Laqueadura: o que você deve saber antes de fazer

A laqueadura, também conhecida por ligadura de trompas, é um processo cirúrgico feito com objetivo contraceptivo, ou seja, que impede que a mulher engravide novamente.
Nesse procedimento, as tubas uterinas são obstruídas, cortadas e/ou amarradas, impedindo a descida do óvulo e subida do espermatozoide, tendo como resultado um índice de concepção menor que 1%.
 A despeito de ser uma intervenção simples e pouco invasiva, as leis no Brasil são rigorosas quanto à sua prática, pois a esterilização pode ser definitiva.

O que é

Trata-se de um método de esterilização. O procedimento visa obstruir as tubas uterinas (ou trompas), onde o espermatozoide se une ao óvulo. Após a cirurgia, a fecundação se torna praticamente impossível – são raríssimos os casos de mulheres que engravidam.
Uma vez que a abertura da cavidade abdominal é necessária, a laqueadura é normalmente realizada durante uma cesárea, mas pode ser feita fora da gravidez, desde que a mulher cumpra os pré-requisitos exigidos pela legislação.

Restrições legais

No Brasil, esta intervenção cirúrgica só é permitida quando uma gestação pode agravar problemas de saúde (portadoras de doenças como pressão arterial grave, lúpus, insuficiência renal e diabetes estão sujeitas a esse tipo de complicação) ou colocar em risco a vida da paciente.
Um relatório escrito e assinado por dois médicos é solicitado para comprovar a autenticidade do quadro clínico.
Caso queira fazer a cirurgia de maneira voluntária, a mulher precisa ter mais de 25 anos.
Após manifestar o interesse pelo procedimento, ela precisa aguardar pelo menos 60 dias – período em que será informada sobre os riscos e peculiaridades desta esterilização, bem como encorajada a optar por outros métodos anticoncepcionais ( como o DIU e as pílulas orais ou injetáveis, pode ser uma maneira de, pelo menos a priori, evitar a laqueadura).

Preparação

Os cuidados pré-operatórios são os mesmos exigidos por cirurgias convencionais: a paciente deve se submeter a exames que identificarão se ela possui alguma patologia cardiocirculatória. No dia da operação, o médico exige jejum de oito horas.

Como o procedimento é feito

Durante a cesária, o cirurgião corta as trompas e amarra suas extremidades com um fio de algodão (material que não pode ser absorvido pelo organismo), bloqueando a passagem tanto dos espermatozoides quanto a dos óvulos. A obstrução também pode ser feita por cauterização ou por meio de anéis ou clipes cirúrgicos.
Fora da gravidez, a abertura do abdome pode ser feita por diversos métodos.
Uma das técnicas mais empregadas é a videolaparoscopia, pois é menos invasiva: o médico administra anestesia geral e injeta gás carbônico na cavidade abdominal.
Na sequência, faz pequenas incisões no abdome da paciente para introduzir o laparoscópio.
Acoplado a uma câmara, esse aparelho transmite imagens internas para um monitor por meio de fibra ótica, permitindo que o especialista faça a obstrução das trompas com facilidade.

Duração

Em média, a operação dura de 30 a 40 minutos. Se for realizado junto com cesária, exige cerca de três minutos, pois o abdome da paciente já estaria aberto. Na laqueadura sem corte a duração será de 5 minutos.

Pós-operatório

Como a laqueadura é um procedimento simples, os cuidados que a paciente deve tomar após a operação são poucos. Se a técnica utilizada foi a videolaparoscopia, ela precisa ficar três dias em repouso, e pelo menos uma semana sem praticar atividades físicas – inclusive relações sexuais.
Além disso, ela não pode dirigir por um período estipulado pelo médico.
 Os médicos sugerem que o casal mantenha os métodos anticoncepcionais durante pelo menos 30 dias após a cirurgia.

A menstruação não será afetada pela laqueadura, mas algumas mulheres começam a ter períodos mais longos depois da esterilização.

A produção hormonal e a libido não costumam ser afetadas. A operação em que as trompas de Falópio são efetivamente cortadas é menos comum atualmente. A intervenção também é realizada por uma incisão no abdômen ou através da vagina.

Laqueadura sem corte (Essure)

Um procedimento de esterilização feito sem cortes e em apenas dez minutos foi liberado no Brasil em 2009 e está sendo bem aceito. Concebido como uma alternativa à cirurgia de laqueadura, o método Essure é uma opção para portadoras de doenças cardíacas graves, para quem tanto a cirurgia quanto a gravidez sobrecarregariam o coração.
Elas também não podem tomar anticoncepcionais (os hormônios desses remédios representam risco para elas).
 O procedimento tem 10 anos de existência no mercado mundial e é novo no Brasil, mas a eficácia é a mesma (da laqueadura cirúrgica).

A técnica consiste na colocação, pela vagina, de um aparelho feito de titânio e níquel – chamado Essure – projetado para ser introduzido nas trompas. Após três dias, forma-se uma fibrose, espécie de reação de rejeição ao corpo estranho presente na trompa.
Ela acaba funcionando como um obstáculo que impede o óvulo de alcançar o local onde se encontraria com o espermatozoide.

O implante está em testes em hospitais públicos de referência em saúde da mulher do Rio de Janeiro, de São Paulo, Distrito Federal, entre outros (em algumas instituições particulares do País, já está disponível). “A eficácia da esterilização é de 90%”, explica Paulo Olmos, chefe do serviço de Reprodução Humana do Hospital Brigadeiro, em São Paulo.
E também é irreversível.
“A mulher só poderá engravidar por meio de fertilização in vitro (junção de óvulo e espermatozoide em laboratório)”, explica o ginecologista Luciano Gibran, do Hospital Pérola Byington, em São Paulo.

A vendedora paulistana Viviane Brito, 24 anos, submeteu-se ao procedimento. Ela nasceu com uma cardiopatia que impede o sangue bombeado do coração de chegar aos pulmões. Casada há um ano, Viviane engravidou acidentalmente, mas teve de interromper a gestação para que seu coração não fosse sobrecarregado. “Passei muito mal”, conta.
“Não quero sofrer novamente.

Os especialistas acreditam que o método tem bom potencial para ser usado em programas de planejamento familiar. “Sua adoção diminuiria a fila de espera para a laqueadura”, diz o médico Olmos.
O método começou a ser desenvolvido na década de 90 por uma empresa norte-americana, a Conceptus , fabricante do aparelho, e já está em negociação com o governo brasileiro.
“Estamos conversando sobre a possibilidade de ampliar os testes em outras instituições públicas”, disse Spencer Roeck, presidente da companhia.

O método é positivo por ser um procedimento ambulatorial menos invasivo que a laqueadura tradicional e que não exige a existência de um centro cirúrgico ou de método anestesista. O Essure é a técnica mais moderna porque os microimplantes são introduzidos na trompa sem anestesia.
São colocados por dentro da vagina por histeroscopia, não mais pelo abdome.

A reversão é possível?

É preciso muito diálogo entre o casal e o profissional de saúde para que a decisão de fazer uma laqueadura seja consciente e autônoma. A cirurgia é um procedimento que apresenta apenas 50% de chances de sucesso em sua reversão.
Em alguns casos, se realizada com cuidados microcirúrgicos, a laqueadura pode chegar a uma taxa de reversão com 70-80% de incidência de gravidez.
Mas são poucos os centros de saúde que contam com tecnologia e profissionais capacitados para realizar a reversão deste procedimento, o que dificulta o acesso a este tipo de tratamento.
“Antes de pensar em fazer a laqueadura é preciso buscar outros meios contraceptivos, como a pílula, o DIU ou os anticoncepcionais injetáveis”, aconselha o ginecologista Aléssio Calil Mathias, diretor da Clínica Genesis.

Casos de mulheres que se arrependeram de terem feito a cirurgia são comuns. Isso porque muitas delas acabam encontrando novos parceiros (cerca de 60%), o que traz de volta o desejo de ser mãe. A solução está na cirurgia de reversão, cujo grau de sucesso variará conforme a técnica empregada para obstruir as trompas.
Em média, a chance de sucesso vai de 50% a 80%.

O restante das mulheres que querem voltar atrás é composto por mães que perderam seus filhos ou que melhoraram de condições financeiras. Por volta de 70% das mulheres que se submetem à laqueadura podem tentar a cirurgia de reversão, cujos custos também são cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre essas mulheres, 80% vão ter sucesso e conseguir engravidar novamente.
O grau de reversibilidade varia de acordo com a lesão que a técnica cirúrgica causou.
Laqueaduras feitas com anel plástico ou clipes de titânio são mais fáceis de reverter.
 O fato de a possibilidade de reversão ser possível mas não absolutamente certa reforça a necessidade de ponderação antes de fazer laqueadura.
Além disso, as filas para fazer a operação pelo SUS são bastante longas, uma vez que, na lista de prioridades dos hospitais, os problemas de saúde estão na frente desse tipo de cirurgia.

O Brasil tem um dos maiores índices de laqueaduras do mundo, com 40% das mulheres em idade reprodutiva -de dez a 49 anos- esterilizadas, ao lado da Índia e China, segundo a Organização Mundial da Saúde, (OMS). Nos Estados Unidos, esse índice é de 20% e na França, de 6 %.
“É preciso explicar à mulher que, tecnicamente, a laqueadura é um método definitivo de contracepção, realizado pela obstrução da tuba, que liga os ovários ao útero.
Só é recomendada sem restrições para mulheres com problemas de saúde, tais como diabetes descompensada, histórico de eclampsia e pressão alta.
Métodos definitivos devem ser usados como último recurso, quando a gravidez implica em risco de vida”, informa o ginecologista Aléssio Calil Mathias.

A reversão da laqueadura, a salpingoplastia, é um procedimento complexo e poucos serviços do SUS o oferecem. Pode ser realizada por anastomose tubária microcirúrgica, via laparotomia ou via laparoscopia. “Quanto mais jovem a mulher esterilizada procurar pela reversão, maior é a probabilidade de que ela venha a engravidar no futuro.
Quanto menor o tempo de esterilidade, maior é a chance dela engravidar novamente”, explica o ginecologista.

O grau de reversibilidade varia de acordo com a lesão que a técnica cirúrgica causou. Assim, laqueaduras feitas com anel plástico ou clipes de titânio são mais fáceis de reverter. Para as pacientes que foram submetidas à salpingectomia (retirada das trompas), a reversão é impossível.

Uma nova gravidez

“Após a reversão tubária, em média, as mulheres demoram de seis meses a um ano para conseguir engravidar, se a recanalização for bem sucedida”, informa o ginecologista Aléssio Calil Mathias.
 Mas o sucesso da cirurgia, observa o médico, relaciona-se com vários outros fatores, tais como:

  • o comprimento e a vitalidade dos segmentos de trompas a serem unidos
  • a habilidade do microcirurgião
  • a idade da mulher no momento da cirurgia para reversão
  • o método utilizado para laqueadura tubária
  • a quantidade de tecido de cicatrização na região da cirurgia
  • a qualidade do espermograma do parceiro
  • a presença de outros fatores de infertilidade.

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Quando as trompas reconstituídas não recuperam sua função reprodutiva é possível recorrer ainda à fertilização in vitro ou à transferência de embriões.
“A reversão da laqueadura tubária deve ser considerada como uma opção adequada na busca de novas gestações para mulheres mais jovens (<35 anos), sem qualquer outro fator de infertilidade além da laqueadura.
As pacientes com mau prognóstico ou com idade mais avançada devem ser encaminhadas aos programas de fertilização in vitro.
Tal posição é compartilhada por grandes centros de reprodução humana mundiais, onde ambos os procedimentos são igualmente oferecidos”, defende o ginecologista.

Qual o preço de uma cirurgia de laqueadura?

A laqueadura sai em média R$ 266,41 para o SUS. Mas os custos dessa operação aumentam para cerca de R$ 2 mil quando são considerados gastos com medicação, anestesias e internação. A reversão que consta na tabela do SUS como salpingoplastia sai por R$ 289,71 e, somando os outros custos, pode chegar a R$ 5 mil.

Em clínicas particulares os valores ficam entre R$ 1.500,00 e R$ 3.000,00. O novo método Essure (laqueadura sem corte), em hospitais particulares, custa cerca de R$ 5.000,00, mas também é oferecido na rede pública de saúde (SUS) em alguns estados.

O que vem por aí

Um novo procedimento para o controle de natalidade é uma alternativa para casais que não desejam ter filhos no exato momento, mas pretendem tê-los no futuro. O método, que ainda está em testes clínicos avançados na Índia, se mostrou 100% eficaz. Um gel de polímero, chamado Vasalgel, é injetado no pênis do homem e quebra os espermas.
O procedimento é feito após anestesia local.

Todo o processo leva cerca de 15 minutos para ser concluído, dura cerca de 10 anos e é mais fácil de ser revertido do que a vasectomia. Se o homem decide ser pai, ele pode voltar a ser fértil em três meses com a reversão.

Estudos nos últimos 25 anos afirmaram que o procedimento é eficaz para ser feito em humanos e animais. A expectativa é que o método já esteja disponível no mercado dos Estados Unidos em 2015, com o início dos testes clínicos iniciados em 2012 no país.
Vamos aguardar! Veja abaixo o método já em uso (para as mulheres) e o que está chegando (para os homens):.

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