Câncer de ovário: primeiro passo para o diagnóstico é lembrar que a doença existe
Assassino silencioso: 75% dos diagnósticos acontecem em estágio avançado da doença e, por isso, é alta a taxa de mortalidade. O câncer de ovário é mais comum em mulheres acima de 40 anos.
O câncer de ovário não é uma doença rara, ao contrário do que muita gente pensa. Ele é apenas menos comum que o de mama e o de colo de útero, por exemplo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que 250 mil novos casos surjam anualmente no mundo e a estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para 2014 no Brasil é de 5.680 novos casos.
Por outro lado, é a neoplasia ginecológica mais letal: 140 mil mulheres morrem a cada ano.
O que é importante saber sobre a doença de diagnóstico difícil e que, nos Estados Unidos, é chamada de ‘assassino silencioso’? No Dia Mundial do Combate ao Câncer de Ovário, o Saúde Plena conversou com a oncologista Angélica Nogueira para alertar a população feminina sobre os primeiros sinais e sintomas da doença.
Informação é a estratégia fundamental para favorecer o diagnóstico precoce, ampliar as chances de cura e aumentar a taxa de sobrevida com a garantia da qualidade de vida.
Para se ter uma ideia do quão difícil é detectar esse tumor ginecológico, 3/4 dos cânceres no ovário já estão em estágio avançado quando acontece o diagnóstico. “A alta mortalidade está diretamente relacionada à dificuldade em se diagnosticar a doença.
O ovário tem espaço para crescimento e esse aumento de volume acontece de forma indolor, a mulher não sente.
Entre o início da doença e o aparecimento dos sintomas podem se passar meses”, alerta.
Outra dificuldade, segundo a médica, é que esses sintomas são inespecíficos. “Não é como o câncer de útero que a mulher sangra. São sinais que se confundem com outras doenças”, diz. Por essa razão, conhecer os sintomas é extremamente importante.
“A partir do momento que as mulheres têm a informação e se conscientizam da gravidade do câncer de ovário, elas podem ajudar médicos a detectarem a doença”, afirma.
A recomendação é: sentiu que alguma coisa está fora do habitual, é importante dar ênfase à queixa.
“A forma como a paciente relata os sintomas influencia no retorno do especialista.
É importante dizer, por exemplo, que o corpo nunca funcionou daquela maneira”, sugere Angélica Nogueira.
Os sintomas do câncer de ovário são:
- Aumento do volume abdominal/inchaço contínuo
- Dificuldade de comer/sensação de saciedade/falta de apetite/sensação de empanzinamento/digestão lenta
- Dor abdominal ou pélvica
- Dor na bexiga e necessidade frequente e urgente de urinar
- Menstruação desregulada
- Alteração no hábito do intestino
- Náusea
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Fatores que aumentam a propensão à doença:
- Idade avançada
- Obesidade
- Utilização de medicação para estimular a fertilidade
- Histórico familiar
“É muito comum que esteja errado o primeiro diagnóstico que a mulher recebe. Os sintomas são geralmente confundidos com outras doenças ginecológicas, do trato urinário ou gastrointestinais”, explica a oncologista. É importante ter em mente, entretanto, que um sinal isolado não é motivo para alarde.
Segundo Angélica Nogueira, os indícios precisam ser persistentes em pelo menos uma semana.
Identificação do tumor
“O primeiro passo para diagnosticar o câncer de ovário é lembrar da doença. E isso vale tanto para o paciente quanto para o médico. Geralmente, se de boa qualidade, um exame de imagem – ultrasson, tomografia ou ressonância magnética – pode gerar a suspeição do diagnóstico”, pontua a oncologista.
Em seguida, um exame de sangue pode ajudar a fortalecer a suspeita. Geralmente, de acordo com a Angélica Nogueira, a maioria das pacientes com câncer de ovário tem o CA-125 aumentando. “O CA-125 é um marcador tumoral”, explica.
Só que o diagnóstico conclusivo vem com a biópsia. “Idealmente deveria ser feita por um ginecologista oncológico porque em caso positivo a cirurgia é realizada no momento que o tumor é confirmado”, reforça.
Rastreamento da doença
Ao contrário do câncer de mama e do câncer de colo de útero que têm protocolos consolidados de rastreamento da doença – como a mamografia e o papanicolau respectivamente -, no caso do de ovário, segundo Angélica, nenhum método testado se mostrou eficaz.
“O que os estudos dizem é que fazer de rotina exames seriados de imagem ou de CA-125 não reduz a mortalidade populacional”, explica a oncologista.
No entanto, a especialista afirma que três estudos internacionais com mais de 100 mil mulheres em cada um deles estão sendo realizados neste momento e que a expectativa é de resultados promissores para que seja desenvolvido um método de rastreamento do câncer de ovário.
Entre 10 e 15% dos casos da doença são de origem hereditária. “A origem familial deve ser motivo de atenção.
Mulheres que têm histórico familiar de casos repetidos de mama e/ou ovário, história de câncer de mama bilateral em um indivíduo da família e homem na família com câncer de mama devem se atentar para a síndrome do câncer hereditário”, salienta Angélica.
Para ela, se a mulher se enquadra em alguma dessas situações, a paciente deve procurar a avaliação de algum oncologista ou oncogeneticista. “Se a paciente se encaixa nesse grupo, há benefício de se fazer o CA-125 e exames de imagens intercalados a cada seis meses.
Estudos mostram, que, nesses casos, o rastreamento tem impacto significativo na redução da mortalidade por câncer de ovário e mama”, diz a médica.
Dentro desse grupo, ela também indica o teste para verificar a mutação de gens BRCA, como é o caso de Angelina Jolie.
“O National Comprehensive Cancer Network (NCCN), importante órgão dos Estados Unidos que orienta condutas médicas, indica que toda paciente com câncer epitelial de ovário seja submetida à testagem da mutação em BRCA devido ao grande impacto positivo para a própria paciente e para a família dela”, reforça Angélica.
A médica diz que essa é uma determinação recente que ainda não é de conhecimento de toda a comunidade médica brasileira.
Avanços
O câncer de ovário é tema de intenso foco de estudo mundo afora tanto para o desenvolvimento de métodos eficazes de rastreamento que diminua a taxa de mortalidade quanto de pesquisas focadas em tratamentos. Angélica Nogueira diz que novas medicações estão sendo lançadas.
No Brasil, a Anvisa aprovou a entrada de um medicamento (o bevacizumabe) que é um inibidor da formação de novos vasos sanguíneos e seria um tratamento alternativo à cirurgia e quimioterapia convencional.
“Estudos sobre esses novos medicamentos mostraram bons resultados de sobrevida livre de progressão da doença e melhora da qualidade de vida no estágio inicial, recidivado e avançado”, diz Angélica.
A taxa de sobrevida é de cinco anos entre 60 e 70% dos casos com o tratamento habitual. No entanto, a boa notícia, segundo a especialista, é que pacientes recém-diagnosticados já se beneficiarão das novas tecnologias que estão sento incorporadas ao tratamento. “A quimioterapia é muito efetiva na primeira fase da doença.
A maioria das mulheres já apresentam resposta no tratamento inicial.
Se diagnostica em estágio precoce, a combinação cirurgia e quimioterapia cura 30% delas”, diz.
Câncer de ovário do tipo epitelial é mais comum em mulheres acima de 40 anos. Nas mais jovens, os tumores são do tipo germinativos e, nesses casos, é mais fácil preservar um dos ovários. “A maioria dos casos de câncer de ovário é do tipo epitelial e, nessa condição, é preciso retirar os dois ovários na maioria das pacientes”, reforça a médica.
Por aqui, está sendo criado o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), do qual a médica Angélica Nogueira é a presidente. INCA, UFMG e ICESP são algumas das instituições que fazem parte do EVA.
“A intenção é divulgar as formas de prevenção e de tratamento e realizar pesquisas de câncer ginecológico na população brasileira sul-americana”, resume a presidente.
Cuidado redobrado
O fato é que muitas mulheres não tiveram sintoma algum e descobriram a neoplasia em exames de rotina. Então, é fundamental visitar o ginecologista periodicamente. Nunca é demais relembrar: a mulher tem que estar atenta às alterações que acometem o seu corpo e nunca tardar em buscar um médico ao perceber um sintoma atípico.
Uma informação equivocada muito comum entre a população a respeito do câncer de ovário, é que o exame de Papanicolaou (usado para a detecção do câncer de colo-de-útero) serve para a prevenção deste tipo de câncer. Isso não é verdade: ele detecta apenas as alterações pré-cancerosas nas células do colo do útero.
Câncer de ovário deve atingir 5,6 mil mulheres em 2014 no Brasil
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica faz um alerta: a doença é silenciosa e pode atingir mulheres de todas as idades – inclusive as mais novas. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é que o país registre 5.680 novos casos apenas em 2014.
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Evânius Wiermann, explica que não existe uma causa específica para o câncer de ovário. “Basta ser mulher”, acrescentou.
Os sintomas da doença incluem aumento do volume abdominal com inchaço contínuo; dificuldade de comer ou sensação de estar cheia; dor abdominal ou pélvica; e necessidade urgente e frequente de urinar.
O Inca classifica a doença como o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e de menor chance de cura, já que cerca de 75% dos casos se apresentam em estágio avançado no momento do diagnóstico.
“O problema é que se trata de uma doença interna – diferentemente do câncer de mama, que faz um nódulo, e do câncer de pele, que faz uma pinta”, explicou Wiermann.
A recomendação do instituto é que as mulheres fiquem atentas aos fatores de risco e consultem o médico regularmente, principalmente as que têm mais de 50 anos. O histórico familiar é o fator de risco isolado mais importante.
Cerca de 10% dos casos apresentam componente genético ou familiar, e 90% são esporádicos, isto é, sem fator de risco conhecido.
Fatores hormonais, ambientais e genéticos também estão relacionados com o aparecimento do câncer de ovário.
Além disso, segundo ele, existem vários subtipos do câncer de ovário. A maioria dos tumores são carcinomas epiteliais (câncer que se inicia nas células da superfície do órgão), mas há também tumores malignos de células germinativas (que dão origem aos espermatozoides e aos ovócitos).