavidade abdominal, onde se depositam.
As duas possibilidades mais fortes para a ocorrência do problema são a de um refluxo do sangue pelas trompas.

A doença também se caracteriza pela inflamação aguda no sistema reprodutor. Por isso, muitas moléculas que participam desse processo inflamatório têm sido estudadas, uma de cada vez ou em grupos de tamanho limitado. Os cientistas tentam, com isso, identificar marcadores que caracterizem a endometriose de forma mais precisa.
Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (EUA), no entanto, apostaram na investigação de um grupo maior de fatores inflamatórios do endométrio, todos ao mesmo tempo.

Para isso, mediram as concentrações de 50 moléculas presentes no fluido abdominal de 77 pacientes. Mesmo sabendo que cada mulher sofreria com um estágio diferente da doença, os pesquisadores preferiram não separá-las nos níveis 1, 2, 3 e 4 de gravidade, como os médicos costumam fazer.
“Preferimos uma análise multivariada, em que identificamos conjuntos de moléculas em vez de pacientes, independentemente do grau de doença de cada uma delas”, explicou Linda Griffith, uma das autoras da pesquisa.

Durante as análises, os cientistas perceberam que um grupo de mulheres, aquelas que sentiam mais dores e precisavam ser submetidas a intervenção cirúrgica, tinha um conjunto de 12 moléculas que se modificava em um processo em cadeia. Ou seja, o comportamento de uma dependia sempre do da outra.
Essa relação, segundo Linda, é orquestrada pelos macrófagos, células ligadas à defesa do organismo.
“Os colocamos em cultura e descobrimos que eles secretavam substâncias semelhantes.
Depois, testamos diversas drogas e descobrimos que os inibidores de quinase reduziam substancialmente essa produção, o que nunca foi visto antes”, disse a pesquisadora.

De acordo com Linda Griffith, a análise multivariada de redes inflamatórias permitiu identificação de subgrupos de pacientes mais graves. “E também em quais mulheres os tratamentos hormonais não têm eficácia”, completa.

Dor amenizada

O ginecologista e obstetra Jurandir Passos, explica que as quinases são enzimas envolvidas em diversos processos inflamatórios. “Esses pesquisadores descobriram que, quando utilizam os inibidores de quinase, é possível impedir a produção dessas substâncias inflamatórias. Assim, pode-se acabar com a dor sofrida pelas pacientes”, diz.
O especialista ressalta que o tratamento proposto é para amenizar os sintomas da endometriose, não para curar o problema.

Segundo Passos, ainda é cedo para apostar em um novo tratamento, ainda que a pesquisa tenha aberto o caminho no desenvolvimento de novas possibilidades de intervenção. “Os pesquisadores, além de proporem uma maneira diferente de classificar as pacientes, sugerem outro tipo de tratamento.
É um estudo sério e muito promissor, mas ainda precisamos aguardar mais pesquisas com um grupo maior de mulheres para realmente afirmarmos alguma coisa”, pondera.

A endometriose intestinal é caracterizada pela presença de endométrio à volta das paredes do intestino que dificultam a sua função e causam intensa dor abdominal. Na endometriose intestinal é comum que a mulher tenha como sintoma uma dor pélvica, principalmente nos dias em que antecedem a menstruação e mudança nos hábitos intestinais.
Existem casos em que o tecido endometrial ainda não se espalhou muito e a doença não produz qualquer sintoma.
Nestes casos, o tratamento é mais fácil e nem sempre a cirurgia será necessária para retirar o tecido do intestino.

A doença é recorrente entre as mulheres porque além de causar dor durante a relação sexual, alterações intestinais durante a menstruação – como diarreia ou dor para evacuar – também está associada às dificuldades para engravidar após um ano de tentativas sem sucesso.
Como as cólicas menstruais são ocorrências habituais na vida da mulher, é recomendado que a investigação das causas das dores deve ser feita quando estas apresentarem resistência a melhorar com remédios ou quando elas incapacitam a mulher para exercer suas atividades normalmente.
Pois, cólica intensa é o principal sintoma de endometriose e leva à suspeita de que a doença esteja instalada.
Confira as dúvidas mais comuns sobre a doença:

Quais os principais sintomas da endometriose intestinal?

A grande maioria têm dismenorreia, ou seja, cólica menstrual, o primeiro e mais importante sintoma. Muitas vezes, são cólicas intensas que incapacitam as mulheres de exercerem suas atividades habituais. A dor pode ainda manifestar-se durante a relação sexual, quando o pênis encosta no fundo da vagina. Este é o segundo sintoma.
Além desses sintomas, podem estar presentes a dificuldade para engravidar e alterações intestinais (dificuldade em evacuar) ou urinárias durante a menstruação e presença de sangue nas fezes Nos casos mais avançados, a dor pode ocorrer também fora do período menstrual.

Como diferenciar uma cólica normal da característica da endometriose?

Na verdade, não existe uma diferenciação muito clara porque há pacientes com endometriose e poucas cólicas durante a menstruação. Entretanto, o raciocínio é sempre orientar as mulheres a procurarem um médico quando tiverem cólicas com certa resistência a melhorar com remédios ou que as incapacite de exercer suas atividades normalmente.

Os sintomas da presença da endometriose podem confundir e retardar o diagnóstico da doença?

E para identificá-la é importante saber que a doença pode acometer mulheres a partir da primeira até a última menstruação, com média de diagnóstico por volta dos 30 anos. Em média, a mulher tem 32 anos quando é feito o diagnóstico da doença. Em 44% dos casos passaram-se cinco anos ou mais até a doença ser diagnosticada.
De 40% a 50% das adolescentes que apresentam cólica incapacitante.
A investigação clínica, a anamnese bem feita seguida de um exame físico adequado, o toque vaginal que permite verificar alguns aspectos característicos da doença, tudo isso faz parte do exame ginecológico normal e de rotina que não visa ao diagnóstico da doença em si, mas que pode funcionar como prevenção primária para a endometriose.
O exame ginecológico é o ponto de partida para estabelecer o diagnóstico da endometriose.
Se a doença se assesta no ovário, o ginecologista pode perceber o aumento dos ovários pelo toque.
Se acomete a região que fica entre o útero e o intestino, um tipo de endometriose que se chama endometriose profunda, o toque permite perceber espessamentos atrás do útero e dor quando o médico apalpa essa região.
Quando a doença acomete o peritônio (tecido que reveste a cavidade abdominal) fica mais difícil estabelecer o diagnóstico pelo toque.

A doença apresenta fatores hereditários?

Alguns estudos apontam que existe um fator hereditário que deve ser levado em conta nos casos de endometriose. Entretanto, existem outros fatores de risco que devem sempre ser levados em conta, tais como a menstruação retrógrada, que leva o endométrio para a cavidade abdominal permitindo o desenvolvimento da doença no local.
A imunidade da paciente também deve ser considerada, como o estresse e a ansiedade Isso vale para o câncer e vale para a endometriose.
Por fim, deve-se considerar também o número de menstruações.
Hoje, a mulher menstrua em média 400 vezes na vida, enquanto no começo do século passado menstruava apenas 40 vezes, porque a primeira menstruação ocorria mais tarde, ela engravidava mais cedo, tinha mais filhos e passava longos períodos amamentando.

A endometriose pode virar câncer?

O mecanismo das duas doenças tem muitas similaridades. Sabe-se, porém, que a relação entre endometriose e câncer é muito pequena, em torno de 0,5% a 1% dos casos. Na verdade, apesar de não caracterizar uma doença maligna, a endometriose se comporta de modo parecido, no sentido de que as células crescem fora de seu lugar habitual.
Embora, na maioria das vezes, esse crescimento não tenha consequências letais, acaba provocando muitos incômodos.
Por isso, pesquisadores suecos apresentaram um estudo onde a endometriose foi associada pela primeira vez ao aparecimento de diversos tipos de cânceres, especialmente o de ovário.
Especialistas do Hospital da Universidade de Karolinska em Estocolmo, Suécia, analisaram os dados de 63.
630 mulheres, que tinham sido atendidas pelo Hospital com o diagnóstico de endometriose, entre 1969 e 2002.
Os cientistas encontraram 3.
822 casos de câncer entre mulheres com endometriose.
Segundo o trabalho, a doença aumentou o risco da mulher desenvolver o câncer de ovário em 37% do grupo analisado, risco de um terço acima da população normal das mulheres sem a doença.
Também foram registrados aumento no número de casos de tumores endocrinológicos (38%), de câncer renal (36%) e de câncer da tireoide (33%).
Os pesquisadores investigarão se o tratamento hormonal ou cirúrgico da endometriose tem relação com o risco aumentado do câncer.

Como posso diagnosticar e escolher o tratamento da endometriose intestinal?

A classificação da endometriose leva em conta a extensão da doença. A mais aceita foi elaborada por uma sociedade americana e parte do procedimento de visualização das lesões, o passo seguinte depois do diagnóstico.
O exame clínico, o marcador e exame de ultra-som são os meios adequados para definir as mulheres para as quais se deve indicar a laparoscopia, um exame realizado sob anestesia através de pequenas incisões no abdômen por onde se introduz um tubo ótico de aproximadamente 10 mm de diâmetro para visualizar as áreas da cavidade abdominal em que se fixaram os implantes – nome que se dá ao tecido endometrial deslocado.
É um procedimento cirúrgico menor que permite identificar tamanho, extensão e local de acometimento das lesões e iniciar imediatamente o tratamento adequado.

A laparoscopia diagnóstica a doença e encontra um tratamento?

Depois que se faz uma análise da cavidade abdominal, dos pontos com comprometimento pela doença, procura-se ressecar sempre que possível os focos que se encontram nos ovários, trompas, útero, peritônio e intestino.
Em relação aos cistos no ovário e no útero, a preocupação é retirá-los, mas preservando esses órgãos, uma vez que na maioria das vezes as pacientes são jovens e têm desejo reprodutivo.
Através da laparoscopia conseguimos ressecar também os focos existentes no tecido que reveste a cavidade abdominal (peritônio) e outros mais profundos localizados nos intestinos, indicativos de casos mais graves e que demandam tratamento efetivo.
Obviamente, a cirurgia aberta é também uma alternativa para remover as lesões de endometriose, mas a laparoscopia é o método mais utilizado para diagnóstico e tratamento dessa doença.

A endometriose provoca alterações no ciclo menstrual?

A relação entre a endometriose e a infertilidade feminina pode manifestar-se em alguns casos. Pacientes em estágio avançado da doença e obstrução na tuba uterina que impeça o óvulo de chegar ao espermatozoide têm um fator anatômico que justifica a infertilidade.
Além disso, algumas questões hormonais e imunológicas podem ser a causa para algumas mulheres com quadros mais leves de endometriose não conseguirem engravidar.
Após o tratamento e, geralmente, a realização da laparoscopia, uma boa parcela das pacientes consegue engravidar, principalmente as mulheres em que as tubas não tiverem sofrido obstrução.
É por isso que no final da laparoscopia, costuma-se injetar contraste pelo canal do colo uterino para ver se ele sai pelas tubas.
A caracterização dessa permeabilidade tubária é um ponto a favor de uma gravidez que depende, entretanto, de outros fatores como a função ovariana ou a não formação de aderências depois da cirurgia, por exemplo.

Após a realização de uma laparoscopia bem sucedida, há riscos de reincidência?

Depois da laparoscopia, quando a doença está num estágio avançado, costuma-se indicar uma medicação para suprimir temporariamente a menstruação. São, geralmente, medicamentos que bloqueiam a função ovariana, durante três ou quatro meses, para a paciente poder se recuperar.
Depois disso, há possibilidades da doença voltar a existir, porque o retorno da função menstrual pode determinar o reaparecimento das lesões.
Por isso, em alguns casos, é preciso bloquear a menstruação por mais tempo e tomar cuidado depois das gestações para que não haja recidivas.
A cura da endometriose depende da boa administração da doença e nem sempre representa a extirpação eterna dos focos

Complicações da endometriose intestinal

Uma das complicações da endometriose é que, apesar do tecido endometrial poder ser retirado, os médicos não garantem a cura da doença. Mesmo que a mulher aparentemente esteja curada, é preciso realizar exames regularmente para verificar se a doença não voltou.

Endometriose intestinal: incômodo inesperado

Laparoscopia ou medicamentos?

No estágio inicial a doença pode ser tratada com remédios e dispensa a cirurgia. Mulheres que têm endometriose sofrem com a doença e precisam decidir, junto ao médico e a partir dos resultados dos exames, qual o tratamento a seguir: se realiza a cirurgia laparoscópica ou um tratamento medicamentoso. Para a Drª.
Rosa Maria Neme, doutora em Ginecologia, com especialização em Endometriose pela USP e diretora do Centro de Endometriose São Paulo, Existe uma forte tendência à banalização da cirurgia laparoscópica para tratar a endometriose, o que nem sempre é a melhor indicação .
Em caso de suspeita de endometriose, o médico pode realizar um diagnóstico preditivo, que é feito através do exame de toque vaginal, no qual o ginecologista pode sentir um nódulo ou cisto (sugestivo de endometriose), exame de sangue na época da menstruação (dosagem de um marcador chamado ca125, que apesar de não ser específico somente para esta doença pode fornecer dados sobre a agressividade da endometriose) e por exames de imagem (ultra-som e ressonância magnética).

A necessidade de cirurgia laparoscópica deve ser muito bem avaliada pelo especialista, pois tratamentos clínicos com medicamentos hormonais, como pílula anticoncepcional e DIU medicado com progesterona, por exemplo, podem fornecer um excelente controle dos sintomas e estabilizar a doença, em fases iniciais.

Se for uma pequena suspeita de endometriose, começamos a tratar com medicações hormonais e mantemos o tratamento por seis meses. Se melhorar, não há a necessidade naquele momento da laparoscopia. Se não melhorar, se indica a cirurgia , explica a médica.

Os sintomas clássicos da endometriose, como dor na menstruação, dor nas relações sexuais e infertilidade, e que não melhoram com o tratamento medicamentoso, são indicativos de laparoscopia. Além disso, se os exames de imagem, como o ultra-som e a ressonância magnética, demonstrarem endometriose em estágios avançados, também se indica a laparoscopia.

Videolaparoscopia

O videolaparoscopia é procedimento é uma cirurgia feita por pequenos cortes, para tratar as lesões da endometriose. Dentre as vantagens da videolaparoscopia  podemos destacar:

  • Recuperação pós-operatória mais rápida;
  • Menor trauma na parede abdominal;
  • Menor risco de infecção;
  • Cicatrização menos evidente;
  • Menor custo com medicações;
  • Maior garantia e segurança na eficácia do diagnóstico e tratamento.

A cirurgia laparoscópica serve não só para o diagnóstico, mas principalmente para o tratamento. No momento do procedimento, todos os focos de endometriose que são evidenciados são imediatamente retirados e cauterizados.
Esta é a grande vantagem de um diagnóstico preditivo bem feito, pois se sabe exatamente o que será encontrado, com a possibilidade de se fazer uma boa programação antes da cirurgia.

A laparoscopia é um procedimento de grande dificuldade técnica, que requer profundo conhecimento da anatomia pélvica que, muitas vezes, encontra-se bastante alterada pela intensa atividade inflamatória provocada pela doença , completa Rosa Neme. Segundo ela, a paciente deve buscar uma segunda opinião e conversar com seu médico, pois existe uma forte tendência na direção do estabelecimento de uma indústria da cirurgia de endometriose.

Em casos de infertilidade, ainda não há um consenso na literatura mundial se a realização da cirurgia poderia aumentar as chances de gestação espontânea.
Atualmente, há uma tendência em casos de mulheres inférteis, sem dor incapacitante e com endometriose avançada, a dar-se preferência à realização de procedimentos de reprodução assistida (como a fertilização in vitro) para se alcançar a gravidez antes de se realizar o tratamento cirúrgico , finaliza Rosa Maria Neme.

Centro de Endometriose São Paulo

O Centro de Endometriose São Paulo conta com serviços voltados à assistência global da saúde da mulher e valorização da beleza feminina. A iniciativa deste projeto pioneiro é da Dra. Rosa Maria Neme, que possui diversos trabalhos publicados sobre a endometriose e larga experiência no tratamento desta doença.
Ela lidera uma equipe clínica formada por médicos e profissionais nas áreas de ginecologia, radiologia, cirurgia do aparelho digestivo, urologia, clínica geral, anestesia especializada no tratamento de dor, dermatologia, fisioterapia, nutrição e psicologia.

Dr. Michael D. Birnbaum, é um endocrinologista e especialista em infertilidade reprodutiva, renomado, pratica há mais de 25 anos: “Quase todas as mulheres que vejo com Endometriose, em um momento ou outro, dizem ter a “síndrome de intestino irritável” ou um “cólon espástico” ou uma dúzia de outros termos frequentemente usados para descrever os sintomas gastrointestinais para as quais não houve evidente diagnóstico.
As mulheres com endometriose têm frequentemente sintomas gastrointestinais e, até relativamente pouco tempo, estes sintomas foram atribuídos a uma SII (síndrome do intestino irritável), um “cólon espástico”, ou para aqueles que como nós, conhece a endometriose, a real participação intestinal da doença em si.

Ao longo dos últimos anos, tornou-se cada vez mais evidente o envolvimento intestinal em muitas mulheres com endometriose. Em outras palavras, existem reais implantes de Endometriose sobre ou na parede intestinal. A literatura relata uma incidência de envolvimento intestinal variando de 3 a 34%, sendo a média de cerca de 12%.
Com base em todos os números, um relatório no New England Journal of Medicine estima que 5% de todas as mulheres têm Endometriose intestinal.

Endometriose intestinal: incômodo inesperado

A Endometriose Pélvica é geralmente (mas não sempre) limitada a pré-menopausa – aquelas mulheres com funcionamento dos ovários. A Endometriose Intestinal é diferente, pois não é raro que apareça em mulheres pós-menopáusicas.
De fato, quando uma mulher pós-menopáusica desenvolve Endometriose, quase sempre irá apresentar um envolvimento intestinal.
Acreditavam, inicialmente, que essas mulheres tinham câncer de cólon ou de reto, pois 70% da Endometriose Intestinal envolve o cólon sigmoide ou reto.
Também pode aparecer em outras partes do intestino (em ordem decrescente de freqüência) como: apêndice, ceco (a primeira porção do intestino grosso), íleo (a última porção do intestino delgado), e, por último, o cólon transverso.

As mulheres com Endometriose intestinal muitas vezes apresentam sintomas, mas, na maioria dos casos, o diagnóstico correto não é feito. No intuito de diagnosticar a Endometriose intestinal, é necessário fazer as perguntas certas. Quando as boas questões são colocadas, o diagnóstico é fácil.
O diagnóstico geralmente é feito pela história (da paciente), porque raios-X do intestino não mostram a doença e nem outros exames, como a colonoscopia.
A Laparoscopia pode ou não demonstrar implantes na parede intestinal, mas o médico tem que saber onde procurar por eles.
Os implantes da endometriose na parede do intestino não podem ser detectáveis exceto no momento da cirurgia abdominal aberta.

Diagnosticar a Endometriose intestinal é relativamente fácil. Uma mulher com Endometriose intestinal vai me dizer que ela tem significativos sintomas gastrointestinais que variam de acordo com seu ciclo menstrual.
Os sintomas podem estar presentes apenas no momento do período menstrual ou podem estar presentes todos os meses e piorar durante a menstruação.

Os sintomas mais comuns incluem: perda de apetite, náuseas (vômitos, mas é raro), diarreia, aumento do gás, inchaço significativo, dor abdominal, dor nas evacuações, dor retal e nítida punhalada. Muitas mulheres também se queixam de obstipação, parece-me que variam de acordo com o ciclo menstrual.
A anemia ferropriva pode também ser um indício da presença de Endometriose intestinal.
A menstruação associada ao sangramento retal é diagnóstico de Endometriose intestinal.

Em muitos casos, é óbvio que a mulher tem Endometriose intestinal. Quando ela tem menstruação associada ao sangramento retal ou quando apresenta implantes visíveis de Endometriose no intestino (tanto para o intestino grosso ou intestino delgado) no momento da laparoscopia.
No entanto, há um grupo considerável de mulheres que têm todos estes sintomas, mas que não têm sangramento retal e cujas superfícies do intestino parecem normais no momento da laparoscopia.

Estudos recentes têm mostrado que agora, ao invés de atribuir os sintomas gastrintestinais ocultos à Endometriose, há de fato uma anormalidade intestinal associada que é visto em mulheres com endometriose – anormalidades que não são encontradas em mulheres sem a doença.

Pesquisadores da Universidade Baylor, em Houston reuniram um grupo de mulheres com diagnóstico de Endometriose para estudar sua função intestinal.
Eles notaram que as mulheres com endometriose freqüentemente queixam-se de dor abdominal crônica (não necessariamente limitada à pélvis), náuseas, vômitos, saciedade precoce, inchaço, distensão e alteração de hábitos intestinais.
O estudo utilizou alguns testes bastante sofisticados, mas o que ele mostrou é que as mulheres com endometriose têm alteração significativa na ação muscular da parede intestinal.
Este tipo de anomalia, muitas vezes com o aumento da freqüência de contrações dos músculos da parede intestinal, nunca foram observados em mulheres normais.

Curiosamente, eles também mostraram que as mulheres com endometriose tiveram hipoglicemia reativa e tolerância à glicose durante um teste. A taxa de açúcar no sangue caiu para um nível anormalmente baixo, embora com níveis normais de insulina.
Isto poderia indicar que as mulheres com endometriose podem ser demasiadamente sensíveis às ações da insulina de tal forma que acabam com baixos níveis de açúcar no sangue para uma determinada quantidade de insulina.
Um mecanismo que tem sido proposto é que os nervos (músculos) que ajudam a regular o funcionamento dos intestinos acabam reagindo exageradamente às quantidades de insulina presente.

Como isto acontece, ainda é incerto. No entanto, indicam claramente que as mulheres com endometriose têm sintomas intestinais que não parecem estar relacionados com a real participação da Endometriose intestinal, mas associado a uma anormalidade intrínseca na parede intestinal.
Isto imediatamente abre a porta para a noção de que as mulheres que desenvolvem Endometriose tem subjacente anormalidades endócrinas e metabólicas que diferem significativamente das mulheres que não têm Endometriose levando à conclusão de que a endometriose é uma doença muito mais complexa do que simplesmente os implantes de endométrio que surgem em locais aonde não pertencem.

Muitos dos sintomas enumerados são iguais aos da Síndrome do Intestino Irritável, por isto é fácil perceber a razão pelo qual este rótulo é muitas vezes colocado nestas mulheres. Lembre-se que a SII é considerada uma desordem psicossomática com um componente orgânico.

No entanto, quando uma mulher me diz que que ela tem sintomas que variam de acordo com seu ciclo menstrual, é quase certo ser Endometriose Intestinal.”

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