Avanço do Alzheimer é mais rápido nas mulheres
Pesquisa feita nos EUA conclui que a atrofia cerebral aparece primeiro em pacientes do sexo feminino. A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novas drogas. Passados mais de 100 anos desde que foi descrito, o mal de Alzheimer ainda desafia a medicina, que, apesar de avanços nas últimas décadas, não decifrou por completo a doença degenerativa, caracterizada pela morte gradual dos neurônios. Uma das particularidades desse tipo de demência é a diferença entre gêneros. Estudos epidemiológicos e pesquisas baseadas em exames de imagem mostram que os danos aparecem primeiramente nas mulheres, que sofrem maior perda de massa cinzenta do que os homens. O trabalho mais recente sobre a variação da doença de acordo com o sexo foi apresentado na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte.Todos os participantes do estudo de Spampinato apresentavam sinais de transtorno cognitivo leve, condição na qual ainda não existe a demência e as funções cognitivas estão preservadas. Contudo, os pacientes já sofrem problemas de memória. O transtorno é considerado um dos mais fortes fatores de risco para o Alzheimer. Durante cinco anos, foram realizados mapeamentos cerebrais de 60 homens e 49 mulheres, com média de idade de 77 anos, por meio de exames de ressonância magnética periódicos.
Caso o resultado do nosso estudo seja replicado, e já estamos trabalhando na ampliação da amostra, ele pode ter fortes implicações no desenvolvimento de futuros medicamentos. Não podemos dizer agora se as drogas deveriam ter diferentes formulações; acredito que esse não seja o caso, mas a decisão de quanto e quando administrá-las poderá ser influenciada pelo gênero do paciente”, defende.
Influência genética
Ainda não se sabe por que o Alzheimer destrói a massa cinzenta das mulheres antes de começar a danificar os neurônios dos homens. Para um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, parte do problema pode ser explicada por uma variante genética já associada anteriormente à doença.Eles descobriram que a mutação do gene ApoE4 interrompe o funcionamento normal do cérebro de mulheres idosas e saudáveis, mas em homens nas mesmas condições ele tem um impacto pouco significativo. Mulheres que carregam a variante apresentam padrões neurodegenerativos muito antes que qualquer outro sintoma se manifeste, segundo os médicos de Stanford. Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que tanto homens quanto mulheres que herdam duas cópias do gene mutante – uma probabilidade pequena, que afeta apenas 2% da população – têm grande risco de desenvolver Alzheimer. Mesmo nesse grupo, porém, as mulheres estão mais propensas a apresentarem sinais da doença do que os homens.
Os pesquisadores descobriram isso por meio de amostras do líquido cerebrospinal, um fluido que é transportado do cérebro à espinha medular.
Punções lombares em mulheres com duas cópias do ApoE4 revelaram um elevado nível da proteína tau, implicada com o desenvolvimento da doença (veja infográfico). Além disso, exames de imagem revelaram uma atividade cerebral anormal. Nos homens, mesmo que portadores da variante, nada disso ocorreu.
“É verdade que mulheres vivem mais, e que a idade avançada é o maior risco para a doença, mas a disparidade de gêneros persiste mesmo se você fizer ajustes de longevidade.
Acreditamos que por trás disso pode estar o impacto do ApoE4, o que, no futuro, é capaz de ser um fator importante para terapias gênicas”, afirma.
“Cada vez mais, reforça-se a ideia de que as lesões cerebrais relacionadas ao Alzheimer surgem antes nas mulheres.
As manifestações clínicas do distúrbio não apenas aparecem mais cedo, como são mais severas nos primeiros anos”, afirma Lisa L. Barnes, pesquisadora do Centro Rush de Controle do Alzheimer, em Chicago.
“Há várias linhas de pesquisa indicando fatores de risco, como variantes genéticas ou falta de algum fator protetivo, como o estrógeno, que fica deficiente depois da menopausa. Todas essas questões merecem estudos aprofundados, pois, ao entender como a patologia do Alzheimer e de outras demências diferem em homens e mulheres, poderemos compreender melhor a doença e mesmo desenvolver estratégias mais específicas e direcionadas de prevenção”, acredita.