Gravidez após os 35 anos. Tire suas dúvidas

Após essa idade, a gravidez se torna um processo de risco. Cuidados médicos são essenciais para garantir a saúde da mulher e da criança.

Mulheres lindas, bem-sucedidas, com mais de 40 anos e mães. Recentemente, atrizes brasileiras como Carolina Ferraz e Dira Paes anunciaram que viverão a maternidade novamente. Elas já passaram da quarta década de vida e servem de exemplo a tantas outras que adiam esse sonho.
“As mulheres, de fato, estão tendo filhos mais tarde, esperando a realização profissional”, comenta o obstetra Cláudio Vendruscolo, coordenador da Ginecologia do Hospital Prontonorte (Brasília – DF).

Isso não significa, porém, que a decisão não implique riscos. Os óvulos envelhecidos aumentam as chances de malformação do feto. A idade mais avançada também coloca a futura mãe em alerta, já que aumentam as complicações de doenças comuns ao envelhecimento.
No entanto, se bem acompanhada, as chances de a gravidez ter um final feliz aumentam com os avanços da medicina.
“Essa mãe, depois dos 35, precisará ser acompanhada mais de perto pelo obstetra”, alerta Cláudio.
“Além disso, os exames permitem acompanhar a grávida e conhecer as necessidades do bebê.
Se precisarmos interromper a gravidez antes da 40ª semana, por exemplo, há UTIs neonatais bem preparadas para garantir a vida dessa criança”, acrescenta o médico.

Quais os riscos de ter filhos depois dos 35 anos?

A principal preocupação de uma gravidez depois dos 35 anos é quanto ao risco mais elevado de gerar um bebê com problemas cromossômicos. As chances de isso ocorrer aumentam a cada ano que passa na vida fértil de uma mulher.

É bom lembrar, contudo, que a maioria das mulheres desse grupo têm gestações normais e bebês saudáveis. Isso porque não é só a idade que conta, mas também a saúde em geral da mulher antes de engravidar – o que é uma ótima notícia, já que se trata de algo que você pode controlar.

Já se sabe que mulheres mais velhas apresentam maior probabilidade de ter ou desenvolver certas complicações durante a gravidez, como diabete gestacional, pressão alta, pré-eclâmpsia e placenta prévia (baixo posicionamento da placenta no útero). Essas condições podem ter consequências sérias para a gestação e devem ser monitoradas bem de perto.

Por isso é comum que gestantes com mais de 35 anos tenham intervalos menores entre as consultas com o obstetra.

Pesquisas indicam ainda que o risco de dar à luz um bebê com baixo peso ou de ter um parto prematuro sobe com a idade. É também maior a possibilidade de abortos espontâneos, provavelmente devido a malformações cromossômicas.

Por causa de todos estes riscos é sempre aconselhável que mulheres acima dos 35 anos que queiram engravidar consultem um médico antes para avaliar de maneira ampla seu quadro de saúde.

Uma detalhada avaliação e uma conversa franca sobre o histórico familiar dos futuros pais podem identificar uma série de condições que às vezes afetam a gestação e o bebê e devem ser consideradas.

Em muitos casos, uma orientação médica combinada a mudanças de hábito pode ajudar a reduzir riscos na gravidez. Esse tipo de planejamento também permite que a mulher se prepare melhor para engravidar, começando, por exemplo, a já tomar ácido fólico e verificando a necessidade de tomar algumas vacinas, como contra rubéola ou até o tétano.

Infelizmente, o maior obstáculo para mulheres acima de 35 anos talvez seja conseguir ficar grávida, já que o pico do período fértil feminino ocorre entre 20 e 24 anos. Entre 35 e 39 anos, a fertilidade é pelo menos 25% menor.

Diante disso, é recomendado que mulheres nessa faixa etária que não estejam conseguindo engravidar procurem ajuda médica o quanto antes (geralmente os especialistas indicam consultar um médico depois de seis meses de tentativas frustradas).

Como a idade afeta a fertilidade feminina

Existem vários fatores para explicar por que as mulheres estão esperando mais para ter filhos. É comum a mulher querer se firmar na profissão e aproveitar um pouco uma vida mais despreocupada para só então resolver aumentar a família.
Às vezes a mulher prioriza os estudos, ou então quer atingir uma estabilidade financeira maior de modo a poder oferecer mais qualidade de vida aos filhos, quando eles vierem.
Ou então o parceiro ideal demora para aparecer, ou a mulher simplesmente não se sente preparada….

A disponibilidade e a eficácia dos vários métodos contraceptivos também têm um papel importante. Atualmente os casais pensam mais antes de ter filhos, e a tendência é que as famílias sejam menores.

Idade e fertilidade

O lado negativo de adiar a maternidade, seja por que motivo for, é que para as mulheres a fertilidade decai rapidamente com o passar da idade, muito mais que para os homens.

Como pode ser observado na tabela ao lado, a idade de maior fertilidade para as mulheres é entre os 20 e os 24 anos.Com o passar do tempo, as chances de engravidar caem drasticamente, e a probabilidade de enfrentar problemas de fertilidade aumenta de forma significativa.
Os homens continuam férteis por bem mais tempo, mas a fertilidade masculina também é afetada pela idade, embora de modo menos radical.

Tabela: Taxa de fertilidade ao longo de um ano. Os dois gráficos referem-se a mulheres que não possuam nenhum problema específico de fertilidade.

Quanto tempo vou demorar para engravidar?

É difícil dizer com precisão quanto tempo vai demorar para alguém engravidar. Apresentamos aqui, porém, algumas estatísticas que podem ajudá-la a ter uma ideia.

Especialistas afirmam que aos 35 anos, a fertilidade da mulher é metade da que era aos 25 anos, e que, aos 40, a fertilidade cai para a metade do que era aos 35. Isso significa que um ano pode fazer muita diferença quando a mulher está na casa dos 30 ou dos 40 anos, e de repente pode começar a enfrentar dificuldade para engravidar.

A maioria dos casais (92 por cento) consegue engravidar em dois anos de relações sexuais frequentes e sem proteção. “Frequentes” neste caso significa sexo a cada dois ou três dias, ao longo de todo o ciclo menstrual.

Isso quer dizer que 8 por cento dos casais, na população em geral, não vão conseguir engravidar em até dois anos. Se você tem mais de 35 anos, sua chance de ficar grávida começa a cair rápido com o passar do tempo; 23 por cento das mulheres com 38 anos ou mais não conseguem engravidar mesmo com três anos de sexo frequente e sem proteção.

Determinados fatores sabidamente têm impacto sobre a fertilidade. São eles:

  • A idade, a alimentação e o estilo de vida da mulher
  • A idade do parceiro, a alimentação, o estilo de vida e até as atividades profissionais
  • Doenças crônicas
  • Problemas na saúde reprodutiva
  • A frequência das relações sexuais.

É tentador achar que, sabendo exatamente o dia da ovulação, vai dar para engravidar mais rápido.
Os especialistas em fertilidade, porém, não são muito favoráveis a que as mulheres acompanhem cada detalhe do ciclo menstrual, com técnicas para detectar a ovulação (existem até testes de farmácia) para acelerar o processo, se elas não apresentarem nenhum problema a priori.
Essa estratégia causa muito estresse e expectativa, e acaba com a naturalidade do relacionamento, já que é preciso sincronizar a vida sexual com os dias férteis.

Além disso, fatores como estresse, viagens e mudanças alimentares podem facilmente mudar o dia da ovulação, mesmo em mulheres regulares. O ideal é manter relações sexuais frequentes, cerca de três vezes por semana, para garantir que sempre haja espermatozoides no lugar certo na hora em que você ovular.

Como a maioria das mulheres passa bastante tempo evitando a gravidez, na hora em toma a grande decisão de começar a tentar fica com a impressão de que terá o mesmo tipo de controle sobre o corpo que tinha na época em que usava os métodos contraceptivos. Procure escapar dessa armadilha, deixando as coisas acontecerem naturalmente.

Os especialistas costumam recomendar que um casal só procure ajuda para uma possível infertilidade depois de um ano de tentativas frustradas, exceto se houver algum problema já conhecido, relacionado aos fatores acima (idade da mulher acima dos 35 anos, por exemplo, ou doenças específicas)..

Assim, se a orientação em geral dos médicos é que se espere pelo menos um ano de tentativas para procurar ajuda especializada, a recomendação para mulheres de mais de 35 anos é diferente. Se você tem mais de 35 anos e está com dificuldade para engravidar, vale a pena procurar um especialista antes de um ano.

Por que a fertilidade decai tão rápido?

Há vários fatores que afetam a fertilidade. É preciso lembrar que a saúde em geral da pessoa também declina com o passar da idade. Certos problemas podem se agravar, e novas doenças podem surgir.

À medida que a mulher envelhece, fatores ligados à fertilidade mudam, como:

Reserva ovariana: é o número de folículos em bom estado que restam nos ovários. Os folículos se formaram quando você ainda estava na barriga da sua mãe, e desde então só foram se deteriorando (e sendo usados). Quanto mais tempo passa, menos óvulos viáveis você tem.
Para mulheres que sofrem de menopausa precoce, os óvulos acabam muito antes do normal.

Ciclo menstrual: conforme as mulheres se aproximam da menopausa, seus ciclos menstruais podem começar a ficar irregulares e mais curtos, o que desfavorece a fertilização.

Revestimento do útero: o endométrio pode ir ficando cada vez mais fino, menos apropriado à implantação do embrião.

Secreção vaginal: o muco presente na vagina e no colo do útero pode ficar menos líquido e mais hostil aos espermatozoides.

Doenças que afetam o sistema reprodutivo: certos problemas podem ir danificando os órgãos reprodutivos com o passar do tempo, ou podem se agravar se não forem tratados. Entre eles estão a endometriose, a síndrome dos ovários policísticos e a clamídia.

Doenças crônicas: determinadas doenças têm impacto negativo na fertilidade, e tendem a se agravar com o envelhecimento.

Obesidade: o excesso de peso pode afetar a fertilidade, e tende a ser mais comum à medida que a mulher fica mais velha.

Brasil vê crescimento de gravidez após os 40 anos

Dados do IBGE mostram que a gravidez entre 40 e 44 anos aumentou mais de 17% entre 2003 e 2012. Para especialistas, fenômeno social é irreversível. Entre 2003 e 2012 o número de mulheres que engravidou entre 40 e 44 anos passou de 53.016 para 62.
371, um aumento de 17,6% de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“É um processo irreversível.
São mudanças sociais que acontecem em todo o mundo.
No Brasil, o acesso maior à universidade e consequentemente a vida profissional começando mais tarde, o esforço para ter uma carreira estruturada e a total independência da mulher influem diretamente nessa escolha”, aponta o ginecologista e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG), Sandro Magnavita Sabino.
Apesar de o intervalo entre 25 e 35 anos ser considerado o auge da vida reprodutiva da mulher – e esse critério evoluir com o tempo em função da expectativa de vida, por exemplo -, a incidência de gravidez entre 35 e 39 anos também cresce, segundo o IBGE: o aumento é de 26,3%; foram 201.
077 gestações em 2003 e 254.
011 em 2012.

O senso comum é rico em histórias sobre as implicações para a saúde da mãe e do bebê em casos de gravidez tardia. Mas quais as consequências reais dessa mudança social? O que é fato e o que é exagero? Sandro Magnavita Sabino gosta de iniciar a explicação com um exemplo usado em congressos dos quais participou.
“Foram exibidas duas imagens de grávidas: uma mulher de 25 anos com pressão alta, sobrepeso e fumante, e outra acima dos 40 que não fuma, que não tem pressão alta ou diabetes.
Qual delas terá uma gestação mais saudável? Os riscos serão maiores em qual das duas situações?”, provoca.
A constatação é simples: as ameaças estão muito mais relacionadas ao estado de saúde da mulher do que à sua idade.

Para o especialista, o importante é a mulher que deseja engravidar tardiamente ter consciência das dificuldades biológicas que enfrentará e, com isso, se preparar para uma vida saudável. Nesses casos, o acompanhamento médico é ainda mais importante e deve acontecer desde cedo, quando a mulher estiver com cerca de 30 anos.
Após os 40, também são necessários cuidados e exames específicos para evitar doenças e condições que aparecem mais facilmente com o aumento da idade, como diabetes, hipertensão e sobrepeso, e garantir um parto seguro e saudável.

Chances de gravidez natural

Outra informação importante é que mesmo após os 40 anos, a maioria dos casais alcançará uma gravidez de forma natural. No entanto, não se pode negar a queda nas taxas de fertilidade. “A maioria vai conseguir uma gestação espontânea.
Entre 20% e 25% dos casais podem ter dificuldade e precisar de um tratamento de reprodução assistida”, afirma o ginecologista.
A orientação da Organização Mundial de Saúde para quem está nessa faixa etária é clara: após 6 meses de tentativa, se o casal não engravidar, deve procurar um especialista.
“Se de fato tiver algum problema, quanto antes o médico atuar, maiores são as chances de gravidez”, reforça Sandro Magnavita Sabino.
O médico ressalta que procurar um profissional de reprodução assistida não significa iniciar um tratamento.
“Pode-se concluir que não existe nenhum problema”, diz.

Aborto

Por outro lado, as taxas de abortamento são maiores por questões biológicas, da natureza. Esse é o ponto principal que deve pautar o entendimento dessa variável. “As taxas de alterações cromossômicas do óvulo aumentam com a idade.
Aos 30 anos, de cada dez embriões formados, 50% deles terão alterações cromossômicas que vão gerar modificações nos embriões.
Aos 37 anos, chega a 65% e aos 42, a 95%”, esclarece o ginecologista.
Sandro Magnavita Sabino pondera que a grande maioria desses embriões não vai implantar no útero ou será abortada.
“Noventa por cento das causas de abortamento têm origem cromossômica.
Ou seja, o óvulo fertilizado não era normal”, informa.
As exceções podem estar relacionadas a problemas imunológicos da mulher como lúpus ou diabetes.

Síndromes

A conclusão é a de que em qualquer faixa etária a chance de uma síndrome – seja ela Down, Turner ou Klinefelter – é pequena. O que acontece com o passar da idade é que, apesar de muito pequena, a brecha para uma mulher de 39 anos gerar uma criança com síndrome é maior que em uma de 25, por exemplo.
“Mas mesmo assim continua sendo baixa e isso não é considerado um risco preocupante que contraindique uma gravidez após os 40”, repete o especialista.
Sandro reforça que o maior número de crianças nasce perfeita já que a grande maioria dessas síndromes não são compatíveis com a vida.
Uma exceção clara é a Síndrome de Down que cada vez mais tem vencido as barreiras do preconceito com exemplos de pessoas que se destacam no mercado profissional.

Por outro lado, gravidez muito precoce, antes dos 15 anos, é considerada fator de risco. “A mulher ainda está na fase do próprio desenvolvimento, na fase de crescimento. Além de as taxas de abortamento serem maiores, há o risco de anemia, de parto prematuro, de influência no crescimento fetal”, esclarece Sandro.

Menstruação tardia

Menstruar mais tarde não significa que a faixa ideal (de 25 a 35 anos) para engravidar é ampliada. Sandro explica que o bebê do sexo feminino – a partir do quinto mês de gestação, ainda na barriga da mãe – começa a gastar cerca de mil óvulos por mês. “Uma mulher tem aproximadamente 3 milhões de óvulos. Aos 12 anos, ela estará com 500 mil.
Essa perda de óvulos é um processo contínuo no organismo feminino, mesmo quando a mulher está grávida”, reforça.
Ou seja, menstruar mais cedo ou mais tarde não faz diferença nenhuma.

Reprodução assistida

Para Sandro, o mais importante quando o assunto é a gravidez após os 40 anos é a mulher entender que as chances vão diminuir. À medida que envelhece, os óvulos se tornam mais difíceis de serem fertilizados. A probabilidade de uma mulher com mais de 35 anos ter uma gravidez natural é de uma em seis, a cada mês, ou seja, 15%.
As taxas de gravidez diminuem com a idade, sendo que a partir dos 37 anos, essa redução segue um ritmo mais acelerado, tanto que aos 42 anos a chance de gravidez espontânea é de apenas 5%.
“É importante não perder tempo.
Se a mulher está tentando há 6 meses e não consegue, procure um especialista em reprodução assistida”, encerra.

Harmonia de gerações

“Nos anos de 1980 e 1990, havia muita diferença (entre ser pai antes ou depois dos 40) porque existia um abismo entre as gerações. Se eu tivesse um filho muito velho, não conseguiria acompanhar os assuntos necessários para manter uma relação adequada com ele. Hoje, não há essa diferença.
Um homem de 40 está inteiramente sintonizado com o que está acontecendo no mundo.
O abismo entre as gerações acabou”.

Influência da escolaridade

O estudo Saúde Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde em outubro do ano passado, aponta que o nascimento do primeiro filho depois dos 30 anos está ligado ao nível de escolaridade da mulher. Segundo a pesquisa, 45,1% das mães de primeira viagem com mais de 30 anos têm níveis mais elevados de escolaridade – 12 anos ou mais de estudo.
Já as com menor escolaridade se tornaram mães com menos de 20 anos: 51,4% com até três anos de estudo e 69,4% com quatro a sete anos de estudo.
A pesquisa aponta ainda que a maior quantidade de mães com pelo menos 30 anos está concentrada nas regiões Sudeste (34,6%) e Sul (33,6%).
No Centro-Oeste, a taxa é de 28,8%, seguido do Nordeste com 26,1% e do Norte com 21,2%.

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