Lapso de memória: quando é problema?

Para saber qual é o limite entre normalidade e patologia quando o assunto é esquecer, investigamos o que é considerado normal e o que não é. Faça sua avaliação.

Quem é que, numa conversa ou no trabalho não teve um lapso de memória? Isso seria normal? De maneira simplificada, a memória pode ser definida como o banco de dados que permite que nosso repertório de experiências cresça.
Ou seja, “é a habilidade do cérebro de guardar informações episódicas, factuais, semânticas ou de procedimentos”, explica David Schlesinger, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
É por meio dessa capacidade que se aprende com as experiências, através da gravação das informações para poder usá-la depois.

O processamento da memória envolve todo o cérebro. A parte operacional da memória, que é a capacidade de formar estratégias pra aprender e lembrar o que já aprendeu, é executada pelo córtex frontal. Essa região é chamada hipocampo e fica muito próxima do sistema límbico, que é a área do cérebro que processa as emoções.
Por isso é mais fácil lembrar de situações e temas que nos emocionam, porque nosso sistema límbico fica mais ativados nestes momentos e isso reforça a memória.
Já a fixação da memória, que por meio da atenção vai armazenar as informações, é realizada pelo córtex temporal.

Pode ser só cansaço

Cada vez mais cedo os consultórios têm recebido pacientes com queixas de memória. “As falhas passam a ser mais preocupantes quando têm impacto no desempenho das atividades de vida diárias”, define Ricardo Teixeira (Instituto do Cérebro de Brasília).
Em alguns casos pode refletir o cansaço, estresse, noites maldormidas, má alimentação e uso de álcool ou drogas.
Em outros casos, está relacionada à doenças: Alzheimer, demência vascular e doença de corpúsculos de Lewy.
Os problemas de memória podem aparecer em todas as idades e estar relacionados a alguma doença neurológica ou de algum distúrbio psíquico.
Para se certificar, o médico deve procurar diferenciar que fase da memória está acometida, a partir da história do paciente, avaliar se existem outros sintomas apontando a existência de uma doença e solicitar os exames complementares necessários para o diagnóstico.

Dificuldade de concentração

Um fator intimamente relacionado à memória é a atenção.
“Recebemos muitos pacientes que se queixam de problemas de memória, mas quando fazemos o diagnóstico percebemos que a pessoa tem dificuldade de concentração, o que compromete o armazenamento das informações na memória”, alerta Leonardo Figueiredo Palmeira, psiquiatra e membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatra e da Sociedade Internacional de pesquisa em Esquizofrenia (Schizophrenia International Research Society).
Se você quer saber como vai a sua memória, veja abaixo alguns sintomas comuns e outros que indicam possíveis problemas de saúde:

Esquecer minutos depois…

Se você chega no domingo à noite sem conseguir se lembrar como era a receita do almoço que fez mais cedo, não se preocupe, esse tipo de lapso de memória é muito comum.
“Trata-se de um serviço do cérebro que se livra de memórias que tem utilidade específica para o momento – no caso, estar cozinhando – e que não será exigida com frequência”, explica Palmeira.
O cérebro tende a armazenar por mais empo as informações que serão solicitadas com mais frequência.

Deu branco

Você sabe sobre o assunto de cor e salteado, mas na hora de começar a apresentar o tema para os ouvintes, dá branco! A situação é muito comum e Teixeira explica que “não conseguimos resgatar a memória em situações  em que nosso equilíbrio entre mente e cérebro não está bom”.
Isso pode acontecer nos momentos de tensão, como uma apresentação em público ou uma prova, por causa da ansiedade, do estresse, ou ainda pela privação de sono ou efeito de medicações.
“Para resgatar uma memória, precisamos usar várias estruturas cerebrais.
Se você está usando algumas dessas estruturas, como em situações de estresse, fica mais difícil resgatar a informação”, ajuda a explicar Schlesinger.

Não consigo decorar telefones e nem os endereços de e-mails e Facebook

A tecnologia facilita e alivia a memória em muitos sentidos. Um deles é armazenar todos os contatos. Isso faz com que usemos nossa atenção para coisas mais importantes. Até aí tudo certo. Mas o ruim é que a tecnologia pode levar àn distração e à perda de foco.
“O estilo de vida que estamos levando tem muita informação simultânea e a sua quantidade é muito maior do que chegava há 20 ou 30 anos.
Isso trouxe sobrecarga, o que gera uma estafa mental e atrapalha o bom funcionamento da memória”, esclarece Palmeira.
Repare se você faz mais de uma coisa ao mesmo tempo sem conseguir prestar atenção em nenhuma.
Muitas vezes é mais produtivo para a memória e para os resultados práticos das atividades fazer uma coisa de cada vez.

Peixe grande

É comum a gente alterar histórias com o passar dos anos.  ou mesmo achar que estava presente na história que alguém contou. Esse tipo de invenção de memória é chamado de alomnésia ou paramnésia. No primeiro caso (Alomnésia) são ilusões da memória, como quando você entra no quarto, vê uma roupa pendurada e acha que é uma pessoa.
Essa visão equivocada é mais ou menos o que pode acontecer quando resgatamos uma memória.
“Aquilo não aconteceu, mas alguma coisa que talvez lembre de longe uma situação parecida acaba se transformando em memória sua”, diz Palmeira.
Já a paramnésia é uma patologia ligada à esquizofrenia.
Trata-se de alucinações de memória, fabricações de memórias falsas que fazem com que a pessoa ache que  de fato viveu histórias que sua mente criou”.
Por meio de consultas médicas é possível diagnosticar  se é ou não a paramnésia.

Ouço, leio, mas não lembro

“Atenção é requisito básico para guardarmos as informações. Se não focamos nossos sentidos para obter a informação, não há como guardá-la”, alerta Schlesinger. Por isso é comum estarmos assistindo TV, ou lendo um livro e instante depois não saber o que acabamos de ver.
Nesses casos, provavelmente o ato foi feito sem atenção, com a cabeça em outro lugar.

Você já falou isso?

Repetir a mesma pergunta com frequência pode ser um sinal de que a memória está falhando de um jeito mais preocupante. “Se a pessoa tem esse comportamento ou apresenta dificuldades de se lembrar de fatos de um ou dois dias anteriores, esse pode ser o primeiro sinal de alguma patologia que compromete a memória”, alerta Schlesinger.
O ideal é procurar um médico para fazer um diagnóstico detalhado e começar a tratar o problema o quanto antes.

Esquecer como fazer coisas rotineiras

Como definido pelos especialistas, a memória é a função cognitiva crucial para o desempenho das atividades diárias. Se a pessoa começa a ter dificuldades para fazer coisas rotineiras ou se sente insegura para realizar tarefas que antes desempenhava sem problemas, esse talvez seja um sinal de que a pessoa esteja com a memória afetada.
Palmeira explica que “embora o limite entre normalidade e patologia seja difícil de delimitar, é possível afirmar que se a pessoa começa a ter dificuldade de fazer essas atividades do dia a dia, pode ser que ela esteja sofrendo  de alguma disfunção”.

Como atrasar os sinais do Alzheimer

As doenças neurodegenerativas que acometem a memória crescem exponencialmente a partir dos 60 anos. A cada cinco anos, dobra a chance de um diagnóstico de Alzheimer. Por exemplo, aos 65 anos a chance é de 0,5%, aos 80 anos aumenta para 30%.
Nela , a memória episódica, relacionada a fatores rotineiros, é a mais acometida, pois a doença acomete o hipocampo, que é a estrutura do cérebro que registra esse tipo de memória.
As lembranças antigas já estão guardadas e não precisam do hipocampo, por isso a pessoa tende a esquecer fatos mais recentes e a se lembrar dos mais antigos, que já estão registrados.
Além disso, a doença não acomete a memória de procedimento, como fazer tricô, pois esse tipo de registro usa outra estrutura cerebral que não se relaciona com o Alzheimer.
“Não é possível evitar Alzheimer.
É possível prorrogar seu aparecimento, exercitando o cérebro e protegendo-o contra doenças vasculares (AVC)”, afirma Schlesinger.
Para se proteger, os especialistas indicam: use o cérebro a vida toda, principalmente com intenção social, não fume, controle o diabetes, a hipertensão e, claro, faça exercícios físicos.

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Amnésia e Lapso de memória: qual a diferença?

 

As pessoas se preocupam muito com a memória, exagerando a importância de lapsos (absolutamente normais!) e comparando-os à amnesia, um problema sério. “O saudável é não se lembrar de tudo.
As pessoas precisam parar com tantas cobranças a cada lapso de memória que eventualmente acontece”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora do livro “Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor” (Ed.
Sextante).

Recordar é viver

“Ao acordar, sabemos quem somos, quem dorme do nosso lado, como preparar o café, o que fizemos ontem e que tarefas teremos hoje”, diz a psicóloga Lílian Stein, professora da PUC gaúcha. “A gente só percebe quando ela ‘falha’ ao esquecer uma senha ou a chave do carro.
” Para Lílian, a maior parte das pessoas tem ótima memória.
“Lapsos ocasionais são normais.
Já quem sofre de amnésia, por doenças como o Alzheimer, em geral não percebe a perda de memória”, afirma.
Sem contar que muitos esquecimentos decorrem de distração por estar às voltas com atividades simultâneas ou excessivas.
“A falta de concentração prejudica o registro do fato, e um registro fraco dificulta a evocação posterior”, explica o professor de neurologia e neuropsicologia Benito Damasceno, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Como ocorre a amnésia?

Ao contrário dos lapsos, a amnésia é resultado de problemas sérios, como traumas, doenças degenerativas ou acidente. Conheça o processo:

  • Em alguns casos de traumas, doenças degenerativas ou acidentes que provocam lesões cranianas, os neurônios são atingidos e quebram-se as sinapses, as ligações entre as células nervosas.
  • O hipocampo, pequena estrutura localizada no cérebro, processa as informações captadas pelos sentidos e as envia para diversos pontos do córtex, a superfície cerebral, onde serão consolidadas e armazenadas.
  • Em consequência, perdem-se as lembranças recentes, ou seja, aquelas apreendidas há dois ou três anos.
    E deixam de ser assimiladas novas informações.
    Mas as de longa data, já consolidadas, nunca se apagam.

Alzheimer: Como identificar os primeiros sintomas?

Quem nunca passou por essas situações: ao sair de casa, percebe que esqueceu o guarda-chuva. Ou então, vai ao shopping e não lembra onde estacionou o carro. E o constrangimento de encontrar um conhecido na rua e não fazer a mínima ideia de onde o conhece e nem o seu nome?

Com a agitação e o estresse da vida moderna, esquecimentos como esses são considerados normais. Porém, é preciso estar atento quando esses lapsos de memória se tornam mais frequentes.
 “A perda da memória para fatos recentes é um dos sintomas mais comuns do início da Doença de Alzheimer (DA)”, afirma Cássio Bottino, psiquiatra e coordenador do Programa Terceira Idade (PROTER).
A doença, que normalmente afeta idosos com mais de 65 anos, é muitas vezes negligenciada nas fases iniciais, por ser facilmente confundida com o processo normal de envelhecimento.
“Se analisarmos somente as falhas de memória, não é possível afirmar que é Alzheimer.
O esquecimento de alguns fatos pode ser fruto de alguma dificuldade pela qual a pessoa possa estar passando, problemas familiares, sobrecarga de trabalho, depressão, alcoolismo, drogas, entre outros”, esclarece.
“Antes da pessoa se preocupar, é necessário que um médico investigue essas queixas e demais sinais característicos da enfermidade”, pondera.

O diagnóstico precoce é a chave para impedir que os efeitos da DA (Doença de Alzheimer) avancem e comprometam a qualidade de vida do idoso. Porém, a doença possui uma evolução lenta e isso também é uma barreira para a sua detecção. “Nesse momento, a participação e observação da família é fundamental.
Prestar atenção nas mudanças de comportamento da pessoa e fazer uma comparação com outros idosos podem ajudar na hora de procurar tratamento”.

No momento em que a DA é diagnosticada, é preciso saber que os esquecimentos continuarão acontecendo cada vez mais, já que a doença não tem cura.
Os familiares devem estimular o idoso a manter a mente e o corpo ativos por meio de jogos de tabuleiro, leitura de livros e jornais, palavras-cruzadas, aprendizado de outro idioma ou instrumento musical, caminhadas, e também, manter um convívio social ativo.
 “Atividades como essas são sempre indicadas aos idosos em geral, principalmente para se tentar retardar o aparecimento da demência, que é mais comum no processo de envelhecimento”, alerta o especialista, que chama atenção para o controle de enfermidades como hipertensão arterial, diabetes, hipercolesterolemia, obesidade e tabagismo, considerados fatores de risco para demência.

Para quem já tem DA, essas medidas e o tratamento medicamentoso podem retardar de forma significativa o declínio da função cognitiva em pacientes com DA leve a moderada.

Sintomas iniciais da Doença de Alzheimer

  • Perda de memória recente – Um dos primeiros sintomas da doença.
    Atenção caso a pessoa comece a esquecer as coisas com mais frequência e fique incapaz de relembrar o assunto posteriormente.
  • Dificuldade para realizar atividades rotineiras – Dificuldade para planejar e completar tarefas do cotidiano, como preparar uma refeição ou fazer uma ligação.
  • Desorientação espacial – Esquecer de onde está e de como chegou até lá.
    Perder-se na própria vizinhança ou esquecer o caminho de casa também são comuns.
  • Poder de julgamento e raciocínio abaixo do normal – Vestir-se de forma inapropriada, com várias camadas de roupa em dias quentes ou pouca vestimenta em dias frios.
    Pacientes mostram pouca capacidade de julgamento, como doar alta soma de dinheiro sem motivo específico.
  • Problemas com pensamento abstrato – Dificuldade acima do comum para realizar raciocínios mentais.
    Esquecer para que servem os números ou como devem ser usados.
  • Errar o lugar das coisas – Errar o lugar de coisas usuais, como colocar o ferro de passar no freezer.
    Porém, é normal colocar as chaves do carro ou carteira em lugar estranho de vez em quando.
  • Mudanças de humor e comportamento – Rápida alternância de humor e comportamento, sem motivos aparentes.
    O paciente pode ir de um estado calmo ao depressivo e raivoso em pouco tempo.
  • Transformações de personalidade – Mudança drástica na personalidade.
    Podem se tornar confusos, desconfiados, medrosos ou dependentes de um membro da família.
  • Perda de iniciativa nas atividades – Pessoas com Alzheimer tornam-se muito passivas.
    Ficam horas em frente à TV, dormem mais que o normal e não têm disposição para realizar tarefas usuais.
  • Problemas com a linguagem – Esquecer palavras simples, substituir palavras comuns e usuais, dificultar a forma de falar ou escrever pode ser um sinal da doença.

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 10 dicas para melhorar a memória

 – Faça jogos inteligentes

Revistas de palavras-cruzadas, jogo dos sete erros e desafios numéricos são grandes aliados da memorização. Jogos de tabuleiros e de cartas também funcionam como exercícios de raciocínio lógico e atenção.

 – Fuja do isolamento

O contato social é fundamental para uma boa memória. Depois da aposentadoria, sem os filhos em casa, muitos idosos ficam sozinhos. Esse isolamento é um dos maiores vilões para a memória. O ideal é buscar grupos, cursos ou encontrar amigos para conversar.

 – Alimentação também ajuda

Os neurônios precisam de glicose para funcionar, por isso é importante uma alimentação adequada. Quando a dieta é restritiva, eles encontram dificuldade para “trabalhar” corretamente.
Além disso, a vitamina B12 – encontrada em carne de frango e vaca, peixe, leite, ovos, queijo e iogurte – é essencial para o funcionamento da memória.

 – Pratique atividades físicas

Exercícios vigorosos, como corrida, dança, natação e futebol ajudam a aumentar a capacidade de armazenamento da memória. Quem faz exercícios tem menos chances de ter derrames, que podem deixar sequelas neurológicas.

 – Tenha foco

A primeira etapa para memorizar é prestar atenção à informação desejada. Quando você faz duas ou três coisas ao mesmo tempo, o cérebro elege apenas uma como prioridade. As outras serão esquecidas. Por isso, procure se concentrar em uma coisa de cada vez.

 – Use estratégias

Pensar que o cérebro precisa guardar tudo é um erro. Evite sobrecarregá-lo usando uma agenda ou colando bilhetes. Assim, a memória fica liberada para funcionar com tranquilidade. Outra dica é fazer conexões entre informações. Exemplo: para gravar o aniversário de um amigo, relacione aquele número a outro que você já decorou, como seu telefone.

 – Relaxe

Estresse, preocupações no trabalho e outros aborrecimentos podem ocasionar esquecimentos frequentes. Quando a tensão estiver elevada, procure respirar fundo, lavar o rosto e se concentrar em pensamentos otimistas. A memória agradece.

 – Leia de tudo um pouco

A leitura ativa áreas do cérebro ligadas ao funcionamento da memória, e é um dos exercícios mais completos para evitar esquecimentos. Vale ler livros, jornais, revistas, entre outros. O importante é reservar alguns minutos para a tarefa, diariamente.

 – Durma bem

Durante o dia, nosso cérebro capta muitas informações. Quando você dorme, o sono coloca esses dados dentro de pequenos “arquivos” no cérebro. Se esse processo de arquivamento não se conclui, parte do conteúdo se perde.

 – Divirta-se

Muitas pessoas passam o dia no trabalho e, ao chegar em casa, continuam no computador ou vendo TV. Com o tempo, esse hábito deixa a memória menos eficiente. É preciso se divertir, bater papo, rir e conhecer pessoas novas.

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