Diabetes: Brasil supera expectativa prevista somente para 2030

Brasil tem 13,4 milhões de diabéticos e supera expectativa para 2030. Pesquisa do Ibope para a Sociedade Brasileira de Diabetes foi divulgada nesta terça-feira (22/10). As previsões feitas há dois anos para 2030, quando se esperava ter, daqui a 17 anos, 12,7 milhões de diabéticos.

Os hábitos alimentares inadequados, a falta de atividade física e o tabagismo estão fazendo o exército de diabéticos aumentar em proporções epidêmicas no Brasil. O número de pessoas que têm a doença no país já supera, inclusive, as previsões feitas há dois anos para 2030, quando se esperava ter, daqui a 17 anos, 12,7 milhões de diabéticos.
Enquanto em 2010 o total de doentes era de 7,6 milhões, atualmente o cenário é bem pior: 13,4 milhões de brasileiros já desenvolveram a doença, 90% deles com a forma do problema que tem relação direta com o estilo de vida, o chamado diabetes tipo 2.

Além de não relacionarem as práticas saudáveis de alimentação e estilo de vida ao controle da doença, os brasileiros seguem o caminho do desconhecimento. A grande maioria, 87%, ainda acredita que evitar muito açúcar é a principal forma de prevenção e 23% nem mesmo fizeram algum teste na vida para um diagnóstico.
Entre os que se arriscam a classificar a doença, um terço não sabe identificar qual tipo de diabetes tem.

Os dados são da pesquisa “Diabetes: mude seus hábitos”, que mostra a percepção dos brasileiros sobre o impacto causado pela doença e os seus riscos à saúde. No estudo divulgado nesta terça feira pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 1.
106 pessoas foram entrevistadas em setembro nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre.
Entre o universo, 9% delas se declararam diabéticas, número inferior à média nacional que é de 12%.
Entre o total dos entrevistados, 48% tinham entre 18 e 39 anos; e 52%, acima de 40 anos.
Do universo ouvido, 46% eram homens; e 54% mulheres.
Em termos de escolaridade, 22% dos entrevistados tinham até a quarta série do ensino fundamental; 19% da quinta à oitava série do ensino fundamental; 38% do ensino médio; e 22% tinham ensino superior.

Com o cenário atual, o Brasil saltou uma posição e passou de quinto para o quarto país do mundo em número de diabéticos, atrás apenas da China (92,3 milhões), da Índia (62 milhões) e dos Estados Unidos (26,1 milhões)”.O diabetes está em expansão no mundo todo.
E a população doente pode ser ainda maior já que muitos ainda não têm o diagnóstico”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Balduino Tschiedel.
Ele alerta para a necessidade de mudança de vida tanto para quem tem a doença, quanto para quem é saudável.
 “As pessoas ainda não se deram conta de que a mudança do estilo de vida é o grande instrumento para prevenção e controle”, diz.
Dados da SBD mostram esse quadro.
Pelo menos 80% dos diabéticos tipo 2 têm sobrepeso ou obesidade.
Entre esses, apenas 26,8% estão com a doença controlada.
No tipo 1, quando a enfermidade é detectada na infância ou na adolescência por insuficiência na produção de insulina, 10,4% mantêm os índices de glicose controlados.
É com o comportamento à mesa e com o incentivo à malhação que a campanha quer trabalhar”.
Queremos chacoalhar as pessoas para o fato de que atividade física regular, a alimentação balanceada e a interrupção do fumo são alguns dos fatores primordiais para prevenção do diabetes”, garante o vice-presidente da SBD, o endocrinologista Luiz Turatti.
De acordo com a pesquisa, 72% dos entrevistados não relacionaram o tabagismo como um dos fatores de risco para o diabetes ou mesmo para o agravamento da doença, sendo que 28% do total afirmaram fumar.
Quando questionados sobre atividades físicas, a maioria deles afirmou não praticar: 60% responderam não fazer ao menos 30 minutos de atividades físicas diárias, incluindo as atividades durante o tempo livre ou no trabalho; 18% garantiram praticar exercícios todos os dias da semana; 14% de uma a três vezes; 7%, de quatro a seis dias na semana.
E só 28% deles fizeram ligação da prática regular de atividade física com o controle da doença.

Entre os 1.106 abordados, 41% estavam no seu peso ideal; 32% com sobrepeso; 19% no quadro de obesidade (com índice de massa corporal maior ou igual a 30); 1% abaixo do peso ideal; 6% não souberam responder aos dados de altura e peso; e 2% se recusaram a responder. Os cálculos foram feitos com base nas respostas autodeclaradas dos entrevistados.

Ao serem perguntados sobre alimentação, 47% dos entrevistados responderam não ingerir frutas e vegetais diariamente. Eles foram levados a lembrar dos últimos sete dias e quantas vezes, nesse período, tinham consumido esses alimentos. Quatro porcento responderam não comer nem fruta nem vegetal nenhum dia da semana.

Conscientização

De agora até dezembro, a campanha vai levar informações sobre diabetes em aeroportos, estações de metrô e em pecas publicitárias em ônibus. “Além de informar, queremos desmitificar a doença e mostrar como é possível tratá-la com a dobradinha medicamentos e vida saudável.
Não é preciso ter medo do diabetes e sim saber conviver com o problema”, afirma Luiz Turatti.

Ao contratar a pesquisa ao Ibope, a Sociedade Brasileira de Diabetes quis avaliar o quanto a população de fato já entende da doença, que atualmente mata mais que o trânsito e quatro vezes mais que a Aids. Entre 2000 e 2010, o diabetes matou mais de 470 mil pessoas no país. Turatti chama atenção ainda para a precocidade da doença.
“Entre os diabéticos, a grande maioria está nas faixas acima de 40 anos.
Mas, vale lembrar, que esse cenário está mudando rapidamente.
No Brasil, o número de portadores de diabetes mais jovens, dos 30 aos 40 anos, vem aumentando a cada ano”, afirma o endocrinologista.

Resistência

Apesar de ser clara a certeza da gravidade da doença – 93% afirmaram que o diabetes pode levar à morte – ainda é grande a dificuldade de continuar o tratamento. Pela pesquisa do Ibope, 32% alegam que manter a dieta alimentar é o maior obstáculo para se ser firme no controle da glicemia.
Ter que furar o dedo para as medições do açúcar no sangue e fazer muitos exames vêm em segundo lugar para 25% dos entrevistados.
Ter que tomar o remédio para sempre (21%), e lembrar de tomar esse medicamento todos os dias (10%) também são barreiras apontados no estudo.

Além da resistência própria, o paciente ainda enfrenta outros problemas quando procura o tratamento. Do total de doentes, só 19% deles são tratados pelo profissional especializado, o endocrinologista. A grande maioria está nas mãos dos médicos generalistas (63%), dos cardiologistas (9%) e ginecologistas (4%).
Em 5% dos casos, os pacientes não se lembram ou não sabem informar a especialidade do médico que os atendem.

Saiba mais sobre a pesquisa:

Tratamento para diabetes está cada vez mais individualizado

Drogas para reduzir as doses de insulina, aplicativo para telefone que lê nível de glicose, além de exercícios e dieta para cada paciente. É a evolução da medicina e da tecnologia em busca de conforto para portadores da doença.

Uma visão mais centrada no paciente é a tendência no tratamento do diabetes e a esperança de um melhor controle da doença.
A chamada individualização do tratamento, que ganhou projeção no ano passado a partir do estabelecimento de metas de controle glicêmico para pacientes com diabetes tipo 2 baseadas em características individuais, foi novamente destaque no 73º Congresso da American Diabetes Association (ADA), encerrado na semana passada em Chicago.
As estratégias desse modo de tratar considera atitudes do paciente, riscos de hipoglicemia, duração da doença, expectativa de vida, comorbidades e complicações vasculares já estabelecidas.

A ideia é estabelecer metas terapêuticas – de hemoglobina glicada, glicemia de jejum e glicemias pré e pós-prandial, índices da atuação da glicose no organismo – para cada paciente em função da idade. Jovens não podem ser tratados como idosos, por exemplo.
Segundo Marcos Tambascia, coordenador do Centro de Pesquisa Clínica em Endocrinologia e Diabetes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já está provado que as complicações do diabetes estão relacionadas com o grau de controle e não com o fato de o paciente ter diabetes.
“O objetivo do tratamento do diabetes, então, é manter a hemoglobina glicada controlada.
Mas, quanto mais agressiva for a conduta para diminuir esses índices, maiores são os riscos de hipoglicemia, com impacto na qualidade de vida e risco cardiovascular.

Tal controle, contudo, não é fácil. Apenas 25% dos brasileiros com diabetes tipo 2 estão com a doença controlada. E segundo o especialista, como o diabetes tipo 2 está associado à hipertensão, dislipidemias e obesidade, tratar só a glicemia não vai ajudar.
“O tratamento começa com um medicamento e vai mudando conforme altera a fisiopatologia da doença.
Em geral, entramos com a metformina (remédio mais prescrito nos estágios iniciais do diabetes) e vamos acrescentando outras drogas até insulinizar.
Essa escolha é baseada na eficácia do medicamento, mas também nos impactos nos fatores de risco vascular do paciente”, acrescenta Tambascia.

É nesse contexto que uma classe recente de medicamentos ganha mais espaço pela sua capacidade de diminuir as hipoglicemias. Os análogos do GLP-1, todos eles injetáveis, têm conquistado mais pacientes, sendo usados em várias fases do tratamento, desde o diagnóstico até em casos mais complicados.
Segundo Marcos Tambascia, são de grande eficácia e levam à perda de peso.
Por essa última razão, acabaram sendo usados mesmo por não diabéticos assim que chegaram ao mercado.
A novidade dessa classe é a lixisenatida, o primeiro com dose única, já disponível na Europa e em fase de avaliação nos EUA e no Brasil.
“Nos estudos, a droga diminuiu em até 34% as complicações do diabetes”.
Quando chegar ao Brasil, o medicamento pode ser um recurso a mais para o mecânico Wanderle Cardozo, que descobriu a doença aos 48 anos.
Na época, a entrada da medicação foi imediata, mas como os horários de alimentação e a atividade física continuaram deficitários as doses de remédio eram altíssimas.
Hoje, ele sabe a importância de uma vida saudável.
 “Entendi que o remédio ajuda, mas tenho que combater a causa da doença, que é a má alimentação”, afirma Cardozo.
Atualmente com 57 anos, o trabalhador autônomo faz uso de insulina e controla o consumo de carboidratos diariamente, e espera reduzir ainda mais a medicação.

Monitoramento

Tão importante quanto a medicação, o plano alimentar e a atividade física ajudam a monitorar os níveis da glicemia. Esses são os pilares para o tratamento do diabetes e as medidas capazes de manter a doença sob controle e, assim, evitar as complicações.
Principalmente porque, clinicamente, o paciente só percebe a alteração da glicose quando essa está muito alta ou muito baixa, exatamente os extremos que devem ser evitados.
Com o progresso das insulinas, o que permitiu metas mais agressivas de controle, é ainda mais importante conferir a quantas anda a glicose ao longo do dia.

De acordo com o endocrinologista Mauro Scharf, coordenador do Departamento de Diabetes no Jovem da Sociedade Brasileira de Diabetes, a monitorização previne a hipoglicemia noturna e ajuda na tomada de decisões.
“Sem monitorização adequada não se consegue prescrever corretamente a insulina”, explica o especialista, segundo o qual a glicose deve ser medida antes de cada refeição e duas horas depois, para manter o paciente com a menor variabilidade glicêmica.

Em estudo

Depois do advento dos análogos do GLP-1, a classe médica aguarda as já anunciadas insulinas de longa duração. Os primeiros estudos clínicos da U300 demonstraram que o medicamento em fase III de pesquisa atingiu um efeito prolongado da glicose em comparação com a insulina glargina.
Independentemente da dose, o controle de glicose se manteve até 36 horas após a injeção.
Isso representaria uma redução do risco de alteração da glicose durante a noite.

Para atrair jovens

Pacientes com diabetes do tipo 1, que são dependentes de insulina, precisam ainda mais desse controle. E não basta medir. É preciso registrar os dados e compartilhar com o médico que acompanha o tratamento.
Daí a expectativa para chegar ao Brasil o dispositivo de monitoramento que pode ser acoplado ao iPhone, iPad e iPod touch, em breve disponível também para o sistema Android.

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Dispositivo que pode ser acoplado ao celular se torna um medidor de glicose. O valor para o Brasil ainda não foi definido, pois equipamento está em fase de importação. No exterior custa em torno de R$ 125. Fita com amostra de sangue pode ser colocada no aparelho mesmo que o celular esteja sem bateria. Ele grava a informação em um aplicativo

O iBGSTAR, já vendido nos Estados Unidos, deve chegar ao país ainda no segundo semestre. Segundo a Sanofi, fabricante do leitor de glicemia, o produto aguarda agora o processo de importação e a finalização da versão nacional do aplicativo. Lá fora, seu preço é em torno de R$ 125.

Para Mauro Scharf, que trabalha especialmente com pacientes do tipo 1 da doença, o novo monitor pode atrair o jovem que tem o smartphone como um objeto de desejo. “É um aparelho mais discreto e tem uma série de facilidades. Uma delas é o fato de poder ser usado mesmo sem o celular, caso esse tenha a bateria esvaziada, por exemplo.
Basta colocar a fita no aparelho e ele armazena o dado até ser conectado ao aparelho e gravar a informação.
São recursos a mais para o médico ver o quanto o paciente está aderindo ao tratamento”, conclui.

A tecnologia já trouxe outras contribuições para o controle do diabetes. As canetas e bombas de insulina são uma delas. Para Scharf, tudo o que facilita a vida do paciente e pode melhorar sua adesão ao tratamento deve ser indicado. O consultor Rodrigo Campelo, de 38 anos, usa insulina desde que foi diagnosticado com diabetes tipo 1, aos 7 anos.
Até 2010, sua rotina envolvia de seis a sete aplicações diárias de insulina, entre as doses de longa duração e as de controle de carboidrato, após cada refeição.
Mas Rodrigo, como um bom paciente “rebelde”, tinha a rotina muito agitada, o que dificultava o controle da doença.
O resultado foram situações que fugiam ao seu controle, como crises de hipoglicemia na rua.

“Meu médico estava preocupado, pois não conseguia mais controlar minha alimentação. Como eu viajo muito, ficava difícil manter uma rotina saudável”. Foi aí que o consultor descobriu a bomba de infusão, um cateter colocado no paciente que lança a insulina no corpo.
O aparelho simplificou a vida de Rodrigo, que precisa trocá-lo apenas a cada três dias.
As fugidinhas dos fins de semana continuam, e com elas o controle de carboidratos.
Mas com a bomba ele não precisa tomar tantas injeções nem se preocupar com os horários, e seu corpo recebe todas as doses de insulina de que precisa por dia.

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