15 mitos e verdades sobre a depressão
A psiquiatra Mara Fernandes Maranhão, do Núcleo de Medicina Psicossomática e psiquiatria do Hospital Israelita Albert Einstein, esclarece dúvidas sobre a doença que causa tristeza profunda e pode ser fatal.
– Atualmente as pessoas são mais deprimidas que no passado.
Verdade – Estudos epidemiológicos indicam que a incidência de depressão vem aumentando ao longo do tempo. Além disso, atualmente as pessoas tem mais acesso à informação do que no passado, o que pode estimulara a busca de ajuda especializada e facilitar um diagnóstico.
– Tristeza extrema e depressão são a mesma coisa.
A tristeza é uma resposta humana comum às situações de perda, derrota e outras adversidades.
Já a depressão, como síndrome ou doença, é caracterizada não apenas por alterações do humor (tristeza, irritabilidade, apatia), mas também por uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas (dificuldades de concentração e memorização), psicomotoras (sensação de lentidão) e nos ritmos biológicos (sono e apetite).
– Alguns casos de depressão estão ligados à insatisfação (trabalho, relacionamentos, etc.
Tristeza, desânimo, agitação e ansiedade demonstrados em excesso.
Se no seu ambiente de trabalho você tem colegas (ou até você mesmo!) que se enquadram diariamente nesses comportamentos, é recomendado acender a luz de alerta.
A doença atinge, principalmente, profissionais que realizam na rotina do dia-a-dia serviços extremamente operacionais e mecânicos.
O ambiente de trabalho pode se constituir numa das causas da depressão.
Hoje temos o estresse ocupacional.
E o trabalho pode ser um fator desencadeante da depressão.
Seus sintomas podem ser a insegurança, o isolamento social e familiar, a apatia, a desmotivação, enfim, perda de interesses por coisas que a pessoa gostava de fazer com prazer no passado.
O quadro também pode ser diagnosticado diante da perda de memória e da concentração, além de insônia e perda do apetite.
Hoje temos no País, de uma maneira geral, uma política salarial desestimulante.
Se perde muita energia no trabalho e não há recompensa, não há valorização.
As empresas hoje estão muito mais preocupadas com a produção do que com a humanização do trabalho.
Essa situação acaba por provocar no trabalhador o medo de perder o emprego.
Atualmente, já há empresas nos Estados Unidos que oferecem técnicas de relaxamento a seus funcionários durante o horário do expediente.
Mas no Brasil, a situação é mais difícil.
– Pessoas mais sensíveis ou “mimadas” tendem a sofrer com o mal.
No caso de pessoas muito sensíveis, pode ser mais difícil o enfrentamento de situações que causam estresse emocional (desentendimentos, disputas, perdas, etc.
) que, portanto, deixam-nas mais propensa ao mal.
No entanto, essa característica, de forma isolada, é insuficiente pera levar a um quadro depressivo.
– Só os mais velhos sofrem de depressão.
Muitos casos passam despercebidos, pois os sintomas são atribuídos a características de personalidade da criança.
Na velhice, acontece algo semelhante.
Muitas vezes, atribui-se a queda de energia e disposição ao peso da idade.
“Ele está velho, já fez o que tinha de fazer” é a explicação que se dá, ignorando os sintomas da depressão e a possibilidade de mudar sensivelmente a condição de vida do velho porque existe tratamento para essa doença.
– A depressão pode levar a pessoa a ter comportamento violento.
De fato, se pensarmos nos sintomas que pessoas deprimidas apresentam (cansaço ou sensação de falta de energia, perda do prazer em atividades que antes o proporcionavam, dificuldades de atenção e memorização, problemas de sono e apetite, entre outros), a tendência é de diminuição das interações sociais e de isolamento.
No entanto, em alguns casos, quando a depressão vem acompanhada de sintomas psicóticos, o indivíduo pode até chegar a apresentar atitudes violentas.
Mas isso não se deve aos sintomas principais da depressão, e sim à distorção da realidade que pode acompanhar o quadro.
Além disso, em síndromes depressivas graves, onde a pessoa que sofre relata não querer mais viver, há risco de comportamentos auto agressivos, que podem resultar em tentativas de suicídio.
– Toda a situação de luto leva à depressão.
Apesar disso, as pessoas costumam preservar certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando devidamente estimulada.
Não se observa, no luto, o isolamento e a quebra do funcionamento social e profissional característicos da depressão.
– A depressão é 100% curável.
No entanto, mesmo esses últimos conseguem retornar ao funcionamento normal, embora precisem de acompanhamento médico de longo prazo.
– Depressão: só tem quem quer.
O seu diagnóstico passa muitas vezes despercebido, quer por falta de reconhecimento da depressão como doença, quer porque os seus sintomas são atribuídos a outras causas (doenças físicas, estresse, etc.
A depressão não deve ser confundida com sentimentos tristeza como “estar em baixo” ou “desmoralizado”, que são geralmente reativos a acontecimentos da vida e transitórios.
Trata-se de uma perturbação do humor ou seja uma disposição emocional a longo termo, que se mantém ao longo do tempo, que afeta significativamente o rendimento no trabalho (ou escolar), a vida familiar, afetiva e o simples existir do doente, que sofre intensamente.
Embora a característica mais tipica dos estados depressivos seja a proeminência dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os doentes relatam essas sensações.
Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas atividades em geral e a redução do interesse pelo meio externo.
Frequentemente associa-se à sensação de fadiga ou perda de energia.
Sem tratamento, os sintomas podem permanecer por semanas, meses ou anos.
Felizmente, com o tratamento apropriado, é possível ajudar a maior parte das pessoas que sofre de depressão.
– A cura só acontece se o indivíduo que sofre com o mal se dispor.
A força de vontade e o desejo de não querer estar deprimido são as duas armas mais eficazes que o doente possui para vencer a depressão.
Tal como acontece com as outras doenças, não se deve sentir vergonha por pedir a ajuda de um especialista.
– Remédios antidepressivos causam dependência.
Além disso, uma pessoa que não sofre de depressão e toma um antidepressivo não ficará mais alegre ou mais feliz que o habitual, como acontece com as substâncias que podem causar dependência.
– Alimentação balanceada, atividade física e vínculos de amizade ajudam a prevenir depressão.
Uma caminhada durante 30 minutos, três vezes por semana, pode ser tão efetiva no alívio dos sintomas da depressão quanto o tratamento padrão à base de medicamentos anti-depressivos.
A simples ingestão de uma pílula é muito passiva, diferentemente do exercício, que faz com que os pacientes sintam-se dominadores de sua condição, com grande senso de realização.
Sentem-se mais auto-confiantes, com melhor auto-estima por poderem realizar sozinhos os exercícios físicos.
Uma relação de amizade combate diretamente à depressão e doenças cardíacas, isso porque os sentimentos despertados por uma amizade influenciam diretamente nos batimentos cardíacos, mantendo a calma e controlando-os.
Todos nós temos a necessidade de dividir os sentimentos, isso nos traz mais calma e autocontrole, por isso quem tem um amigo corre menos risco de ser tornar depressivo.
Dividindo os problemas, as cargas ficam menores e mais fáceis de suportar
– A depressão tem um lado bom, pois faz a pessoa buscar alternativas que a deixem mais feliz.
Por outro lado, o sentimento pode ser um sinal de alerta de que a pessoa está precisando de companhia e de ajuda.
– Toda pessoa deprimida pode desejar morrer.
– A pessoa pode curar-se sozinha da depressão.
A cultura popular associa depressão como um estado de humor da pessoa e que ela pode se curar sozinha.
Isso faz com que as pessoas não encarem a depressão como uma doença e não procurem ajuda médica.