Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do peso

A obesidade é considerada, em países desenvolvidos, um importante problema de saúde pública, e pela OMS, uma epidemia global. O aumento de sua prevalência em países em desenvolvimento, especialmente na América Latina, também já foi estudada, e em países como Índia e China o aumento de 1% na prevalência de obesidade gera 20 milhões de novos casos.
Está associada com hipertensão arterial, doença cardíaca, oesteoartrite, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer, e seu impacto é mais pronunciado na morbidade do que na mortalidade.
Pessoas obesas, particularmente crianças e adolescentes, frequentemente apresentam baixa auto-estima, afetando a performance escolar e os relacionamentos.
 Dieta inadequada nos primeiros meses de vida é um dos fatores principais desse fenômeno.

A fome ainda continua a ser um problema mundialmente alarmante, mas os danos provocados pelo excesso de alimentação inadequada são igualmente preocupantes. O tema foi um dos destaques abordados por médicos em recente congresso de atualização em pediatria, realizado em Fortaleza.
Eles alertam sobre o número crescente de crianças que chegam aos consultórios acima do peso.
Além da óbvia escolha errada do cardápio, uma das razões para explicar o que eles até chamam de “globesidade” está na oferta inadequada de alimentos ao bebê, especialmente, no período que vai dos primeiros meses de vida até os 2 anos de idade.

“O tipo de alimentação nessa fase determina ganho de peso futuro. Nossa população de crianças saiu da desnutrição para a obesidade. Hoje, são 35% de meninos e 32% de meninas acima do peso no Brasil”, afirmou a pediatra Christiane Leite, que apresentou a palestra Alimentação da criança saudável.
Segundo a médica, estudos com diversas populações do mundo mostraram que crianças alimentadas com alta ingestão de proteína nos primeiros meses até o segundo ano de vida (com leite de vaca, por exemplo) “são preditivas da ocorrência precoce de rebote da adiposidade e de IMC elevado na infância”, afirmou.

Para evitar não só o ganho de peso, como também alergias futuras, ou até mesmo restrições alimentares por causa do paladar pouco diversificado, é preciso estar atento ao que vai no prato dos meninos em cada etapa da vida deles, especialmente nos primeiros mil dias.

Estima-se que dois terços de todos os Brasileiros estão com sobrepeso ou sofrem de obesidade. Isto significa que quando saímos à rua, cada 10 pessoas que vimos 6 sofrem de sobrepeso ou estão obesos. O mais impressionante é que este numero está aumentando e muito brevemente este numero passará de 6 em 10 para 7 em 10 pessoas sofrendo deste problema.

Atualmente na nossa sociedade é mais frequente encontrar casos de obesidade na idade adulta do que na infância. No entanto a obesidade infantil está a aumentar e a atingir níveis alarmantes, estima-se que o numero de crianças obesas no Brasil tenha aumentado 5 vezes nos últimos vinte anos, atingindo atualmente 10% das crianças no Brasil.
As consequências da obesidade são uma tragédia para as crianças que enfrentam este problema.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do peso

Crianças obesas: quem se importa?

Ideias consolidadas culturalmente como a de que a ‘criança pode comer tudo’ ou a de que ‘criança gordinha é saudável’ emperram a dedicação de famílias na formação de hábitos alimentares saudáveis. Somado a isso, a publicidade dirigida às crianças impulsiona o consumo por alimentos calóricos e pobres nutricionalmente.
E em Minas, apesar de existir uma lei que regula a alimentação dentro das escolas, a regra não é seguida principalmente na rede particular.

Uma estatística que evidencia a preocupação da Organização Mundial Saúde (OMS) quando alerta para uma epidemia de obesidade: uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos está acima do peso.
Por mais que esse número seja repetido à exaustão, pediatras, nutricionistas e endocrinologistas afirmam que a cada dia recebem mais pacientes nessas condições.
Pesquisa recente da UFMG reforça o alarde: 39% dos alunos de escolas particulares de BH estão acima do peso (saiba mais).
De quem é a culpa? A reposta pode levar a um dos grandes dilemas atuais da sociedade.
Sabemos que família e escola são os principais atores para incentivar hábitos alimentares saudáveis.
Mas outros fatores influenciam esse consumo e talvez um dos mais perversos seja a publicidade dirigida a meninas e meninos.
Com discurso sofisticado, associa alimentos muito calóricos e poucos nutritivos ao universo infantil e dificulta a negativa dos cuidadores.
Além de a relação com a comida passar culturalmente pelas demonstrações de afeto e amor, não é fácil – e quem é pai ou mãe sabe muito bem disso -, lutar contra o fluxo consumista que pauta a contemporaneidade.

Diante desse cenário de urgência, o Saúde Plena aproveita o início do ano escolar e convida seus leitores a refletir sobre os caminhos para solucionar essa questão de saúde pública. Minas Gerais conta com a Lei da Merenda Saudável nº 18.372, de 4 de setembro de 2009. Ainda não conhece? Clique e leia.
Em tramitação há mais de oito anos, o Projeto de Lei do Senado nº 406 de 2005, que proíbe alimentos não saudáveis nas escolas de todo país, pode ser votado em 2014 (conheça o projeto).
Ele ainda está nas comissões do Senado aguardando nova votação após emendas.
Apesar de não ser unanimidade, quem milita nessa área acredita na interferência do Estado para ajudar a impulsionar a solução do problema.
“É uma medida que se faz necessária para que haja prevenção.
As crianças obesas de hoje serão os adultos obesos de amanhã.
O excesso de peso não complica só o coração, como geralmente se pensa, mas todos os órgãos do organismo e até o esqueleto sofre.
O lado emocional é o que mais precocemente é impactado”, afirma o presidente do Comitê de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria, Antônio José das Chagas.

Os dados mais recentes da Secretaria de Estado de Educação, em Minas Gerais, referentes a 2012, mostram que 2,2 milhões de alunos estão matriculados na rede estadual; 1,8 milhões na municipal; 34 mil em escolas federais e 730 mil alunos na rede particular.
Na rede pública estadual, as cantinas foram extintas, toda a alimentação é fornecida gratuitamente e não há alimento industrializado.
Na particular, no entanto, as escolas ainda não conseguem cumprir a lei.
A fiscalização é de responsabilidade da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte e, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, é realizada continuamente quer seja em inspeções de rotina ou por meio de denúncias dos cidadãos.

Infelizmente, a rede particular (de todo o Brasil) ainda coleciona histórias de mães e pais insatisfeitos com a alimentação oferecida dentro das instituições. é arquiteta, tem 39 anos e não quer ser identificada.
Mãe de duas meninas, uma de 4 anos e outra de 2, ambas matriculadas em período integral, conta que, após inúmeras conversas com a direção da escola onde as meninas estudam, teve que optar por enviar o lanche de casa.
“Do almoço eu não tenho queixas, mas o lanche é complicado.
A escola não tem uma nutricionista, consultam uma profissional ocasionalmente, e o suco nunca é natural”, comenta.
Além disso, segundo ela, a instituição oferece ainda biscoitos recheados, embutidos e danoninho (não indicado para crianças menores de 4 anos).
De acordo com a Lei nº 18.
372/2009, produtos e preparações com altos teores de calorias, gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal, ou com poucos nutrientes são vedados nas escolas de Minas.

diz que como a escola não incentiva a troca de lanches, a tática tem funcionado, mas lembra que quando era permitido que a família enviasse guloseimas – chips, chocolate e refrigerante, por exemplo – as filhas ficavam com vontade.
A arquiteta se considera representante da “ala radical” de pais e mães, mas observa que essa bandeira não é levantada por grande parte das famílias.
Ela acredita que o cuidado com a alimentação é exceção na sociedade e que só passou a valorizar isso quando se tornou vítima dos próprios maus hábitos.
“Meu marido é diabético e há quatro anos estou em tratamento contra um câncer.
Com certeza, minha história pessoal foi fundamental para melhorar minha alimentação.
Levanto essa bandeira porque paguei um preço muito alto para aprender.
Tento ensinar para minhas filhas que não quero que elas passem o que eu passei para aprender”, explica.

Idealizadora do Padecendo no Paraíso, a arquiteta Bebel Soares é mãe de Felipe, de 4 anos, matriculado também na rede particular. Ela diz que mesmo sem saber que existia uma lei que regulamentava a alimentação dentro das escolas, sempre lutou por mais qualidade. “Quando chegou o cardápio deste ano levei um susto.
Minipizza às 9h para meninos de 2 a 6 anos? Sanduíche com presunto? Lá eles só oferecem leite com chocolate, não tem opção de leite puro”, avalia.
Uma das conquistas que a arquiteta liderou à frente do grupo que criou em 2011 foi evitar o fim do atendimento pediátrico no pronto-socorro do Hospital Vila da Serra.
Acostumada com esse embate para garantir o direito das crianças, procurou a escola e recusou a opção de um cardápio diferenciado.
“Disse à direção que eu iria querer o cardápio padrão e que queria que a mudança fosse feita para todas as crianças.
Como resposta, o colégio disse que iria consultar a nutricionista responsável”, conta.
Bebel enviou uma cópia da Lei nº 18.
372/2009 e a diretoria agendou uma reunião presencial com ela.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoA advogada e assessora parlamentar Renata Soares Cardoso (foto ao lado) é mãe de Carol Soares Cordoni, de 13 anos. Desde os 6, a filha dela está matriculada em um dos colégios mais tradicionais de Belo Horizonte.
Ela reconhece as adequações que a direção da escola fez para tentar cumprir a lei, mas ainda reclama da venda de alguns produtos como mini-pizza e chocolate.
Como sua filha está numa fase em que, segundo ela, se recusa a levar lanche de casa, ela é categórica em defender a importância do cumprimento integral da regulamentação estadual.
No entanto, não são todas as famílias que fazem parte da comunidade escolar em que ela está inserida que pensam como ela.
“Já participei de várias reuniões e senti vergonha da opinião de outros pais.
Alguns argumentam ‘meu filho tem direito de comer isso’.
Como a escola quer agradar os dois lados, acaba investindo pouco num projeto de alimentação saudável”.
Renata diz ainda que o problema ultrapassa os muros do colégio: “Temos que pensar também numa solução para o baleiro que fica na porta da instituição vendendo tudo que é proibido dentro da escola pela lei da Merenda Saudável”.

Projeto de lei que tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte tenta proibir a presença de ambulantes para a venda de doces, balas, chicletes e produtos com alto teor de gordura e açúcares para os alunos. A proposta 811/2013 do texto, de Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoautoria do vereador Joel Moreira (PTC), é complementar à lei estadual da Merenda Saudável.

Jornalista, educadora ambiental e para o consumo, integrante da Rede Brasileira sobre Infância e Consumo (Rebrinc) e coordenadora do Consciência e Consumo, Desirée Ruas acredita que a escola é um lugar de aprendizado.
“Em primeiro lugar é uma questão de respeito a uma legislação que está em vigor e em segundo, que a escola é um espaço onde a própria família também pode aprender, com a experiência vivida pelos filhos com relação à educação alimentar”.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do peso

É possível ser feliz com uma alimentação saudável

A nutricionista Cláudia Guimarães trabalha com educação e reeducação alimentar há 18 anos e estava na equipe que redigiu o texto da Lei nº 18372/2009. Para ela, é de fundamental importância o papel da escola na formação de hábito alimentar da criança e do adolescente.
“As instituições precisam enxergar a educação de uma forma ampla, que vai além de ensinar a ler e escrever.
Falta entendimento de que a alimentação faz parte da educação”.
A especialista diz que, principalmente para a criança, “tudo que acontece dentro da escola é referência para meninos e meninas.
É a oportunidade que eles têm de criar bons hábitos alimentares.
Cada um tem que assumir o seu papel e a escola tem que fazer o seu”.

Do ponto de vista familiar, a nutricionista aponta crenças como a de que ‘criança pode comer tudo’ ou ‘deixa comer o que quiser’ como dificultadores da formação de bons hábitos. “Mas é na infância que vão se desenvolver o paladar para coisas boas e coisas ruins”, alerta.
Isso não significa que uma criança não possa ir a uma festa e comer bobagens, ela ressalva, mas esse consumo tem que ser exceção.
“O dia a dia tem que ser de alimentação saudável”, reforça.

Família e escolas são atores fundamentais na formação de hábitos alimentares saudáveis. No entanto, a nutricionista Cláudia Guimarães mostra que a influência vem de todos os lados

Crianças obesas são mais suscetíveis à propaganda de alimentos

Estudo das universidades do Missouri e do Kansas revela que a publicidade de alimentos gordurosos, com grande quantidade de açúcar ou sódio, afeta mais as crianças obesas do que as que têm peso normal.
 Os pesquisadores mostraram para dez crianças que tinham obesidade e outras dez que tinham peso normal 60 logotipos de comidas e outros 60 de empresas de outros setores.
Através de exame de ressonância magnética eles observaram imagens de como ocorre o fluxo sanguíneo nos cérebros das crianças.
 As que estavam com peso acima do adequado, ao verem os logotipos de alimentos tiveram ativações maiores em regiões cerebrais responsáveis por “recompensar”.
Já crianças com peso saudável tiveram mais atividades em áreas que estavam ligadas com o autocontrole.
Com base nesses dados, os autores sugerem que aumentar a habilidade de autocontrole nas crianças acima do peso pode ajudá-las a dizer não à publicidade de alimentos.

Dicas

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do peso

Cláudia Guimarães explica que uma merendeira saudável deve conter todos os grupos de alimentos: carboidratos, vitaminas e sais minerais e proteína. No primeiro grupo, que é o que vai dar energia, ela aponta os integrais como os mais saudáveis. Entre eles, pão, cookie e granola.
As frutas estão no segundo grupo e a dica é enviar para a escola as que não precisam ou que são fáceis de descascar como banana, maçã e uva.
Mesmo a laranja, a especialista dá uma solução: “descasque em casa, parta ao meio e enrole a fruta em um plástico filme”.
No terceiro grupo, das proteínas, a recomendação é colocar um queijo branco dentro do pão ou mandar um iogurte.
“Caso a escola não tenha geladeira, coloque o iogurte no freezer e envie congelado dentro de uma merendeira que tenha isopor, por exemplo.
Ele vai perder um pouco de gele, mas ainda estará geladinho na hora da criança beber”, diz.

Ela diz que é importante não esquecer da hidratação. “As crianças não se lembram de beber água, mas é bom habituar deixar uma garrafinha em cima da mesa delas para que possam ingerir quando tiverem vontade”.

E atenção para os alimentos proibidos: chips, balas, biscoitos recheados, salgadinhos fritos e refrigerante. “Nada disso deve fazer parte do dia a dia das crianças”, recomenda. A nutricionista lembra que falar não é mais difícil do que falar sim, mas educar envolve as duas situações.
Para ajudar, elaborou duas opções de lanche para a merenda na escola.

Opção 1:

  • Pera
  • Suco de acerola com laranja
  • Mini pão integral com queijo Minas

Opção 2:

  • Manga
  • Iogurte
  • Bolo de cenoura

Uma campanha nacional

O presidente do Comitê de Endocrinologia Pediátrica, Antônio José das Chagas diz que a situação da obesidade infantil é tão grave que só acredita em uma campanha nacional “séria e longa” para solucionar o problema da falta de conscientização sobre a importância da alimentação saudável.
Chagas cita o exemplo da campanha antitabagismo que colocou o Brasil em destaque na prevenção do vício ao cigarro (leia mais).
“Só depois de muitas propagandas que a população foi aprendendo que fumar era um péssimo hábito e não tinha nado de charmoso”, recorda-se.

O cenário é tão ruim, na opinião do pediatra, que, segundo ele, “os próprios pais obesos não se sentem doentes. Eles sabem das consequências, mas parece que não raciocinam. Culpam a genética e levam os filhos para o mesmo caminho”.
Além disso, de acordo com Chagas, procuram o médico em busca de uma solução milagrosa, mas nunca pensam em mudar o estilo de vida.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do peso

No entanto, Antônio Chagas esclarece que a obesidade é baseada em dois princípios: a genética e o ambiente em que a pessoa está inserida. “A criança pode nascer com a genética favorável à obesidade, mas o excesso de peso pode ser evitado com alimentação adequada”. E lembra: “a OMS considera a obesidade uma doença crônica grave”.
Entre as consequências estão diabetes que começa mais cedo, pressão alta e doenças cardiovasculares.
Para ele, tudo isso pode ser evitado de forma bem objetiva.
“Carboidratos, açucarados e gordurosos estão sobrando na dieta das crianças brasileiras.
A questão é matemática: as crianças estão ingerindo mais do que estão gastando.
É preciso inverter a seta”, resume.

Ele é favor de uma lei federal por uma alimentação saudável nas escolas e um controle maior sobre a publicidade voltada às crianças. “Pacotes com artistas, atletas, bichos e brindes nas embalagens, isso têm que ser proibido. Nas gôndolas de supermercados esses produtos não poderiam estar à altura das crianças. Essa exposição deveria ser vedada.
São milhares de detalhes que precisam ser trabalhados para dificultar o acesso das crianças a alimentos não nutritivos.
A escola é um degrau nesse contexto”, afirma.

Diretora de eventos do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep) e diretora educacional do Instituto Educacional Manoel Pinheiro, Renata Gazinelli afirma que existe um esforço significativo das escolas da rede privada no cumprimento da Lei da Merenda Saudável, que é de 2009.
Para ela, as próprias famílias “boicotam” a resolução ao enviarem de casa alimentos proibidos pela Lei 18.
372/2009.
“Quando comparamos as opções que a escola oferece com os produtos que os pais enviam é distoante”, reforça.
Segundo ela, cheeeps, biscoito recheado e chocolate são protagonistas na merendeira de meninos e meninas e faz uma comparação com a Lei Seca.
“Não se pode dirigir depois de ingerir álcool, mas não são todas as pessoas que cumprem”, observa.
Gazinelli diz que é comum, após a família ser advertida, que o argumento seja: “Meu filho não come nada que vocês colocam para vender”.
Ela reconhece, entretanto, que a prática não é generalizada: “Temos famílias muito bem informadas que já internalizaram a necessidade de mudança de hábito alimentar”.

Em relação ao não cumprimento da Lei da Merenda Saudável pelas escolas particulares, ela diz que “entre ser proibido e se tornar uma prática tem uma distância. Acredito que caminhamos 50%”, afirma. Para ela, em alguns casos falta uma tomada de decisão dos diretores. “Isso envolve firmeza e determinação pessoal.
É preciso entender que – para além da existência de uma lei – a mudança é necessária porque os alunos precisam de uma alimentação saudável.
Não é de fora para dentro, é uma motivação intrínseca”, acredita.

Diante da falta de fiscalização, Renata Gazinelli diz que o que vai determinar a cumprimento da lei é a postura da direção. “Não se pode ceder à pressão dos pais”, diz. Ela também apoia a criação de uma lei federal para regulamentar a alimentação dentro das escolas. “Quanto mais barulho tiver, melhor.
Por que essa mudança é um trabalho cotidiano”, encerra.

Para que fique bem claro

A obesidade infantil é uma doença de consequências graves que se instala em múltiplos órgãos. Excesso de gordura corpórea na infância é causa de diabetes, hipertensão, elevação dos níveis de colesterol e triglicérides, tendência à coagulação acelerada do sangue, alterações na parede interna dos vasos e maior produção de insulina.
A predisposição genética para a obesidade é um fenômeno biológico de alta complexidade, que envolve interações de mais de 250 genes diferentes.
Além da genética, fatores pré-natais, como a obesidade materna e o excesso de alimentos consumidos durante a gravidez, aumentam o risco de obesidade do filho.
Do mesmo modo, fatores ambientais predispõem ao ganho de peso excessivo depois do nascimento.

Dois estudos demonstraram que bebês amamentados com mamadeira correm mais risco de desenvolver obesidade no futuro. A explicação pode estar relacionada à existência de algum componente protetor presente apenas no leite materno, à preferência pelo paladar ou à interferência de mecanismos psicológicos no centro de saciedade do bebê.

O índice de massa corpórea (peso dividido pela altura ao quadrado) diminui do nascimento até os cinco ou seis anos de idade, para depois aumentar gradualmente até a adolescência.
Quando fatores ambientais, como falta de atividade física e dietas de alto conteúdo calórico, provocam aumento de peso que subverte essa regra geral, surge predisposição à obesidade na vida adulta.

A falta de atividade física da criança urbana de hoje é considerada pelos especialistas uma das principais causas da epidemia de obesidade infantil que se dissemina em diversos países, inclusive no nosso.
Um trabalho realizado na Cidade do México mostrou que o risco de obesidade caiu 10% para cada hora de atividade física de intensidade moderada ou forte praticada diariamente pela criança.
Estudo semelhante conduzido na Carolina do Sul chegou à mesma conclusão: crianças mais ativas são mais magras do que aquelas que se movimentam pouco.

O número de horas que a criança passa diante da TV, entretida com programas infantis ou videogames, está diretamente ligado ao aumento de peso. O trabalho realizado na Cidade do México encontrou um aumento de 12% no risco de desenvolver obesidade para cada hora por dia na frente da TV.
Os autores concluíram que a TV aumenta o risco de obesidade não só por desviar a criança das atividades físicas, mas por induzir à ingestão de alimentos altamente calóricos.

Pesquisadores americanos e ingleses contaram o número de comerciais na televisão que anunciam doces, balas, chocolates, refrigerantes, biscoitos e outros alimentos de conteúdo energético alto e chegaram à conclusão de que, nos seus países, cada criança fica exposta a dez desses comerciais por hora.
Outro trabalho comprovou que crianças de três a cinco anos submetidas a esse bombardeio diário dos anunciantes costumam escolher as guloseimas apregoadas na TV, quando são oferecidas como opção frutas e outros alimentos saudáveis.

Neste momento, há grande discussão na literatura médica a respeito da composição ideal da dieta pediátrica. Nos últimos 30 anos, o consumo de gordura animal tem sido diretamente responsabilizado não só pelo aumento de peso entre os adultos como pela atual epidemia de crianças obesas.
A ideia parece ter lógica porque as gorduras são alimentos de alta densidade energética: um grama de gordura produz nove calorias, enquanto um grama de açúcar ou proteína produz quatro calorias.

Os dados epidemiológicos, no entanto, falharam sistematicamente na comprovação dessas teorias em crianças e adolescentes – e também nos adultos. Ao contrário, a epidemia de obesidade pediátrica se disseminou nos Estados Unidos apesar da redução do conteúdo de gordura na dieta das crianças americanas ocorrida nos últimos 20 anos.

A diminuição do número de calorias derivadas de gordura animal na dieta costuma ser compensada por um aumento significante do consumo de carboidratos pelas crianças: pães, doces, chocolates, refrigerantes, salgadinhos e batata frita passaram a ser ingeridos em quantidades sem precedentes na história da humanidade.

Esses alimentos de alto índice glicêmico provocam súbitos aumentos pós-prandiais da concentração de moléculas de glicose na corrente sanguínea. Em resposta, o pâncreas secreta quantidades elevadas de insulina para quebrar essas moléculas e armazená-las sob a forma de glicogênio.
Armazenadas, as moléculas de açúcar desaparecem da circulação, e o centro da fome é ativado novamente.
 Esse mecanismo biológico explica por que, três horas depois do almoço farto em carboidratos do domingo, assaltamos a geladeira famintos atrás do pedaço de pudim que sobrou.

A prevenção à obesidade é de extrema importância para o desenvolvimento da criança. Chegar à vida adulta com excesso de gordura no corpo, além de aumentar o risco de várias doenças, dá início a uma batalha sem fim contra a balança.
Uma afirmação de consenso dos National Institutes of Health, dos Estados Unidos, ilustra como pode ser inglória essa luta: “Adultos que participam de programas de emagrecimento podem esperar uma perda de apenas 10% do peso corpóreo, no máximo.
Cerca de 50% dessa perda são repostos em um ano, e, virtualmente, todo o resto é recuperado em cinco anos”.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do peso

Sandra Villares é médica, coordenadora do Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Ver os netos gordinhos era a alegria das avós do passado. Criança rechonchuda era sinônimo de criança saudável. De certa forma, havia lógica nesse conceito. Numa época em que não existiam antibióticos, crianças mais nutridas resistiam melhor aos processos infecciosos na infância.

Hoje, a obesidade infantil transformou-se num problema sério de saúde, numa epidemia que se alastra e já atinge parte expressiva da população nessa faixa de idade. A preocupação não é com a estética.
Muitas crianças com excesso de peso apresentam alterações nos níveis de colesterol, são descriminadas pelos companheiros e alvo de brincadeiras de mau gosto.

O controle da obesidade infantil começa em casa, com refeições balanceadas, estímulo à atividade física e mudança dos hábitos alimentares de toda a família.

O que diferencia a criança gordinha da criança obesa?

Em geral, a mãe tem sensibilidade para notar que a criança está um pouco mais forte do que os coleguinhas de mesma idade. A mãe ou os familiares perceberem esse fato é o primeiro passo para estabelecer a distinção. Os médicos fazem cálculos um pouco mais complicados.
Dividem o peso pela altura ao quadrado, obtêm o índice de massa corpórea (IMC) e utilizam gráficos que podem ser encontrados no site www.
Resultado acima de 85 percentil caracteriza sobrepeso; acima de 95, obesidade.
Abaixo de 85 percentil, indica que a criança não tem sobrepeso.
 Essa curva não é igual a dos adultos porque as crianças crescem e os números variam conforme a idade.

Por que alguns bebês que mamam no peito da mãe são gordinhos e outros são magrinhos? Existe tendência à obesidade que se manifesta desde o nascimento?

Existem muitas causas para a obesidade infantil, mas não podemos deixar de mencionar as características genéticas. Milhões e milhões de anos atrás, sobreviveram nossos ancestrais que tinham genes capazes de estocar calorias e transformá-las em energia. Os que não tinham, morreram cedo e provavelmente não deixaram descendentes.
 Isso quer dizer que a grande maioria dos sobreviventes tem genes que favorecem o aparecimento da obesidade.
Se o ambiente for favorável, ela irá manifestar-se.

Qual é o ambiente saudável para o bebê? É a mãe. Engordar muito durante a gestação, favorece o desenvolvimento de tecido adiposo, de gordura, no primeiro ano de vida da criança.
 Na literatura, há trabalhos mostrando que para o desenvolvimento do tecido adiposo no primeiro ano de vida é importante não só o peso com que a mãe inicia a gravidez, mas o peso que ganha durante a gestação.
 A mãe deve passar algum neuro-hormônio, que não sabemos qual é, mas que faz com que o hipotálamo mande uma mensagem para a criança armazenar mais energia e ela estoca gordura.

Então além das características genéticas, de alguma forma, a obesidade materna durante a gestação influencia a obesidade infantil.

O contrário também é verdadeiro. A falta de alimentação adequada durante a gestação para um bebê intraútero é fator para a obesidade no adulto. Prova disso são os indivíduos atualmente obesos que nasceram na Holanda, no período de falta de alimentação que marcou o pós Segunda Guerra Mundial.

É fácil de entender que a criança nasça subnutrida, porque não consegue os nutrientes necessários, quando a mãe passa fome durante a gravidez. Mas fica mais difícil de entender por que desenvolve obesidade depois como mecanismo compensatório.

Esse é um dado epidemiológico para o qual não se encontra explicação na literatura. Acredita-se que algum fator intraútero, ainda não determinado, estimule alimentação mais farta durante a vida e aumente a facilidade de estocar energia.

Resumindo: são fatores para a tendência à obesidade infantil a genética, o excesso de peso que a mãe ganhou durante a gestação e a desnutrição materna durante a gravidez. Há outro?

Mãe diabética é também é fator de risco para a obesidade infantil e para o desenvolvimento de diabetes na fase adulta. A hipoglicemia da mãe estimula o pâncreas da criança a liberar mais insulina e a tornar-se mais sujeita a desenvolver diabetes.

Filhos de mães diabéticas, geralmente, nascem com peso exagerado?

Nascem. O aumento da circulação de insulina na criança provoca aumento da adipogênese, ou seja, maior formação de células adiposas.

Acima de que peso nasce a criança que faz suspeitar ser a mãe diabética?

Acima de quatro quilos. Sempre que levanta o histórico de uma criança obesa, o médico deve perguntar como foi a gestação da mãe e com quantos quilos e centímetros o bebê nasceu. A criança nasce com mais ou menos 17% de gordura no corpo. No final do primeiro ano de vida, esse índice sobe para 35% e o peso da criança triplica.
A gordura que estocou nesse período vai ajudá-la a viver no ano seguinte, quando começa a andar e a brincar e garante a energia necessária para os anos subsequentes.

As crianças não param quietas e consomem muita energia, mas por volta dos sete anos começam a fazer novamente tecido adiposo. Esse é um fato muito importante e a mãe precisa ficar atenta ao peso da criança nessa idade. Se o peso for normal, uma em dez crianças corre o risco de ficar obesa na fase adulta.
Se for gordinha, esse risco sobe para quatro em cada dez crianças.

Bebês gordinhos também correm mais esse risco?

A princípio, não, mas depende muito do tipo físico dos pais. Se os pais forem magros, criança fortinha, porém não muito obesa nos três primeiros anos de vida, não corre risco maior de obesidade na fase adulta. Ao contrário, se os pais forem obesos, o risco aumenta.
No entanto, com o passar dos anos, essa relação vai perdendo força e desaparece na adolescência, quando tem importância o excesso de peso do próprio adolescente como determinante da obesidade na fase adulta.

Estamos vivendo uma verdadeira epidemia da obesidade. Na população brasileira, 40% dos adultos estão com excesso de peso, o que significa 50 milhões de pessoas aproximadamente. E as crianças estão indo pelo mesmo caminho. Dados revelam que 17% dos adolescentes estão com sobrepeso atualmente.
Já nos referimos às razões genéticas para o armazenamento de gordura.
No entanto, a diminuição da atividade física e o aumento de ingestão de comida e de alimentos não saudáveis têm contribuído muito para a instalação do quadro de obesidade.

Deixando de lado as alterações que levam ao aumento de peso e que não dependem da criança – a mãe engordou muito ou não se alimentou adequadamente durante a gestação, ou era diabética – no mundo moderno, o que leva as crianças a ganharem peso excessivamente?

Os motivos são muitos. Vou citar alguns dados que acho interessantes. A criança tem a sensação de fome e saciedade. Ela sabe quando deve começar a comer, porque está com fome, e quando parar, porque está saciada. Entretanto, por excesso de amor, por achar que dando comida está dando carinho, a mãe resolve que a criança não pode deixar nada no prato.
Ela não entende que, às vezes, a pequena quantidade que o filho comeu é suficiente para saciá-lo.

O que queremos dizer com saciedade? Quando o indivíduo começa a alimentar-se, sente extremo prazer no sabor da comida, mas esse prazer vai diminuindo à medida que se sente satisfeito. Às vezes, isso acontece com quatro colheres de arroz; às vezes, com duas.
Varia tanto no adulto quanto na criança, mas a mãe quer que coma as quatro colheres, não a deixa sair da mesa enquanto não limpar o prato e não registra sua indicação de que está satisfeita.
Duas horas mais tarde, aparece com um copo de leite ou alguma coisa para comer mesmo que a criança não esteja com fome.
 Isso está errado.
A criança deve comer quando está com vontade.
Não é necessário impor horários rígidos.
Ela possui o relógio biológico da fome e da saciedade que acaba se perdendo, porque não é levado em consideração, e a criança não sabe mais quando começar a comer nem quando suspender a refeição.
Aí, a televisão mostra comidas maravilhosas, cheias de gordura e de açúcar, substâncias que aumentam muito o sabor dos alimentos, e a criança passa as tardes mastigando bolachinhas, biscoitinhos, hambúrgueres, balas e chocolates.

Há ainda fatores emocionais que não podem ser desprezados. Nasce um bebê na família; a criança, que ficava com a avó, vai para a escola ou muda de colégio. Ansiosa, começa a alimentar-se mais porque, como os adultos, não distingue fome de ansiedade.
Essa modificação dos hábitos alimentares faz com que o tecido adiposo, que deveria ser formado por volta dos sete anos, se desenvolva mais cedo.
Isso se chama de rebound precoce da adiposidade.

Poderíamos dizer que é um rebote da adiposidade?

Com quatro ou cinco anos, a criança começa a criar tecido adiposo precocemente. Portanto, quando chegar aos sete, já estará mais gordinha. A adolescência é outra fase perigosa que requer atenção. Quando o corpo da menina vai se modificando e as mamas começam a crescer, ela pode produzir mais tecido adiposo. Já o rapaz faz mais massa magra.
É um fenômeno biológico: as mocinhas fazem mais gordura, que as deixa com o corpo mais arrendondado, mais bonito, e os garotos fazem mais músculos.

Dieta e vida sedentária. Como essas coisas influenciam a obesidade infantil?

Trabalhos que constam da literatura e uma avaliação feita no Hospital das Clínicas mostram que mais de quatro horas de TV por dia estão associadas à obesidade das crianças. Chegamos a esse dado no ambulatório do HC, avaliando 240 crianças por seis meses, mensalmente, e depois a cada seis meses ou com frequência maior conforme a necessidade.

Nesse programa de acompanhamento, verificamos que certas crianças passam dez horas por dia assistindo à televisão, mais algumas horas dormindo e outras sentadas na escola. Isso nos permite concluir que o aumento da obesidade nos dias atuais não se deve aos genes, pois não houve tempo para eles se modificarem nos últimos quarenta anos.
Na verdade, nossa propensão genética para a obesidade encontrou ambiente favorável nos erros alimentares associados ao sedentarismo da vida moderna.

Hoje está claro quais são os alimentos que fazem ganhar peso e quais são os menos calóricos. As crianças têm preferência pelos sabores mais básicos conferidos pelo açúcar e pela gordura. O ideal seria que comessem saladas e outros vegetais, mas não é fácil convencê-las.
Como fazer para incluir esses alimentos que detestam na sua dieta?
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É muito difícil. Eu particularmente não gosto do termo dieta, porque introduzir a restrição alimentar é dar o primeiro passo para a obesidade. A criança, o jovem e também o adulto devem fazer refeições saudáveis, balanceadas e comer quando têm fome.
O primordial é orientar a criança, obesa ou não, a respeito do que é uma boa refeição.
Na nossa terra, é arroz, feijão, bife, saladinha de alface e de tomate.

Raríssimas crianças com três ou quatro anos comem verdura, mesmo que os pais o façam com regularidade. Como já foi dito, a palatabilidade dos alimentos é dada essencialmente pelo açúcar e pela gordura.
As papilas gustativas distribuídas na nossa língua e em todo o trato digestivo (temos papilas gustativas até nos intestinos) não são muito exacerbadas pela verdura, mas a mãe deve insistir, sem forçar, que a criança pelo menos experimente um pouquinho todos os dias.
É um longo aprendizado.
Nós aprendemos a gostar de doce, quando colocaram açúcar em nossa mamadeira.

Em que consiste o tratamento para a obesidade infantil?

É preciso pensar antes nas comorbidades, ou seja, nas complicações que a obesidade traz. Portanto, o médico deve verificar quanto o excesso de peso está atrapalhando a saúde da criança.
No programa que desenvolvemos no HC, 40% das crianças obesas têm hipercolesterolemia, isto é, níveis de colesterol elevados, e 30% têm HDL baixo (o bom colesterol que protege o coração) e triglicérides alto.
É preciso pensar que, quando se fala em 40%, estamos nos referindo a praticamente metade das crianças obesas com problemas de saúde associados à obesidade.

Estudo realizado com crianças americanas obesas que faleceram de morte acidental demonstrou que, feita a autópsia, foram encontradas placas, ou seja, depósitos de gordura na aorta e nas coronárias.
Esse é um dado alarmante, porque sugere que crianças com hipercolesterolemia poderão não chegar aos quarenta ou cinquenta anos sem problemas cardiovasculares.
Provavelmente, sofrerão infartos bem mais jovens.

Outro achado importante ocorreu tanto nos Estados Unidos como no Brasil. No passado, a maior parte das crianças desenvolvia diabetes do tipo I e só 3%, diabetes do tipo II. Hoje, 50% desenvolvem a doença imunológica por falta de insulina (o tipo I) e 50%, diabetes tipo II ligado à resistência à insulina (o tipo mais encontrado nos adultos).

Não faz muito tempo que se descobriu que o tecido gorduroso é uma glândula ativa e não um tecido inerte.

O tecido adiposo produz muitos hormônios. Antigamente se achava que a gordura era órgão de estoque e não servia para mais nada. Hoje se sabe que é a maior glândula que temos. Produz o TNF (Fator de Necrose Tumoral), a leptina, as interleucinas, peptídeos que vão contra a ação da insulina.
Quando o indivíduo começa a engordar, a produção de insulina aumenta para controlar níveis mais elevados de açúcar.
Insulina alta acarreta efeitos deletérios, como a vasoconstrição e a hipertensão.
Todos esses distúrbios acometem as crianças obesas e precisam ser controlados.

Quais são os resultados do tratamento para crianças obesas?

Os resultados são interessantes. O tratamento da criança obesa começa pela modificação dos hábitos alimentares da família. Ninguém faz regime sozinho numa casa, muito menos uma criança. Não adianta a mãe dizer que bolacha recheada que está no armário é para o irmão, que é muito magrinho. O tratamento inclui a família inteira.
É pai, mãe, irmãos, todos comendo o mesmo tipo de alimentação saudável.

Segundo ponto: o tratamento baseia-se num conceito de boa alimentação. Não se fazem restrições alimentares e a criança nunca deve comer menos de 1800 calorias diárias, embora esteja demonstrado que muitas comem por dia 60% a mais do que necessitam. Do cardápio do almoço e do jantar, devem constar um pouco de arroz e de feijão, um bom bife e salada.
No meio da tarde, café com leite desnatado.

Terceiro ponto: é importante incentivar ao máximo a prática de atividade física aeróbica – nadar, correr, andar de bicicleta, andar – pelo menos três vezes por semana, no mínimo por uma hora. De preferência, a criança obesa não deve participar de atividades esportivas em grupo.
Num jogo de futebol, como não consegue correr com a ligeireza do magrinho, vai ser colocada no gol onde se mexerá pouco.

É obvio que sem a dieta, o exercício físico não ajuda a emagrecer, mas a atividade física aeróbica, frequente e feita com regularidade, é muito importante nos casos de obesidade.

Nas famílias, quais são os erros alimentares que conduzem as crianças ao excesso de peso?

Os parâmetros mais frequentes que se observam no Hospital das Clínicas e que levam as crianças a perderam a sensação de saciedade são dois.

Primeiro: a criança faz uma refeição por dia, isto é, come o dia inteiro. Em geral, as mães trabalham fora, a criança chega da escola, senta em frente da televisão e come por comer, sem fome. Não existem refeições organizadas em períodos estabelecidos.
O outro é a hiperfagia, ou seja, a criança ingere quantidades enormes de alimentos em cada refeição.

Que alimentos a mãe deve esquecer que existem quando faz as compras no supermercado porque só engordam? E quais deve comprar?

Uma família de quatro pessoas deve utilizar uma lata, uma lata e meia de óleo por mês. Isso significa restrição de frituras. Já gastou uma lata e meia, não pode fritar mais nada naquele mês.
 A refeição das crianças deve conter carboidratos (arroz e feijão), proteínas (carne, frango ou peixe de preferência assados ou cozidos para evitar o uso de óleo), verduras (tomate, alface, pepino), frutas.

Outro alimento imprescindível é o leite. Muitas crianças, porém, trocam o leite por refrigerantes e sucos e não tomam sequer um copo por dia. Criança pequena tem que ingerir por volta de um grama, 1,2 grama de cálcio diárias, o que corresponde a quatro porções de leite ou derivados (queijo, iogurtes).

Não há necessidade de ser leite integral. Para desengordurar o leite, basta batê-lo no liquidificador e tirar a espuma ou fervê-lo e tirar a nata que se formou. Há estudos que mostram a associação de maior ingestão de leite e menor peso em certas populações.

Muitas refeições das crianças são ricas em gordura saturada. Você poderia explicar que tipo de gordura é esse?

São as gorduras derivadas de animais, contidas na carne, linguiça, salsicha, por exemplo. As salsichas, que as crianças amam, especialmente as vendidas na porta das escolas com batatinha frita, purê, maionese, etc., podem ser gostosas, mas não têm grande valor nutritivo.

Como evitar que as crianças prefiram essas comidas “junkie”, como as batatinhas, bolachas recheadas e salgadinhos?

Essas comidas fazem parte da nossa civilização. Não adianta proibir. A criança pode comer, mas de vez em quando. É impossível alguém falar que nunca mais na vida vai comer batata frita. O problema é comer todos os dias.
O hot dog ou o hambúrguer comido no dogueiro da porta da escola ou na lanchonete da esquina são ricos em valor calórico e, às vezes, pobres em valor nutritivo.

Os 10 mandamentos da lancheira saudável

A Organização Mundial da Saúde alerta: existem cerca de 40 milhões de crianças com sobrepeso ou obesidade no mundo. A nutricionista Rebecca Isaac, da rede educacional Grupo A, frisa que a responsabilidade para uma alimentação saudável dos pequenos também é dos pais. O momento de preparo do lanche da escola, portanto, é muito importante.
Os pais devem envolver os filhos no processo para que se torne hábito escolher alimentos mais saudáveis em vez dos industrializados.
A seguir, Rebecca lista 10 mandamentos para auxiliar a tarefa de montar a lancheira.

– Cada lanche deve ter uma fruta. As da estação são excelentes opções, pois são frescas e têm preço menor.

– Carboidratos como pão, bolo, biscoito, polvilho e cookies devem ser integrais.

– Os recheios devem ser simples e em pouca quantidade, só para “sujar” o pão. A sugestão é usar manteiga de tablete, geleia sem açúcar, iogurte ou coalhada, ganache de chocolate caseiro etc.

– Água é sempre a melhor opção. Quando não for possível, prefira sempre os sucos naturais. Os de caixinha contêm açúcar, sódio e conservantes.

– Se for preciso adoçar o suco, faça com açúcar demerara.

– Evite produtos industrializados. Quando tiver que optar por esses produtos, fique de olho nos rótulos e escolha aquele com menor quantidade de aditivos químicos (como corantes, conservantes, aromatizantes e glutamato monossódico).

– Faça doces com frutas. Eles imitam os petit suisses e são naturais e nutritivos. Mousse de banana ou abacate com manga, pera e uva são ótimas opções.

– Quando a criança quiser um doce, faça um caseiro. Algumas boas opções são gelatina incolor com suco de fruta, ganache de chocolate, bolo molhado com leite de coco ou suco de fruta e chocolate amargo.

– Os embutidos (mortadela, salame, salsicha, presunto, peito de peru) não fazem parte de uma alimentação saudável e não devem estar na lancheira das crianças.

– Não deixe que personagens de desenhos animados “comandem” a alimentação da criança. Normalmente, esses produtos são os mais carregados de aditivos.

Tipos de açúcares

Pensar em doce nos remete automaticamente a um de seus principais personagens: o açúcar. Ingrediente fundamental na maioria das sobremesas, o item esconde muitos fatores importantes para uma experiência gastronômica perfeita. É quase uma ciência. vale conhecer mais sobre o assunto:

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoDe confeiteiro: Tem cristais tão finos que mais parecem talco de bebê. Excelente para fazer glacês e coberturas. O segredo é o refinamento sofisticado, que inclui uma peneiragem para obter os minicristais e a adição de amido de arroz, milho ou fosfato de cálcio para evitar que os minicristais se juntem novamente

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoOrgânico: É diferente de todos os outros tipos porque não utiliza ingredientes artificiais em nenhuma etapa do ciclo de produção, do plantio à industrialização. O açúcar orgânico é mais caro, mais grosso e mais escuro que o refinado, mas tem o mesmo poder do adoçante

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoLight: Surge da combinação do açúcar refinado com adoçantes artificiais, como o aspartame, o ciclamato e a sacarina, que quadruplicam o poder de adoçar. Um cafezinho só precisa de 2 gramas de açúcar light para ficar doce, contra 6 gramas de açúcar comum.
Por isso, que quem consome o açúcar light ingere menos calorias.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoLíquido invertido: Também conhecido como xarope invertido, facilita alguns preparos por estar em estado líquido. É uma variedade formada por uma parte de frutose, uma parte de glicose e uma de sacarose e, por ser um adoçante natural, é um conservante poderoso. É obtido pela dissolução do açúcar refinado em água.
Usado em bebidas gasosas, balas e doces, o açúcar líquido não é vendido em supermercados.
Uma das vantagens é que ele não precisa ser estocado em sacos, diminuindo o risco de contaminação com poeira e microrganismos.
 Frequentemente usado na indústria alimentícia, também pode atuar em receitas que precisem de texturas mais agradáveis, como quindins e bombons.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoFrutose: É o açúcar extraído das frutas e do milho. Sem precisar de nenhum aditivo, frutose é cerca de 33% mais doce que o açúcar comum, mas ela engorda sem oferecer uma vitaminazinha sequer. A maior parte da frutose vendida no Brasil é importada e tem preços meio amargos.

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoRefinado: Também conhecido como açúcar branco, é o açúcar mais comum nos supermercados. No refinamento, aditivos químicos como o enxofre tornam o produto branco e delicioso. O lado ruim é que esse processo retira vitaminas e sais minerais, deixando apenas as “calorias vazias” (sem nutrientes)

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoMascavo: É o açúcar bruto, escuro e úmido, extraído depois do cozimento do caldo de cana. Como o açúcar mascavo não passa pela etapa de refinamento, ele conserva o cálcio, o ferro e os sais mineirais. Mas seu gosto, bem parecido com o do caldo de cana, desagrada a algumas pessoas

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoCristal: É o açúcar com cristais grandes e transparentes, difíceis de serem dissolvidos em água. Depois do cozimento, ele passa apenas por um refinamento leve, que retira “só” 90% dos sais mineirais. Por ser econômico e render bastante, o açúcar cristal sempre aparece nas receitas de bolos e doces

Obesidade infantil: crianças estão cada vez mais acima do pesoDemerara: Também usada no preparo de doces, esse açúcar de nome estranho é um dos tipos mais caros. Ele passa por um refinamento leve e não recebe nenhum aditivo químico. Por isso, seus grãos são marrom-claros e têm valores nutricionais altos, parecidos com os do açúcar mascavo.

Veja o vídeo abaixo, onde médicos falam sobre os problemas da obesidade:

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