Teste de sangue para detectar Alzheimer está próximo da realidade

Exame poderá detectar a doença na fase inicial.
 Pesquisadores da Faculdade de Medicina Osteopática da Universidade de Rowan, nos Estados Unidos, afirmam que estão perto de desenvolver um exame de sangue para detectar Alzheimer com precisão, o que daria aos médicos uma oportunidade de intervir na fase inicial da doença, o estágio em que é mais fácil tratá-la.
Robert Nagele (foto abaixo), pesquisador da instituição, apresentou recentemente, durante encontro da Associação Americana de Osteopatia, um trabalho que foca a utilização de anticorpos produzidos pelo organismo como biomarcadores para a enfermidade.

A esperança é que as pessoas testadas positivamente para o Alzheimer possam promover mudanças no estilo de vida que ajudem a frear o desenvolvimento do problema neurodegenerativo. “Há benefícios significativos na detecção precoce. Sabemos que muitas condições que levam à doença vascular também são fatores de risco para o Alzheimer.
As pessoas que têm a doença pré-clínica podem tomar medidas para melhorar a saúde vascular, incluindo o cuidado com a dieta, a prática de exercícios físicos e o controle de peso e da pressão arterial, o que ajuda a retardar a progressão do mal”, observa.

Embora a causa da doença continue um mistério, sabe-se que manter uma barreira sangue-cérebro saudável é uma medida preventiva crítica. Diabetes, colesterol alto, pressão arterial alta, derrames e sobrepeso/obesidade colocam em risco a saúde vascular.
À medida que os vasos sanguíneos no cérebro se enfraquecem e se tornam quebradiços com a idade, eles começam a se romper, o que permite a entrada, no órgão, de componentes do plasma, incluindo autoanticorpos cérebro-reativos.
Dentro do cérebro, esses anticorpos podem se ligar a neurônios e acelerar o acúmulo de depósitos beta amiloides, uma forte marca da patologia de Alzheimer.

Nessa enfermidade neurodegenerativa, o cérebro começa a mudar muitos anos antes de os sintomas emergirem. Detectar os anticorpos nesse estágio poderia dar aos pacientes a oportunidade de adotar intervenções precoces. “Um estilo de vida saudável é o melhor remédio para prevenir doenças.
Sabemos que muitas pessoas ignoram mensagens sobre nutrição e atividades físicas até que uma crise de saúde chame a atenção delas.
Não consigo imaginar um paciente que não tomaria as medidas para prevenir a progressão do Alzheimer se soubesse que isso afetaria diretamente o prognóstico”, observa Jennifer Caudle, professora de medicina de família da Universidade de Rowan.

Especialistas alertam para importância do diagnóstico precoce do Alzheimer

Segundo o geriatra e diretor científico da Abraz-DF, Otávio Castello, a doença, que na maioria das vezes se manifesta a partir dos 60 anos, não tem cura conhecida.
É progressiva e faz com que a pessoa perca gradualmente a memória, a capacidade de orientar-se no tempo e no espaço, além de trazer dificuldades de comunicação, raciocínio lógico e alterações comportamentais.

Atualmente, estima-se que no Brasil cerca de 1.2 milhão de pessoas sofram de Alzheimer, mas só a metade está diagnosticada. “Quanto mais cedo se diagnosticar, mais cedo se consegue tratar e mais cedo se posterga os problemas que a doença acarreta para as pessoas”, alerta o especialista.
Para combater a desinformação e o preconceito, considerados os maiores desafios para o tratamento da doença, a roda de conversa deste domingo envolveu, além dos idosos, cuidadores e familiares.

Segundo Castello, a baixa escolaridade e a falta de estimulação cognitiva na meia idade estão entre os fatores de risco para a doença. “Tudo o que faz bem para o coração, faz bem para o cérebro.
Controlar pressão alta, diabetes, colesterol, não ter obesidade, praticar regularmente atividade física, ter alimentação balanceada e saudável podem ser fatores de proteção ou de risco, no caso de quem não faz nada disso”, observa o médico.

Sintomas

Os especialistas recomendam prestar atenção a sinais da doença. A pessoa com Alzheimer passa a ter comprometimento de atividades recentes. O paciente fica repetitivo, não sabe onde guardou objetos, esquece compromissos e atrapalha-se em trajetos que antes lhe eram familiares.

“Se comprometer a função cotidiana de uma pessoa que sempre foi organizada para pagar suas contas e, de repente, começa a se desorganizar frequentemente ou começa a esquecer compromissos, repete histórias como não tivesse contado antes, isso merece atenção”, diz. “O mais importante é comparar o individuo com ele mesmo.
Se isso for um padrão frequente, merece uma avaliação por um neurologista ou geriatra”, orienta Otávio Castello.

Doença cara

Segundo o médico, de 1950 a 2050, o número de idosos na população vai quadruplicar. “Estatísticas claras dão conta que hoje a doença custa US$ 800 bilhões por ano em todo o mundo. Em 2018, o prejuízo passará de US$ 1 trilhão por ano.
Se o Alzheimer fosse uma empresa, valeria mais que Google e Apple, atualmente as companhias mais valiosas do mundo”, compara o geriatra, ressaltando a importância do diagnóstico precoce.